De uma hora para outra, passei a ser convidado para participar de programas em rádio, tv e lives, nos quais me questionam sobre os mais variados temas, alguns
deles sem que entenda um ovo. Já dava uma
enganada na pré-pandemia como convidado em programas de esportes, normalmente
como representante gremista, logo eu que por
tanto tempo e por militar na
chamada crônica esportiva, me mantive em silêncio compulsório sobre minha
preferência clubística. Os lançamentos
de livros me renderam bons espaços, como um Frente a Frente na TVE, quando,
numa maluquice da produtora Silvia
Dinelli, fui convidado para ser entrevistado e não entrevistador, como em outras ocasiões. Sobrevivi à empreitada, porém.
Só que agora, em plena
pandemia, o fenômeno se mostrou mais intrigante. Não lancei livros, não tem futebol para
analisar e cornetear, não estou entre os
investigados em fraudes do Auxílio
Emergencial, nem fui cotado para o
ministério do Bolsonaro. Estou recluso em quarentena na morada da Osmar Melleti,
saindo apenas para minha caminhada matinal no Calçadão de Ipanema e para buscar
as provisões necessárias no supermercado. Mesmo assim, não passa semana sem que
receba um ou dois convites, sempre honrosos e atendidos na maioria, para
participar de bate papos a serem socializado. E ainda tem o prestigiamento e as
mensagens positivas, até de gente de alto quilate intelectual, sobre a minha diversão diária, que são as
Reflexões (...) postadas no Facebook e sobre esta coluna semanal em
coletiva.net. Acho até que colaborei
para o crescimento exponencial do portal (74%) no primeiro semestre deste ano.
A profusão atual de
convites pode ter uma explicação bem razoável:
em tempo de pandemia, as atenções estão focadas em poucos assuntos, a pauta
acaba ficando óbvia, repetitiva e rareiam as fontes, restritas aos
especialistas nos temas, além das autoridades e lideranças políticas de sempre.
Assim, escapar de vez em quando desse
cardápio previsível, com alguém com um repertório de bobagens, mesmo que este
alguém seja eu, pode se constituir num
diferencial. Estou aberto a outras versões para o fato.
“Ih, lá vem ele de novo,
bancando o falso modesto”, dirão meus detratores, poucos mas muito ativos. É
gente que desconhece que não tenho vocação para a tagarelice midiática e,
ainda, uma dicção que deixa a desejar, e que me induzem à inveja cinza de alguns companheiros pela naturalidade frente
às câmaras e microfones. E olha que
trabalhei nas principais emissoras de jornalismo de Porto Alegre e nunca
me aventurei a aparecer além do trabalho de retaguarda. Poderia ter aprendido e
investido numa carreira mais artística, mas não o fiz com receio de que poderia
dar vexame, ainda mais com tantos talentos em volta. A autocrítica e a
insegurança falaram mais alto.
Só não me tomem por um
profissional frustrado e agora até deixo a modéstia de lado porque considero
que fui um bom gestor e tive o reconhecimento como líder de equipes por onde passei,
realizando-me plenamente. Talvez a única
frustração decorra de não ter criado uma
teoria qualquer, mesmo que estapafúrdia, mas que viesse ao encontro do que as
pessoas querem ouvir e se iludir. Já
confessei em texto anterior o sonho de sair palestrando mundo a fora, fazer
parte da galeria dos grandes conferencistas, frequentar os mais afamados
ambientes acadêmicos, polemizar com o Juremir Machado e a turma do Timeline, aparecer
nas janelas da GloboNews e da CNN, tertuliando com o Gabeira e a Monalisa
Perroni, fazer caras, bocas e gestos estudados no Roda Viva, quem sabe dividir bancada no Manhathan
Connection e ser convidado para o Fronteiras do Pensamento e
evento da Revista Voto. Bateria ponto no Sarau Elétrico, trocaria
confidências nos espaços do Sergius Gonzaga e circularia garboso na Feira do
Livro de Porto Alegre, mas adotaria uma postura blasé caso insinuassem
que poderia ser o próximo patrono. Apareceria
mais que o padre Fábio de Melo e teria uma
agenda de dar inveja ao Pondé e
ao Karnal. Ao fim e ao cabo, daria mais palestras que o Lula, o que não seria tão difícil, mas
ganharia bem menos do que ele, o que também não seria tão difícil.
Até inventei, tempos
atrás, provocado pelo meu amigo Roberto D’Azevedo, a Teoria do Tédio, mas era
uma bobagem tão grande, como essa de virar conferencista, que deixei de
lado. Assim, evito também em dar razão a
outro amigo, o João Carlos Ferreira da Silva, vulgo Joca, atualmente exilado em
Brasília, que se referia desairosamente a
este promissor intelectual e a todos com os quais queria implicar: “Duas ou três frases de efeito,
meia dúzia de truques e enganou toda uma geração.” Por enquanto só amealhei os
truques, mas até para ser um engano geracional tem que ter talento, amigo Joca.
Agora, me deem licença
que vou atender o telefone. Pode ser mais um convite, porque já estou gostando dessa brincadeira de quase
virar uma estrela midiática.
(Não é brincadeira, não: hoje dei entrevista aos guris da Rádio RWT, de
Cachoeirinha, sábado foi à Rádio Terra FM, de Venâncio Aires, e amanhã participo,
junto com o José Luiz Prévidi, de live
com o Nelson Dutra Filho. Por enquanto é isso...)
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