segunda-feira, 29 de abril de 2019

Livre pensar


*Publicado nesta data em Coletiva.net

Inspirado pretensiosamente no mestre Millor Fernandes (“Livre pensar é  só pensar”) resgato algumas postagens que cometi nas redes sociais ou copiei de outros sem que lembre os autores:
- O Facebook despertou um monte de filósofos, cientistas  sociais, políticos, juristas...
- Nada irrita mais um imbecil do que deixá-lo sem resposta.
- Não tenho medo das perguntas, tenho medo é das respostas.
- A grande tensão do sexo na terceira idade é que sempre pode ser a última vez.
- Aposentado detesta feriado porque não tem filas  para bater papo.Parte superior do formulário

- Da série Grandes Invenções da Humanidade: vaga de estacionamento para idoso e vacina de grátis!

- No futuro, todas as novelas terão um núcleo hetero.

- Lógica vigente: Imparciais são todos aqueles que estão a nosso favor...
- Lógica vigente II : toda a decisão judicial que contraria nossos interesses é uma arbitrariedade!
- Alerta: Deus e as câmeras de monitoramento estão vendo vocês.

- Tempos atrás as mulheres falavam sobre criação dos filhos, hoje trocam ideias sobre criação de cães e gatos!

- Como bom capricorniano, não acredito em horóscopos.

- Aceito críticas, mas prefiro elogios.

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Desde os tempos do fax


* Publicado nesta data no Coletiva.net

Parece que foi ontem.  Dessa forma bem tradicional para iniciar um texto memorialístico é que estabeleço minhas ligações  histórias com o Coletiva.net A verdade  é que parece mesmo que foi ontem que o Fuscaldo, o Vieirinha e o LF Morais  começaram a editar um boletim de informações sobre a indústria da comunicação, o embrião do portal que celebra agora 20 anos.  Inicialmente  distribuído em fax (consulta rápida ao Google para saber do que se trata) evoluiu tecnológica, editorial e empresarialmente, até o estágio atual sob o comando da Marcia Christofali e  equipe.

Foi no Coletiva que cometi minha primeira crônica (“Quase lá”, acho que em 2008 ). Foi no Coletiva que publicaram um exagerado perfil meu, quando assumi a Comunicação do governo Rigotto. Foi no Coletiva  que se noticiaram minhas idas  e vinda profissionais – e não foram poucas no período. Foi no Coletiva  que me envolvi em uma ou outra polêmica, nos tempos em que as redes sociais ainda engatinhavam antes de assumirem os bate-boca digitais. Foi no coletiva que tive  espaço para  divulgar os livros que publiquei, graças ao embalo motivado por  aquela primeira crônica. Foi por uma iniciativa do Coletiva, junto com a Esade, que tomei coragem, já sessentão,  para voltar aos bancos escolares e cursar uma especialização em Jornalismo Empresarial.

Nossos laços  se  estreitaram ainda mais  quando fui convidado  – intimado, seria o termo mais  adequado, né Márcia – para ocupar uma das vagas de colunista semanal, o que faço com imenso prazer às segundas-feiras, desde setembro do ano passado. Trato o espaço  com carinho, tanto assim que fico lapidando o texto até domingo de manhã quando aviso a redação sobre o envio do que considero a edição final. Agora me dou conta de que já  postei  quase 30 colunas  nesse  período de convivência com companheiros num espaço  de pluralidade de posições. Essa é outra característica do Portal, eu  diria um predicado e tanto nestes tempos de pouca tolerância com o contraditório: todos se manifestam livremente  nas colunas e nos artigos.

Mais recentemente, a edição anual da revista Tendências passou a  prestar mais uma valiosa contribuição à Comunicação ao apontar caminhos futuros  e desenhar  inovações para essa área. Cada edição dá vontade de ler do começo ao fim numa sentada.

Penso que uma comemoração como os  20  anos do Coletiva mereceria um texto mais épico, mas  eu já me considero de casa e preferi resgatar o melhor, pela parte que me toca, da  relação nessas duas décadas de convivência. Agora fico à espera da boca livre festiva, para o qual certamente serei convidado e onde proporei um brinde, com votos de pelo menos mais 20 anos, mais 20, mais 20 para a nossa Coletiva.




segunda-feira, 8 de abril de 2019

HISTÓRIAS CURTAS PARA PEQUENOS CONTOS


*Publicado nesta data em Coletiva.net

O revisor
Ele era o revisor da editora. Mas inconformado em apenas corrigir os erros -  muitos  – gramaticais, passou a modificar – para melhor – o estilo do texto do autor iniciante. Cortou e acrescentou em todos os capítulos. Ficou satisfeito com as mudanças.  O autor logo percebeu que a obra não era a original que escrevera, mas até ele reconhecia que o resultado era tão melhor em forma e conteúdo que silenciou sobre o novo texto.

A obra, uma ficção que se pretendia inédita, conquistou sucesso imediato, virou best seller, frequentando por  muito tempo as listas dos mais vendidos e as premiações do gênero. Considerado revelação literária  do  ano, o autor cometeu outras obras, todas elas revisadas, ou melhor, reescritas pelo mesmo especialista e todas elas de sucesso garantido. Graças a isso, assinou contratos fabulosos, cedendo direitos para  a TV e o cinema, acabou eleito para a Academia Brasileira de Letras e passou a sonhar com o Nobel de Literatura. Seria o primeiro brasileiro com essa láurea.

Tudo transcorria bem para o autor, agora famoso e rico, até que...

Tele salvação
O robô do telemarketing completou para a moça  da posição 15 a trigésima ligação naquela tarde. Ela contabilizava 25 nãos  e cinco que nem  atendidas foram. A surpresa agora é  que já  na primeira chamada o telefone foi atendido.

- Boa tarde, meu nome é  Lisandra e estou ligando para lhe oferecer  uma oferta excepcional da nossa operadora de telefonia. Para  sua segurança esta ligação está  sendo gravada.

A segunda surpresa foi que a ligação  não  foi cortada  e , mais do  que isso, houve uma calorosa receptividade da voz  feminina do outro lado:

- Que  bom que tu ligaste, minha querida. Eu estava me sentindo tão só.

- Senhora, nossa oferta é realmente excepcional...

-  Sabe que ninguém  liga mais aqui pra casa. Nem meus filhos, estes ingratos, nem meus netos, que eu amo tanto.

- A senhora gostaria de ouvir nossa oferta e as condições especiais...

- Fico sozinha em casa, eu e meus  gatos. A Piruska e o Galileu. São  umas gracinhas.

A moça  do telemarketing, acostumada aos maiores impropérios dos potenciais clientes, decidiu mudar o rumo da  conversa, pensando em mais adiante retomar a proposta e tentar fechar pelo menos uma venda naquele dia. Foi quando do outro lado veio uma revelação que a deixou muito preocupado com aquele contato.

- Olha, minha filha, já pensei até em acabar com tudo... Essa vida  de isolamento não é vida.

Neste momento a supervisora aproximou-se  da  posição da moça  e...

 Venda casada
O apartamento de andar inteiro num bairro elegante da cidade ficara grande demais para o casal que chegara aos 60 anos e mais. Os filhos estavam criados, encaminhados profissionalmente e cada um com sua parceria.  Agora havia dois quartos desnecessários no amplo imóvel. A solução foi a mudança para outro  apartamento, menor, mas mais aconchegante, num prédio recém construído,  ali perto porque não abriam mão do status que o bairro lhes  conferia, ele medico de clientela cativa e abonada e ela funcionária pública de muitos avanços.

A solução foi vender o apartamento antigo  e é  aí que aparece um novo personagem nessa história: o corretor de imóveis.

-  Olha, doutor, gostaria de ter exclusividade por  pelo menos dois meses para a venda do imóvel.

- Como assim? Já tens alguém em vista?

- De certa forma tenho. Uma tia que ganha uma boa pensão pode se interessar.

O proprietário ficou a imaginar a idade da tal tia, já que o corretor rivalizava em idade com ele. Foi então que fez uma proposta ao corretor:

- Tenho um túmulo no cemitério que também quero vender. Será que tua tia não se interessa?

E acrescentou outro argumento de venda:

- Se ela for gremista, explica que a sepultura tem vista para o Estádio Olímpico, ou o que restou dele.

-  Doutor, o senhor está me propondo uma venda casada?

Como sou desapegado dos meus  textos, essas três ideias  ficam disponíveis para  quem quiser dar  seguimento. Podem, inclusive, trocar os  títulos. Garanto que não vou cobrar os direitos autorais.


segunda-feira, 1 de abril de 2019

A crueldade do tempo


* Publicado nesta data em Coletiva.net

Minha amiga Cilene não cozinha na primeira fervura, mas ainda dá um caldo e foi com esses atributos que se apresentou na sua cidade natal para uma festa de confraternização da escola onde cursou o ensino médio. “Foi um choque”, confessou mais  tarde quando divagávamos sobre os reencontros com nosso passado. “Aquelas bonitinhas, filhinhas de papai, que eu invejava, agora estavam viradas em matronas. E os garotões que eu gostaria de namorar e não me davam bola, estavam quase irreconhecíveis:  carecas, barrigudos  e cheios  de rugas”, revelou.

A observação parecia conter com uma pontinha de ressentimento pelas desfeitas do passado, mas relevei a percepção  ao me dar conta de que já tinha enfrentado situações semelhantes mais de uma vez. A guria cobiçada da juventude, objeto de muitas homenagens, agora mais se parece como algumas daquelas estátuas volumosas de Buda. Temo por novos encontros porque não consigo esconder meu  olhar de decepção pelas marcas do tempo em amores não correspondidos. Pior quando vem a indagação: “Não estás me reconhecendo? ”  Sou obrigado a admitir que não.

Porque é fato, ou por puro cinismo, tenho merecido elogios pela boa forma e aparência  jovial nos encontros com amigos de antanho e ex-caldáveis.  O mesmo ocorreu com a amiga Cilene no seu reencontro redentor. Foi tão elogiada  que se viu obrigada a  procurar um espelho, para honrar sua representatividade feminina e se certificar de que realmente os elogios tinham lá seu fundo de verdade.  “Espelho, espelho meu, tem alguém mais bem conservada do que eu”, confessou, durante nossa divagação, a conversa  unilateral que manteve com o espelho.

Não chego a tanto, não sou tão vaidoso, mas costumo perguntar às pessoas da mesma faixa etária e em boa forma qual o segredo de se manterem assim. Certa vez ao fazer este questionamento a um ex-governador gaúcho, firme e forte nos seus 80 ou mais , recebi dele uma resposta direta, sem titubear:

- Sexo, meu filho, muito sexo.

Quem sou eu para duvidar de uma liderança politica que conduziu os  destinos do Rio Grande! Desconfio que seja o mesmo segredo da amiga Cilene.