quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Pedidos singelos a um Novo Ano

Hei, meu jovem Novo Ano, será que posso dispor de um minuto dos milhares que tens estocado? É que eu queria renovar alguns pedidos feitos para o instável e já caduco 2011. São coisinhas singelas, uma concessãozinha aqui, uma atençãozinha ali, nada que vá interferir no andamento do universo, mas que podem mudar o meu andamento no universo - antecipadamente peço perdão pelo jogo de palavras.


Só para lembrar, meu infantil Novo Ano, reitero encarecidamente o pedido já feito: livrai-me dos chatos; vale repetir, livrai-me dos chatos. E reforço os outros pleitos: mantenha longe de mim também os mordedores em geral e os pedintes de favores. Se possível, afaste os hipocondríacos, com suas doenças e seus remédios para todos os males. Quero distância igualmente dos baixo astrais, dos angustiados, dos obsessivos porque tenho medo de contrair uma deprê. E mais, se não for abuso, suplico: mande para longe os duvidosos de caráter, os falcatruas, os descompromissados e os sugadores de energia. Coloque em fuga, por especial gentileza, os arrogantes, os prepotentes, os invejosos e todos da mesma laia.

Promissor Novo Ano, não me leve a mal, mas gostaria de acrescentar outros pedidos. Apelo para o teu anunciado espírito harmonioso para reaproximar-me dos que ofendi e se apartaram, e daí-me o dom da tolerância para aceitar e receber os que se desgarraram. Faça pousar em mim a deusa da paciência e que venham juntas as amazonas altivas da fé e da esperança. Com isso, serei fortaleza que não se dobra, terei coragem para enfrentar as adversidades e energia para novos desafios, porque bem sei, minha criança, que algum tropeço há de ter e faz parte da jornada.

Vamos tratar de coisas práticas, meu pueril 2012? No repeteco, salve-me das filas, as dos bancos e dos supermercados, e todas as outras onde corra o risco de ser interpelado por desconhecidos que me tiram para confessionário e interrompem minhas ruminações. Não admita, por compaixão, que a guria bonita me pergunte a idade antes de distribuir a senha, se a maldita fila for inevitável. Abusando da compaixão, não permita que as bonitinhas me chamem de tio e muito menos de vô, mas dá uma forcinha para que a Maria Clara e a Rafaela aprendam logo a me chamar de vô.

E tem mais uma listinha facilzinha e repetida, meu imberbe 2012. Não deixe faltar uma boa carne na minha mesa, saladas variadas, cerveja gelada e um vinho encorpado para as noites de inverno. E se não for pedir muito, que eu reencontre aquele doce de abóbora, de comer ajoelhado. Ah, e aquela berinjela, a carne de panela com batatas e uma caixa de Bis só pra mim. Se não for contraditório, aproxime de mim essas tentações. E que sempre possa dividir a boa mesa com companhias agradáveis, brindando os bons momentos da vida que não são muito e até por isso precisam ser valorizados. Conceda-me, de vez em quando, jogar um pouco de conversa fora, curtir mais a minha gente, vagabundear sem culpa, experimentar o novo e, por que não?, me entregar a alguma extravagância. Vamos combinar que não é pedir demais.

Em contrapartida, Novíssimo Ano, prometo continuar sem fumar , me exercitar com regularidade, comer menos fritura e beber moderadamente, cometer menos infrações no trânsito, voltar a ler e fuçar menos na internet, ouvir mais e falar menos, lembrar o aniversário de casamento e outras datas importantes e não desejar a mulher do próximo, nem a do distante, porque os outros pecados não os cometo. A não ser que um pouco de rabugice seja pecado, dos veniais, mas até isso pretendo corrigir. Nesses termos peço sua compreensão e deferimento, jovem e bem-aventurado Novo Ano.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A vigília dos pastores

“Escrevo à noite. Vem na aragem noturna um cheiro de estrelas. E, súbito, eu descubro que estou fazendo a vigília dos pastores. Aí está o grande mistério. A vida do homem é essa vigília e nós somos eternamente os pastores. Não importa que o mundo esteja adormecido. O sonho faz quarto ao sono. E esse diáfano velório é toda a nossa vida. O homem vive e sobrevive porque espera o Messias. Neste momento, por toda a parte, onde quer que exista uma noite, lá estarão os pastores – na vigília docemente infinita. Uma noite, Ele virá. Com suas sandálias de silêncio entrará no quarto da nossa agonia. Entenderá nossa última lágrima de vida”
Nelson Rodrigues, publicado originalmente em O Globo.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Galeria de ex

Tenho um certo fascínio por essas galerias de fotos de ex-presidentes e outros ex que adornam as mais nobres paredes das repartições públicas e até de algumas instituições privadas. Ao conferir as fotos mais antigas, daqueles senhores com vastos bigodes, cavanhaques bem cuidados e cabelos engomados, fico a imaginar o que fizeram para estar ali, dividindo espaços com outros senhores de olhar circunspectos. Que desafios enfrentaram, que legado deixaram, como se moviam naqueles tempos menos agitados? Quanto mais volto no tempo, mais minha imaginação se atiça. Deve existir alguma explicação para essa nostalgia do que não vivi.

A verdade é que essas galerias são uma tentativa de perpetuar determinado período, mesmo que o homenageado não tenha reunido tantos méritos assim. É o que me ocorre, com uma pontinha de incerteza , quando recordo que este humilde blogueiro também figura, impávido e de fatiota, na galeria de ex-presidentes da TVE. Alguma contribuição devo ter dado para figurar naquela parede, ao lado de luminares da comunicação.

Ao mesmo tempo, a imaginação se liberta e passo a pensar que tributos devem ser materializados para outras categorias de ex: ex-chefes, ex-amigos, ex-colegas, ex-amores. Como expressar o que representaram nas nossas vidas, que espaço poderiam merecer tais personagens, que critérios adotar para revelar a justa dimensão de cada um, se decidíssemos montar galerias para todas ou algumas categorias. Mas como é só um exercício de imaginação, numa fase de tédio criativo, fiquei em dúvida se vale a pena revolver o passado. Vamos que nesse processo surjam fantasmas que já estavam sepultados, tipo ex-chefes tiranos, ex-amigos que não corresponderam, ex-colegas puxadores de tapetes e ex-amores insinceros. Pensando bem, é melhor deixar pra lá.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Pérolas da Internet II

Prossigo com minha mesopotâmica campanha, como diria o Macaco Simão, contra a chatice no Facebook e pela eliminação das mensagens de auto-ajuda, das religiosas em geral, das citações fakes e das que fazem defesas obsessivas e agressivas de causas. Para não ganhar o carimbo de mal humorado e mostrar que é possível interagir na rede com  humor e criatividade, selecionei uma nova série de Pérolas do Facebook:

1. Inglês para principiantes:

2. Chantagem:

3. Bichanos na rede:

3. Dm Quixote moderno:

4. Atenção à nova sinalização:

5. Se for bebê, não dirija:

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Nãs mãos do doutor House

Foi assim: estava sentindo uma dorzinha incômoda na região do abdômen e resolvi passar na emergência do Mãe de Deus para uma consultinha básica. Entrei no hospital pela manhã e só sai seis dias depois, como se o doutor House tivesse se materializado em Porto Alegre e com toda a sua equipe passasse a cuidar do meu caso. Essa idéia me passou pela cabeça a cada etapa em que avançada rumo às entranhas do hospital.

É curioso isso e deve ter sua lógica a dinâmica hospitalar: quanto mais se internaliza, mais séria a coisa fica para o seu lado. Primeiro, nas áreas da frente, tiram sua pressão, fazem uma série de perguntas e você é atendido pelo clínico – no meu caso, uma médica jovem e charmosa, o que me animou naquele momento de fragilidade. São providenciados os exames que vão confirmar um ou outro diagnóstico da médica, a jovem e charmosa: diverticulite ou apendicite.

Minha torcida passou a ser imediatamente pela apendicite, porque logo me veio à memória que Tancredo Neves fora hospitalizado com uma diverticulite e deu no que deu. Três exames depois, veio o veredito: apendicite e das agudas. Não havia motivos para comemorar. O bisturi me esperava, na verdade uma videolaparoscopia, e logo fui apresentado ao cirurgião, falante e objetivo, que me explicou que, diferente do se imagina, a apendicite entre adultos e mesmo veteranos como eu, não era incomum.

Elegi o cirurgião - Guilherme Pesce, ele é o cara - como o doutor House desse relato, não pelas idas e vindas dos diagnósticos que caracterizam a série americana, nem pela rabugice, mas pela segurança que passava. Soube depois pelas enfermeiras e técnicas de enfermagem que se tratava de um profissional muito competente e respeitado, mas a essa altura eu só queria saber o que aconteceria logo adiante.

A cirurgia estava marcada e fui encaminhado a uma sala de medicação, uma enfermaria mais interna, para receber soro e ser privado de qualquer alimentação ou liquido. Até agora não entendi o que acontecia naquela sala: era um entra e sai de pacientes, enfermeiros, auxiliares, médicos, numa movimentação que devia ter sua lógica, mas se tinha, não alcancei. E o pessoal da casa, menos mal, estava sempre animado e muito prestativo, apesar do caos organizado.

Confesso a vocês que esse foi o pior momento: uma longa espera de mais de seis horas até ser chamado para o “bloco” que é jargão utilizado pelo pessoal para designar a área cirúrgica. Pior foi agüentar o rapaz com um ferimento na cabeça que aguardava a ambulância ( atrasada!) para voltar para casa e a todo o momento ameaçava escapar da sala. E eu ali, tomando soro e esperado a hora fatídica. Será que eu posso falar de novo com a médica jovem e charmosa? Não, não pode. Será que eu posso tomar um golinho d’água ou um cafezinho? Não, não pode. Onde está doutor House, o falante e objetivo, para começar logo a cirurgia? Calma, logo o senhor será encaminhado para o ‘bloco’. Pelo menos agora a Santa já está junto dando apoio moral, afetivo e logístico. Santa Santa!

A noite chegou e com ela o chamado para o ‘bloco’, conduzido em cadeira de rodas, que vexame. Vexame maior viria em seguida quando o paciente se despe de suas roupas e do que ainda resta de dignidade e veste a “roupa” com que enfrentará a cirurgia. Chegou a hora da verdade e tremer é para os fracos. Éramos três com aquelas batas ridículas a espera do bisturi, cada um com seus problemas. Sinceramente eu era o mais animadinho e ao ser chamado para a sala de cirurgia desejei boa sorte ao que ainda estava na sala, que me devolveu um olhar de boi que vai para o matadouro.

A cirurgia é precedida de uma conversa com a enfermeira que vai acompanhar o procedimento e antecede a aparição de outro personagem – o anestesista. Jovem, simpático, repete as mesmas perguntas da enfermeira e antecipa a cobrança dos seus honorários - R$ 900,00 cash! Ainda tenho energia para protestar, mas o jovem e simpático argumenta que na sua profissão enfrenta uma barra, com chamados fora de hora e tudo o mais. Deve ser dura essa vida de anestesista, mas me ocorreu fazer uma proposta, digamos provocativa, ao me apresentar como jornalista:

- Tô trocando, doutor.

O jovem e simpático levou na flauta e agora me pergunta, eu já deitado na cama cirúrgica, se “está tudo bem?”. Quando o doutor House faz a mesma pergunta, logo em seguida, devolvi:

- Comigo tudo bem. Agora o paciente pergunta: e a equipe médica está pronta e segura?

Em seguida apaguei, sob o efeito da anestesia e acordei na sala de recuperação, calculo que três horas depois. Estou inteiro, menos um apêndice. Esse é um momento crucial: pouco a pouco começa a tomar contato com a realidade e a sentir os primeiros desconfortos do pós operatório. Entubado por uma sonda pelo nariz e preso ao soro, tenho dificuldade até para o mais simples movimento, sinto um leve enjôo e a retomada do sono é complicada. A vontade de fazer xixi é enorme e um dos olhos arde, sabe-se lá por que. Já no quarto, intuo as horas porque a TV é ligada no Programa do Jô..

Pela manhã sou acordado por dois técnicos em enfermagem, um homem e uma mulher, sugerindo que é hora do banho. Pode ser na cama ou no banheiro, informam. Lá sou homem de me deixar banhar na cama e, num momento de superação pessoal, vou para baixo do chuveiro, observado pelos dois. Não estava preparado para esse constrangimento, mas vamos em frente que está começando a terceira e última etapa dessa jornada.

Para resumir, como o apêndice estava mais inflamado e dera mais trabalho, o médico determina um período maior de resguardo, vale dizer de hospitalização, estimado em cinco dias. Período em que, acarinhado pela família (Mariana apareceu de surpresa, vinda de Buenos Aires), dediquei-me a leitura, a sessões de internet e a assistir a TV, enquanto era visitado em todos os turnos, que começavam às 4 da matina, ora pelos técnicos de enfermagem me espetando de todas as formas e auscultando os sinais vitais, ora pelas enfermeiras de plantão, ora pelas nutricionistas e até pela freira da Pastoral da Saúde. Os médicos, nosso Doutor House mais o cardiologista, batiam ponto sempre pela manhã.

Duro foi vencer o primeiro dia com uma dieta apenas de líquidos e gelatina, o que me levou a um decisão: nunca mais vou beber suco de pêssego. Depois, até passei a gostar das mordomias, embora invasivas e restritivas, mas comecei também a contagem regressiva para a alta.

- Os resultados dos exames foram bons e tá na hora de ir pra casa, informou o nosso doutor House na manhã no sexto dia de reclusão.

Foi só o tempo de ouvir as ultimas recomendações do médico, apanhar minhas tralhas, agradecer a atenção do pessoal e lá me fui pra casinha, que é o melhor lugar do mundo.


Hesitei muito antes de escrever e divulgar esse relato, receoso de que um problema pessoal de saúde pudesse passar uma idéia de coitadismo, de uma situação dramática ou algo do gênero. Nada disso: fui muito bem tratado no Mãe de Deus, em todas as instâncias e etapas, certamente porque tenho cobertura de um plano de saúde privado, mas principalmente porque toda a equipe do hospital está comprometida em fazer o melhor e o faz com satisfação. Pelo menos foi essa a minha percepção. Vale o mesmo para a equipe médica, presente todos os dias. O que me levou a escrever e tratar o assunto com naturalidade e alguma graça, foi destacar a importância de buscar a avaliação médica na hora adequada, sob pena de agravar um problema para o qual não damos a devida atenção. Atender aos reclamos do corpo, ainda mais depois de uma certa idade, é fundamental. A ficha me caiu quando tomava um expresso com o companheiro Cláudio Thomas e ele contou o sucedido com um amigo comum. Os sintomas eram os mesmos, uma dor persistente na barriga, que foi diagnosticada como câncer – a palavra que eu temia ouvir, confesso agora -, quando o nosso amigo finalmente decidiu recorrer aos cuidados médicos. O dado positivo é que o amigo está reagindo bem ao tratamento. Estou na torcida, Moisés.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Pérolas do Facebook

O Orkut já era e o Facebook está indo pelo mesmo caminho. Muita abobragem e grandes bobagens, mensagens de auto ajuda, carolices religiosas, alguns embates ideológicos um tanto raivosos para o meu gosto, recados indiretos ou nem tanto para os ex, sem contar aquelas citações que os autores nunca fizeram e a cruzada obsessiva em favor dos pets. Mas assim caminha a humanidade e claro que tenho minha parcela de responsabilidade no circo geral, postando recados de natureza muito pessoal. Para minha surpresa, as postagem tem conseguido boa receptividade, o que me deixa mais preocupado ainda.

Na verdade, estou sendo muito rigoroso nessa avaliação porque o FB é essencialmente, digamos, uma mídia autoral e cada um posta o que quer. Quem não gostar, oculta, denuncia, exclui. Simples assim. Além disso, sou obrigado a reconhecer que em meio à geléia geral aparecem verdadeiros achados, pérolas de sabedoria popular, sacadas simples e bem humoradas, mesmo em temas revisitados. Aqui estão alguns exemplos, selecionados por um gosto não tão refinado:


1. Deu merda:


2. Confusão no galinheiro



3. Vida de cachorro

 
4. Sessão nostalgia

 
5. Boletim escolar

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A festa da firma - final

*Recomenda-se ler a postagem anterior de A festa da firma


O cenário contribui para criar o clima que vai funcionar como contraponto e negação às chatices do cotidiano. A música convida ao balanço e a bebida liberada desinibe até o sisudo chefe do RH. Se houver troca de presentes, surge a primeira chance de um amasso naquela colega bem dotada que a sorte reservou para você no amigo secreto. Enfim, está tudo pronto para que a festa descambe para práticas que extrapolam os limites do coleguismo. Olhares, gestos, palavras fazem parte do processo de interação e, aos poucos, as parcerias vão se formando naturalmente, por afinidades, desejos e pretensões fixadas com antecedência. Muitos colegas já chegam emparceirados e a festa é apenas a última etapa para os finalmente.

Na verdade, nada acontece por acaso. Aquela moça que de repente surge a sua frente, no caminho para o bufê, estava de olho em você há muito tempo. E aquela outra que era o seu sonho de consumo está logo ali, olhar pidão, esperando o convite para sacolejar na pista de dança. Você é caçador e é caça. Valeria a pena uma descrição mais detalhada desses momentos que expressam a realização plena da nobre arte da sedução. Mas vamos deixar para outra ocasião, porque agora o mais importante é repassar algumas dicas, especialmente preparadas por experts, que garantirão o sucesso da noitada.

Cuidado com a bebida é a primeira recomendação. Na dose certa ela encoraja; em excesso pode transformar você no bobo da corte com direito a todos os micos. Se ainda assim você conseguir ficar com alguém pode faltar energia na hora do vamos ver. (Lembre-se, existe vida real no dia seguinte).

Saiba também que mulher detesta bafo de cerveja, mas tem boa tolerância ao vinho e aos espumantes. Ah, os espumantes. Mulher adora dizer que adora espumantes. Então, é por aí. A cautela com a alimentação também é necessária. Nada mais desagradável que uma indisposição estomacal quando você está quase consumando o sonho de arrastar pra intimidade aquela morena dos Serviços Gerais. Pegue leve, portanto.

Pra não alongar mais o papo, o último - e talvez principal - conselho dos especialistas: tenha foco. Escolha o alvo, mire nele e vá em frente. No máximo, tenha um plano B à mão, caso a primeira alternativa não dê certo. Se você ficar dando tiros a esmo, vai gastar toda a munição, afugentar as potenciais pretendentes e, no fim da noite, terá que se contentar com aquela solteirona faceira do Almoxarifado, tamanho GG, mas trajando um modelito 42, vermelho "cheguei". (Prepare-se para ser sacaneado pelos colegas no dia seguinte e em todos os dias até a próxima festa).

Dentro do mesmo sub-tema, cuidado com suas escolhas. Certifique-se de que a parceira pretendida já não está comprometida com outras instâncias hierárquicas da empresa. Não faça como aquele contínuo boa pinta que se assanhou com a secretária da diretoria e no dia seguinte foi demitido pelo diretor financeiro, que tinha mais "cacife" que o afoito jovem. Se pintar um sinal de alerta durante o cerco à colega, saia de fininho e parta para outra. Manter o emprego é mais importante que uma noitada. O mercado de trabalho não está pra peixe e, afinal, sempre há outras opções no elenco feminino de sua empresa. Á luta, companheiros.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A festa da firma

Digamos que o período sabático que estou passando me livrou de vários eventos que se encarreiram nos finais de ano. Além da inevitável festa da firma, há as premiações de natureza variada, as prestações de contas dos setores produtivos, sem contar as eventuais formaturas, os aniversários e casamentos, tudo regado a muita bebida e comilança. Haja fígado. Haja estomago.


De todas as celebrações a mais esfuziante, sem dúvida, é a chamada festa da firma. Como já passei por muitas firmas e borboleteei por inúmeras confraternizações de final de ano, permito-me reproduzir aqui um texto, originalmente publicado em dezembro de 2009 e devidamente reeditado, sobre esse marcante evento. Aí está:


Fim de ano é tempo de confraternização nos locais de trabalho. Conhecidas vulgarmente como “a festa da firma”, essas confraternizações estão a merecer um estudo sociológico sobre suas implicações, que vão além das afinidades funcionais. Na verdade, o estudo precisaria ser mais amplo por conta das relações perigosas que se estabelecem no ambiente de trabalho, em níveis inferiores e superiores.

Se fosse transformado em uma série de TV americana o título apropriado para tal estudo seria "Sex and the Office". Se fosse escolhido um patrono para a causa seria, sem dúvida, o ex-presidente Bill Clinton, que quase perdeu o cargo mais poderoso do mundo por causa do envolvimento com aquela estagiária bem nutrida, tendo como cenário o Salão Oval da Casa Branca.

Vamos combinar que a prática de sexo no escritório, seja público ou privado, não é coisa nova. Deve ser tão antiga quanto os escritórios e por certo teve início quando homens e mulheres passaram a conviver boa parte do dia no mesmo ambiente. Só que se acentuou com a liberação dos costumes e os confortos proporcionados pelos escritórios modernos, climatizados e com aqueles sofás convidativos. O cinemão hollyodiano se ocupa do tema com freqüência e "Atração Fatal" (de 1987, com Michael Douglas e Glenn Close) talvez seja o exemplo mais conhecido.

O que chama a atenção é o fetiche que o ambiente de trabalho significa para determinados funcionários e funcionárias. Tive acesso a inúmeros depoimentos de gente que se imagina transando em cima das mesas, entre grampeadores e computadores, relatórios e agendas e, às vezes, a foto de uma cena de família a espreitar os amantes. E conheço também alguns casos em que esse sonho foi realizado e todos garantem que é um momento único, pelo que representa de transgressão. E se for na sala do chefe, melhor ainda. Sei do caso de um contínuo que para se vingar da tirania do chefe transava no escritório dele com a faxineira, que era a garantia que tudo ficaria limpo e em ordem no final.

Mas o nosso foco é essa circunstância que predispõe às relações perigosas, coleguismo à parte, nos escritórios - " a festa da firma". Os congraçamentos servem para liberar alguns desejos sufocados no dia a dia da empresa, que impõe exigências cada vez maiores de produtividade, gerando insegurança quanto ao futuro e muito estresse. A verdade é que nesse contexto fica mais difícil a libido aflorar.

Aí vem o dia da grande festa de fim de ano e um frisson perpassa o ambiente de trabalho. As mulheres se produzem, marcam hora no cabeleireiro ou lançam mão da chapinha e à noite surgem resplandecentes com suas melhores roupinhas. Amigas sinceras me confidenciaram que estréiam peças íntimas, recém adquiridas, nessas ocasiões. Os homens não chegam a tanto, mas também se preocupam em dar um trato no visual.

(continua)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Patrícia Poeta me deve essa

“Fátima Bernardes deixa o JN. E daí?” Bastou postar esta despretensiosa mensagem no Facebook para que, em minutos, aparecessem mais de uma dezena de comentários e outras tantas curtições. A maioria dava conta do seu desconforto com a relevância que adquiriu na mídia a troca de âncora no principal telejornal brasileiro. De fato, quando quem processa a informação ganha mais importância que a própria informação e vira notícia e manchete é porque há algo de errado no reino da comunicação. Nada contra a Fátima Bernardes, uma apresentadora correta e de grande empatia com o púbico, formando um casal telejornal nota 10 com o Bonner, no ar e no lar. Até por isso foi apropriadamente apelidada de Ótima Bernardes pelos Cassetas.

Mas vamos combinar que a troca da Fátima pela ascendente Patrícia Poeta não mexe um milímetro com o dia a dia dos brasileiros e mereceria no máximo uma nota discreta nessas revistas dedicadas a esmiuçar a vida das celebridades. Só que a Rede Globo se movimenta por outra lógica, como se fosse meio e mensagem, e dispensa tratamento de artistas aos seus âncoras jornalísticos. Tanto assim que a dança das cadeiras no JN mereceu entrevista coletiva e a promessa de um programa especial na segunda-feira, na despedida da Fátima. Certamente correrão lágrimas e é capaz de a dona Maria, lá das grotas, chorar junto, mesmo sem entender nada, pensando que a cena faz parte da novela

Agora permitam-me revelar que a Patrícia Poeta me deve, em parte, essa nova fase na sua carreira. Calma que eu explico. Nos tempos em que era atuante no ramo televisivo por duas vezes tive a chance de contratar a recém formada estudante de Comunicação da PUC. A primeira vez por indicação do Flávio Porcello, professor da moça e expert em reconhecer talentos femininos e depois pelo Sérgio Martins, que fora casado com a Patrícia Poeta. Nas duas vezes vacilei e a promissora profissional seguiu outros caminhos. Sorte dela, pois acabou se consagrando na Globo. E a mim só o que resta é ser alvo das chacotas do Sérgio Martins, sempre nos encontramos nos eventos: “Duas vezes, Flávio Dutra, duas vezes...e tu mosqueou”. Eu mereço!