Promissor Novo Ano, não me leve a mal, mas gostaria de acrescentar
outros pedidos. Apelo para o teu anunciado espírito harmonioso para
reaproximar-me dos que ofendi e se apartaram, e daí-me o dom da tolerância para
aceitar e receber os que se desgarraram. Faça pousar em mim a deusa da
paciência e que venham juntas as amazonas altivas da fé e da esperança. Com
isso, serei fortaleza que não se dobra, terei coragem para enfrentar as
adversidades e energia para novos desafios, porque bem sei, minha criança, que
algum tropeço há de ter e faz parte da jornada.
Vamos tratar de coisas práticas, meu pueril 2013? No repeteco,
salve-me das filas, as dos bancos e dos supermercados, e todas as outras onde
corra o risco de ser interpelado por desconhecidos que me tiram para
confessionário e interrompem minhas ruminações. Não admita, por compaixão, que
a guria bonita me pergunte a idade antes de distribuir a senha, se a maldita
fila for inevitável. Abusando da compaixão, não permita que as bonitinhas me
chamem de tio e muito menos de vô, mas dá uma forcinha para que a Rafaela
aprenda logo a me chamar de vô, porque a Maria Clara já evoluiu do “liolô”.
E tem mais uma listinha facilzinha e repetida, meu imberbe 2013.
Não deixe faltar uma boa carne na minha mesa, saladas variadas, cerveja gelada,
um vinho encorpado para as noites de inverno e um espumante para acompanhar o
gosto feminino. E se não for pedir muito, que eu reencontre aquele doce de
abóbora, de comer ajoelhado e o pudim que justifica nossa ida frequente aquele
restaurante. Ah, e aquela berinjela, a
carne de panela com batatas e uma caixa de Bis só pra mim. Se não for
contraditório, aproxime de mim essas tentações. E que sempre possa dividir a
boa mesa com companhias agradáveis, brindando os bons momentos da vida que não
são muito e até por isso precisam ser valorizados. Conceda-me, de vez em
quando, jogar um pouco de conversa fora, curtir mais a minha gente, vagabundear
sem culpa, experimentar o novo e, por que não?, me entregar a alguma
extravagância. Vamos combinar que não é pedir demais.
Em contrapartida, Novíssimo Ano, prometo continuar sem fumar , me
exercitar com regularidade, comer menos fritura e beber moderadamente, cometer
menos infrações no trânsito, voltar a ler e fuçar menos na internet, ouvir mais
e falar menos, respeitar mais e debochar menos, lembrar o aniversário de
casamento e outras datas importantes e não desejar a mulher do próximo, nem a
do distante, porque os outros pecados não os cometo. A não ser que um pouco de
rabugice seja pecado, dos veniais, mas até isso pretendo corrigir. Nesses
termos peço sua compreensão e deferimento, jovem e bem-aventurado Novo Ano.