sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Desculpas, desculpas

Conheço gente que tem justificativa para tudo.  Um deles, depois de ter experimentado todas as venturas da vida, decidiu realizar um sonho de infância e comprar o ultimo modelo da Mercedes Benz – um conversível flamante.  Já entrado em anos, mas em boa forma, saiu-se com essa  para evitar cobranças familiares pela ostentação desnecessária:

- Pode ser meu último carro...

Quase provocou um vale de lágrimas na família, o cínico gastador.  O episódio vale uma breve e rasteira reflexão,  enquanto  me faz lembrar  a estratégia de um parceiro das antigas, assessor de imprensa de um órgão público que,  diante de uma crise e da cobrança da mídia, pedia apenas:

- Me arranjem uma desculpa, qualquer desculpa,  e deixem o resto comigo.

A desculpa, boa ou ruim, consistente ou fajuta, é isso: uma muleta a nos apoiar nos momentos de aprêmio,  ou uma mentira palatável, eu diria até inofensiva, dependendo da proporção do que tenta  justificar.  Só não vale a mais fácil de todas,  a mais usada nos tempos da escola quando a professora questionava por que o tema de casa não fora entregue:

- Esqueci, fessora.

Tem gente que ainda hoje lança mão dessa autentica desculpa esfarrapada no ambiente profissional,  após a cobrança de uma tarefa ou missão não concretizada. Só muda o interlocutor:

- Esqueci, chefia.

E tem a variação também muito usada, especialmente pelos que não são  chegados ao batente: “Não deu tempo, chefia”

Interessante é que ninguém esquece o dia do pagamento, assim como nenhum jovem chega atrasado aos shows de rock, diferente do que ocorre nos  exames do Enem.  Ouvi cada desculpa da gurizada que ficou de fora!

A desculpa pressupõe condescendência e absolvição, por isso peço  tolerância e perdão a todos,  porque  vou ficar por aqui já que minhas ideias se esgotaram.


terça-feira, 20 de outubro de 2015

O mantra do patrono e a nova Playboy

O queridíssimo Evaldo Gonçalves, além de competente editor dos chamados esportes amadores da Zero Hora na década de 80/90 do século passado, era o patrono da Confraria da Caveira Preta, que reunia um bando de jornalistas bandalhos em festins gastronômicos,  etílicos e difamatórios.  Incapaz de compartilhar as maldades dos confrades, Evaldo a tudo ouvia,  mantendo aquele seu jeito generoso e o máximo que pronunciava, mesmo diante do mais escabroso dos assuntos, era uma frase que acabou virando um mantra:

- Que fim de século!

Se ainda estivesse entre nós, o bom Evaldo certamente teria alterado sua frase diante deste desconcertante século 21:

- Que início de século!

Não há mais dúvida de que 2015 vai marcar definitivamente o término de uma era e o início de outra. O marco simbólico desta nova era é o fim da revista Playboy como a conhecemos: sem mulher pelada.  A onda, motivada pela perda de leitores e faturamento,  começa na edição americana e logo deve chegar ao Brasil. Agora só aparecerão os chamados ensaios sensuais.

As peladonas gráficas foram derrotadas pela internet com seus portais para adultos  e a profusão  de vídeos  eróticos e pornográficos em todas as plataformas.  Hugh Hefner, fundador da Playboy nem tem porque se queixar, uma vez que mantém um canal na Tv por assinatura, muito assistido nos motéis. É o que me contam porque já não frequento mais esses estabelecimentos.

A Playboy revista formou gerações inteiras , cumprindo um papel  relevante  na iniciação sexual artesanal, por assim dizer,  entre os rapazes.  Só por isso mereceria teses e teses de mestrado, se é que isso já não aconteceu.  Parece que estou vendo os falsamente intelectuais  elogiando as entrevistas de abertura e os artigos avançadinhos, quando, na verdade, se deleitavam com as histórias picantes do Fórum e as peladonas em geral, com direito à exibição daquela página central dupla.

De minha parte não é a primeira vez que falo da revista aqui neste descaminho do ViaDutra. Da outra vez (Musas na Playboy, em 26/05/2012) lembrei que houve um tempo em a informação de quem seria a garota da capa era tão esperada como o anúncio dos planos econômicos para conter  inflação. Talvez houvesse relação de causa e efeito entre as duas situações, uma impactando fortemente nosso bolso e a outra compensando com verdadeiros colírios para os nossos olhos e provocações para nossa libido.

Agora,  a notícia da mudança na publicação provocou uma onda saudosista e só eu,  um respeitável avô,  já recebi  duas remessas digitais de fotos de ensaios pra lá de sensuais, verdadeiras relíquias do acervo da revista. No primeiro, um lote bem mais retrô, com Cláudia Raia, Sônia Braga, Sandra Bréa, Vera Fischer, Monique Evans, a eterna Luiza Brunet, a Xuxa da era Pelé e Cláudia Ohana com aquela antológica floresta amazônica de pelos pubianos.  O outro lote, mais contemporâneo, contempla caras, bocas e poses de um time de respeito, entre outras,  Grazi Massafera, Cléo Pires, uma tal de Amanda ex BBB, Aline Prado, Carol Dias e Sabrina Sato que não, não tem aquilo atravessado, diferente do que imaginávamos quando começamos a nos interessar pelo tema e discutíamos sobre o formato das japas.  Isso em passado distante.

Com essas máquinas, antigas e  modernas, com ou sem photoshop, a Playboy deixou de ser exclusividade das paredes de borracharia e ganhou espaço nas boas casas de família. Saudosista que sou, vou deplorar a mudança mais pela estética do que pelo erotismo, apelando para o mantra que o nosso patrono Evaldo Gonçalves usaria;

- Se é assim, que lamentável  início de milênio!        


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Histórias curtas do ViaDutra: O Dindo

Criança não mente, por isso é um perigo.  Foi a conclusão a que chegou meu amigo Gunther ao saber do ocorrido com um parceiro da chamada Grande Agronomia.  O sujeito resolveu levar o filho, um piá de seus 7, 8 anos , na festa de fim de ano da firma.  O pai, exibido como só ele, apresentava o guri para todo mundo, especialmente às chefias, certo de que estava agradando.  Até que, reunido com o grupo dos companheiros mais chegados, decidiu questionar o menino e por a prova o quanto constituíam um lar feliz.

- Conta ai pro pessoal com quem é que a mamãe fica quando o papai não está em casa, - perguntou, levantando a bola para que o filho respondesse algo do tipo “é comigo, papai”.

Mas o guri parece que não entendeu a tabelinha do pai e naquela ingenuidade da infância saiu se com esta resposta:

- Quando o papai não está em casa, a mamãe fica com o Dindo. Mas daí  eu vejo pouco porque daí  eles ficam todo o tempo no quarto e daí eles me mandam jogar bola com os amiguimhos..

Não precisa dizer que acabou ali a festa para os dois. Gunther conta  também que não  foi preciso uma comissão de inquérito para a senhora confessar que, sim,  se refestelava frequentemente  com o Dindo, um simpático e espadaúdo vizinho,  escolhido a dedo  pelo próprio pai, com a aprovação entusiasmada da mãe,  para a nobre missão de apadrinhar o menino.

Vida que segue, o Dindo mudou de cidade, o casal se recompôs, a traição foi perdoada, mas como nas antigas histórias em que o sofá levava as culpas e era retirado da sala, o menino nunca mais frequentou  as mesmas festas do pai, além de receber uma missão especial:

- Meu filho, fica de olho na rapaziada da vizinhança.

Ao saber do desfecho, Gunther não se conteve:


- Certas coisas só acontecem na Grande Agronomia. Que sina!

sábado, 3 de outubro de 2015

As regras do jogo - parte II

                                          Autentico campinho varzeano

Típico alemão de Santa Cruz do Sul, como o próprio nome indica, Horst Knak foi colega na Zero Hora na década de 80 do século passado. Era repórter da editoria de Campo & Lavoura mas, gremistão,  gostava mesmo era de frequentar a editoria de Esportes onde eu labutava e onde ele era vitima frequente do bullyng que reservávamos aos intrusos do nosso espaço.

Agora tenho cruzado eventualmente com o Horst, especialmente em eventos ligados  à produção  primária ( ele edita o jornal da Associação Brasileira de Angus), além dos encontros da Confraria do Cachorro Quente e da “amizade” que mantemos no Facebook.  E foi no Face, na esteira da crônica Sessão Nostalgia : As Regras do Jogo publicada no ViaDutra (http://viadutras.blogspot.com.br/2015/09/sessao-nostalgia-as-regras-do-jogo.html) que o Horst postou sua experiência com as  peladas em campinhos de terrenos baldio. Vale reproduzir:

Em tempos já imemoriais, lá entre os 7 e os 17 anos, jogamos muita bola nos potreiros perto de casa. O arroio demarcava um dos lados e a cerca de arame farpado o outro. Ninhos de cupins ou bostas secas de vacas leiteiras eram usadas para formar as goleiras. Pronto, o campinho estava pronto. Isto era na periferia da minha cidade natal, Santa Cruz do Sul, meio termo entre a zona urbana e rural. As regras que valiam eram parecidas com estas publicadas pelo eminente jornalista e blogueiro Flávio Dutra, recuperadas por um colega de peladas. Anos depois, em tempos de blocos de carnaval, jogamos em um campo da Escola Rural, que carinhosamente apelidamos de "Estádio Bostão", ou "Boston Stadium", para os mais colonizados, rsrs. Isto porque, apesar das firmes goleiras e vistosas redes do campo, as vacas da Escola Rural moravam e faziam suas necessidades por ali, enquanto não eram tratadas e ordenhadas. O desafio era fazer uma jogada em velocidade pela ponta ou dar um carrinho sem lambuzar-se numa bosta ainda molhadas, hahahaha... Em todo caso, havia um arroio e uma torneira ao lado para lavar a sujeira... Não é mesmo, Ricardo Capaverde, Regis Capaverde,Flavio MullerEdison EckertPaulo Luiz KonzenRolf KnakMarcos Edmundo Baumhardt, Bruno Wagner Goghost Ridergo), Percio (Marcia Machado) e muitos outros da turma do futebol do sábado à tarde. Que, invariavelmente, terminava numa cervejada!

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Stenio e Marilene & Lennon e Yoko

O mundo caindo e a nudez do Stenio Garcia e da mulher viraram a polemica da hora nas redes sociais, nos portais de informação e mesmo em veículos da chamada imprensa tradicional.  É recorrente relatos assim, como se a imprensa e o público – que é conivente com essa prática porque consome tais besteiras  – precisassem de uma derivação no viés do entretenimento para suportar a carga pesada (sem trocadilho com o seriado protagonizado por Stenio e Antônio Fagundes) , das notícias do mundo da política, da economia, do dia a dia de violência. Os defensores da teoria da conspiração afirmam que se trata de uma manobra para desviar a atenção da Lava Jato. Não é pra tanto.

A verdade é que o noticiário internacional também está carregado de nuvens sombrias, com seus relatos das  infâmias do Estado Islâmico e de outros grupelhos terroristas, a grande marcha dos refugiados,  as provocações entre Estados Unidos e Rússia resgatando a guerra fria e, ainda, as oscilações das bolsas de valores.   Nesse contexto, só Francisco salva, mas vamos combinar que não fica bem envolver o carismático Papa com a nudez do Stenio.

A propósito, o casal de famosos precisa chegar a um consenso sobre que atitude adotar, pois enquanto o ator leva o assunto numa boa, a mulher Marilene Saade quer ir as últimas consequências para descobrir quem vazou as fotos dos dois em nu frontal. O desacordo ajuda a deitar por terra o argumento de que o assunto ganha destaque porque é preciso preservar a  privacidade das pessoas. Além disso, quem viu as fotos revela que Stenio surpreende negativamente em termos de equipamentos, se bem que deve ter outras qualidades porque vive há mais de seis anos com a atual companheira, 36 anos mais jovem – ele tem 83 anos e ela 47.

Na real, estão tão banalizados esses vazamentos que, às vezes, desconfio que vítimas e algozes são a mesma pessoa e que o berro de indignação faz parte do teatro, Certamente não foi o caso de Carolina Dieckmann, envolvida em um vazamento de fotos, que esperneou o que deu e acabou ganhando lei promulgada em 2012 com seu nome, tipificando os chamados delitos ou crimes informáticos.

Caso emblemático mesmo foi o da  nudez de John Lennon e Yoko Ono em 1968 para ilustrar a capa do álbum Unfinished Music Nº:Two Virgins, como bem lembrou meu amigo Caco Belmonte numa postagem que fiz sobre o assunto no Facebook. O que o Caco não disse foi que as fotos de costas mostraram uma realidade cruel : a derrière dela era mais feia do que a dele, bem mais feia. Vai no Google e confere, porque eu nao tenho coragem de reproduzir.