sexta-feira, 28 de maio de 2021

Folhetim: A moça do supermercado - Capitulo 12

 *Vagamente inspirado na realidade.

A carona sugerida por  ela rendeu um bom conjunto de  informações sobre o ambiente no  trabalho da moça. O professor estava curioso, ansioso mesmo, para saber porque ela fora rebaixada para empacotadora. O culpado era o Ronaldo, vulgo Naldo, supervisor do setor das caixas, que diante da rejeição dela aos assédios que fizera, tratou de puni-la daquela forma vil.

- O Naldo já  pegou  várias  gurias aqui, mas comigo não tem vez, aquele nojento. Ele vive se exibindo dizendo que é parecido com aquele cara que é casado com a Fernanda Lima e que cozinha na tv.- acrescentou Alexia, ligeiramente alterada.

- Rodrigo Hilbert?

- Sim, esse daí, um bem bonito. E o Naldo não se enxerga se achando parecido.

O confronto estético entre Naldo e Rodrigo Hilbert provocou uma súbita solidariedade do professor com o pegador do supermercado, mesmo que  ele fosse um potencial adversário pelos favores sexuais da moça – afinal, apesar do jeito magal, o rapaz era bem apessoado, pelo que pudera  observar.

Enquanto Alexia falava mal do chefe, Adalbertinho, num pensamento empático, refletiu sobre as diferenças, caso estivesse  no lugar  do supervisor; “Que méritos tem o Rodrigo Hilbert nas suas conquistas amorosas, ele que é alto,  bonito, jovem, charmoso e ainda cozinha bem? Com esses atributos até eu pegava a Fernanda Lima. Quero ver ser bem sucedido na vida amorosa sendo baixinho, barrigudo, quase pertencer à grupo de risco, salário de professor, carro velho e sem nenhum talento para a culinária. Estes, sim, merecem louvações e serem invejados. Para eles, todos os embates em busca das parcerias viram Copa do Mundo, os 12 trabalhos de Hércules, a ida a Marte...”, permitiu-se o exagero.

“ ...um nojento”,- ainda ouviu de novo e de novo apelou para a vida real, lembrando uma notícia que lera recentemente, sem prestar muita atenção, mas que agora servia de argumentação contra Rodrigo Hilbert, claro que em pensamento: “Nojo é o que ele e a mulher fizeram, comendo a placenta , depois do parto da  filha. E ainda filmaram; blergh!’

- Que quê o senhor está pensando? , interrompeu  ela, provocativa.

- Tô pensando que nós poderíamos fazer um programa diferente uma hora dessas.

- Um programa diferente? Como assim?

(continua)

sexta-feira, 21 de maio de 2021

Folhetim - A moça do supermercado - Capítulo 11

 * Vagamente inspirado na vida real.

Ao chegarem na casa de Alexia, após a carona sugerida por ela, foram surpreendidos com a presença do seu Monteiro e do motorista-segurança, que atendia  pelo nome Carlão. Mecenas suburbano da família, especialmente da mamis Suellen, o bicheiro  decadente questionou o professor, enquanto mostrava uma arma na cintura e esperava a aproximação  de Carlão, com seu olhar faiscante e corpanzil de armário.

- Cidadão, quais são suas intenções com a Su e a menina?

A primeira coisa que veio à mente de Adalbertinho foi correr para o carro e sair em disparada dali, mas estaqueou  e só conseguiu dizer.

- Eu posso explicar, eu posso explicar!

A voz saiu mais firme do que o medo que estava sentindo permitiria. Com isso ficou animado e fortalecido para  fazer frente à dupla ameaçadora.

- Olha aqui, sou amigo da Alexia, lá do supermercado onde faço minhas compras, e só frequentei a casa à  convite  da dona Suellen,-  fez questão de realçar um dona respeitoso.

- A Su convidou? Como assim?

O diálogo que se seguiu contrapôs o desconfiado e ameaçador  Armando a um seguro e convincente professor. “Nada como a  experiência de enfrentar os marmanjos das escolas públicas para uma situação como essa”,  reconheceu o mestre em pensamento, mas pisando em ovos no enfrentamento.

-  Cidadão, estamos de olho, muito respeito por aqui,- Armando encerrou a conversa e, maneando a cabeça, convocou Carlão para partirem.

- Puxa não sabia que o senhor era tão corajoso. Todo o mundo aqui tem medo do seu Armando e do tal Carlão,- comemorou Alexia.

Ponto para o Adalbertinho.

Ele não aceitou, entretanto, o convite de Alexia  para entrarem na casa, onde seria  servido um café. Tinha lá seus motivos: a lembrança  do café da mamis era de um liquido fraco e morno e, mais importante ainda, não queria provocar o seu Armando em mais uma visita naquele que o bicheiro considerava seu domínio exclusivo. Mais aliviado depois do embate na frente da casa, apenas combinou que encontraria a moça no  dia seguinte, no  supermercado.

- A mamis disse que queria tanto que o senhor nos visitasse de novo,- relevou a garota na visita dele, enquanto mostrava suas habilidades manuais  como empacotadora.

- De novo nisso dai?,- interpelou o professor.

- Se o senhor  me der uma carona eu conto o quê que houve,- sugeriu ela e desta vez pareceu oferecida.

(continua)

sexta-feira, 14 de maio de 2021

Folhetim: A moça do supermercado - Capítulo 10

 * Ligeiramente baseado na vida real.

A frase perturbadora ainda martelava na mente dele e foi quando se deu conta de que  não era a frase que o perturbara, mas a forma como fora pronunciada:

- Sei fazer coisas que o senhor nem imagina!, numa voz suave, quase insinuante.

Talvez fosse o efeito da máscara, só que a perturbação era real. Foi outra frase de Alexia que devolveu ele ao ambiente do supermercado:

- A mamis gostou muito do senhor.

E já emendou: “Ela quer que o  senhor vá mais vezes lá em casa.”

Adalbertinho vislumbrou no convite duas oportunidades prazerosas a serem bem aproveitadas: repetir as caronas a moça e rever os seios bem firmes de  Suellen, a mamis. Ao lembrar dos seios, lembrou também da tatuagem que os encimava:  Rapaki, paixão em grego, que Alexia também tinha tatuada, quase na mesma região peitoral.  

A lembrança levou o professor e se consumir em dúvidas: qual a motivação para transpor aquela palavra para as macias peles femininas de mãe e filha? Seriam paixões do passado eternizadas dessa forma? Um grego na vida delas? Radicalizou nas suas elucubrações, até ser chamado novamente a realidade pela moça:

- Vou sair em meia hora, Se o senhor tiver paciência e for pras nossas bandas, aceito a carona,-  ela sugeriu, sem parecer oferecida.

Por essa ele não esperava, tanto assim que demorou alguns segundos para responder, titubeante:

- Cla-ro, cla-ro.  Na parada de sempre?

A caminho da casa dela, ele não resistiu e tratou de desfazer as dúvidas em relação a tatuagem e o fez cheio de cuidados.

- Não me leve a mal, mas observei que tu e tua mãe tem a mesma tatuagem, a mesma palavra e na mesma parte do corpo (ficou  constrangido em falar em seios). Sabe o que significa essa palavra?

- Parece que é  uma palavra turca,- explicou ela.

- Desculpe, mas Rapakli é grega,- corrigiu ele,

- Ah, pode ser. Mamis e eu fizemos a  tatuagem no mesmo dia e  achamos a palavra bonita e umas letras legal.

Ao  desfazer o mistério, Alexia provocou inesperada decepção no veterano, que imaginava uma explicação que remetesse a algo mais épico, mais romanceado, como nos  livros que gostava de ler e recomendava aos  seus alunos.

- Rapaki significa paixão, garota. 

- Não sabia, muito legal isso.

O professor  tentou avançar no diálogo, conduzindo a conversa para um lado mais intimista, mas  logo percebeu que isso não ia prosperar por falta de argumentos e conhecimentos da outra parte.

Em seguida chegaram à casa dela, onde havia um inesperado receptivo: um carrão preto.

- Olha, é o carro do seu Armando,- avisou a moça.

Pelo lado do carona saiu um sessentão vestido à antiga, calça social ajustada bem acima da cintura, casaco quadriculado, uma camisa social tendendo para o amarelo e abotoada até o  pescoço.  O cabelo visivelmente recebera uma tintura extra, assim como o bigodinho  ralo. Se houvesse  uma figura icônica para representar um bicheiro decadente, seu Armando era o próprio e isso ficou mais evidente quando, num sorriso forçado,  mostrou os dentes, entre eles um incisivo central reluzente de dourado que fazia  concorrência em brilho com o medalhão que ornava a barriga proeminente do homem.

- Precisamos ter uma conversinha, cidadão.- avisou o bicheiro.

Ato continuo, abriu um lado do casaco, revelando uma arma no coldre preso à cintura. Como se fosse uma ação  sincronizada, do lado do motorista do carrão, surgiu um mulato alto e bombado, cujos olhos faiscaram quando o patrão começou a falar.

- Cidadão, quais são suas intenções com a Su e a menina?

(continua)

sábado, 8 de maio de 2021

Folhetim: A moça da Supermercado - Capítulo 9

 *Inspirado mais ou menos na vida real

Ao acordar, depois de uma noite de sonhos com Alexia, o professor se sentia feliz com o que acontecera à noite e parecia exausto pela mesma razão. Começara com um beijo roubado, mas logo consentido, preliminar do que viria depois, luxuria completa, contato pecaminoso, lascívia, volúpia, libertinagem, e lá se foi o professor a emendar, em pensamento, sinônimos para a intensa relação mantida com sua amada. Ele não conseguia se livrar da mania pedagógica de diversificar todos os acontecimentos com variados significados.

Não era a primeira vez que transara  com Alexia em sonhos e sempre tinha sido uma experiência inesquecível. Desta vez o que desencadeara as intimidades fantasiosas fora uma frase pronunciada quando ele fez um elogio às habilidades dela no empacotamento em meio aquelas imagens confusas que os sonhos registram.

- Sei fazer coisas que o senhor nem imagina!

Ato seguinte ele trouxe a moça  para junto de si, beijou-a com sofreguidão e foi correspondido. Adalberto era capaz de lembrar cada ato da sequência do sono luxuriante, mas aquela frase martelava na sua mente, para não ser esquecida jamais:

- Sei fazer coisas que o senhor nem imagina!,

- Uau, se em sonho é assim, imagina ao vivo,- se flagrou falando em voz alta, após os pensamentos libidinosos. 

O dia foi de desassossego pela lembrança, a cada momento, do sonho com Alexia. Ansioso por revê-la ao vivo, no final da tarde escapou até o supermercado. Para surpresa dele, ela não estava atendendo na caixa, mas como empacotadora. Ao notar a surpresa do professor, antecipou-se a qualquer questionamento:

- Depois eu explico pro senhor.

Mesmo na nova função, inferior à de atendente de caixa pelo menos na hierarquia do supermercado, ela se portava com garbo e charme no manuseio dos produtos. E ele não conteve o elogio.

- Tu és muito  habilidosa, garota!

- Sei fazer coisas que o senhor nem imagina,- foi a resposta dela, só para ele ouvir.

 (Continua)