*Vagamente inspirado na realidade.
A carona sugerida por ela rendeu um bom conjunto de informações sobre o ambiente no trabalho da moça. O professor estava curioso,
ansioso mesmo, para saber porque ela fora rebaixada para empacotadora. O culpado
era o Ronaldo, vulgo Naldo, supervisor do setor das caixas, que diante da
rejeição dela aos assédios que fizera, tratou de puni-la daquela forma vil.
- O Naldo já pegou várias
gurias aqui, mas comigo não tem vez,
aquele nojento. Ele vive se exibindo dizendo que é parecido com aquele cara que
é casado com a Fernanda Lima e que cozinha na tv.- acrescentou Alexia,
ligeiramente alterada.
- Rodrigo Hilbert?
- Sim, esse daí, um bem bonito. E o Naldo não se
enxerga se achando parecido.
O confronto estético entre Naldo e Rodrigo Hilbert provocou uma súbita solidariedade do professor com o pegador do supermercado, mesmo que ele fosse um potencial adversário pelos favores sexuais da moça – afinal, apesar do jeito magal, o rapaz era bem apessoado, pelo que pudera observar.
Enquanto Alexia falava
mal do chefe, Adalbertinho, num pensamento empático, refletiu sobre as
diferenças, caso estivesse no lugar do supervisor; “Que méritos tem o Rodrigo
Hilbert nas suas conquistas amorosas, ele que é alto, bonito, jovem, charmoso e ainda cozinha bem?
Com esses atributos até eu pegava a Fernanda Lima. Quero ver ser bem sucedido
na vida amorosa sendo baixinho, barrigudo, quase pertencer à grupo de risco,
salário de professor, carro velho e sem nenhum talento para a culinária. Estes,
sim, merecem louvações e serem invejados. Para eles, todos os embates em busca
das parcerias viram Copa do Mundo, os 12 trabalhos de Hércules, a ida a Marte...”,
permitiu-se o exagero.
“ ...um nojento”,- ainda ouviu de novo e de novo
apelou para a vida real, lembrando uma notícia que lera recentemente, sem
prestar muita atenção, mas que agora servia de argumentação contra Rodrigo
Hilbert, claro que em pensamento: “Nojo é o que ele e a mulher fizeram, comendo
a placenta , depois do parto da filha. E
ainda filmaram; blergh!’
- Que quê o senhor está pensando? , interrompeu ela, provocativa.
- Tô pensando que nós poderíamos fazer um programa
diferente uma hora dessas.
- Um programa diferente? Como assim?
(continua)