segunda-feira, 29 de outubro de 2018

O dia seguinte


* Publicado originalmente no Coletiva.net em 29/11/2018

- “Mais uma semana e a gente virava o jogo!”
- “Perdemos para as fake news.”
- “Os  whatsapps deles foram mais eficientes.”
-  “Ah,  se fosse o Lula!”
- “Esperamos muito tempo pelo Lula.”
-  “O Haddad apelou demais para  o Lula.”
- “ Haddad não devia ter se afastado do Lula no segundo turno.”
- “Faltou fazer o mea  culpa.” 
- “Mea culpa é para  os fracos.”
- “A Manoela na missa foi gol contra.”
- “A Manoela  devia ter aparecido mais. Apelo aos jovens, entende?!”
-  “Não dá pra depender só do  Nordeste.”
- “Pô, a diferença no Nordeste tinha que ser maior!”
- “ Esperava mais do Ciro e da Marina.”
- “Este Ciro é um #$%*§!”
- “A Marina é  uma mosca morta.”
- “Só o Boulos é de fé.”
- “O Boulos não acrescentou nada. Teve menos voto que o Daciolo. ”
- “O FHC podia ter ajudado. Afinal, é um democrata!”
-  “Pedir voto pros  coxinhas é brabo!”
- “ Mano  Brown, Cid Gomes, baitas traíras.”
- “A Globo, o Bonner, a Regina  Duarte...”
- “A Record, o bispo, o  Mendelsky...”
- “A Band, o  Boechat, o Macaco Simão...”
- “A Veja, a IstoÉ, o  Estadão...”
- “O STF, o TSE, o Sérgio Moro...”
- “O Adnet  podia ter caprichado  mais no Haddad.”
- “ O Trump, a CIA, a Ku Klux Klan  e nós com  o Maduro, o Mujica e a OEA...”
- “ Nem o papa, nem o Roger Waters  ajudaram.”
- “Não imaginava que tinha tanto fascista no Brasil.”
- “ Agora eles vão ver o que é oposição!”
Senhoras e senhores, o terceiro turno já começou.

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Verdades e bobagens eleitorais


* Publicado originalmente no Coletiva.net em 22/10/2018
Nem 13 nem 17, mas a soma de ambos em  verdades  e bobagens desta campanha eleitoral, que elenquei após muita  reflexão #sqn:

1. Nunca antes se discutiu tanto sobre política no país

2. Campanha para valer é a do segundo turno. Primeiro turno é só aquecimento.

3. Não  adianta acordo entre caciques  quando o eleitor decide o contrário

4. Lula será  o grande eleitor no final das contas: para o Haddad e o Bolsonaro.

5 As Fake News também foram um grande cabo eleitoral

6. As mídias tradicionais  perderam força, assim como tradicionais candidatos.

7. Os partidos  foram os grandes derrotados desta eleição.

8 Os institutos de pesquisa mantiveram o padrão: erraram demais.

9. E a mídia vai sair bem chamuscada.

10. Os eleitores defecaram e andaram para a opinião das celebridades.

11. Os eleitores se lixaram para as propostas de governo. E os  candidatos  também.

12.Homofobia, racismo, misoginia, religião, alguns dos temas mais relevantes debatidos na campanha.

13.Agressividade, o mais forte e inútil argumento eleitoral.

14. Fogo amigo foi outro adversário do Haddad.

15.  Os irmãos Ciro e Cid vão acabar criando o PCR,  Partido dos Cearaenses  Ressentidos.

16. Os cards sobre a Dilma foram os melhores das redes sociais.

17. As urnas fizeram o que Lewandowsky protelou: cassaram Dilma.

18 .O que teve de apoio “crítico”...

19. Será  alta a participação dos eleitores  tipo “não sou..., mas vou votar no...”

20.Pela persistência, Eymael merecia um mandato,

21. Cabo Daciolo, o Enéas (“Meu nome é Enéeeas!”) contemporâneo.

22. Cláusula de barreira pra valer é a exigência da Ficha Limpa.

23.Urnas eletrônicas: nunca antes tão contestadas, mas nada provado.

24. O Temer estava quietinho, esquecido, aí a PF...

25. Alguém sabe desdobrar as siglas PSL, PRTB, Pros?

26. Bolsonaro foi uma mega-sena eleitoral para o PSL

27. A campanha eleitoral virou uma Caixa de Pandora.

28. A eleição confirmou que a reforma politica é a mais urgente!

29. Independente  de quem ganhar a eleição, o pior vem depois.

30. O WhatsApp será como o estagiário: vai levar a culpa.

Apesar de tudo, o Brasil que já sobreviveu ao Collor, ao Sarney, à Dilma/Temer, vai sobreviver de novo.


terça-feira, 16 de outubro de 2018

Assédio reverso


* Publicado originalmente nesta data no Coletiva.net

Sou um recontador de histórias. Ouço na mesa ao  lado, acrescento uns adjetivos  e advérbios e repasso adiante.  É o caso  a  seguir, que trata de um tema que está na ordem do dia: o repúdio ao assédio em todas  as suas formas. O relator original da situação, que classifico como escabrosa, foi meu amigo Maurício, aqui identificado com nome trocado, por razões óbvias.

Certo dia ele interrompeu   minha labuta no computador e, quase sussurrando, me revelou a enorme angustia que o atormentava. Era sobre assédio e ele se dizia a vítima.

Maurício é um quarentão bem apanhado e bem casado,  homem temente a deus e  realizado pessoal e profissionalmente. Até diria que é  uma reserva moral nestes tempos tão conturbados e contraditórios. Pois, são manifestações destes tempos que angustiam o amigo, que passou a receber mensagens pra lá de despudoradas de moças e senhoras tidas como respeitáveis.  Não uma, nem duas mensagens. Várias.  Mensagens carregadas de erotismo,  convites safados, propostas indecorosas, declarações com palavreado de fazer inveja àquele ex-presidenciável flagrado em negociações escusas na Lava Jato.   E, pasmem, mensagens ilustradas por muitos nudes, inclusive das partes pudendas.

Foi demais para o nosso amigo que, diferente do Chico Buarque em sua nova música, não está disposto a abandonar o lar para uma aventura fugaz. A perturbação  levou-o a procurar uma explicação para esse desordenamento nas relações entre homens  e mulheres.

Maurício jura que não incentiva as assediadoras, por isso ganha estatura moral para se posicionar sobre o tema. Ele entende que a falta de pudor, a ausência de valores, o vale tudo nas relações começou com o falso, segundo ele,  empoderamento das mulheres. O desabafo foi contundente:
- É esse tal empoderamento, que começou com a  queima de soutiens e chegou às peladonas em protestos. Depois que acabaram com  o namoro  só as quartas feiras, sob severa vigilância dos pais, aí liberou geral e até sexo no primeiro encontro já estão praticando. Uma pouca vergonha.

Ao ouvir a desdita do amigo confesso que também me perturbei, eu que, como ele, eleva o gênero feminino à condição de quase divindade.  Mas também fiquei ligeiramente invejoso, uma vez que só recebo mensagens masculinas, flautas futebolísticas e besteirol da política.

Parece que o Maurício leu meu pensamento e, veemente como candidato em horário eleitoral, sentenciou para a  pequena plateia  que se  formara após o desabafo dele:

- O que o nosso país está precisando mesmo é de uma reforma moral! Chega de empodredamento, - e mostrou satisfação com a corruptela que acabara de inventar.

Admito que tenho receio de concordar com as teses do Maurício para não ser alvo de caldáveis iradas que, sim, existem, embora em número reduzido. Temo ser vítima de um masculinicídio,  que seria de responsabilidade “das tais redes sociais, Tinder, Par Perfeito  e outras,  que banalizaram as relações e onde as pessoas ficam se oferecendo umas  às  outras, provocando traições e conflitos”, -  segundo denunciou o parceiro, revelando um suspeito  conhecimento sobre as redes acusadas.

A propósito, questionei outro amigo da roda  se ele frequentava Tinder e  similares  e a resposta foi pronta e direta.

- Claro que não, imagina se encontro o perfil da minha mulher ali!

Argumentei que não se preocupasse, pois, como no caso dos traídos, “são coisas que colocam na nossa cabeça”, para usar uma  besteira corrente sobre os efeitos  da infidelidade feminina.  A réplica dele foi mais surpreendente:

- O pior corno é o que quer saber.

Foi então que me recolhi a um silencio obsequioso e fui buscar guarida nas  redes sociais mais sérias para acompanhar os candentes debates entre petistas e bolsonaristas. Olha, só faltaram os nudes para ficarem tão obscenos quanto as mensagens recebidas  pelo meu  amigo. Que tempos vivemos!

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

O fenômeno Bolsonaro


* Publicado nesta data no Coletiva.net

Escrevo esta coluna antes de saber o resultado das urnas no domingo. As conclusões que seguem independem do resultado eleitoral, por isso afirmo, sem hesitar, que Jair Bolsonaro é o maior fenômeno eleitoral das últimas décadas. Um fenômeno só comparável a Donald Trump, com mérito maior do brasileiro, que não conta com a poderosa estrutura que o norte americano tinha à disposição.

Esse é  um dos pontos, entre outros,  que fazem do ex-capitão o fenômeno constatado e que surpreendeu os especialistas:  tempo reduzido no horário eleitoral, um partido  nanico, coligado a  outro nanico,  carreira e biografia nebulosas, uma campanha que beira o amadorismo, sem contar as declarações desastrosas dele e do seu vice, e o bate cabeça  dos desmentidos.  

Ao conjunto de fragilidades deve ser acrescentado mais: passou quase todo o primeiro turno hospitalizado, enfrentou acusações de toda a ordem, hostilidade de boa parte da mídia e a posição contrária de vários  segmentos, com destaque para as mulheres e o pessoal LGTB; não é um grande orador, nem faz o gênero  carismático, não tem padrinho forte como Haddad, nem ostenta experiencia administrativa como um Alckmin ou um Ciro e não tem candidatos  a governador na maioria  dos estados ( liderava com folga em 18 dos 27); não se conhece uma só proposta dele, a não ser  a de liberar armas para todos. Ou seja, Bolsonaro  tinha tudo para ser um Boulos ou um Eymael qualquer ou, pior ainda, baixar de patente e virar um Cabo Daciolo,

Pois, ainda assim a candidatura dele não só resistiu na liderança com ampliou a vantagem na campanha presidencial, superando representantes de forças políticas de peso e tradição, como PT, PSDB, MDB e todo os partidos do Centrão.

Vale esclarecer que não estou fazendo uma adesão à candidatura dele, mas sou obrigado reconhecer que ele adquiriu uma estatura que seu retrospecto político e pessoal não indicavam. Então, como explicar esse fenômeno? A resposta simplista é que a atual campanha está mais caracterizada pelo voto contra do que a favor e Bolsonaro representa, como ninguém, o sentimento antipetista.  Na realidade – e nem estou sendo original -, este Bolsonoro que aí está é cria do PT, do “nós contra eles”, da apropriação indiscriminada do Estado e da corrupção em todos os níveis, que levou seus principais líderes para  a cadeia.  Só que é uma verdade parcial, porque Alckimin é mais declaradamente antipetista, assim como Álvaro Dias e mesmo Ciro, que fustiga o PT sempre que provocado. No entanto, todos eles patinam nas pesquisas e ficaram longe dos líderes.

Bolsonaro representaria também o voto dos menos instruídos – e menos esclarecidos - e majoritariamente dos homens. Duas falácias: as pesquisas da reta final do primeiro turno mostram o crescimento da candidatura entre as mulheres, apesar do movimento EleNão – ou por causa dele – e entre os eleitores mais ricos e com melhor nível de instrução, onde já liderava. E assim a onda Bolsonaro ganhou impulso, canalizando o conservadorismo que habita, em escala crescente, entre os brasileiros.

A verdade é que nenhum candidato incorporou de maneira mais eficaz o figurino do candidato que é “contra tudo isso que está aí”, um pacote que inclui o PT e seus satélites, o governo Temer, os tucanos mais emplumados, a agitação dos movimentos sociais e a classe política em geral.  Além disso, encarna a representação de uma instituição com reconhecida credibilidade, as Forças Armadas, reforçada pela presença do general Mourão como vice, uma forma de mostrar que é o mais preparado para dar resposta à grave questão da segurança, a que mais preocupa a população. Nesse contexto, é avaliado pelos seus seguidores como o mais apto a garantir a lei e a ordem. Resiliente, as bobagens que prega soam como manifestações de sua autenticidade e reforçam a imagem do personagem que representa. Claro que cientistas políticos, sociólogos, antropólogos e analistas da mídia devem ter explicações mais científicas e aprofundadas sobre o fenômeno do que as rasas avaliações deste modesto observador de cenários.

Entretanto, firmo posição:  independente do resultado do segundo turno, Bolsonaro já  pode se considerar um vencedor nesta eleição.  O resultado final, porém, vai mostrar se ele veio para fazer história como o novo presidente da República  ou se vai ficar na memória como mais um Cacareco*, que canalizou os votos de protesto mas não se realizou como líder político de projeção.

*Cacareco era um rinoceronte do zoológico do Rio emprestado para o zoo de São Paulo que nas eleições municipais de 1959 recebeu cerca de 100 mil votos, tornando-se o ”candidato” mais votado naquela  eleição. Foi um dos casos mais famosos de voto de protesto  da história politica brasileira.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Um ministério notável


* Publicado nesta data no Coletiva.net 

Enquanto a maioria dos candidatos a cargos majoritários promete diminuir o número de secretarias e ministérios, eu empreenderia uma campanha na contramão desse encolhimento demagógico e oportunista. E criaria um conjunto de novas estruturas estatais, pois identifico importantes áreas desassistidas ou sem controle pelo poder público. Assumiria, porém, o compromisso de buscar para comandá-las os quadros mais capacitados, profissionais de reconhecido saber, um time de notáveis, como o Grêmio.

Daria prioridade ao Ministério da Gastronomia, da Enologia e do Lúpulo, para qualificar ainda mais a boa mesa tupiniquim, com a garantia de que as iguarias  seriam corretamente harmonizadas com a carta de vinhos. Haveria um departamento exclusivo para cervejas, sendo terminantemente proibidas licenças de fabricação para as de trigo, de banana, de chocolate e, especialmente, a de erva-mate. Convidaria para assumir esse ministério o Rodrigo Hilbert, que me parece ter um perfil adequado ao cargo, além do que a primeira dama da pasta poderia ser a mestra de cerimônia dos eventos ministeriais. Um luxo. Para o departamento de Veganos cogitaria a irmã da Preta Gil, a Bela Gil e suas receitas saudáveis.
Já o Ministério do VAR seria criado para dar uma resposta à questão transcendental da arbitragem esportiva, que tanto aflige os brasileiros e tantas polêmicas provoca, com alto potencial de geração de conflitos e desordens. Portanto, trata-se de assunto sério, de coesão social e segurança nacional, que não pode ficar sob a responsabilidade daqueles incompetentes da CBF. A ação desse ministério começaria com o futebol e seria estendida a outros esportes e jogos, inclusive bocha, bolão, truco e cancha reta. Para dirigir a pasta será convidado Arnaldo Cesar Coelho, que já anunciou o desejo de se aposentar da Globo. Galvão Bueno nem para a posse será convidado.
O Ministério das Redes Sociais virá para regular a zorra em que se transformaram essas manifestações, mas pode ser substituído por uma empresa pública, a Brasredes, que vai atuar com severidade para coibir abusos, desaforos, assédios, fake news, pedidos de correntes, fotos de pets e de comilanças. Serão vedadas expressões como 'bora lá', 'aí é que me refiro', os KKKKs, Hahahas, e falsidades tipo 'linda!', 'amo muito!' e recados que ninguém entende. Flautas esportivas serão permitidas e até incentivadas, afinal, é preciso dar alegria ao povo. Em princípio, pensei para liderar esse importante ministério uma parente que entende tudo de redes sociais e se move por rígidos padrões éticos, mas não faltaria quem me acusasse de nepotismo, por isso, a vaga ainda está em aberto.
O Ministério da Imprevidência vai assumir todos os problemas que emperram o Ministério da Previdência, inclusive o pagamento de pensões indevidas e aposentadorias acima do teto, e, assim, permitir que este cumpra seu papel de garantir uma aposentadoria digna aos brasileiros. Difícil vai ser encontrar um imprevidente para assumir o novo ministério.
Por fim, será criado o Ministério das Utopias, entregue a um dos atuais candidatos, que prometem o paraíso na terra sem explicar como chegar lá. O ministro terá toda a liberdade para fantasiar projetos e projetar fantasias, nada que se viabilize, mas mantendo-se entretido, sem atrapalhar as outras ações governamentais. Reconheço que o Lula já tentou algo semelhante com o filósofo Mangabeira Unger - que se apresentava também como teórico social - e a então Secretaria de Assuntos Estratégicos. Era erudição demais para o ex-presidente e a tal secretaria foi extinta.
O projeto todo de ampliação do gabinete ministerial é ambicioso, só falta um partido corajoso abraçá-lo, de preferência, um radical de centro que banque uma candidatura inovadora.
Em tempo, antes que me interpretem mal: é brincadeira, gente, se bem que perto de algumas propostas que ouvi na atual campanha, as besteiras aqui sugeridas nem são tão risíveis assim.
Pensem nisso quando forem votar no próximo domingo.