Dona Mimi e um curso nas lojas Guaspari. Olha o fogão Wallig ali
Sou do tempo em que programa de culinária era com a
dona Mimi Moro (1894-1977), na antiga TV Piratini. O programa era Cozinhando
com Dona Mimi, em preto em branco, com
uma equipe de produção muito criativa
para compensar as carências técnicas da época.
As panelas fumegando, por exemplo, eram focadas através de um espelho
colocado acima do fogão, um Wallig, por certo. No fim do programa, a equipe
devorava as guloseimas preparadas pela dona Mimi, num tempo em que as frituras
não eram demonizadas como hoje.
Coube ao Anonymus Gourmet, que os seus
contemporâneos jornalistas conhecem como Pinheirinho, dar continuidade à
atividade gastronômica na televisão gaúcha, primeiro na RBS e agora no SBT.
Eventualmente cruzo com ele no Calçadão de Ipanema, trocamos amabilidades e uma
ou outra vez deixei registrada a minha inconformidade por ele rejeitar o
potencial culinário da berinjela, no que recebo o convicto apoio da simpática
esposa dele.
Contar com apenas uma atração gastronômica
televisiva é quase nada diante do quadro que se constata hoje na grade de
programação dos canais abertos ou pagos. A oferta de programas tem opções
nacionais, de Ana Maria Braga à Carolina Ferraz, passando por Rita Lobo e Bela
Gil, e internacionais, como a inglesa Lorraine Pascale e a neozelandesa Annabel,
e mais um naipe masculino com uma comissão de frente, com e sem sotaque,
formada por Rodrigo Hilbert (o maridão da Fernanda Lima), Claude Que Marravilha
Troisgos, o padeiro Olivier Anquier e o inglês Jamie Oliver, que parece salivar
quando apresenta suas comidinhas. Por fora corre o fenômeno food truck que
começa a também ganhar espaço na TV.
O último levantamento indicava 67 programas no ar. Até
reality show tem, o MasterChef que está na segunda edição, no qual os
telespectadores podem acompanhar a transformação de um cozinheiro amador em um
chef profissional. É um dos carros
chefes da programação da Band, que garante um premio de R$ 150 mil ao ganhador
para ele abrir seu próprio negócio. E o
SBT investe num reality de confeitaria intitulado Bake Off Brasil – Mão na
Massa, que reúne em horário nobre 12 competidores pelo título de melhor
confeiteiro amador do país.
Se existe oferta é porque tem demanda – e
patrocínios comerciais -, o que explica
a profusão de programas e até mesmo um canal dedicado exclusivamente à
culinária, o ChefTV . Pode ser modismo, mas acredito que a gastronomia
televisiva veio para ficar, uma vez que
reúne alguns ingredientes presentes com
muita força nestes tempos hedonistas: apresentadores que fazem o estilo de
celebridades, ambientes glamorosos,
disputas nos reality shows e prazer envolvendo uma necessidade básica, a
alimentação. E assim já disputa espaço nobre com as novelas e as coberturas
esportivas.
Toda essa onda provocou a mais profunda mudança nos
hábitos alimentares desde que o homem descobriu o fogo e passou a utilizá-lo no
preparo da sua nutrição. Agora o prazer da comida passou da mesa para o fogão e
deste para a TV, tornando mais verdadeira do que nunca a expressão popular “comer
com os olhos”. Dona Mimi Moro certamente
não imaginaria tanto