domingo, 26 de agosto de 2012

Sim, eu sou gremista


Ainda hoje encontro gente que se surpreende quando revelo minha predileção pelo Grêmio.  Até já ouvi  uns “jurava que tu eras colorado”. Será que consegui enganar tão bem nos tempos em que militei na chamada crônica esportiva, algo como 30 anos de atividades em rádio,TV e jornal? É bem verdade que eu não tinha a visibilidade – e nem a cobrança permanente – do pessoal de microfone e de vídeo, mas era prudente afetar uma neutralidade para o público externo porque o interno sabe quem torce para quem.  

Sim,sou gremista, o único numa família de oito irmãos.  Por sorte, minha infância e adolescência se deram em tempos de Grêmio vitorioso nas décadas de 50 a 60 do século passado e, assim ,não fui muito vilipendiado pelos outros irmãos.

Hoje posso afirmar, cheio de orgulho, que em nenhum momento em minha carreira jornalistica a predileção clubística teve influência para beneficiar ou prejudicar esse ou aquele clube. Talvez até fosse mais severo e exigente com o time do coração. Ou seja, não era neutro, mas buscava obsessivamente a isenção.  Não posso dizer o mesmo de alguns companheiros com os quais convivi, embora a maioria estivesse mais comprometida com o seu trabalho e com o veiculo em que atuava do que pender para esse ou aquele lado. E vamos combinar que isso não era,  e continua não sendo, tarefa fácil num ambiente grenalizado como o nosso e, por isso mesmo, marcado pelo emocionalismo.

Agora, me permitam nesses tempos de supremacia das redes sociais e quando já estou bem longe das redações, extravasar o meu gremismo, o que procuro fazer de forma bem humorada e, às vezes, provocativa, mas sem baixarias e sem radicalismos. E aceito numa boa as flautas, sem as quais, o futebol não teria a menor graça. Mas não perco o sono nem o humor com as eventuais fases ruins do tricolor, que,aliás, tem sido bem frequentes.   Por isso, podem flautear a vontade, mas aceitem as cutucadas em contrário.  Fora desse contexto, vira doença, requer tratamento e, mesmo o futebol, com toda a sua força e encantamento, não vale o prejuízo. Um abraço imortal a todos.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Rio Grande no divã

De repente, o Rio Grande amado descobriu que não é  mais o maioral, que aquela história de que somos brasileiros diferentes dos lá de cima, de que as nossas lideranças são as melhores, de que aqui é o lugar dos fortes e justos, enquanto o resto ou é a chatice e soberba dos paulistas ou a carioquice dos demais, que tudo o que nos orgulhava pouco a pouco foi corroído.  Nunca antes na história deste Estado nossa auto estima esteve tão baixa.

O golpe mais recente no nosso orgulho ocorreu com a divulgação dos índices do IDEB, que colocam o ensino público gaúcho em patamares medíocres, logo nós que sempre nos vangloriamos da qualidade do nossa educação, desde Brizola até recentemente o governo Rigotto quando recebemos o reconhecimento de melhores do Brasil na avaliação da Unesco. Em apenas seis anos afundamos para os níveis atuais.

Já havia pressentido a derrocada gaúcha quando descobri que a melhor carne para o nosso churrasco dominical, aquele costela suculenta ou a picanha tenra, era importada do Brasil do Centro Oeste, terra de índios e duplas sertanejas na nossa percepção equivocada. Pior, o honesto churrasco assado em espetos está sendo substituído pelos grelhados, não sei se por influência paulista ou platina.  Mas já ouvi de um ex churrasqueiro de fé, eu disse ex, que “esse negócio de assar carne no espeto é churrasco medieval”.

Invoco  a infâmia perpetrada contra a tradicional gastronomia gaúcha para tirar da cartola uma tese da hora, que é a seguinte: nossa baixa auto estima terá como consequência grandes comemorações farroupilhas, para compensar, com o culto a um passado que seria glorioso, um presente que nos deixa cabisbaixos.

Vou aproveitar e emendar outra tese. A culpa de tudo seria do grenalismo que se instalou nas instâncias públicas de nosso estado, retardando projetos importantes em nome de sectarismos partidários, dificultando conquistas porque a ideia partiu de um adversário político, impedindo avanços porque os dividendos irão para outra facção, colocando interesses pessoais – e pequenos – à frente dos interesses de todos.

Se no futebol a rivalidade não deixa de ter seu lado benéfico porque obriga o adversário a se superar, no âmbito público, que deveria privilegiar o bem comum,  essa  beligerância permanente  é nefasta e joga  todos nós para baixo. E leva o Rio Grande, que agora é grande só no nome, ao divã do analista para entender o que aconteceu. Até parece que estou ouvindo: "Doutor, quero ser grande de novo!".

sábado, 11 de agosto de 2012

O Dia dos Filhos

Reeditado a partir do original publicado em 11/08/2011

Se dependesse de mim, trocava o Dia dos Pais pelo Dia dos Filhos. Parece bobagem, mas o que justifica a paternidade senão os filhos? Filhos são dádivas, sementes que devemos zelar para que cresçam e se transformem em nosso melhor legado para o futuro. Com a certeza de que não errei na receita, celebro então o Dia dos Filhos.

O Dia da Flávia, primogênita, capricorniana como o pai, rebeldia domada pela maturidade, filha e mãe amorosa, solidária e ansiosa com o bem estar dos mais próximos. O Dia do Rafael, o atlético do meio, um romântico escorpião, olhos de bolita e um pouco da sina de rabugento, que agora experimenta as venturas da paternidade. O Dia da Mariana, meu nenê, pequeno dínamo, muita sensibilidade, um passarinho que cedo aprendeu a voar e foi crescer lá longe, mas já voltou ao ninho - até quando?

Talvez não tenha feito justiça, nessas poucas linhas, ao que meus filhos tem de melhor. Mas eles sabem que sinto um enorme orgulho deles e curto a forma como se curtem. E sabem também que o pai que sou foram eles que moldaram. Agora, mais ainda, é eles que me dão o norte e vou estar cada vez mais dependente do rumo que me apontarem.

Instituo, portanto, o Dia dos Filhos e celebro a data, mas aviso: o velho aqui não abre mão dos presentes no domingo. Podem ser até pijamas e chinelos.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Dúvida cruel: ser Cadinho ou Leleco?

                                                    Ah, a Tessália
Vamos lá, amigo, confesse: você está morrendo de inveja do Cadinho e do Leléco, personagens da novela das 9, Avenida Brasil. Cadinho vive uma ménage à quatre , um seu Queque moderno como o interpretado por Nei Latorraca  na minissérie Rabo-de-saia. Só que,  embora desmascarado, o Cadinho conseguiu recompor a relação com as três mulheres, todas elas desejáveis, cada uma com um tipo de beleza diferente. O núcleo das mulheres corneadas deve estar sendo bem avaliado nas pesquisas porque o autor tem escrito situações para os personagens em praticamente todos os capítulos.  Sacanagem sempre dá Ibope.
Outro dia o Cadinho, em interpretação antológica de Alexandre Borges, explicava como não se confundia, trocando os nomes e os gostos quando frequentava um ou outro lar: “Só quem não trai e que tem fixação nisso é que se confunde”, ensinou o bandalho da ficção, reafirmando sua grande capacidade de amar cada uma e as três simultaneamente.   O cara é profissional e, cá entre nós, as três atraiçoadas sabem que o Cadinho é o cara e que ,apesar de tudo, ele está ali para lhes dar carinho, atenção e sexo, que é o que as  mulheres buscam no seu parceiro .E na novela ainda é o provedor...Que situação interessante criou o João Emanuel Carneiro  com  essa relação complicada em que cada uma das mulheres é a outra da outra e da outra.  Será que acontece algo parecido na vida real? Não duvido.

De minha parte não sinto inveja do Cadinho. Esse negócio de estar lembrando as preferências de cada mulher seria um atrapalho na minha vida, primeiro por causa de minha postura marcada pela austeridade e depois porque a memória é meu ponto fraco e logo estaria cometendo besteiras.
Já o Leleco, ah, o Leleco. O coitado vive angustiado com a possibilidade de levar um par de chifres daquela máquina chamada Tessália (Débora Nascimento) e até mereceria por escalar aquele fortão abobado para tentar a moça.  Ah, a Tessália. O Leleco não se deu conta de que é um vitorioso, porque tem e casa aquele monumento  num corpão, um corpão amoroso, fazendo carinhas e bocas de ingênua,  e de vez em quando belisca a ex, vivida pela Eliane Giardini, que ainda dá um caldo, mas na novela tem nome de treinador de futebol – Muricy – coisa mais brochante.  Nesse caso, a ex vira a outra e o atual namorado dela, um gaúcho chamado Juliano Cazarré é quem acaba sendo chifrado.  Que confusão!  Pensando bem, não invejo nem um nem outro.  É muito complicado esse roteiro de infidelidades e, aliás , acho que a novela deveria trocar de nome, passando a chamar-se Corneada Brasil, com o Murilo Benicio e seu Tufão na comissão de frente.  De minha parte, reafirmo que  não teria energia para tanta tentação. Vade retro, Tessália e Cia.


sábado, 4 de agosto de 2012

Fracasso! Que fracasso?

Ainda me emociono quando um brasileiro sobe ao pódio e exibe orgulhoso sua medalha.  São tão poucas em comparação com as grandes potências olímpicas e tão marcadas pela superação as parcas conquistas  dos nossos atletas que os elegi como meus heróis, aqueles por quem vale a pena  torcer e se emocionar.

 Por isso, não estou entendendo – ou melhor ,rejeito com todas as minhas forças – essa cobrança em cima da Fabiana Murer por ter sido eliminada nas provas de salto com vara.  “Um fracasso” é o mínimo que se ouve na chamada mídia especializada, esquecendo todo o passado recente de grandes vitórias da saltadora brasileira. O campeoníssimo César Cielo também está recebendo cobrança semelhante porque ganhou “apenas” o bronze nos 50 m nado livre, ele que era um dos favoritos. Foi assim também com a nossa Daiane dos Santos, que amargou um quinto lugar em Atenas, quando o ouro era tido como certo por todos os brasileiros.. E teria tantos outros exemplos.
Não posso deixar de ser solidário e me comover com um jovem que chora por ter decepcionado uma nação que esperava dele,  naquele rápido século de duração  das provas, a redenção para suas frustrações cotidianas. Ingrata nação, injusta nação.  Os deuses olímpicos não estão nem aí para os nossos sonhos e preferem ajudar quem se ajuda, quem investe com seriedade em políticas públicas para fomentar o esporte e  que busca através das práticas, de alto rendimento ou apenas recreativas, uma nação mais saudável e não uma forma de propaganda.

E vamos combinar: a classificação da Fabiana Murer ou a medalha com metal mais valioso do Cielo não mudaria,  nem pra mais nem pra menos, o nosso dia a dia. É nessas horas também que gosto de recuperar, por oportuno,  uma crônica antológica do Drumond – Perder, ganhar, viver – publicada no dia seguinte à derrota do Brasíl para a Itália, na Copa de 82, quando fomos eliminados. Selecionei alguns trechos:
"Chego à conclusão de que a derrota, para a qual nunca estamos preparados, de tanto não a desejarmos nem a admitirmos previamente, é afinal instrumento de renovação da vida. Tanto quanto a vitória estabelece o jogo dialético que constitui o próprio modo de estar no mundo. Se uma sucessão de derrotas é arrasadora, também a sucessão constante de vitórias traz consigo o germe de apodrecimento das vontades, a languidez dos estados pós-voluptuosos, que inutiliza o indivíduo e a comunidade atuantes. Perder implica remoção de detritos: começar de novo.
(...)
Perdendo, após o emocionalismo das lágrimas, readquirimos ou adquirimos, na maioria das cabeças, o senso da moderação, do real contraditório, mas rico de possibilidades, a verdadeira dimensão da vida. Não somos invencíveis. Também não somos uns pobres diabos que jamais atingirão a grandeza, este valor tão relativo, com tendência a evaporar-se. Eu gostaria de passar a mão na cabeça de Telê Santana e de seus jogadores, reservas e reservas de reservas, como Roberto Dinamite, o viajante não utilizado, e dizer-lhes, com esse gesto, o que em palavras seria enfático e meio bobo. Mas o gesto vale por tudo, e bem o compreendemos em sua doçura solidária. Ora, o Telê! Ora, os atletas! Ora, a sorte! A Copa do Mundo de 82 acabou para nós, mas o mundo não acabou. Nem o Brasil, com suas dores e bens. E há um lindo sol lá fora, o sol de nós todos.

E agora, amigos torcedores, que tal a gente começar a trabalhar, que o ano já está na segunda metade?"


 

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Na Moral e outros equivocos

A nova (?) programação da Rede Globo esta me deixando tonteado.  Os recém-estreados “Encontro com Fátima Bernardes”  e o “Na Moral”, com Pedro Bial, não conseguiram emplacar e dificilmente isso acontecerá, a não ser que haja uma virada de 180 graus nas produções, uma virada capaz de trazer os diferenciais que as chamadas dos programas prometiam.

O caso mais grave é o do programa da Fátima, preparado há quase um ano e que se revela um equívoco monumental, não fazendo justiça ao talento da apresentadora.  Uma regrinha básica quando se cria uma nova atração – e isso vale para todas as mídias e para outras formas de entretenimento – é focar no público alvo do horário ou pretendido. Ou muito me engano ou o público das manhãs é constituído de donas de casas e crianças, mas o que vi num dos primeiros programas foi o futebol como tema central.  A rigor, o equívoco mastodôntico foi estrear um programa para adultos em horário de público infantil em plenas férias escolares. A coisa é tão tediosa que outro dia uma senhora do auditório foi flagrada dormindo durante o programa. Aliás, a nova mania televisiva são esses mini auditórios, que servem de claque, jurados e cenários, sem o menor critério.

Tenho prestado mais atenção ao Pedro Bial do que a Fátima Bernardes e conto pra vocês a síntese do programa: muito ritmo, pouco conteúdo; muito discurso, pouca profundidade. É um tal de entra e sai de convidados e assuntos que resta pouco recall.  Parece que os luminares da programação global ficaram reféns de uma fórmula que vou chamar de Jornalismo Revista Contigo e sua variação Revista Nova, ou seja, uma mistura de temas comportamentais da hora,  alguma coisa  pretensamente polêmica, uma pitada de sexo,  a presença de alguns artistas globais e cantores do hit parade e mais um auditório adestrado, tudo isso costurado por um âncora famoso . Nessa linha, sou mais o Serginho Groismann. O resto está mais pra fake e o público, que está amadurecendo e sabe o que quer, reage com indiferença.
Lastimo a posição em que ficaram a Fátima e o Bial, mais pelo que representaram no passado e menos pela guinada equivocada que deram em suas carreiras.
Para não dizerem que tenho má vontade com a Globo, admito que na teledramaturgia a rede esta acertando em cheio. “ Avenida Brasil” vai entrar para o rol das melhores novelas de todos os tempos, não tanto pelo enredo, mas pelo desempenho superior de todo o elenco, exceto o canastrão Murilo Benicio. E arrisco dizer que o remake de “Gabriela” é tão bom ou melhor que o original, com aquele luminosidade e cenários baianos, seios e bundas à mostra e,  de novo, uma grande  atuação de todo o  elenco, ai incluída até a Ivete Sangalo como Maria Machadão. Só implico com aqueles figurinos masculinos que não dispensam o colete no tórrido sertão da Bahia. Até a novela das sete, Cheias de Charme,  misturança de ficção e realidade, acertou na fórmula e também vai marcar época.

A essa altura do campeonato, se eu fosse a Fátima e o Bial pedia transferência para o núcleo das novelas.