domingo, 14 de agosto de 2016

O Dia dos Filhos

Reeditado a partir do original publicado em 11/08/2011, mas sempre atual.

Se dependesse de mim, trocava o Dia dos Pais pelo Dia dos Filhos. Parece bobagem, mas o que justifica a paternidade senão os filhos? Filhos são dádivas, sementes que devemos zelar para que cresçam e se transformem em nosso melhor legado para o futuro. Com a certeza de que não errei na receita, celebro então o Dia dos Filhos.

O Dia da Flávia, primogênita, capricorniana como o pai, rebeldia domada pela maturidade, filha e mãe amorosa, solidária e ansiosa com o bem estar dos mais próximos, e agora gerentona. O Dia do Rafael, o atlético do meio, um romântico escorpião e um pouco da sina de rabugento, que agora experimenta as venturas da paternidade. O Dia da Mariana, meu nenê, pequeno dínamo, muita sensibilidade, um passarinho que cedo aprendeu a voar e foi crescer lá longe, voltou ao ninho e se prepara para bater asas de novo.

Talvez não tenha feito justiça, nessas poucas linhas, ao que meus filhos tem de melhor. Mas eles sabem que sinto um enorme orgulho deles e curto a forma como se curtem. E sabem também que o pai que sou foram eles que moldaram. Agora, mais ainda, é eles que me dão o norte e vou estar cada vez mais dependente do rumo que me apontarem.


Instituo, portanto, o Dia dos Filhos e celebro a data, mas aviso: o velho aqui não abre mão dos presentes no domingo. Podem ser até pijamas e chinelos, canecas e camisas azuis, jaquetas e bons vinhos.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Xô, complexo de viralatas

Entramos na reta final para a Olimpíada do Rio e eu, como a maioria dos brasileiros, está torcendo para não passar a chamada vergonha alheia. Já demos vexames suficientes com os problemas da Vila Olímpica, as declarações infelizes do prefeito do Rio, os serviços básicos que não funcionam, a podridão das águas reservadas aos esportes náuticos, a ameaça terrorista tupiniquim, tudo isso ganhando uma dimensão na mídia que de certa forma abala nossa confiança na capacidade realizadora do país. Havia o mesmo sentimento pré-Copa do Mundo de 2014 e, apesar da torcida do pessoal do contra e à parte as obras superfaturadas e o 7 x 1, fizemos uma competição bem sucedida em termos de organização.  Participei diretamente do trabalho realizado em Porto Alegre e testemunhei o esforço para que tudo desse certo.

A Copa mostrou que tínhamos condições de superar novamente o complexo de viralatas, do qual falava Nelson Rodrigues, inconformado com o sentimento de inferioridade que nos acometia diante dos grandes eventos esportivos. ¨O brasileiro é um narciso às avessas, que cospe na própria imagem. (...) não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima¨, reclamava o mestre.  Assino embaixo.

Faço essas constatações depois de ler as postagens no Facebook dos múltiplos jornalistas esportivos José Alberto Andrade e Sérgio Boaz, recordando os 20 anos da cobertura da Rádio Gaúcha nos Jogos Olímpicos de Atlanta, nos Estados Unidos.  Foi a primeira grande cobertura olímpica da Gaúcha e o evento passou a fazer parte do calendário permanente da emissora. Na postagem dos dois ex-colegas e amigos de sempre, lembrei que de alguma forma contribui para essa investida ao visitar Atlanta, num trabalho de percursoria, logo após a Copa de 94, também realizada nos Estados Unidos. A ideia foi do grande Armindo Ranzolin que queria consolidar o novo conceito adotado pela Gaúcha – ¨a rádio de todos os esportes¨-  e ampliar o leque de produtos oferecidos pelo Departamento de Esportes.

E lá fomos, Cézar Freitas, da RBS TV, e este que vos fala para Atlanta, capital da Geórgia, sede da Coca Cola e da CNN, mas uma cidade com um terço da população de Porto Alegre.  Graças a ajuda do pessoal da TVE espanhola que organizava as comunicações da Copa do Mundo e estava envolvida também com a Olimpíada, fomos muito bem recebidos pelo Comitê Organizador, visitamos todos os locais disponíveis e levantamos os dados necessários para a cobertura prevista pela Gaúcha.

No ano seguinte deixei a RBS e não acompanhei a evolução do projeto, que foi bem-sucedido e, confesso, me deixou emocionado quando começaram as primeiras transmissões.  Diferente, porém, da cobertura da Gaúcha os Jogos Olímpicos de Atlanta foram marcados pela desorganização, especialmente nas questões logísticas, sem contar que um atentado à bomba no Parque Olímpico matou dois e feriu mais de 100.  

A opinião negativa sobre Atlanta 96 não é minha, mas do competente repórter da Globo, Marcos Uchoa, que cobre Olimpíada desde Seul, em 1988, em recente depoimento no Sport TV.  Os jogos de Montreal em 1976 também foram um fracasso, só que financeiro, quase levando a cidade canadense à insolvência. Montreal só se recuperou do baque depois de 20 anos.  Em compensação, Barcelona, 1992 é reconhecida como o melhor exemplo de Jogos bem sucedidos  contribuindo também para recuperar uma parte degrada da cidade.  Aliás, foi naquela competição que a Gaúcha fez seu primeiro investimento em Olimpíada enviando à Barcelona o então repórter Antônio Carlos Macedo, numa dobradinha com a Cláudia Coutinho, da Zero Hora.

A contagem regressiva para os jogos do Rio já começou e mesmo quem não queria a Olimpíada no Brasil parece se alinhar na torcida para que sejamos mais Barcelona e menos Atlanta ou Montreal. Apesar de tudo, o Brasil merece o lugar mais alto no pódio. Xô, complexo de viralata!