quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Virada de ano

Segurem os fogos, guardem as lentilhas, não estourem os espumantes. 2011, de verdade, só começa em 9 de março, quarta-feira de cinzas, depois do meio dia...

Que crise!

Nenhuma agenda, nenhum panetone. Espumantes e vinhos nem pensar. Quem disse que este foi o melhor Natal da década?

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O primeiro feliz Natal

Vejo a árvore cintilante atapetada de presentes. Daqui a pouco a casa estará cheia de gente, a mesa posta com os pratos da ocasião e bebida circulando. Alguém vai propor uma oração, como o meu pai fazia em todos os natais e eu serei obrigado a dublar a Ave Maria porque desaprendi até a mais simples das rezas.

A criança que um dia fui, e faz tanto tempo, sabia rezar, era temente a Deus e acreditava em Papai Noel. A véspera de Natal era mágica e o menino ansiava por ela. Havia o reencontro com os primos e os adultos colocavam as conversas em dia. Pontualmente a meia noite ocorria o ritual da entrega dos presentes. Começava então a comilança, mas às crianças, de tanto pedincharem, era permitido beliscar os petiscos antes da hora.

Os presentes eram mais simples: um carrinho de madeira, uma bola de plástico, um jogo de botão panelinha e, das velhas tias, um par de meias. Bicicleta nem pensar porque eram muitos irmãos e podia dar briga. Mas comia-se bem, havia até refrigerante e vestíamos vistosas camisas novas, que a mãe costurava na velha máquina, o mesmo tecido estampado para todos, transformando meus irmãos menores e eu em trigêmeos.

A surpresa da véspera de Natal, às vezes, era frustrada pelos irmãos mais velhos que vasculhavam a casa toda até descobrirem onde estavam escondidos os presentes e saiam a espalhar o que cada um ganharia, os estraga-prazeres. Mas não havia clima para decepções porque era Natal e Natal da infância é o verdadeiro Natal.

Hoje, pelo menos para mim, o Natal ganhou outra dimensão e o Papai Noel se sofisticou. Os carrinhos de madeira, as bolas de plástico e os outros tarecos que faziam a nossa alegria deram lugar aos presentes da era da eletrônica, a bola tem grife e o carrinho é acionado por controle remoto. A maior de todas as festas acompanha a modernidade.

Não pensem que estou fazendo uma condenação ao consumismo, até porque gosto de ganhar mimos natalinos, mesmo que seja um pijama tamanho GG, e deixemos o saudosismo pra lá. Daqui a pouco, a casa estará cheia de novo, como nos velhos tempos, só que os papéis se inverteram. A alegria que traz de volta os natais da nossa infância estará no chão, gatinhando entre embalagens coloridas, que atraem mais do que os presentes, os olhinhos inquietos e radiantes porque é muita oferta para pouca mãozinha. É noite feliz! O feliz primeiro Natal de Maria Clara.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Prezado Novíssimo Ano,

Durante sua vigência peço encarecidamente: livrai-me dos chatos. Repito o pedido: livrai-me dos chatos. Faça uma forcinha e mantenha longe de mim também os mordedores em geral e os pedintes de favores. Se possível, afaste os hipocondríacos, com  suas doenças e seus remédios para todos os males. Quero distância igualmente dos baixo astrais, dos angustiados, dos obsessivos porque tenho medo de contrair uma deprê. Dá um jeito para que fiquem bem longe aqueles que gostam de tudo bem explicadinho e dos que não sabem explicar nada.

Não permita que encontre velhos conhecidos sem lembrar o nome e seja brindado com um “lembra aquela vez? “ ou, o que é pior, “Lembra de mim?”. Me ajuda, meu boníssimo Ano Novíssimo, para que aqueles outros que querem” apenas dois minutos” do meu tempo não cruzem comigo, porque são malas disfarçadas e já apelei por isso lá em cima. E também os que conversam pegando meu braço com tanta força que deixam marcas e, ainda, os que me tomam por idiota, perguntando se eu estou entendendo o que eles estão falando. Mais um pedidinho: não compactue com os que me cobram posições que não tomei, injustiças que não cometi e prejuízos que não causei. E mais unzinho: mande para longe os duvidosos de caráter, os falcatruas, os descompromissados e os sugadores de energia. Coloque em fuga, por especial gentileza, os arrogantes, os prepotentes, os invejosos e todos da mesma índole.

Apelo ainda para que o celular toque menos e que, de preferência, o interlocutor tenha algo interessante para dizer. Novissimo Ano, dá uma geral nos facebooks da vida e lime todos dos “hehehee”, os “rsrsrsrsr”, os “adooorei” e os “lindaaaa”. Aproveita e faz o seguinte: devolve pros autores todas as mensagens de auto-ajuda, as correntes que não dão certo, as piadas de mau gosto e as ofertas imperdíveis que infestam meu computador. Com um pouquinho de boa vontade, veja se é possível devolver também todos os convites para fazer parte de novas redes sociais porque não agüento mais tanta interação.

Com sua ajuda, Novíssimo Ano, espero ouvir menos “veja bem”, “olha só”, “pois, então” e todas as expressões do gênero. Acrescenta ai “estartar” , “por conseguinte”, “interregno”, nada a ver uma com a outra, mas é questão de ojeriza, que também pode entrar na lista.. Enrolão, basta eu.

Por generosidade, salve-me das filas, as dos bancos e dos supermercados, e todas as outras onde corra o risco de ser interpelado por desconhecidos que me tiram para confessionário e interrompem minhas ruminações. Não admita, por compaixão, que a guria bonita me pergunte a idade antes de distribuir a senha, se a maldita fila for inevitável.

Não deixe faltar uma boa carne na minha mesa, saladas variadas, cerveja gelada e um vinho encorpado para as noites de inverno. E se não for pedir muito, que eu reencontre aquele doce de abóbora, de comer ajoelhado, que saboreei dias atrás. Ah, e aquela berinjela, a carne de panela com batatas e uma caixa de Bis só pra mim. Se não for contraditório, aproxime de mim essas tentações. E que sempre possa dividir a boa mesa com companhias agradáveis, brindando os bons momentos da vida que não são muito e até por isso precisam ser valorizados.

Conceda-me, de vez em quando, jogar um pouco de conversa fora, curtir mais a minha gente, vagabundear sem culpa, experimentar o novo e, por que não?, me entregar a alguma extravagância. Vamos combinar que não é pedir demais.

Em contrapartida, caríssimo Ano Novíssimo, prometo tentar parar de fumar – de vez - , voltar a me exercitar, comer menos fritura, ouvir mais e falar menos, ser menos irônico e debochado, lembrar o aniversário de casamento e não desejar a mulher do próximo, nem a do distante, porque os outros pecados não os cometo. A não ser que um pouco de rabujice seja pecado, dos veniais, mas até isso pretendo corrigir. Nesses termos peço sua compreensão e deferimento, carissimo, boníssimo e novíssimo Ano.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Fé e esperança

Sinto uma imensa inveja dos que tem fé e buscam na religião uma âncora segura para os momentos de infortúnio. Bem que gostaria de acreditar que um anjo da guarda nos protege contra todos os males, mas ele ainda não apareceu na minha vida ou, se apareceu, não percebi. Gostaria também de ter saído à imagem e semelhança da divindade, como reza o livro sagrado, mas minhas imperfeições depõem contra essa idéia. Não consigo imaginar um deus baixinho, fumante compulsivo, apreciador de uma boa cerveja - e esses até seriam os menores defeitos do clone divino.

Nascido e criado numa família de católicos, cedo me desgarrei e nem por isso me tornei uma pessoa melhor ou pior, mesmo porque os preceitos cristãos, a começar pelo respeito ao próximo, podem ser praticados independente de fé ou religião – e sem a culpa presente na maioria das crenças institucionalizadas. Ainda tento, mas não consigo explicar os mistérios da vida pela religião.

Talvez a mim esteja reservado o destino de Saulo, que não dava trégua aos seguidores de Jesus e, ao receber a luz divina, tornou-se Paulo e saiu a pregar a fé cristã pelos quatro cantos do mundo antigo. Seria muita pretensão virar santo, como Paulo? Para isso, precisaria ser ungido pela luz celestial, resgatar  a crença de que existe um ser supremo a nos guiar e que um dia vamos ao encontro dele para uma vida de eterna felicidade – ou não.

Também já acreditei em Papai Noel, o deus vermelho da criançada, mas o velho andou me frustrando lá na antiguidade e decidi largar ele de mão. Com isso, me restam poucas coisas em que acreditar e esse vazio me incomoda. Quero voltar a ter fé, encontrar na religião a resposta para todas as dúvidas, idealizar que existe vida além desse vale de lágrimas e que alguém muito poderoso cuida de cada um de nós.

Se falta fé, não falta esperança. A esperança que se renova, como a vida se renova, queiramos ou não, a cada novo ano que chega. Proponho, então, a todos os que perderam a fé, mas são homens de boa vontade, um brinde à esperança, que é só o que nos resta, é muito e é tudo.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Pequenópolis II

Pequenópolis reage. A maioria silenciosa começa a mostrar sua cara e levantar a voz para que o projeto Cais do Porto saia do papel e se torne realidade. Um movimento chamado Quero Cais ganha corpo e até os chatos que gravitam numa associação do Centro Histórico estão a favor do projeto, que tem a grife do renomado Jaime Lerner.

A proposta é ótima, respeita e se integra às referências da cidade, como a Usina do Gasômetro e propõe avanços e inovações para revitalizar a área do cais Mauá. Não é preciso ser um urbanista consagrado, como Lerner, para saber que a vitalidade – sustentabilidade, para usar um termo da moda - dos espaços públicos e mesmo privados está diretamente ligada a sua ocupação por gente, trabalhando, residindo ou simplesmente desfrutando o lazer e se forem essas atividades em conjunto, melhor ainda.

Revitalização significa vida nova e é isso que os pequenopolitanos que aspiram chegar a futuropolitanos querem para a cidade.

Importante nesta hora é estar atento porque os que detestam progresso e inovação ainda conspiram para que Pequenópolis se apequene ainda mais até virar Nanópolis. São os mesmos que lideraram o movimento contra o projeto de moradias no Pontal do Estaleiro, decretando que aquela área está destinada a se tornar um deserto após o horário comercial. São os mesmos que torcem o nariz para a construção do Teatro da Ospa, junto ao Parque da Harmonia. São os mesmos também que se preparam para boicotar as propostas para revitalizar a Orla e resgatar o Guaíba.

O Previdi (www.previdi.com.br) tem razão. Essa gente odeia nossa cidade.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Pequenópolis

Pequenópolis é uma cidade grande com gente que pensa pequeno. Seu povo é alegre e hospitaleiro, mas parte dele, uma minoria enfezada, detesta progresso. Essa minoria prefere que a cidade fique numa redoma, de forma a se tornar imutável, mesmo com prejuízo para todos. E a maioria cala e assiste impassível o presente ser congelado e o futuro exterminado. Por isso, a cidade que já foi Futurópolis trocou de nome na medida em que se apequenou. Era a cidade sorriso, hoje é a cidade rançosa.


Em Pequenópolis pululam os ecochatos, destacam-se os oportunistas de plantão, ganham espaço os porta-vozes da mediocridade, inflamam-se as falsas lideranças dos movimentos do “não”, todos contra qualquer proposta que impulsione a cidade. Não os reconheço como guardiões do que é certo ou errado para minha cidade. Estou começando a cansar dessa gente e daqui a pouco vou-me embora pra Pasárgada.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Bobagens da Internet: porque alguns homens têm cães ao invés de esposas

1. Quanto mais atrasado você está, mais felizes seus cachorros ficam ao lhe ver.

2. Cachorros não notam se você os chama pelo nome de outro cachorro.

3. Cachorros gostam que você deixe coisas no chão.

4. Os pais do cachorro nunca visitam.

5.Cachorros concordam que você tem que aumentar sua voz para argumentar.

6. Você nunca precisa esperar por um cachorro; eles estão prontos para sair 24 horas por dia.

7. Cachorros acham engraçado quando você está bêbado..

8. Cachorros gostam de sair para caçar e pescar.

9. Um cachorro nunca irá lhe acordar à noite para perguntar, "Se eu morresse, você iria ter outro cachorro?"

10. Se um cachorro tem filhos, você pode pôr um anúncio no jornal e dá-los para outras pessoas.

11. Um cachorro irá deixar você colocar uma coleira nele sem lhe chamar de pervertido.

12. Se um cachorro sente o cheiro de outro cachorro em você, eles não ficam bravos. Eles apenas acham interessante.

13. Cachorros gostam de passear no banco de trás do carro.

E por último, mas certamente não menos importante:

14. Se um cachorro vai embora, ele não leva a metade das suas coisas.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Aos meus filhos

* Em resposta aos comentários em Ninho Vazio

Quero muita gente reunida, quero algazarra e zoeira. Quero casa cheia, conversas fúteis ou sérias, som alto rodando Zeca Baleiro ou Paula Toller, tv ligada, assistida por ninguém, e rádio no futebol.

Quero gente em volta e podem até trazer os agregados, aqueles que me chamam de Tio, porque até dessas malas às vezes sinto falta.

Quero todos atentos aos primeiros passos da Maria Clara para que os tombos da pequena sejam logo socorridos. E quero muita manha da guria que é a forma dela dizer que quer participar também. Quero os brinquedos espalhados pelo chão e depois levados a boca e ai de quem censurar a Maria Clara.

Quero que multipliquem a descendência e logo, se não o vô não vai ter tempo de ver os netos crescerem, levar na pracinha da frente e subir o morro, ensinar palavrão aos guris e curtir a vaidade das gurias.

Quero muito churrasco dominical pelo mestre Rafael, costela gorda e quem sabe uma picanha, salsichão Borússia, ceva gelada, um cigarrinho para acompanhar e depois a clássica maionese da vó, sem esquecer a sobremesa que vale um repeteco.

Quero parentada junto, os mesmos de sempre, para que os lugares a mesa fiquem mais próximos e a gente possa falar mal dos outros ramos da família.

Quero que a Flávia pare de reclamar do Rodrigo e prepare um café preto para o despertar do cochilo no sofá, que nem a algaravia da tarde consegue importunar.

Quero bolo de laranja, recém tirado do forno, para acompanhar o café e deixar muito farelo no chão, para desespero da vó.

Quero inconveniências, deboches e maledicências, um pouquinho de rabugice, conversas atravessadas, palpites sem noção, porque aí está o sal da vida.

Quero toda a frota estacionada em frente da casa para a vizinhança saber, com uma pontinha de inveja, que estamos confraternizando.

Quero de volta a Mariana para me tirar do computador e dar carona a um bando até a parada que leva à Cidade.

Quero dividir os jornais e as revistas, espalhar pelo chão e deixa a vó reclamar que a casa está uma bagunça.

Quero a cachorrada em volta, Felícia se insinuando para o Bento e o gato se esquivando dos dois, mas deixemos o Marley no pátio porque confusão tem limites.

Quero todos a mesa para a sopa de capeletti à noite, para curar a ressaca, à espera do Fantástico e da sessão de cinema, com os filmes que o seu Coisinha da locadora reservou.

E quando o sono vier, saciado da minha gente, quero paz de criança dormindo.

(Só o que não quero é um ninho vazio).

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Ninho vazio

Estamos vivendo, a Santa e eu, a Síndrome do Ninho Vazio. Para descrever a situação, lembro de um soneto muito recitado nos tempos escolares: “Vai se a primeira pomba despertada...vai se outra mais...mais outra”. O autor é o maranhense Raimundo Correa, que viveu entre 1859 e 1911, quando certamente a tal Síndrome ainda não havia sido inventada. Mas o nosso poeta acertou na mosca, ou nas pombas, pelo menos no caso dos Brandão Dutra.

A Flávia foi a primeira pomba a se desgarrar. Juntou-se ao Rodrigo há cinco ou seis anos e dessa união nasceu um passarinho muito amado, a Maria Clara. Depois foi o Rafael, peito de pomba, a trocar a morada dos pais pela casa e o carro da Rosana, deixando ancorado aqui na frente seu maltratado Uno, pneu baixo e grama crescendo em volta.

Por último, a pombinha Mariana se mandou para Buenos Aires, a pretexto de aperfeiçoar seu espanhol. Na verdade, foi uma andorinha que cedo aprendeu a voar.

Sei que os filhos são criados para o mundo, ou como sentenciou Kahlil Gibran, “teus filhos não são teus filhos, são filhos e filhas da vida”, mas confesso que me bate uma infinita melancolia diante desses quartos vazios, aqui e ali alguns vestígios de que foram habitados por crianças que cresceram para a vida. Os bonecos de pelúcia recostados na parede, a bola esquecida atrás da porta são lembranças de um tempo que se foi. Um cão inanimado repousa sob a cama, a espreita, como se esperasse zelosamente por sua dona.

Restaram ainda o Marley, um collie já caduco, a Felícia, uma irriquieta yorkshire, e um gato preto enjeitado, o Lotus Peter, que meus filhos tratam por filhos, mas diferente dos seus “pais” desgarrados, não abandonaram o lar que os acolheu, não deixaram um vazio, são presentes e fiéis. Os cães e o bichano não nos trocaram por “aquele outro” e “aquela outra”, nem por um gardelón qualquer.

Para quem, como eu, cresceu e conviveu em uma família numerosa, é difícil enfrentar essa nova etapa. Logo vem à lembrança da casa dos pais, que era refugio e aconchego, o castelo onde o nosso clã trocava afetividade e mesmo algumas rusgas, e onde os velhos, como magistrados e soberanos, promoviam a harmonia. O castelo já ruiu e agora o que ficou foi um ninho vazio.

Um novo castelo hei de erguer e, a partir dele, constituir meu clã, para que os meus filhos e os filhos dos meus filhos possam ter um porto seguro, um ninho que se refez, porque assim é o ciclo da vida e porque, como no soneto, “aos pombais as pombas voltam”, mesmo que os sonhos não voltem.

domingo, 21 de novembro de 2010

Agruras de estudante

Ao invés de envelhecer com dignidade, como tenho recomendado aos meus iguais de faixa etária, decidi enfrentar um MBA em Jornalismo Empresarial e passei a penar com aulas as sextas e sábados, a cada duas semanas. A turma tem uma predominância de meninas, todas muito bonitas e inteligentes e com as idades das minhas filhas... O naipe masculino é integrado por quatro bravos e, tirante nosso fotógrafo oficial Poti, também são bem mais jovens do que eu.

Apesar dessas diferenças, a convivência tem sido harmoniosa e respeitosa, tanto assim que ninguém ainda me chamou de Tio, nem de Vô. Com isso, me renovo a cada encontro, ainda mais que os professores selecionados são mestres inspiradores. Mas confesso que a jornada em busca de conhecimento não tem sido fácil.

Tudo começa na sexta-feira à noite, quando o desgaste do cotidiano semanal está no ápice. Aí a solução é ligar o piloto automático e ir em frente. Nos sábado, o suplício reinicia às 8h30, mas se não houve uma rodada de chopp na noite anterior, dá para agüentar. O problema é o turno da tarde, especialmente a arrancada depois do almoço. De repente, vem aquele soninho invencível e passo por enormes dificuldades para não sucumbir, porque, estudante aplicado que sou, escolhi sentar nas primeiras filas, cara a cara com o professor.

E tem ainda as muitas leituras extraclasse, textos que exigem muita atenção, e os trabalhos de cada disciplina – não dá para enrolar, o trabalho tem que ter qualidade. Enrolação mesmo só quando os questionamentos são muito complexos frente aos meus modestos conhecimentos. Nestes casos, busco um olhar arguto, mão no queixo, pose de quem está refletindo e, se necessário, emendo um “veja bem”.

Ainda falta um ano para a conclusão do curso e vou precisar de muita determinação para chegar lá. Conto para isso com a paciência dos professores e o apoio dos colegas, mas não custa fazer um apelo maior: dai-me forças, ó Senhor!

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Um pouco de sacanagem não faz mal a ninguém - final

(Recomenda-se ler a postagem anterior)

M., profissional liberal, teve um caso ardente com uma universitária mais jovem do que ele. Com dificuldades para conciliar seus outros compromissos, preferia encontrar a parceira pela manhã, no intervalo entre uma aula e outra. A sugestão partiu da própria moça, muito dedicada aos estudos e mais dedicada ainda aos prazeres da cama. Ela mostrava grande interesse em complementar sua atividade acadêmica com práticas que exigissem menos do seu intelecto e mais de seu belo físico, se é que me entendem. O inconveniente é que a saliência tinha horário pra terminar. Apenas duas horas de intervalo separavam uma aula da outra e a estudante, como explicamos, era aluna aplicada. Por isso, freqüentavam um motel próximo à faculdade, mas não tão próximo que pudessem ser flagrados por algum colega ou professor desgarrado.


Nosso amigo batizou esses encontros de "seqüestro sexual" porque, na origem do processo, a moça se arrependeu da combinação acertada na véspera e ele ameaçou invadir a sala de aula, arrancá-la dos estudos e levá-la ao motel de qualquer jeito. Como era um sujeito decidido, ela não se arriscou ao vexame e compareceu ao evento acadêmico-sexual. E não se arrependeu, garante nosso amigo, tanto assim que repetiram a prática várias vezes.

Já C., homem de comunicação, recorda que seus melhores desempenhos ocorreram domingo de manhã bem cedo. Sem explicar como, ele sempre tinha uma pauta especial para cumprir nesse horário. A “pauta” no caso era um encontro com uma colega descasada. Ele conta que era intrigante e ao mesmo tempo divertido chegar aos motéis num horário em que os outros casais estavam se retirando. Chamava o encontro de "hora da Missa", o sacrílego. Homem de família, ele tinha o cuidado de voltar para casa a tempo de preparar o churrasco dominical.

J., empresário do ramo imobiliário, tem preferência clara pelo horário do meio dia. O argumento dele é interessante: o horário gera menos desconfiança, afinal é o intervalo do almoço, mas tem suas vantagens porque reúne duas atividades prazerosas – sexo primeiro e depois a refeição, que encomendava logo que chegava ao motel. O inconveniente é que o tempo era exíguo e, além disso, não podia retornar ao escritório junto com a secretária, sua acompanhante nessas escapadas. Nada que uma mente imaginativa não resolvesse.

S., dedicado servidor público, se transformava quando marcava os encontros com a amante logo após o expediente na repartição. O fim de tarde tem sua magia, explicava ele. A noite chega de mansinho e com ela um clima romântico, que contagiava a relação. Além disso, o encontro nesse horário tinha sua praticidade. Depois da transa, vinha o jantar, e ele podia chegar em casa num horário civilizado, sem necessidade de ser criativo nas desculpas, que isso também cansa um vivente.

*Reciclado a partir de publicação em Coletiva.net

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Um pouco de sacanagem não faz mal a ninguém

O vô aqui cansou de escrever sobre coisas sérias, que ninguém dá bola, e decidiu apelar para o artifício imbatível da mídia popularesca: uma pitada de sacanagem nos conteúdos não faz mal a ninguém. O tema escolhido para essas mal traçadas é o horário preferencial para a prática de atividades extraconjugais, o popular adultério. É importante acrescentar que não se tratam de experiências pessoais, mas de um compilado de depoimentos obtidos aqui e ali.


Pois bem, se há um padrão, por segurança e conveniência, a preferência é por horários alternativos. Quem se dedica à dupla vida amorosa precisa ser criativo, ensinam nossas fontes. Traição à noite ou de madrugada dá muito na vista em casa. Logo a patroa começa a desconfiar e em seguida o estoque de desculpas perde em credibilidade e criatividade. Jantar com clientes ou fornecedores, por exemplo, está em desuso. De tanto que foi aplicado já não cola mais.

Claro que uma esticada à noite, a pretexto de bater uma bolinha com os amigos ou reunir a confraria para uma cervejada, tem validade de vez em quando. Só não dá pra abusar. No caso do joguinho com os amigos, a vantagem é que você poderá tomar banho depois do encontro amoroso. Mas é importante mostrar em casa provas do seu álibi: uma camiseta molhada, meias fedidas, um par de tênis embarrado e outros itens que sugiram um jogo de verdade, disputado até o último minuto “contra aqueles babacas da Contabilidade”. Profissionais do ramo carregam no porta-malas do carro um kit completo, já “batizado”, para se prevenir. Bafo de cerveja não é problema porque as mulheres sabem que depois do bate-bola a gelada é inevitável.

Os mais dedicados à causa recomendam, nessas situações que, em nenhuma hipótese, devem ser levados agrados para a esposa – tipo bombons, doces, flores. Esse gesto liga o desconfiômetro e aí, meu amigo, seus dias de libertinagem estarão contados, porque sua mulher vai querer saber de todos os detalhes do seu roteiro fora de casa. E vai crivá-lo de perguntas dignas de um lead jornalístico: quem, quê, quando, como, onde e por que. Isso ocorre com mais freqüência do que se imagina porque homens infiéis, mas de boa índole, são um poço até aqui de culpa e acreditam que agradando à esposa estarão se redimindo de seus pecados fora do lar. Os especialistas insistem: não faça isso, você vai se arrepender.

Infidelidade é escolha e se você optou por esse caminho, agüente as conseqüências. Ou então, pare de se torturar e volte para a sua vida normal, com mulher, filhos, cachorro, papagaio e a visita da sogra de vez em quando. Conheço histórias de homens que abandonam o lar por algumas horas e depois voltam para casa, pedindo perdão e rastejando qual um réptil. Para os que já fizeram sua opção e decidiram manter-se na ativa, selecionamos alguns cases sobre os horários preferidos para a prática do adultério. (continua)

*Reciclado a partir de publicação em Coletiva.net

domingo, 7 de novembro de 2010

Praga acadêmica

Uma nova praga está infestando o Jornalismo: os especialistas acadêmicos. Mestres do saber, professores renomados, celebrados teóricos são chamados a todo o momento para opinar sobre temas de suas áreas de conhecimento. Todo o santo dia somos alvos das análises dessas figurinhas carimbadas, pomposamente chamados de “consultores”. O problema é que esses doutos senhores não têm nenhum compromisso com a realidade. Entre o pensar da academia e o fazer da vida real vai uma enorme distância, que os vaidosos opiniáticos não levam em conta.

Durante o período eleitoral, vários deles – cientistas políticos, sociólogos e afins - circularam nos espaços da mídia, tentando explicar o comportamento do eleitor com teses que não sobreviveram a abertura das urnas. Economia e finanças, educação, cultura, segurança pública, política internacional, sexo dos anjos, para todos os temas sempre existe um especialista de plantão pronto para despejar suas verdades sobre nós.

O pior é quando passam a dar opiniões sobre coisas mais concretas, obras públicas por exemplo. Cada acadêmico consultado tem a solução mais fabulosa e arrojada para os problemas, não importando se existem recursos e viabilidade para a execução do faraônico projeto. Mas a idéia proposta passa a ser definitiva, inquestionável e ai de quem ouse pensar diferente. O nome desta postura chama-se desonestidade intelectual, pecado dos sectários e donos da verdade.

A responsabilidade primeira sobre esse processo, entretanto, não é dos tais consultores, mas de quem os contrata e aciona. A mídia parece envergonhada de assumir determinadas posições e busca respaldo a opinião dos chamados especialistas para reforçar o que, na verdade, pretende passar. Em outros casos, procura dar um verniz erudito a determinados temas, de forma a valorizá-los. E o que constatamos, na maioria das vezes, é um festival de obviedades, o primado do achismo, nivelando-se aos piores debates esportivos. Nestes, pelo menos, permite-se o contraditório.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Nas mãos do destino

Presidência é destino e não projeto pessoal . Acreditava que a frase era de Ulisses Guimarães, mas ouvi recentemente de Aécio Neves. O que importa é que a tese contida na frase se confirma com a eleição de Dilma Roussef. Até ser ungida por Lula para concorrer a sua sucessão, apesar do nariz torcido de parte do PT, dona Dilma não havia disputado sequer uma eleição para síndica. A nova presidente era conhecida como uma gerentona, que ganhou fama de durona, exigente e por dar esporro nos subalternos que não andavam na linha.

Mas Dilma estava no lugar certo, na hora certa e tinha um padrinho de peso, que garantiu o aval partidário e a empurrou para a vitória, apesar do estilo tosco e da inexperiência eleitoral da candidata. Nesse processo, além de outros menos votados, foram caroneados José Dirceu, queimado pelo episódio do mensalão e Antonio Palocci, político experimentado e gestor reconhecido, mas sem força para e impor como candidato depois do escândalo que o defenestrou do ministério.

E Serra, que no cotejo de biografias está num patamar bem superior, passará a história como o melhor presidente que o Brasil não teve. Foi o destino interferindo no nosso futuro.

No passado não foi diferente, com resultados indesejáveis na maioria dos casos. João Goulart, por exemplo, assumiu a presidência com a renúncia de Jânio Quadros e deu no que deu: mais de duas décadas de ditadura.

Não tenho dúvidas que foi também o destino que conduziu o obscuro ex-governador de Alagoas à presidência, na primeira eleição após a redemocratização. Havia opções bem melhores naquela eleição: Brizola, Covas e mesmo Lula, mas foi para Collor, arrancando com 3% das intenções de votos, que os deuses eleitorais sorriram. O resto da história é conhecido. Sem base política e soterrado por denúncias de corrupção, Collor foi expurgado do Planalto. O destino levou, então, o vice Itamar Franco à presidência. Por linhas tortas, o destino acertou e Itamar legou-nos a estabilidade econômica que sustentou as duas eleições de FHC. Mas sabe quem Itamar preferia para sucedê-lo? Antonio Britto, que arrepiou e passou a bola para FHC, que estava no lugar certo, na hora certa, etc, etc. (Com o Plano Real, Itamar elegeria até um poste, que, convenhamos, não era o caso de FHC nem de Britto).

O caso mais emblemático é o da definição do vice de Tancredo Neves, ainda no período da escolha presidencial de forma indireta, pelo Colégio Eleitoral. Tancredo preferia o deputado gaúcho Nelson Marchezan, mas o escolhido foi José Sarney. É que Marchezan decidiu manter a coerência ideológica e a fidelidade partidária não aceitando a indicação. O destino se intrometeu novamente, Tancredo morreu antes de assumir e acabamos penando seis anos com Sarney.

O grande dilema de ficarmos na mão do destino é que destino pode ser sinônimo de fatalidade ou de fortuna. O histórico nos mostra que nos casos em que interferiu na sucessão presidencial o Brasil mais perdeu do que ganhou. É que destino não tem compromisso com o futuro. Tomara que o futuro nos desminta no caso da nova presidente. Oremos!

sábado, 30 de outubro de 2010

Último ato

A caixa de madeira, adornada com a cruz, é mais pesada do que as cinzas do seu conteúdo poderiam indicar. A manhã nublada completa o ambiente melancólico da cerimônia que vai cumprir o preceito bíblico do pó voltando a terra. O local escolhido é um grande jardim e a preferência para espargir o montículo de cinzas, que um dia foi vida, são pequenos canteiros iluminados por flores e a base de espécies que recebiam atenções do ambientalista pioneiro. Não foi fácil achar jabuticabeiras e goiabeiras, mas elas estavam lá e ganharam sua cota de cinzas.

Os carros e os visitantes do jardim passam e não entendem o que está acontecendo com aquele grupo de pessoas se revezando na distribuição do conteúdo da caixa, com pequenas pausas para o que parece ser uma oração. Quem se aproximasse do grupo saberia que ali estava sendo contada a parábola das noivas imprevidentes, simbologia sobre a necessidade de estarmos preparados para o encontro com o Pai e também uma advertência aos incréus – e os havia naquela fraternidade.

Restou ainda uma pequena porção de cinzas reservada para os canteiros que faziam a alegria do patriarca, na velha casa de tantas lembranças. Um desperdício, porque o casarão e o grande pátio estavam condenados a serem sepultados por outros alicerces, que abrigariam outras pessoas que não eles, gente que desconheceria a existência e o simbolismo do singelo memorial de terra e cinzas.

Quando o grupo se despede, cada um para o seu mundo, chegou o sol e uma vontade de chorar.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A nova reeleição de Lula

Vamos combinar que o jogo está jogado. Dilma será a nova presidente do Brasil. No final do primeiro turno, cheguei a cogitar que Serra, embalado pelo Caso Erenice e a polêmica do aborto, conseguiria empuxe para superar e petista. O tucano até subiu uns pontinhos nas pesquisas, mas o pessoal da Dilma, depois de tontear com o inesperado segundo turno, contra-atacou com força, estancou a queda e ainda somou mais votos entre os indecisos.

A artilharia da oposição ainda não se esgotou. A cada dia surgem novos fatos dando conta de que a corrupção corre solta no governo federal e o episódio da espionagem nas declarações de renda da família Serra coloca o comitê de campanha do PT no centro das investigações, mas tem se mostrado inóquos para reverter o atual quadro eleitoral. E faltando poucos dias para a eleição é improvável que as denúncias ganhem corpo e sensibilizem a massa menos atenta do eleitorado de forma a causar estragos na campanha dilmista.

Na modesta opinião deste blogueiro pelo menos dois fatos contribuíram decisivamente para o sprint final de Dilma. O primeiro foi o acerto em marcar Serra como vendilhão do templo, o responsável pelas privatizações no governo FHC, o homem que vendeu patrimônio público, associado a outros argumentos, como o do político que não cumpre o que promete. Não conclui os mandatos para os quais foi eleito, por isso não passa confiança de que vai dar continuidade aos programas de Lula. Verdade ou não, isso é mortal diante do eleitorado do Bolsa Família.

Certamente a insistência em trazer para a campanha e fustigar o adversário com esses temas foi exaustivamente testada nas pesquisas qualitativas. Não é novidade, porém. Desde 1998, quando da disputa Brito x Olívio no Rio Grande do Sul, o PT lança mão da cruzada antiprivatista, sempre com bons resultados. A campanha de Serra tinha farta munição contra a adversária, mas a ofensiva não “pegou” e, além disso, o tucano teve que se dividir entre o ataque e a defesa das suas posições e mais a tentativa de desmentir as acusações que lhe imputavam. Serra não conseguiu sair do brete imposto pelos adversários.

O segundo e mais importante fator que desequilibrou a disputa em favor de Dilma é o mesmo que garantiu a ela a liderança no primeiro turno: a presença de Lula na campanha. O presidente desceu do pedestal, assumiu-se como militante e, indiferente às críticas, foi à luta em nome da preservação de um projeto de poder. Observem como Lula voltou a aparecer com força nos espaços de TV e rádio de Dilma, enquanto os tucanos apelam para Aécio Neves para reforçar sua campanha. Ou seja, Dilma voltou a ser Lula para todo o eleitorado brasileiro e Aécio só transfere seu prestígio para Serra em Minas Gerais e olhe lá. Tomara que eu esteja enganado.

Pensando bem, as presenças de Lula e Aécio nesta fase da campanha talvez antecipem o que pode acontecer na disputa eleitoral de 2014. Tudo indica que Aécio será o nome mais forte da oposição para tentar desbancar o PT e Lula pode aspirar a volta ao Palácio do Planalto, após o esquenta banco de Dilma. Se isso ocorrer, será a quarta eleição seguida de Lula porque, não tenham dúvidas, o grande vencedor da atual disputa chama-se Luiz Inácio Lula da Silva.

domingo, 24 de outubro de 2010

ViaDutra, ano 1

Sem que me desse conta, o Via Dutra completou um ano no ar. Foi no final de setembro de 2009 que me animei em dar um passo em direção à modernidade digital e criar este espaço para dar vazão a alguns textos cometidos aqui ou ali, como observador da cena que sou. Contei no início com a colaboração da minha assistente de inclusão digital, Mariana, que deu formato ao blog e me ensinou coisas básicas, como postar os textos, utilizar os recursos disponíveis e definir configurações.

Nas primeiras semanas comecei a postar furiosamente. Cheguei a incluir seis postagens diárias, até descobrir que não tinha talento para tanto. Mesmo porque o nível de bobagens aumentava com a quantidade e faltavam teses para encorpar algumas análises que pretendia mais pretensiosas. Boas histórias é que não faltaram, especialmente da infância e da juventude no bairro Petrópolis. Só não tenho certeza de que os relatos tenham sido fiéis à realidade dos fatos, mas certamente fui fidelíssimo à postura de certo tipo de imprensa: em dúvida entre a realidade e a versão, publique-se a versão.

ViaDutra foi construído assim: das versões do seu autor, já que os blogs caracterizam-se exatamente por serem uma iniciativa autoral. Foram 197 postagens até agora, 139 comentários, 20 seguidores. As estatísticas indicam mais de 2.400 acessos. Só no mês passado foram 1.130 acessos, apontando um crescimento inesperado, que venho observando desde julho. Não me perguntem a causa desse súbito interesse porque desconheço. Também desconheço a razão pela qual o artigo “A Holanda vem aí”, é o campeão de audiência com 296 visualizações. Trata-se de uma análise rasa sobre as possibilidades da Holanda contra o Brasil na Copa da África. Alguém aí pode me explicar esse fenômeno?

Diferente do Google Analytics que registra apenas oito acessos de outros países (como contei aqui em “Estranhos Visitantes”) descobri no link de estatísticas do Blogger que o ViaDutra é mais globalizado do que imaginava. Nas visualizações de página por país, os EUA aparecem com 211, Portugal com 71 e depois vem Ucrânia, Holanda, Russia, Itália, Canadá, França e Nova Zelândia, totalizando 396 acessos. Só que minha assistente Mariana tratou de derrubar meu entusiasmo explicando que os registros internacionais devem ser resultado de acessos via provedores localizados em outros países. Assim é difícil ser feliz.

Na verdade, não tenho motivos para queixas. Me divirto muito com o ViaDutra e fico faceiro quando concluo um texto a partir de um fato, uma lembrança, uma frase e, às vezes, apenas uma palavra que remete a uma série de idéias que se encadeiam. É assim que funciona a atualização de conteúdos, pelo menos no ViaDutra. E quando as idéias não vem, copio de outros espaços, sempre dando o crédito.

Às vezes me puxo, produzo um texto caprichado, categoria denso, forte, consistente e a repercussão é como meu sucesso com as mulheres: zero! Outras, escrevo uma bobagem qualquer e os assanhados logo se manifestam. Histórias sobre infidelidades conjugais, por exemplo, são pule de 10. Um dia ainda vou entender essas nuances do comportamento humano.

Por fim, volto a insistir: blogueiro gosta mesmo é de comentários adicionados aos seus textos. O Ari Teixeira, parceiro do blog Concriar, está sempre presente, mas guardo uma mágoa: o Gilberto Jasper, competente jornalista que interage com todos os blogs e sites possíveis, nunca postou um mísero comentário no ViaDutra. Haverá retaliação.

domingo, 17 de outubro de 2010

Caso Kliemann em novo livro de Celito De Grandi

Euclydes Kliemann

Entre os cinco livros que estou lendo no momento tenho dedicado especial atenção a “Caso Kliemann, a história de uma tragédia”, da Celito De Grandi. Por circunstâncias familiares, me aproximei dos Kliemann e tive o privilégio de receber antecipadamente o livro, que será lançado na próxima quarta-feira, às 19 horas, na Assembléia Legislativa.

Celito, que já nos brindara com os excelentes “Diário de Notícias” e “Loureiro da Silva, o Charrua”, vai fundo na história que começa numa noite de inverno de 1962, quando “Porto Alegre e o Rio Grande do Sul souberam, aturdidos, do feroz assassinato de uma jovem senhora (Margit) que se notabiizara pela beleza, posição social e, especialmente, por ser esposa de um dos mais destacados e promissores políticos da cena gaúcha”, o deputado estadual Euclydes Kliemann.

O livro só foi possível porque as três filhas do casal Kliemann decidiram, após quase 50 anos, purgar o drama vivido no passado e colaborar com o autor, revelando informações preciosas sobre a vida dos pais no período dos trágicos acontecimentos. Imaginem o drama das três meninas enfrentando os piores pesadelos: o assassinato da mãe, a suspeita contra o pai, a morte a tiros de Euclydes quando enfrentava um desafeto político durante um programa de rádio, tudo isso alimentando as manchetes de uma imprensa sensacionalista e irresponsável (leia-se Última Hora), que contribuíram ainda mais para contaminar a já atrapalhada investigação policial. Eu tinha 12 anos na época, lia com interesse todas as reportagens sobre o caso e me atormentava imaginando o que faria se uma tragédia daquela dimensão ocorresse na minha família.

“Confesso que, de inicio, a idéia não me pareceu oportuna pelo tanto de sofrimento que deverá voltar à tona. (...)Sempre soubemos que o dia haveria de chegar, que alguém se interessaria pela nossa historia e que, mais cedo ou mais tarde, algo seria publicado. Assim, foi com uma espécie de alívio que me dei conta: o melhor é que isso ocorra de uma vez por todas”, escreveu a filha Virgínia, atualmente morando na França, concordando com a posição das irmãs Cristina e Suzana em colaborar com Celito.

Celito mergulhou durante quatro anos no projeto , num processo angustiante, confessa . O resultado é um trabalho minucioso de pesquisa, documentos e fotos inéditas, um relato isento e objetivo, tanto quanto foi possível diante de um caso tão rumoroso e carregado de emocionalismo. O jornalista e escritor foi beneficiado pelo distanciamento histórico adequado e novas fontes de informação, mas acima de tudo conferiu ao “Caso Kliemann” um tratamento sensível e respeitoso com os personagens do intrincado caso, mesmo os que talvez não merecessem.

Diferente foi a postura de uma parte da imprensa na época. O jornal Ùltima Hora notabilizou-se por sua cobertura sensacionalista e tendenciosa do episódio, produzindo outras vítimas além do casal Kliemann, no caso os familiares e particularmente as três filhas, impotentes diante do massacre diário da imprensa. A imprensa ganhou maturidade desde então e não há mais espaço para o sensacionalismo que era uma das marcas da Última Hora, tanto assim que os jornais com esse viés agora se autodenominam “populares”. Porém, ainda hoje observam-se desvios e escorregadas, como se pode constatar no mais recente Caso Daudt, que guarda algumas similaridades com o Caso Kliemann, inclusive nas implicações político-partidárias dos seus desdobramentos. Quando a mídia se traveste de polícia, advogado de acusação, corpo de jurados e juiz, a Verdade fica mascarada, a Justiça se fragiliza e toda a sociedade perde. O professor e jornalista Antonio Hohlfeldt analisa o tema com mais profundidade e propriedade no posfácio do livro.

Mas o tempo é o senhor da razão e no Caso Kliemann, como bem acentuou o prefácio de Luiz Antonio de Assis Brasil “O Rio Grande precisava deste livro para acertar contas com seu passado”.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

De Pé

1932. Estava prestes a iniciar a batalha de Itararé. Ninguém ignorava que ela seria decisiva. Cresciam o vozerio e a barulheira das armas, em expectativa, no acampamento das tropas avançadas do Rio Grande, contra a Revolução Paulista, que reclamava a imediata constitucionalização do País, indefinidamente protelada por Getúlio.
De repente, o silencio: irrompia no horizonte um avião, arma desconhecida pelos gaúchos. Às ordens de comando, todos atiram-se ao chão. Todos, menos um cadete de 16 anos.

De pé, advertido sobre o perigo, Dastro respondeu:

- Pois que venha esse aviãozinho! Eu é que não vou sujar minha farda por causa dele.

E continuou de pé.

E de pé, se manteve a vida inteira.

Na Academia de Polícia Militar. E no serviço ativo, em Livramento, em Rio Grande, em Santa Maria e Porto Alegre. Contra todas as ameaças e adversidades ele permaneceu, invariavelmente de pé. Tal como aos 16 anos, na iminência da batalha. De pé sempre, para o que desse e viesse.

Naquele tempo, era generalizada – dogmaticamente generalizada – a convicção de que o sacerdote, o juiz e o soldado devem contar apenas com o estritamente indispensável para sobrevivência espartana.

E Dastro enfrentou, de pé, as agruras da severa pobreza que a Brigada Militar oferecia a seus oficiais e soldados. Ele e Thélia, também admirável, com seus nove filhos.

Chamado ao cargo de Diretor do Departamento de Limpeza Pública de Porto Alegre – hoje DMLU -, Dastro logo se impôs ao respeito e admiração gerais. Respeito pela eficiência que imprimiu ao serviço. Admiração pelas iniciativas inesperadas, com que soube conquistar a cooperação entusiástica dos subordinados.

Assim, organizou uma padaria, cujos produtos eram entregues a preço de custo, aos funcionários do DLP. E uma farmácia, cujos medicamentos eram fornecidos a preço de custo. E um refeitório, com as refeições servidas, também elas, a preço de custo, aproveitando-se os legumes e hortaliças cultivadas na área do DLP.

Ele fez do seu Departamento uma grande família, com tais iniciativas, implantadas sem qualquer acréscimo de despesa, pois o pão, o medicamento e as refeições, tudo, tinham o preço rigorosamente apurado, sem deixar lucro e nem prejuízo. Era natural, pois, que os servidores trabalhassem, em sistema de rodízio, sem qualquer remuneração, pelos serviços prestados nessas organizações, em vista dos benefícios obtidos.

Até com máquinas de lavar roupa Dastro conseguiu presentear as mulheres dos seus funcionários, máquinas de madeira, construídas conforme plantas que obteve da Organização dos Estados Americanos.

Para muitos, está claro que a atividade desse brigadiano, Diretor do Departamento de Limpeza Pública, era desconfortável, demasiadamente incômoda: quais seriam as verdadeiras intenções dele? Onde pretendia chegar?

E, inesperadamente, Dastro foi substituído, para espanto e desconsolo de quantos tinham trabalhado sob suas ordens.

Mas é claro que ele continuou de pé. E foi chamado para a direção do Presídio Central, onde se repetiram os êxitos alcançados no DLP, até ser demitido pelas manhas e artimanhas dos muitos ofendidos com o trabalho incansável e os sucessos de Dastro.

Basta lembrar que, ao saberem da substituição de Dastro, os presos, no mesmo instante, se rebelaram exigindo o imediato retorno dele ao cargo! Não, não se sabe de ninguém, nem mesmo por ouvir dizer, não se sabe de um só diretor de presídio no mundo inteiro, cujos detentos tenham se amotinado, para mantê-lo no cargo.

Mais admirável ainda é que o motim só tenha terminado mediante a intervenção de Dastro, junto aos presos, a pedido do próprio Governador do Estado e do Cardeal Vicente Scherer.

Sim, Dastro manteve-se de pé, fossem quais fossem as ameaças e circunstâncias. 90 anos de pé.

Nunca sujou a farda.

Nunca sujou o coração.

Nunca sujou a alma.

Homem de fé, exemplar daquela velha raça, desgraçadamente em extinção, a dos cavaleiros sem medo e sem mancha - “sans peur e sans reproche” -, honra e glória da humanidade.

* Trecho do prefácio de Justino Vasconcellos para o livro “90 anos de histórias”, que a família Dutra editou em 2005 por ocasião dos 90 anos do nosso pai, coronel Dastro de Moraes Dutra. Ontem, poucos meses depois de celebrarmos seus 95 anos, o velho guerreiro nos deixou. Só a doença e o peso da idade conseguiram vergar o Coronel, que cumpriu plenamente sua missão entre nós, legando principalmente valores e um exemplo de vida.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Maldito Futebol Clube, o filme que desperta minha inveja


O ViaDutra eventualmente incursiona no mundo do cinema, destacando as preferências do blogueiro.  Não se trata de critica cinematográfica, deixo isso para os especialistas, mas apenas o registro e as observações sobre filmes que mexeram com a sensibilidade de quem assiste em vídeo a pelo menos cinco filmes por semana.  Incluo neste caso “Maldito Futebol  Clube” (The Damned United), produção inglesa de 2009 que não lembro de ter sido exibida no circuito de Porto Alegre. Na falta de outra opção, apanhei por acaso na locadora do seu Renê e não me arrependi.

“Maldito Futebol Clube” é um ótimo filme sobre o futebol e seus bastidores.  O cenário é o futebol inglês dos anos 60 e 70, mas as situações mostradas no filme roteirado por Peter Morgan (o mesmo do premiado  “O Último Rei da Escócia”) poderiam situar-se no futebol brasileiro de hoje:  cartolas inconseqüentes, torcidas passionais, trairagem dos jogadores, resultados suspeitos e uma disputa de egos alimentada pela mídia, é claro.  Já vimos esse filme por aqui.  

Baseado em fatos reais,” Maldito Futebol Clube” apresenta Michael Sheen (o Tony Blair de “A Rainha”) no papel do controverso treinador britânico Brian Clough.  Depois de levar o time de segunda divisão Derby County ao convívio dos grandes da primeira divisão da Inglaterra, o técnico é convidado para treinar o rico e vitorioso  Leeds United, substituindo seu arqui-rival, Don Revie, que acabara de ser convocado para comandar a seleção inglesa. Clough não conta mais com os conselhos de seu amigo de longa data e auxiliar técnico, Peter Taylor, e assume uma difícil tarefa: comandar um time totalmente fiel ao seu antigo treinador e que, para piorar, acaba de ser duramente criticado pelo próprio Brian Clough em uma entrevista.  A narrativa do filme costura o passado do técnico e sua campanha de vitórias ao lado de Peter Taylor com a sua rápida e fracassada experiência à frente do Leeds.
 
O tal Clough do filme é uma figura. Motivador como Felipão, durão como Celso Roth, ressentido como Dunga, sem meias palavras como Muricy, mas com o charme de Renato,  é acima de tudo um obsessivo. A rivalidade com Don Revie nasce de um motivo insignificante – o adversário ignorou seu cumprimento no jogo entre Derby County e o Leeds pela Copa da Inglaterra –, mas isso basta para um ego inflado e transforma-se na energia que move a vida e a carreira de Clough. Sheen consegue imprimir ambição e vaidade sob medida para Clough, numa elogiada interpretação.

Fico com uma pontinha de inveja quando assisto a filmes como “Maldito Futebol Clube”. Aqui no país pentacampeão mundial, o cinema brasileiro ainda está nos devendo um bom filme sobre futebol. Boas histórias não nos faltam, nem roteiristas, diretores, atores e pessoal técnico competente para levar o mundo do futebol, seus dramas, farsas e comédias às telas. Mas parece que o brasileiro gosta mesmo de futebol jogado em campo e discutido nos bares. A realidade é melhor que a ficção. Enquanto isso, o cinemão americano consegue tornar atraente qualquer historinha, transformadas em narrativas épicas, envolvendo “heróis” daquela chatice do beisebol e do agarra-agarra do futebol americano.  Alô Jabor, Meirelles, Padilha, Valter Salles, Barretão, está na hora de entrar em campo e virar esse jogo.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

DataDutra observa a cena política

Como os poucos mas fiéis leitores do ViaDutra já estão careca de saber, tenho me colocado como observador da cena, de todas as cenas. Embora minhas posições sejam bem definidas no cenário político, não posso deixar de comentar a movimentação das duas candidaturas presidenciais, expressas principalmente nos programas de TV. Não assisti ao debate da Band, por isso vou me fiar no que vi nos programas desta segunda-feira, 11, para emitir minha opinião. Serra venceu o debate. Dilma também venceu o debate. Foi o que conclui nos horários políticos obrigatórios, aos quais estou dedicado com vivo interesse.

Na verdade, os dois programas continuam muito parecidos. Os candidatos mostraram seus melhores momentos no debate, omitindo a participação do adversário e nem poderia ser diferente. Pelo que vi, Serra foi mais sereno, Dilma mais aguda. De resto, depoimentos e chamamentos de governadores e senadores eleitos de um e outro lado, além do inevitável “fala povo”. Dilma trouxe o acréscimo do expressivo apoio que terá com as numerosas bancadas governistas eleitas para a Câmara e o Senado. E Serra apresentou um case de bom atendimento na área da saúde em São Paulo.

Dilma esnucou Serra na questão das privatizações e Serra deu troco lembrando as más companhias da petista – os ex-presidentes Collor e Sarney, cotejando com seus apoiadores FHC e Itamar Franco.

No quesito maldade explícita, o programa de Serra apresentou novamente o esquete das bonecas russas, que passa a idéia de trajetória do candidato contra uma boneca sem conteúdo de Dilma. E o programa de Dilma mostra o mapa do Brasil decrescendo na medida em que as conquistas do governo Lula não se fizeram sentir nas gestões dos tucanos, concluindo com um mapa de bom tamanho, no governo Dilma, é claro.

No final, ligeira vantagem para o tucano que antecipou uma mensagem pelo Dia da Criança e de Nossa Senhora Aparecida, talvez para contrapor a visita da petista à Basílica de Aparecida, onde assistiu à missa pela manhã. Aliás, continua a cruzada dos dois candidatos para mostrar quem é mais religioso. Dilma foi à Aparecida – pela primeira vez, admitiu – e Serra aparece beijando um crucifixo durante passeata em Goiânia. É o vale-tudo do segundo turno.

Pra falar a verdade, estou gostando do embate e fico perplexo com a opinião de alguns dos nossos melhores analistas políticos, que reclamam do tom agressivo dos debates e da ausência de propostas dos candidatos nesses encontros. São os mesmos que reclamavam da mornice dos debates do primeiro turno. Queriam o quê agora ? Papai-e-mamãe, salamaleques de parte a parte? Ora, vão se orientar. Qualquer pessoa medianamente informada sabe que os debates seguem o mesmo roteiro/enredo da campanha eleitoral, que é resultado de dois movimentos principais: de um lado, a construção dos melhores argumentos para seu candidato, de outro a tentativa de desconstituir o adversário, desnudando suas fragilidades. Quem for mais competente nesse contexto, leva a faixa.

sábado, 9 de outubro de 2010

A batalha do segundo turno

Com a ressalva de que sou serrista miitante, atrevo-me a avaliar as campanhas eleitorais do segundo turno. Já aviso que estou gostando do embate, agora taco a taco, sem a chatice do primeiro turno, com os nanicos atrapalhando.

A estrutura dos dois programas é muito semelhante, privilegiando propostas, testemunhais e o recado dos candidatos, reservando para o começo ou o final o ataque à candidatura adversária.

E aí me parece que o Serra está levando vantagem, com um programa mais leve, mais animado – “Serra é do bem” vai pegar – e mais contundente na tentativa de desconstituir a adversária. O esquete das bonequinhas russas se sobrepondo e construindo a carreira de Serra, contra uma boneca vazia de Dilma é cruel e até agora irrespondível. Serra até está simpático e espontâneo no vídeo, apresentando suas realizações, enquanto Dilma parece travada e fala não do que fez, mas do que Lula fez. Sutil e fundamental diferença.

Acho mesmo que o pessoal da Dilma tonteou quando a candidatura não conseguiu se eleger no primeiro turno. Agora partiu para uma estratégia no programa de TV de efeito duvidoso: confrontar os governos Lula e FHC. O eleitor sabe que esse jogo já foi jogado. Agora é Serra x Dilma. Ressuscitou também a disputa maniqueísta de ricos x pobres e logo virá grandes x pequenos, ou seja, o bem contra o mal. Já vi este filme nas campanhas petistas no Rio Grande do Sul. 

No vale tudo do segundo turno é interessante observar a insistência de Dilma na “defesa da vida”, eufemismo anti-aborto, e de Serra em se colocar como ambientalista – ambos cortejando os votos do eleitorado de Marina. Neste caso, Serra também leva vantagem, como indica a mais recente pesquisa DataFolha. De acordo com a pesquisa: 51% dos quase 20 milhões de votos da candidata verde migrariam para Serra, restando 22% para Dilma.

A pesquisa mostra outros dados que favoreceriam Serra na arrancada do segundo turno. Entre os que votaram em Dilma no 1º turno, 91% pretendem repetir a opção, enquanto cinco por cento trocarão a petista por Serra. Para o tucano, 95% dos eleitores renovarão o voto em 31 de outubro, enquanto dois por cento bandearam para a petista.

Dilma ainda leva vantagem com 48% das intenções de voto, contra 41% de Serra, mas o crescimento da petista foi de pouco mais de um ponto, para um salto de quase nove pontos do tucano. O DataDutra, meu instituto particular de pesquisas, analisou os dados e concluiu que a próxima pesquisa vai mostrar Serra no mínimo empatado com Dilma. Como diziam os cronistas esportivos de antigamente, reina grande expectativa.

Imperdível


A conferência do Nobel de Literatura, Mario Varas Llosa, quinta-feira, 14, no Fronteiras do Pensamento (Salão de Atos da Ufrgs, 19h30). Vou chegar cedo para conseguir um bom lugar.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Eleições, aborto e Tiririca

Engana-se quem imagina que a Igreja não tem a mesma influência nos processos eleitorais dos tempos da Liga Eleitoral Católica. É só observar o esforço da candidata Dilma para neutralizar o efeito devastador da sua posição dúbia em relação ao aborto e a outros valores cristãos, provocando a ira de todas as crenças, enquanto Serra busca se enquadrar no figurino de homem e político estilo família, de agrado a todas as religiões. E o que seria um mero detalhe na atual campanha eleitoral tornou-se o centro dos debates, pelo menos nesta arrancada do segundo turno.

O fato é que a eleição pode se decidir no detalhe, como ocorreu na disputa entre Jânio x FHC pela prefeitura de São Paulo. Perguntado se acreditava em deus, FHC vacilou, passou a idéia de que era ateu e isso contribuiu para sua derrota. Depois, o ex-presidente passou a visitar todas as igrejas que encontrava pela frente, até foi pedir a benção para o Papa e não perdeu mais eleições. Em uma das disputas para a prefeitura de Porto Alegre, um jornal tentou pegar Tarso Genro com o mesmo questionamento e o candidato, no melhor estilo Rolando Lero, saiu da cilada com essa preciosidade: “Considero generosa a idéia de Deus!” E mais não disse e não lhe foi perguntado.

O que mudou em relação à pressão dos grupos religiosos no passado e agora é que a Igreja Católica não está mais sozinha na sua pregação, pois ganhou o reforço das outras crenças, aí incluídos os conservadores evangélicos pentecostais que crescem em número de adeptos e em influência no Brasil. As bancadas evangélicas nos legislativos estão aí para comprovar essa ascensão religiosa.

Ao divulgar seu programa de governo, com propostas mais ousadas em termos de relações sociais, o PT ignorou sua própria origem, que teve nas comunidades eclesiais de base da Igreja Católica um de seus alicerces. Os igrejeiros do PT certamente não participaram da formulação do programa de governo, ou se participaram estavam distraídos.

Com exceções que justificam a regra, os partidos não avaliam como deviam a força que emana dos representantes religiosos. O sermão dominical dos padres católicos e a pregação inflamada dos pastores das outras religiões têm mais poder de convencimento e potencial de adesão do que qualquer comício ou programa televisivo. Os religiosos são formadores de opinião porque falam diretamente aos seus fiéis, que se encontram em condição emocional receptiva às mensagens das lideranças. O que os religiosos fazem é capitalizar, em nome de deus, o moralismo entranhado nas classes de menor poder aquisitivo e mesmo na classe média.

E mais: como as igrejas e seitas exercem uma presença diária junto aos seus rebanhos, especialmente nas comunidades mais pobres, suprindo em muitos casos a ausência governamental, tem credibilidade para cobrar adesões, a contrapartida em forma de votos ou rejeições à candidaturas. O desconhecimento e a indiferença a esse processo pode provocar estragos e ameaçar favoritismos, daí a extrema preocupação da candidatura oficial.

O que me incomoda no caso é que, num Brasil de imensas diversidades e carências, existem tantas outras questões a serem debatidas e o foco das campanhas ficou reduzido à inserção religiosa dos candidatos. Pior que isso, só votando no Tiririca, que entrou neste texto como Pilatos no Credo.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

DataDutra em ação

Os analistas políticos deitaram e rolaram teses sobre as causas da queda de Dilma, que provocaram o segundo turno na eleição presidencial.  Vale tudo: da alta abstenção no Nordeste à posição dúbia sobre o aborto, que provocou a reação do espectro religioso e uniu católicos à evangélicos pentecostais;  do efeito Erenice e sua parentada à pressão da grande mídia; da atrapalhada participação no último debate à overdose de interferências do Lula no processo eleitoral.  É tudo verdade, mas não é toda a verdade.

O DataDutra, meu instituto particular de pesquisas, foi  à campo e após detalhada investigação trouxe novas luzes ao debate.  O conceituado instituto chegou a conclusão de que Dilma está perdendo para Dilma. Pelo menos é o que mostram os números da apuração: a intenção de votos na candidata oficial começou a desidratar lentamente e se acelerou na última semana antes do pleito, na mesma medida em que crescia a preferência por Marina, enquanto Serra apresentava ligeira, quase discreta,  tendência de alta. Ou seja, Serra não roubou votos de Dilma, ou roubou muito pouco.

A gatunagem eleitoral, no bom sentido – nada a ver com as estrepolias de Erenice - , foi de Marina, que ganhou musculatura e sustentou seus quase 20% nas urnas com os votos de três perfis de eleitores, conforme o DataDutra:  os dilmistas arrependidos, os antiserristas-não-dilmistas e aqueles de coração e mente verdes, generosos, sinceros e encantados com o jeito meigo e doce da candidata e suas propostas sustentáveis, of course.

Com base nessas interpretações, o instituto concluiu que, na verdade, caiu a ficha do eleitorado em relação à Dilma.  Dilma não é Lula. Dilma não á aquela Brastemp que tentaram impingir ao eleitor.  Dilma foi fabricada para dar continuidade ao projeto de poder  do PT. Dilma não passa confiança, não passa segurança. Resta esclarecer que o DataDutra não tem nenhum compromisso com a realidade, apenas com as teses do seu mentor,  este blogueiro observador da cena. 

Na vida real, o que se constata é um esforço das duas candidaturas para afinar o discurso para a mãe de todas as batalhas – o segundo turno.  De um lado, Dilma firmando posição contra o aborto e cortejando Marina, de outro Serra reforçando seu perfil de administrador e se dizendo verde desde pequenino.   Se nada der certo é só espalhar que o Mick Jagger está apoiando a candidatura adversária.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Memórias da Fabico II

Foi em 1969, ainda no prédio da Filosofia, que a primeira turma da nova faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) começou, com currículo novo e novo prédio, na Ramiro Barcelos, no ano seguinte. Os burocratas da academia decidiram unir duas unidades que estavam perdidas na estrutura universitária da Ufrgs e assim nasceu a Fabico. De um lado, uma fauna variada que  queria ser jornalista e de outro as gurias bem comportadas, futuras senhoras bibliotecárias.  Com duas tribos tão diferentes convivendo era difícil a integração, mas pelo menos não havia hostilidades. O interessante é que a cada ano trocava o diretor da Faculdade, revezando-se um professor da Comunicação e da Biblioteconomia.  E aí o curso que estava na liderança, recebia melhorias em detrimento do outro.

A verdade é que éramos do bem. E um tanto despolitizados, apesar - ou por causa de – vivermos o período mais fechado da ditadura. Não lembro de adesões mais expressivas às manifestações estudantis da época. O pessoal da comunicação parecia mais interessado na Contracultura, que ainda estava na moda.

Um episódio, entretanto, ficou marcado. Foi quando parte da turma resolveu dar uma prensa no falecido Aldo Schmidt , suspeito de ser informante do DOPS, o que ele desmentiu veementemente.  Havia essa paranóia na época, porque a universidade estava infestada de dedos-duros.  A situação foi constrangedora e humilhante para o colega – que  dá o nome a sala de imprensa do Aeroporto Salgado Filho; ainda existe? - e uma das poucas más lembranças da nossa Fabico de então.  E também uma exceção porque eu era sobrinho do então ministro de Educação, Tarso Dutra, em pleno regime militar, e jamais me foi cobrado qualquer posicionamento à esquerda ou à direita.

Outro episódio, menos traumático, envolveu este que vos fala e um jornalista que se tornaria famoso nacionalmente na comunicação e na política. Sucede que ambos trabalhávamos na mesma empresa e, falando honestamente, não éramos muito assíduos às aulas. Ao final do semestre, nossas ausências em determinada matéria eram grave impeditivo para concluirmos a disciplina. O companheiro, que chefiava o departamento de jornalismo de uma rádio, convidou-me para fazer um apelo ao professor que vinha a ser, no período, o diretor da Fabico. Lá fomos nós para a sala do diretor, tentar passar a conversa no homem. Nem foi muito difícil. O diálogo que se estabeleceu, com ligeiras alterações, foi assim:

- Professor, como o senhor sabe, eu e o Dutra trabalhamos na rádio X e tivemos muita dificuldade para assistir as suas aulas. Nós queríamos saber se tem alguma forma da gente compensar as faltas, fazendo algum trabalho...

- Não se preocupem , conheço bem o trabalho de vocês e vou levar isso em consideração. Agora estou precisando de uma ajuda da rádio de vocês. Temos um projeto de Biblioteca Volante que precisamos divulgar...

O diretor nem precisou completar a frase e já foi atalhado pelo porta-voz da dupla de infreqüentes:

- Pode deixar, amanhã nosso programa de maior audiência vai fazer uma entrevista com o senhor para divulgarmos esse importante projeto da nossa Fabico!

No dia seguinte o prometido foi cumprido e, graças à entrevista, conseguimos ser catapultados para o semestre seguinte.  É bem verdade que a Biblioteca Volante, uma velha Kombi, prestava um bom serviço, levando livros à periferia – o que diminui meu complexo de culpa.

Parte da turma gostava mesmo era de viajar e ficava um semestre inteiro percorrendo, como mochileiros, países da América Latina. A moda era Machu Picchu, no Peru, e coisas do gênero. Em uma dessas jornadas, um companheiro decidiu sair do armário, assumindo sua homossexualidade. A iniciação, pelo que soubemos, foi com um estrangeiro, o que provocou protestos na turma, essencialmente nacionalista e contrariada com aquela preferência por um parceiro do exterior. E ficou por isso mesmo, até porque o assumido veio juntar-se a outros dois ou três já incluídos na nossa cota de gays.

E mais não conto. Apesar de insistentes pedidos dos meus poucos,  mas fiéis seguidores, vou frustrá-los omitindo situações que testemunhei ou me relataram das célebres festas da Fabico. É que temo pela minha integridade física, uma vez que as pessoas envolvidas estão todas bem vivas algumas em posições de projeção. Fico devendo essa.


domingo, 3 de outubro de 2010

Combati um bom combate

Ainda me emociono quando entro na cabine eleitoral e começo a interagir com a máquina, digitando cada um dos meus candidatos escolhidos.  Fiquei tanto tempo sem votar para os cargos do executivo que o ato agora exige um cerimonial da minha parte.  Procuro transmitir esse sentimento  aos meus filhos, tanto assim que na primeira eleição para presidente, graças a liberalidade dos mesários, pedi  à Flávia e ao Rafael – pequenos à época -  que marcassem por mim o número dos candidatos. Eles ficaram orgulhosos e eu mais ainda!
 Vou adesivado com meus candidatos à seção eleitoral e na hora de votar sempre me questiono se estou votando realmente nos melhores.  Até agora tive poucos motivos para arrependimento, mas é claro que as minhas preferências nem sempre coincidem com as da maioria. Isso não me torna melhor nem pior e também não significa que a maioria esteja errada e que eu seja ungido pelos deuses eleitorais para expressar as boas causas. É preciso respeitar as regras do jogo democrático, por mais frustrado que me deixe um resultado adverso nas urnas.
Agora estamos diante de mais uma disputa e meu voto já está lá na seção 202 da Zona Eleitoral 161.  Como sempre tive lado, votei com minhas convicções:  Fogaça 15, Rigotto para Senador, Serra para presidente e nos deputados estadual e federal  escolhidos.  Escrevo antes de saber o resultado das urnas, mas independente deles, estou convencido de que combati um bom combate. Por isso, proclamo:  sou um vencedor!

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Estranha campanha gaúcha e votos de qualidade

A atual campanha política me tonteou, eis que alguns dogmas  caíram por terra.  Tarso Genro, por exemplo, não tem  unanimidade nem na família, mas agora virou simpático, extrapolando o teto histórico do PT na intenção de votos. E cadê a maré vermelha do PT, que tomava conta das esquinas  nas campanhas anteriores?   Rareiam as bandeiras vermelhas com a estrela amarela, agora empunhadas – sem muito entusiasmo  - por militantes (?) remunerados.  Ou é salto alto dos petistas, ou uma estratégia que não consigo alcançar. Talvez seja a confirmação de que Tarso, para não cutucar o antipetismo, tenha optado por manifestações menos ostensivas de forma a se despegar  do seu partido.
E como explicar que os gaúchos, historicamente contrários ao poder central, tenham aderido em sua maioria à candidata oficial? Outra contradição: diferente de outros embates eleitorais, tivemos uma campanha morna, sem a agressividade e o denuncismo que marcaram disputas recentes.   Não entendo mais nada, inclusive essa consolidação de uma terceira via, situação impensável num Rio Grande de farroupilhas x imperiais, maragatos x chimangos, Grêmio x Inter, PT x anti PT. Hoje é Tarso x Fogaça x Yeda!
Estamos perdendo nossa identidade, um certo irredentismo que é a marca dos gaúchos? Deixo a resposta para os cientistas sociais e políticos ou mesmo para os historiadores. De minha parte, vou manter a coerência e a convicção na hora de votar. Para o governo do estado, meu voto vai para Fogaça – 15, o mais integro, o mais sincero nas suas propostas e o mais preparado para fazer do Rio Grande novamente um motivo de orgulho para todos nós. Para o Senado, é Rigotto e só Rigotto. Para a presidência é Serra, um gestor de reconhecida competência, que  vai governar sem o risco da tutela de uma banda podre...
 Para deputado estadual e federal permito-me omitir  minhas preferências:  os escolhidos sabem que meu voto é deles.  E com certeza, são escolhas de qualidade.
 *Em homenagem às guerrilheiras da cidadania, Cris, Dulce, Marília e Terezinha

domingo, 26 de setembro de 2010

Memórias da Fabico


A Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico) da Ufrgs comemorou 40 anos na sexta-feira, 24. Tinha me programado para comparecer ao jantar dançante no Clube Farrapos e rever os companheiros da primeira turma, dos idos de 1969, que deixou a Escola de Jornalismo, ligada a Filosofia, para constituir a Fabico, no prédio da gráfica da universidade, na Ramiro Barcelos. Mas outro compromisso atropelou a incursão nostálgica e só me resta participar das comemorações por meio deste depoimento, recordando fatos pitorescos de uma era que deixou saudades.

Lembro, por exemplo, do esforço que fizemos para promover no início da década de 70 o Salão de Arte e Comunicação, o Saco. Foram duas edições, a primeira dentro do prédio e a outra no canteiro, hoje urbanizado e na época uma espécie de território livre, na frente da Fabico. Isso porque a direção proibiu as manifestações, alegando que o pessoal estava fumando maconha (sim, já se fumava maconha naquele tempo; eu fora) e bebendo muito durante o evento(eu dentro).O grupo do qual eu fazia parte apresentou no primeiro ano um trabalho sobre Poesia Concretista, na base de slides e sons.  Ficou uma bosta, ninguém entendeu, nem nós.

Lembro com saudade também das viagens que a turma fazia sob qualquer pretexto. Participei de uma para Brasília e outra para a Bahia, ambas de ônibus, dos antigos.  No grupo tínhamos mulheres, nossas colegas, especialistas em afanar artigos de lojas de souvenirs. Nunca vi gente tão habilidosa para enganar os atendentes das lojas. Na viagem de volta da Bahia (era um congresso de jornalistas) voltamos – o Félix Valente, hoje consultor de prefeituras do PT,  e este que vos fala – na maior pindaíba, com o equivalente a R$10 reais de hoje para comer e hospedarmo-nos no CEU (Centro dos Estudantes Universitários, no Rio, um pulgueiro,  a R$ 1,00 o pernoite). No Rio conseguimos comer uma mini pizza e uma guaraná para os dois dois. Voltamos em ônibus de linha, com transbordo no Rio, e chegamos a Porto Alegre mortos de fome.

E tem ainda a história do primeiro jornal que fizemos denominado Ernestão, homenagem-sacanagem ao professor Ernesto Correa e que constava de uma folha, tipo mural. Até hoje busco quem tenha um exemplar.  O Ernestão  ficou faceiríssimo. O mesmo Ernestão, diretor à época e muito gozador, pregou uma peça no professor Abrelino Rosa, que lecionava literatura brasileira e era um profundo conhecedor de Fernando Pessoa. Pois bem, na falta de professor para a cadeira de Redação Jornalística, convencido pelo Ernesto, o professor Rosa topou assumir a cadeira e começou a dar aula com um livro texto tipo “Jornalismo sem mestre”. Foi um gritedo do pessoal, até ele se dar conta do ridículo da situação, excomungando o Ernestão.

A Fabico era o patinho feito da Ufrgs, mas sempre nos orgulhamos dela.  Nossa turma foi a primeira da faculdade, com currículo novo, de 4 anos, prédio novo, depois de um semestre como Escola de Jornalismo, ocupando o terceiro andar do prédio da Filosofia. Então, isso moldou muito a turma, que superava a falta de condições estruturais com muita criatividade.  Não tínhamos laboratórios de rádio, nem de tv e equipamentos nem pensar.  E a máquina de fotografia era uma velha Roleiflex, compensada pela presença do professor Santos Vidarte.

Conviver com o Santos Vidarte, com o Ernesto Correa, com o professor Marcelo Casado de Azevedo, este um gênio, muito adiante do seu tempo, foi o melhor legado, pelo menos para mim, do anos de Fabico.  Recebíamos aulas de matérias não técnicas de professores de outras unidades da Universidade e sempre eram caras do primeiro time, Brochado da Rocha, o pai, Helga Picollo, entre outros.

O grupo de trabalho, quase permanente do qual eu fazia parte (Maria Wagner, Oscar Flores Junior, Silmar Muller,  Jaures Palma, Maria de Fátima, a Nossa Senhora, entre outros- onde anda essa gente?) era pretensioso e um dos trabalhos na cadeira de Rádio foi sobre Histórias em Quadrinhos - quadrinhos em rádio!!! O roteiro previa uma sonoplastia caprichada, com sons que expressassem onomatopéias (sock!, poff!!). Ficou uma porcaria e ainda foi censurado, em parte, pelo professor porque, entre outras coisas, criticava o Capitão América, que acusamos de ser símbolo do colonialismo americano. O argumento para a censura foi prosaico: a Rádio da Universidade, onde gravávamos o programa, tinha convênios de cooperação com o Consulado Americano, que poderia não gostar do nosso programa.

Enfim, levei oito anos para me formar, porque esqueci uma rematrícula e fiquei fora três anos. Consegui voltar em 76 e a formatura foi a coisa mais informal da qual já participei: na sala de aula, com alguns professores, os alunos e uns poucos pais, incrivelmente orgulhosos.  Eu estava de sandália porque tinha interrompido as férias em Florianópolis e minha santa mãe jamais me perdoou por não tê-la convidado para a minha formatura.  Um dos alunos tentou fazer um discurso (estávamos em plena ditadura) e o diretor Guerreiro, pra não de incomodar, deu por encerrada a sessão. Contei esse episódio com mais detalhes na postagem A Formatura (25/maio).

Esperava voltar este ano à Fabico em grande estilo para a formatura da minha filha Mariana, em RP.  Mas que sina: interrompi uma reunião,  me toquei para a Ramiro Barcelos e adentrei apressado no auditório lotado...de alunos de uma disciplina qualquer. A formatura fora em gabinete, em outra sala, e tão informal que já terminara. E Mariana já havia fugado. Era a história se repetindo em forma de drama e farsa.

Assim mesmo, ficam na memória as melhores lembranças da Fabico, especialmente daquela primeira turma, muito integrada, muito festeira e pouco politizada, o que era uma incoerência para a época. Ah, e tem as festas da Fabico! Mereceria um capítulo a parte, mas deixa assim.

Recomendo



Vídeo produzido por estudantes de Comunicação da Ufrgs e Puc, que traz emoção para a campanha eleitoral. Disponível no YouTube.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Estranhos visitantes

 
Descobri algo fantástico ao pesquisar no Google Analytics: já contabilizo oito visitantes internacionais ao despretensioso Via Dutra. Minha surpresa foi maior ao constatar a origem dos acessos, dos Estados Unidos e Canadá à Inglaterra, da Romênia e Polônia à Finlândia, do Marrocos e até do Japão. De cidades como Utica (Canadá), Kanagawa (Japão), Sopat (Polônia), das quais nunca ouvi falar, às capitais como Londres, Bucareste, Rabat e Helsinque e, ainda, Nova Jersey. Enfim, visitantes geograficamente diversificados.

O curioso é que não tenho qualquer relação mais efetiva com essas cidades, mesmo as capitais. E aí surge a dúvida que me consome: o que levaria o pacato cidadão de Kanagawa, sorvendo goles de seu saquê, acessar o ViaDutra? Não consigo imaginar o finlandês, entre uma sauna e outra, dando uma espiadela no blog. E o que poderia ter chamado a atenção do marroquino ou do polonês? Quem sabe não se trata de um amigo errante, a viajar pelo mundo levando o ViaDutra como referência? Seria a gória.

O detalhe é que todos os oito acessos ocorreram entre agosto e setembro deste ano, o que me leva a supor que devo ter postado nesse período algo muito interessante – ou uma bobagem muito grande - e o primeiro visitante internacional tratou de disseminar a informação por sua rede de contatos, divulgando o ViaDutra por quatro continentes. Aguardo para qualquer momento o anuncio da formação de uma comunidade global, através das redes sociais, intitulada “Eu acesso o ViaDutra”.

Na pior das hipóteses, os oito visitantes caíram no ViaDutra por acaso, deram aquela mirada básica e foram acessar endereços mais interessantes. E novamente surge a dúvida: o que estariam procurando esses desgarrados cibernéticos? Informações sobre a via Dutra, que faz a ligação entre Rio e São Paulo? O site do Motel Via Dutra que oferece conforto e prazer em Guarulhos? A letra da música Via Dutra, do Detonautas? Não faço a menor idéia. Só sei que esta tal de globalização está me deixando muito confuso.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Vingança de consumidor

Já tinha tratado do tema em "Enfrentando o Telemarketing" (12/08), mas esta que copiei do previdi.com é insuperável:

Toca o telefone.
- Alô.
- Alô, poderia falar com o responsável pela linha?
- Pois não, pode ser comigo mesmo.
- Quem fala, por favor?
- Edson.
- Sr. Edson, aqui é da CRT do século 21. Estamos ligando para oferecer a promoção CRT linha adicional, onde o Sr. tem direito...
- Desculpe interromper, mas quem está falando?
- Aqui é Rosicleide Judite, da CRT e estamos ligando...
- Rosicleide, me desculpe, mas para nossa segurança, gostaria de conferir alguns dados antes de continuar a conversa, pode ser?
- Bem, pode.
- De que telefone você fala? Meu bina não identificou.
- 10331.
- Você trabalha em que área?
- Telemarketing Pro Ativo.
- Você tem número de matrícula da empresa?
- Senhor, desculpe, mas não creio que essa informação seja necessária.
- Então terei que desligar, pois não posso ter segurança que falo com uma funcionária da empresa. São normas de nossa casa.
- Mas posso garantir...
- Além do mais, sempre sou obrigado a fornecer meus dados a uma legião de atendentes sempre que tento falar com vocês.
- Ok. Minha matrícula é 34591212.
- Só um momento enquanto verifico.
(Dois minutos depois)
- Só mais um momento.
(Cinco minutos depois)
- Senhor?
- Só mais um momento, por favor, nossos sistemas estão lentos hoje.
- Mas senhor.
- Pronto, Rosicleide, obrigado por ter aguardado. Qual o assunto?
- Estamos ligando para oferecer a promoção, onde o Sr. tem direito a uma linha adicional. O senhor está interessado, Sr. Edson?
- Rosicleide, vou ter que transferir você para a minha esposa, porque é ela que decide sobre alteração e aquisição de planos de telefones. Por favor, não desligue, pois essa ligação é muito importante para mim.
(coloco o telefone em frente ao aparelho de som, deixo a música Festa no Apê do Latino tocando no Repeat – quem disse que um dia essa droga não iria servir para alguma coisa? –, depois de tocar a porcaria toda da música, minha mulher atende).
- Obrigado por ter aguardado. Pode me dizer seu telefone pois meu bina não identificou.
- 10331.
- Com quem estou falando, por favor.
- Rosicleide
- Rosicleide de quê?
- Rosicleide Judite (já demonstrando certa irritação na voz).
- Qual sua identificação na empresa?
- 34591212 (mais irritada ainda).
- Obrigada pelas suas informações, em que posso ajudá-la?
- Estamos ligando para oferecer a promoção, onde a Sra. tem direito a uma linha adicional. A senhora está interessada?
- Vou abrir um chamado e em alguns dias entraremos em contato para dar um parecer, pode anotar o protocolo por favor? Alô, alô!
- Tutututututu...
- Desligou. Nossa, que moça impaciente! Estressada!!

sábado, 11 de setembro de 2010

Manual para todas as ocasiões

Há algum tempo passei a colecionar histórias sobre infidelidades conjugais. Asseguro que não se trata de desvio de conduta. O que me move é um sincero interesse em aprofundar conhecimentos e refletir sobre esse aspecto do comportamento humano, eis que tive acesso a casos pitorescos e a outros tantos escabrosos. Um dia talvez escreva um livro, relatando os principais episódios, sem citar nomes, é claro.

O que restou de lição dessas histórias, se fosse para produzir um manual sobre a infidelidade, é que a regra básica, para ter pouco ou nenhum dissabor no processo, é montar uma logística eficiente para a transgressão. Até para a traição é preciso planejamento prévio, ensinam os especialistas consultados.

As recomendações começam pelo básico. Nada de freqüentar motéis ou restaurantes próximos a sua casa e só marcar encontros em locais seguros, de preferência à noite, quando todos os gatos são pardos. A não ser que você seja do tipo que gosta de viver perigosamente, como aquele amigo que namorava uma colega num restaurante ao lado do apartamento em que morava. A mulher dele só não dava o flagra pela área de serviço, com ampla visão para o pátio do restaurante, porque o casal de amantes se abrigava sob uma frondosa mangueira. Ninguém me contou, eu mesmo vi.

Há mais exemplos de imprudência e outros tantos de profissionalismo na arte da dissimulação. Na Europa, uma empresa especializou-se em montar álibis para maridos e mulheres infiéis. A empresa chega ao requinte de providenciar fotos, troféus e certificados de participação para falsos maratonistas que, ao invés de correrem nas ruas, preferiram se exercitar nos lençóis longe de casa, de preferência em outros países. Globalizaram a sacanagem. Detalhe: a lista de clientes tem maioria de mulheres. Que tempos vivemos!

E tem também aquela história de outro amigo, chegado a uma farra noturna, que antes de retornar ao lar, dava uma circulada no cemitério e assinava um livro de presença. Em casa, contava para a mulher que tinha passado à noite velando um conhecido e na semana seguinte, confirmando o álibi, recebia o cartão de agradecimento da família enlutada. Outro exemplo de profissionalismo e capacidade criativa foi daquele dirigente esportivo, já falecido, que, numa sinaleira, foi flagrado na companhia da amante, por uma amiga de sua mulher, que estava no carro ao lado. O homem dispensou a acompanhante, correu pra casa e convidou a mulher para irem a um restaurante que ficava a caminho do local do flagra. A mulher, surpresa com a amabilidade, aceitou. Na sinaleira maldita o nosso amigo fez um gesto largo de cumprimento, chamando a atenção da mulher.

- Olha lá a fulana (seria a tal amiga) - e arrancou o carro.

No dia seguinte, é claro, a amiga da onça ligou para a mulher, "não querendo fazer fofoca, longe de mim", e contou que estranhara muito ter visto o marido dela com outra mulher no carro. E deu detalhes da hora e do local, a víbora.

Pra surpresa da dedo-duro, a esposa confirmou.

- Era eu que estava no carro, criatura, até te abanamos.

A outra ficou sem ação e até hoje está sem entender o que aconteceu.
A lição que o episódio encerra é que sempre é possível dar a volta por cima nesses momentos críticos, mas é preciso estar preparado para a adversidade. È importante ter à mão um portfólio de justificativas, ainda mais em Porto Alegre que, apesar de seus mais de 1,4 milhão de habitantes, é uma província - todo mundo conhece todo mundo. E muitos encontros na noite são tão indesejáveis como inevitáveis.

Um amigo, cansado de ser surpreendido por conhecidos nas suas escapadas, decidiu ir a todos os encontros acompanhado de uma pasta, dessas de cartolina, cheia de papéis e documentos inúteis. A pasta repousava na mesa, enquanto jantava ou almoçava com a namorada. Para todos os efeitos, era uma reunião de trabalho. Não sei se funcionava, mas ele ficava bem mais tranqüilo.

A cautela com o banho pós-sexo é uma unanimidade entre os transgressores. Nada de sabonete e muito cuidado para não molhar o cabelo e mais ainda para não se impregnar com o perfume da parceira. Uma revista detalhada no carro, após os encontros, é vital. É inimaginável como as mulheres "esquecem", ou perdem dentro dos carros, itens sempre comprometedores - batons, outros cosméticos, brincos, sombrinhas, acessórios para cabelo e peças de roupas, incluindo as mais íntimas. A lei das probabilidades indica que esses itens serão encontrados por outra mulher - a esposa. Se o achado não for uma calcinha, ainda resta a desculpa de que foi esquecimento daquela colega, feia de doer, que ganhou uma carona na saída do trabalho. De qualquer forma, convém não correr riscos, recomenda o manual dos mal-intencionados.


*Reciclado a partir e original publicado na Coletiva.net