A
moça do supermercado – Capitulo 4
A obsessão do maduro professor pela mocinha do
supermercado crescia a cada ida dele ao
local de trabalho dela. A preferência era para o final de tarde,
mesmo que fosse para comprar dois ou três pães cacetinhos e alguns fiambres
para um lanche noturno, próprio de um solteirão. Ele já tivera muitos amores na
vida, mas nada que o forçasse a dividir cama, mesa e banho com as parceiras. No
caso de Alexia, já não estava mais enamorado, mas perdidamente apaixonado. Ela tinha lá seus predicados estéticos, só que a
diferença de idade conspirava contra o avanço na relação entre os dois, agora
ainda restrita a atendente de caixa e consumidor.
Eventualmente passava pelas gondolas de refrigerantes e aí sentia um constrangimento
extra, porque era inevitável lembrar do Tio da Sukita, dos comerciais dos anos
1990, protagonizado por um cinquentão
como ele, que tentava paquerar uma jovem garota, saboreadora do refrigerante Sukita. Os fora
que ele levava da moça, com um “desculpa,
tio”, faziam a graça da produção, de
grande sucesso à época. Alexia provavelmente nunca teria assistindo àqueles
comerciais, mas a recordação ficava martelando na cabeça dele, como se fosse
uma acusação: Tio da Sukita! Tio da Sukita! Tio da Sukita. Temia que um dia
seria chamado de tio.
Pior mesmo foi a vez em que estando junto a sua
caixa preferida, pronto para estabelecer o diálogo com musa, ouviu uma voz
estridente atrás dele:
- Professor, professor, o senhor por aqui! Que
surpresa. Estava mesmo precisando falar
com o senhor.
Era Larissa, uma ex-aluna, daquelas que aprisionam
os professores com suas conversas banais e que agora queria opinião sobre um
livro que estava começando a ler. “Só vou continuar a leitura depois de ouvir a
abalizada opinião do senhor”, sentenciou a chata de voz estridente, diante de um interlocutor que tentava desviar
o olhar daquele corpanzil, maneando a cabeça para poder acompanhar, logo
adiante, os gestos graciosos de Alexia na sua faina rotineira.
Foram minutos seculares de não atenção à ex-aluna,
enfim despachada com uma opinião que garantiria que ela perderia/gastaria um
bom tempo com o livro questionado, em vez de ficar atazanando a paquera dos
cinquentões.
O cerco a Alexia continuou. O professor passou a
circular com tanta frequência pelo ponto de ônibus como pelo supermercado. Só
não se animava a oferecer carona cada vez que avistava sua amada porque temia
parecer invasivo. Imaginava a moça reagindo de forma intempestiva, acusando-o
de assédio. Imaginava mais e pior: uma denúncia num jornal popular, com uma
manchete do tipo “Professor tarado age no ponto de ônibus”, com uma linha de
apoio assim: “Tiozão começava oferecendo
carona’. Precisaria mudar de cidade, quiçá de estado ou mesmo do país, com a Policia
Federal e a Interpol no encalço. Chegou a suar frio só de pensar nas
repercussões de uma denúncia desse quilate contra ele que, afinal, era um
educador.
O motivo aceitável para uma nova abordagem na parada
foi uma chuva torrencial num fim de tarde de verão. A oferta de
carona nessa situação seria um ato de generosidade e não um assédio,
pensava ele. Dito e feito. Lá estava ela abrigando-se precariamente da chuva na
parada lotada e sem proteção nas laterais. Quando ele encostou o carro, uma
rápida buzinada chamou a atenção da moça que reconheceu o benfeitor e desta vez
não hesitou em se instalar no banco do carona.
Molhada dos pés à cabeça, era uma visão para mexer e
remexer com todas as fantasias do professor. Os cabelos estavam molhados e
escorridos como se recém tivesse saído
do banho, a camiseta colada ao corpo realçava os seios de bicos salientes e
aqueles joelhos e nacos de coxa tentadores e molhados eram carentes do afago de uma toalha.
- Quem sabe a gente para em algum lugar para poderes
te secar e até tomar um banho quente,- propôs o motorista, prenhe de más
intenções
-
Seria uma boa, mas onde?,- indagou a moça.
Capítulo 5
* Fatos reais, personagens fictícios
(“E agora, convido ou não convido?”), pensou o
professor, depois de sugerir que a moça do supermercado, sua caroneira molhada
pela chuva dos pés à cabeça, deveria parar em algum lugar para secar-se e tomar
um banho quente. A sugestão tinha alta dose de más intenções, mas ele ficou sem
resposta, ou melhor, gaguejou outra coisa quando ela perguntou:
- Seria uma
boa, mas onde?
- Hã, sim, a tua casa é muito longe daqui?
Havia vários motéis no caminho. O preferido dele era
o A2, sempre disponível e de preço compatível. Só que a moça merecia coisa
melhor, tipo o Blue Star ou o Caliente, com seus apartamentos mais amplos e
banhos que comportavam a movimentação de um casal debaixo do chuveiro, no caso
ele e ela. Mas ele se acovardou e não levou adiante a proposta.
Pelo menos agora não teria a concorrência do motoboy
andrajoso (“Maicon, Maichel, Michel, um bostinha...”) que interrompeu sua
´primeira carona à moça, encarapitando-a na sua moto de baixa cilindrada e
escapulindo, soltando fumaça e barulheira, rumo a destinos suspeitos, imaginava
o tiozão.
De novo foi Alexia quem tomou a iniciativa da
conversa, relatando que precisava chegar logo em casa, trocar de roupa e “bora
lá”, exclamou, para o aniversário da amiga Valdirene, a popular Val, colega de
ofício, mas em outra rede de supermercados.
- Eu e a Val semos amigas deusde muito tempo. Agora
a gente formemos um trio também com a Shayene, outra miga superlegal. O único
problema da Shayene é que ela só veste roupas de cor salmão, aquela cor
rosinha, sabe?! Parece um peixe, hehehe,- riu faceira.
Em nome da causa maior que era avançar na conquista
da moça, o ´professor ignorou as flexões verbais que maltratavam o vernáculo e
só conseguiu acrescentar um “muito interessante isso”, enquanto ela continuou a
tagarelar outras banalidades sobre suas
relações de amizade.
Já caia a noite quando eles chegaram à casa dela, um
modesto mas bem conservado chalé de madeira, cercado de outras casas simples,
numa rua abandonada pelos serviços públicos, num bairro periférico. A casa da moça
destacava-se das demais não apenas pela pintura verde musgo, mas também pela
cerquinha de madeiras brancas na frente e um bem cuidado jardim florido,
formando um conjunto até harmonioso, reconheceu o professor. Eis que surge no portão da casa, uma cópia
quarentona e também deslumbrante da sua musa.
- Aquela lá é a minha mamis, mas parece que é minha
ermã, né?!- apresentou a garota, aparentando orgulho pela boa forma da senhora.
(continua)