* Publicado nesta data em Coletiva.net
“Quando o governo vai bem, o mérito é do governo; quando o governo vai mal, a culpa é da comunicação”. Ouvi a frase pelo saudoso Ibsen Pinheiro, que conhecia como poucos as estruturas e os bastidores do poder público e a quem tive a honra de suceder na Comunicação Social do governo Rigotto. Lembrei da frase a propósito da fritura a que foi submetido o ex-ministro da Secom do governo Lula, deputado Paulo Pimenta. O próprio presidente e lideranças do PT reclamavam que o governo se comunicava mal, não mostrava as realizações e os feitos em benefício dos brasileiros. Essa seria a principal razão para a avaliação do Lula III permanecer estagnada, num quase empate entre positivo e negativo, conforme mostrou recente pesquisa da Folha de São Paulo. No último levantamento da pesquisa AtlasIntel a desaprovação de Lula subiu 2,5 pontos em relação a novembro e bateu recorde, chegando a 49,.8%.
E, assim, Pimenta sofreu na última semana a segunda defenestração pelo presidente. A primeira foi quando Lula anunciou que seu candidato ao governo do RS era Edegar Preto e não o então ministro da Reconstrução, que tinha pretensões de suceder Eduardo Leite.
Não estou nem aí para a situação do Pimenta, um trapalhão e alpinista da política, que fala mais do que deve e quando não deve e realiza de menos. Ele já esteve sob suspeita e precisou renunciar ao cargo de vice presidente da CPI do Mensalão devido ao escândalo envolvendo um encontro reservado com Marcos Valério, um dos principais acusados no caso. Depois, surge como o Montanha, nas listas da Odebrecht. Entretanto, acumulei alguma experiência em veículos e na Comunicação pública em níveis estadual, municipal e no legislativo, e, por isso, ouso dizer que a maior responsabilidade pelo desempenho insatisfatório da comunicação do Lula III não é do seu fiel escudeiro gaúcho.
O governo Lula comunica mal porque passa a ideia de que administra mal o País, ao não controlar como devia as contas públicas, flertar com a inflação, transmitir intranquilidade ao deus mercado, com dólar aquecido, juros em alta, programas sociais cortados, salário mínimo sem ganho real, enquanto nem o desemprego em baixa e o PIB em alta minimizam o viés negativo. Isso sem falar nas frequentes falas presidenciais fora do tom. para dizer o mínimo, e as intervenções inconveniente da primeira-dama nas questões do governo, canalizando contrariedades de boa parte da população.
A propósito, se a Secom tem por função cuidar da imagem do governo, parte da responsabilidade pelo mau desempenho deveria ser creditada à dona Janja, que apadrinhou várias chefias no órgão e manteve com Pimenta e o prestigiado fotógrafo oficial da presidência, Ricardo Stuckert, uma disputa para saber quem mandava mais na comunicação governamental.
O secretário de Comunicação é talvez o mais político dos auxiliares de primeiro escalão de qualquer governo, porque, além de administrar a gorda verba publicitária federal, trata de questões altamente estratégicas, ao fazer a ponte entre o poder público e os cidadãos, buscando aceitação e engajamento às políticas governamentais. Lula, insatisfeito com a performance do único ministro gaúcho, optou para o cargo por um especialista em marketing, profissional de viés mais técnico, ao invés de um jornalista que também é político. A escolha gerou narizes torcidos entre petistas raiz, que acompanho nas redes sociais.
Sai Pimenta e entra Sindônio Palmeira, que foi o marqueteiro da campanha de Lula à presidência. O novo titular da Secom parece ter um nome que condiciona o destino. Sidônio é um termo que aparece na Bíblia e se refere a uma cidade antiga, Sidom, localizada na região da Fenícia, no atual Líbano. Ou seja, a origem dele remete a uma região de frequentes conflitos, como ocorre em todos os governos e, especialmente, em Brasília. Além disso, uma das características marcantes de Sidom era a prática da idolatria, assim como os petistas idolatram seu líder maior, o que certamente Sidônio vai levar em conta na sua nova função. E mais: o Novo Testamento revela que Cristo passou por Sidom e realizou milagres na região, mas talvez seja exagero afirmar que isso vai inspirar Sidônio para que vire milagreiro na tentativa de recuperar a imagem do governo Lula. Vale lembrar, ainda, que os sidônios eram opositores ao povo de Israel, mas com certeza não é caso do novo ministro, se bem que ele vai ter que atuar fortemente para minimizar a repercussão dos pronunciamentos presidenciais anti-Israel. Por fim, conta a favor de Sidônio que seus ancestrais eram reconhecidamente grandes navegadores, legado que o novo titular da Secom espera ter incorporado para enfrentar as tempestades que virão pela frente no Lula III.
Pela amostra do evento de 8/1 e o improviso do Lula – “...os maridos são mais apaixonados pelas amantes do que pelas mulheres” – Sidônio terá muito trabalho.