sexta-feira, 28 de novembro de 2014

A propósito do Black Friday: Farofada na fila

* Está aberta a temporada das grandes liquidações, por isso reedito esse texto de 2009, mas tão atual como nunca.

Brasileiro adora uma fila, até mesmo para praguejar contra ela. Observador da cena que sou, fico pasmo quando se aproxima o Carnaval e constato as imensas filas que se formam, as vésperas do início da venda de ingressos para os desfiles. È uma farofada de cadeiras de praias, cozinhas e camas improvisadas, chimarrão e trago circulando de mão em mão, tudo isso pelo privilégio de serem os primeiros a adquirir os ingressos. Famílias inteiras, inclusive com bebês de colo, participam da maratona tresnoitada, onde não faltam garotas assanhadinhas e rapazes ativos e operantes. Tudo inútil. Sobram ingressos, assim que a fila dos apressadinhos se dissipa.

Esse comportamento que precede os grandes eventos sempre me intrigou. Essa gente não trabalha? Se é ociosa, de onde vem a grana para os desejados ingressos? Será que não existe nada mais interessante e produtivo para passar o tempo do que marcar espaço a espera da bilheteria abrir? E a higiene desse pessoal como é que é feita? Estava ruminando acerca dessas importantes indagações e dos sacrifícios a que se submetem esses vanguardeiros, quando me caiu a ficha: é que as emissoras de TV, cumprindo uma pauta pouco criativa, estão sempre presentes para captar imagens desses grupos. Aí é festa!

Observem as imagens: sempre há alguém dormindo ou se fazendo, mesmo que o sol já esteja a pino, outros repartindo refeições e bebidas das intermináveis garrafas térmicas e uma alegria artificial de quem está recebendo o justo reconhecimento dos 5 segundos de fama a que tem direito. Não foram escolhidos para o BBB, então só resta ser celebridade na fila. Podem conferir, as imagens são sempre as mesmas, como são as mesmas as óbvias perguntas dos repórteres. “Desde quando estão aqui?” Se for antes de show de artista pop não vai faltar cerveja e um rosário de sonoras identificando as cidades de origem

Foge a minha compreensão  aqueles atropelos nas lojas dos EUA e na Inglaterra  no início das liquidações. É um comportamento que depõe contra o gênero humano. O pior é que a moda está pegando aqui no Brasil e dia de abertura de liquidação nas lojas mais populares é precedida de farofadas nas filas, com as mesmas cadeiras de praia, as mesmas garrafas térmicas, eventualmente uma barraca, gente insone, mas cheia de energia para comprar o que nem sempre precisa, mas garantir uma eventual participação televisiva. Empurra daqui, empurra dali e daqui a pouco se sobressai o fortão, carregando nos ombros uma tv de plasma, ou o casal que tenta ajeitar o refrigerador e mais os filhos numa velha Brasília. E é sempre a mesma coisa.

Estou sendo demasiadamente cruel com os hábitos populares? Pode ser, mas se um dia me virem participando de uma farofada dessas, chamem a SAMU e me internem.

*Publicado originalmente em Coletiva.net, em 8/7/2009


terça-feira, 25 de novembro de 2014

Três anos depois

Completei  por esses dias três anos sem fumar.  Na real, tenho dado boas tragadas em sonhos, é incrível como continuo sonhando com o cigarro e como isso me dá prazer e sentimento de culpa até acordar. Todos os ex-fumantes relatam a mesma sensação, o que mostra a verdadeira dimensão do registro do vicio do tabagismo no nosso organismo e nas profundezas da nossa mente.

E porque é vicio é prazeroso. Caso contrário seria tão mais fácil deixar de fumar. Não  é o que acontece, pelo menos na maioria dos casos que conheço.  Já devo ter contado aqui a declaração do médico, autoridade reconhecida no tratamento das dependências,  que me tratou na primeira  vez que parei de fumar.

- Doutor, o senhor já experimentou cocaína?,  perguntei.

- Não,  porque posso gostar e me viciar, foi a resposta.

O bom doutor aproveitou a deixa para repetir o mantra necessário:  “A droga é mais forte que a gente, não dá pra vacilar.”

É verdade, só que eu virei o jogo e depois de quatro ou cinco tentativas frustradas, agora o vitorioso sou eu e acho que desta vez é para sempre.  Foi sofrido no início, depois a gente supera e aí melhora a capacidade pulmonar, baixa o colesterol e vem outros benefícios, mas ganhei um sobrepeso e uma barriguinha que me constrangem.

Ainda hoje encontro pessoas que não acreditam que me livrei dos cigarros, eis que era um fumante comprometido com o vício.  Meia dependência é como meia gravidez: não existe.


Mas também não me transformei num ex-fumante chato, como tantos que conheço, a dar lições de moral e a atazanar os viventes com os males provocados pelo tabagismo .  Tenho o máximo respeito pelo vício alheio e estou convencido que há um certo determinismo nesta questão, ou seja, mais dia, menos dia chega a hora de parar e o cigarro vira só um sonho prazeroso. 

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Histórias da mesa ao lado: A senha

Encontro na mesa ao lado aquele amigo que sempre tem uma história para contar, vivida por ele mesmo ou repassada em segunda mão.  Como de hábito, resolvi indagar:

- E aí, alguma novidade?

- Nem te conto, apressou-se em dizer, como se estivesse esperando a pergunta.

E de imediato passou a contar detalhes da sua última conquista amorosa, iniciada com uma conversa despretensiosa pelo Facebook, inbox, é claro.  Ela se apresentou como publicitária, tinham amigos em comum e aí ele se animou a convidá-la para um happy.  Ela aceitou de imediato, mas no dia e hora marcados ele não pode comparecer. Uma semana depois, ela cobrou a renovação do convite e se agendaram para o dia seguinte. 

Cheio de expectativas ele se dirigiu cedo para o pub perto da casa dela, que mesmo assim, estava atrasada. Segue um relato prenhe de detalhes, um das características dos casos contados pelo nosso amigo:

“De repente surgiu ela, estacionando junto à mesa em que eu  esperava. Tinha me distraído com o vai e vem do trânsito na avenida a frente e foi quase uma surpresa o aparecimento daquela mulher esguia e alta.

 - É tu mesmo? Foi tudo o que e consegui dizer, enquanto oferecia lugar a ela, numa posição mais protegida na mesa, como convém a um cavalheiro. De início, ela não entendeu a pergunta (“Ué, não estavas me esperando?”, indagou). Ocorre que eu não a conhecia, nem por foto, e o que poderia ser uma manifestação de espanto era, na verdade, uma exaltação à presença e à imponência dela.

Ainda impactado pela situação, sugeri que bebêssemos e comêssemos algo, e pra impressioná-la escolhi um  clericot e ela os petiscos.  Foi quando comecei a recuperar a confiança e tomei a iniciativa da conversa, dando conta de quem era e o que esperava do encontro.  Medi bem as palavras, fiz muitas perguntas para manter a iniciativa,  mas ela estava receptiva e o bate papo fluiu, até que chegou a hora de dar o bote e ai  fui mais direto do que devia, um pouco devido a ansiedade e outro tanto porque a bebida fizera efeito:

- Queria que a gente continuasse essa conversa num motel? O que achas?

Ela olhou sério, no fundo dos olhos, fez uma pausa que pareceu uma eternidade e com um sorriso e um aceno de cabeça concordou.  De imediato senti que estava com uma ereção em andamento.”

Sempre detalhista,  nosso amigo contou o  que podia do entrevero  no motel que ela já conhecia de outras incursões.  Não é o caso de reproduzir aqui a pegação.

No final da primeira transa, naquele momento de relaxante aconchego, o  parceiro foi surpreendido com uma exigência dela, cláusula pétrea  para continuarem a relação, que, aliás,  já dura dois anos:

- Preciso saber de duas ou três pessoas a quem possa telefonar caso te aconteça um piripaque aqui no motel.  Sabe como é, a gente  excedeu...

Faltou esclarecer que ele era bem mais velho do que ela e ao dizer que excederam  estava implícito um elogio ao desempenho  dele numa quadra da vida em que a natureza conspira e baixa, por assim dizer,  as vontades  e as expectativas.  Mesmo assim o pedido dela era insólito, constrangedor para dizer o mínimo, e capaz de perturbar a elogiada performance do nosso amigo.  Contrariado com o pragmatismo da moça, ele acabou nomeando  dois parentes e um colega de serviço, garantindo que eram gente da maior confiança, que saberiam como agir e preservariam a reputação dela e a memória dele.

- Outra coisa, caso aconteça o pior, avisa ao pessoal que quando eu ligar a senha será  ‘o Sol apagou’, não esquece, ‘o Sol apagou’...

Mais do que uma senha, a menção ao  astro rei foi recebida como uma homenagem, mesmo em se tratando de uma situação limite, e  deixou nosso amigo  reconfortado, cheio de vaidade e ai mesmo é que excedeu, atuando com brilho cada vez maior, como se sua energia fosse inesgotável. 


terça-feira, 18 de novembro de 2014

ViaDutra, o livro

Venci a preguiça deste meu período sabático e comecei a fazer a pré-seleção dos textos do ViaDutra que poderão compor o livro Crônicas da Mesa ao Lado.  Nem sei se o título será esse, mera sugestão inicial de autor em potencial. A sugestão é inspirada num dos capítulos da edição, justamente aquele em que serão relatadas as histórias, nem todas inteiramente verídicas, ouvidas na mesa ao lado ou reproduzidas por quem frequentou tal espaço.  Os nomes dos envolvidos nos casos  mais escabrosos serão preservados.

A proposta da edição prevê dois outros capítulos, Crônicas da Vida Real e Crônicas da Nostalgia, o primeiro com textos que retratam muito do cotidiano e o segundo com histórias – as que podem ser contadas - da vida pregressa do autor.  Pra encerrar, uma coletânea de frases ouvidas na mesa ao lado, ou verdade peremptórias ou ainda duvidas cruéis que nos atormentam e cuja fonte é o descompromissado Facebook. Vou roubartilhar algumas tiradas de amigos mais talentosos e prometo dar o crédito.

Por enquanto, o que temos é só um projeto e o compromisso do editor, indicado pelo Lucas Barroso, assessor de comunicação da EPTC que tem se revelado um escritor talentoso.  O editor gostou da proposta e estamos apalavrados para sair a publicação em 2015. Já fiz contatos com um festejado escritor gaúcho para o prefácio, um jovem cronista fará a revisão dos textos  e a capa será de autoria de outro mestre na sua arte. 


Cá entre nós, não sei se vai dar certo. Tenho sérias duvidas sobre a qualidade dos textos, que me divertem muito enquanto postados no ViaDutra, mas daí a virar livro, sei não...É nessa hora que penso em Mário Quintana que recusou uma homenagem de sua Alegrete natal, um estátua em bronze na praça principal da cidade, com uma frase que virou lapidar, com o perdão do trocadilho: "Um erro em bronze é um erro eterno".  É isso, com  benção do poeta:  vários equívocos em forma de livro são quase erros eternos. Se nada der certo, já tenho a justificativa pronta: a culpa é dos que me botaram pilha para publicar o livro e não foram poucos.

sábado, 15 de novembro de 2014

Acorda, PT

Cada vez entendo menos o atual cenário  político brasileiro.  Quem ganhou a eleição se comporta como quem perdeu e os vencidos  se movimentam como se vitoriosos fossem. Ministros demissionários saem atirando, com criticas contundentes ao governo, sem falar que as últimas medidas econômicas deram a munição que oposição precisava (a crônica do Ricardo Noblat  sobre o assunto é admirável: confira em http://noblat.oglobo.globo.com/meus-textos/noticia/2014/11/do-outro-lado-do-espelho-ou-o-comeco-do-governo-aecio.html).  Nunca antes na história desse país se viu um governo eleito tão frágil e uma oposição derrotada tão fortalecida,  que marca com força seu posicionamento e conquista mais e mais a opinião pública.
A  situação mobiliza as centrais sindicais e os chamados movimentos sociais – a maioria deles subsidiados por verbas governamentais – para fazer frente a mobilização da oposição. É a oposição à oposição, como bem flagrou El Pais em “Não é perigosa uma oposição contra a oposição?” (confira em http://brasil.elpais.com/brasil/2014/11/14/opinion/1415983363_564415.html).  É  o clamor “Direita Golpista”  x “Fora Dilma, Fora PT”.  Sim, é o terceiro turno da eleição e a oposição esta vencendo, pelo menos na minha opinião, com o desconto que tenho lado bem definido.
Os dillmistas ainda não entenderam que a  tentativa petista de tentar equilibrar o jogo da mobilização acaba inflando ainda mais o outro lado. É combustível para a reação popular que cresce especialmente nos grandes centros.  E aí estoura o escândalo bilionário da Petrobras e ao invés da condenação veemente aos malfeitos, o que vemos é a desqualificação dos magistrados envolvidos na operação e ameaça de intervenção na Policia Federal. Pior: tem liderança petista clamando para que as forças de segurança intervenham nas manifestações contrárias ao governo, como se não bastassem os movimentos para garrotear a mídia.  Pior ainda quando fazem a defesa veemente das práticas cubanas ou venezuelanas – e agora também as bolivianas – como forma de se validarem, quando deveriam aprofundar as soluções para os grandes e variados passivos do Brasil. Mas os companheiros cultuam e se espelham nesses bufões latino-americanos.
Preferem também aquele olhar ao passado  na forma de contra ataque lembrando os casos de corrupção nos governos tucanos, como se uma coisa justificasse a outra;  e, ainda, uma tentativa de estabelecer uma  competição entre quem roubou mais ou menos, como se defender corruptos não é o mesmo que se igualar a eles. 
O PT parece tonteado depois da difícil reeleição. Parece ter gasto toda a sua energia e inteligência na campanha eleitoral.  Está sem estratégia no governo, perdeu o discurso, ampliou o espectro de inimigos, está perdendo o protagonismo e fazendo tudo ao contrário de como sempre agiu quando se fez vitorioso. Age como naquele post, de gosto duvidoso é bem verdade, mas  que adverte: “Todo o petista fanático é igual a corno apaixonado.  Você fala, mostra prova, mostra fotos(...) desenha, mas não adianta! E no fim ele continua cego de amor e você sai como errado e destruidor de lar.”
Nesse contexto, até vou prestar um serviço aos companheiros da estrela: ao invés de “Fora PT”, vou gritar  um sincero "Acorda, PT”.  Ainda dá tempo.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Pérola das Colônias e outras pérolas

Quer saber quão antiga uma pessoa é:  é só observar como ela se refere aos jovens.  Se usar Mocidade, bingo,  é dos antigos! Até Juventude está saindo de moda, substituído por  Geração isso e aquilo, mas isso e aquilo já é outra história.

Pois, estava ruminando essa relevante questão e me dei conta de que de alguma forma modernizamos a linguagem, tornando-a menos barroca e também menos charmosa.  Os meios de comunicação, especialmente o rádio e os jornais, é que difundiam termos e expressões que tiverem seu valor a um tempo, mas que já não colam mais (ainda se usa “cola” neste sentido?).

Era comum os clubes de futebol serem conhecidos a partir das suas cores. Rubro negro (Flamengo) e alvirubro (Inter) até passam, mas o que dizer do Grêmio Bagé, com suas camisetas à Penharol em preto e amarelo, também anunciado como  “jalde negro da Fronteira”.  Pior era reservado ao Pelotas,  em  amarelo e azul,  mas chamado de “auri cerúleo” , ou traduzindo, da cor do sol nascente e  azul da cor do céu.  Os cronistas esportivos usavam e abusavam desses apêndices aos nomes dos clubes e nem faz tanto tempo assim.  Á época  o jogador negro era chamado de “colored”, importado do inglês (o pessoal devia se achar erudito)  e o ágil ponteiro de “expedito”.

As cidades também tinham cognomes, igualmente por influencia do rádio, creio eu.  Porto Alegre, por exemplo, era a “Cidade Sorriso”, certamente por causa do alegre no nome. Caxias se orgulhava do ser a  “Pérola das Colônias” que remetia as suas origens italianas,  Pelotas era a ‘Princesa do Sul”, resquícios prováveis de sua fase mais sofisticada no tempo das charqueadas , Rio Grande, a “Noiva do Mar”  e Bagé , a “Rainha da Fronteira”.  São Gabriel era a “Terra dos Marechais”, homenagem a seu filho mais ilustre, o marechal Mascarenhas de Morais, que comandou a FEB na Segunda Guerra.  E Santa Maria ficou bem na parada como “Cidade Universitária”,  graças a UFSM.

Outras cidades se identificavam pela sua produção mais relevante, como Novo Hamburgo, a “Courocap”, Cachoeira, a “Capital do Arroz”, ou Santa Cruz, a “Capital do Fumo”, designação inimaginável nestes tempos politicamente corretos.  Particularmente sempre gostei de Vacaria como a “Porteira do Rio Grande” por sua localização no noroeste do estado. Mas nada supera Turuçu, pequena cidade cortada pela BR 116 na região Sul, que se apresenta com a “Capital Nacional da Pimenta Vermelha”.  Isso deve atrair turistas pra caramba.


Ironias à parte, acho que estou com nostalgia da mocidade.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Erotismo cósmico e abordagem tântrica

Meu bom  amigo Ira (pronuncia-se Áira)  é chegado a uma travessura com gostosuras e, mais do que isso, adora um frase de efeito, ligeiramente épica, para justificar seu modo de vida;

- Pra mim, todo o dia é Halloween, com travessuras gostosas  e gostosuras travessas, dispara o pândego.

O jogo de palavras é de qualidade duvidosa e o  linguajar é um tanto enviesado, mas quem conhece a história pregressa desse nosso amigo sabe que as frases encerram grande dose de sabedoria e uma carga de experiências vividas de dar inveja a muito jovem metido a conquistador, ele que já é um senhor de meia idade e um pouco mais.

Outro dia ele saiu-se com uma que morri de inveja por não ter sido eu o criador.  Pressionado para que revelasse os detalhes de suas travessuras apelou para a falsa modéstia:

- Sou poeira cósmica no universo da safadeza.

Fiquei tão embasbacado com a tirada que saí a repetir mentalmente, esperando um dia poder usar a frase para impressionar alguém:  “Sou poeira cósmica no universo da safadeza, sou poeira cósmica no universo da safadeza, sou...”

Bem sei que não alcançarei o mesmo efeito, até porque o atilado Ira sempre tem um complemento e o faz com pompa e circunstância, de modo a arrasar a periferia.

- Senhores e senhoras, chamamos a isso de erotismo cósmico. Sabemos que é importante, mas temos dificuldade para dimensionar sua extensão e o quanto pode nos proporcionar de retribuição prazerosa, filosofa ele.

Ira se supera a cada dia, como no recado que mandou a uma amada, poético e erudito:

- Beijar é Química pura, minha Deusa.  É mistura homogênea de sais.  Eriça, tira um corpo da inércia. Aí já é Física, Deusa minha.

Me dá vontade de pedir bis, mas me contenho, porque em seguida ele começou a explanar sobre um novo tema, que prendeu a atenção de todos nós,  seus  invejosos fãs:

- A primeira vez que usei a abordagem tântrica...

Neste ponto só posso lhes dizer o seguinte:  reina grande expectativa.  O homem é fera, bom de verbo e atitude! Voltaremos.


segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Histórias da mesa ao lado: três em um

Encontro na Feira do Livro minha boa amiga Lem, elegantérrima como sempre,  e antes que consiga cumprimenta-la e tomarmos um cappuccino na mesa ao lado, ela dispara:

- Tenho boas histórias para te contar.

Além de frequentadora assídua do ViaDutra, Lem é uma fonte confiável de  boas histórias. Segundo ela, são causos acontecidos com amigas, mas suspeito que a própria tem sido personagem principal algumas vezes, mas enfim, vale o relato assim mesmo.  Como o ocorrido com a bela loira que a acompanhava numa incursão noturna e que se queixou do garçom, estabelecendo-se um diálogo surreal.

- Era só o que me faltava:  o garçom não para de piscar pra mim.
- Amiga, ele não está piscando pra ti. É cacoete dele.
- Bah, que fase, nem garçom mais me dá bola!

Outra amiga se encantou com o rapaz bem apessoado no pub e,  feito os contatos imediatos, passaram a trocar informações.  Ela, interessadíssima no moço, se apresentou com funcionária pública e ele já estabeleceu afinidades, informando que também era servidor público, de uma estatal de energia.  Em seguida, sugeriu que era de "alto escalão na estrutura da empresa” e que as responsabilidades que pesavam sobre seus ombros másculos não eram pouca coisa.  Como se fosse ensaiado, o celular logo tocou e ele se desculpou;

- Desculpe, mas preciso ir. A  firma precisa de mim com urgência.

E se despediu, mas ficou na frente do estabelecimento, atendendo ao telefone e gesticulando muito.  Sucede que as moças já haviam pagado a conta e, sem que ele percebesse, puderam observar na rua quando o rapaz entrou na camionete adesivada  da empresa e saiu em disparada.  Sobre o veiculo,  uma visão do que significava ser de alto escalão:  uma enorme escada,  daquelas indispensáveis aos consertos bem acima do chão.

- Bem que achei ele muito elétrico, conformou-se a amiga, que naquela noite ficou sem energia para outras abordagens.

Por fim, tem a história daquela outra amiga, bem ajeitadinha nos seus trinta e tantos anos, que se encantou com um vizinho bem mais jovem.  O encantamento se acentuou cada vez que o garoto chegava em casa, sempre transportado por um carrão diferente. Não demorou muito acabaram “ficando” e foi quando a moça descobriu que se tratava de um promissor atleta das divisões de base de um dos grandes clubes de futebol da Capital, mas  com um salário desproporcional aos seus, digamos, atributos, se bem que com  muitos companheiros generosos em suas caronas em carros e SUVs vistosos.  Detalhes, detalhes, segundo ela:


- Qual é o problema? Descobrimos que temos pelo menos uma afinidade:  somos do mesmo time!