O mundo está virado de cabeça pra baixo, mas uma das
mais acaloradas discussões nas redes sociais diz respeito a um jovem ator da
Globo, Caio Castro, que ousou dizer, em entrevista à Marília Gabriela, que não
gosta de teatro e que só lê por obrigação.
Foi o suficiente para que os patrulheiros de plantão, muitos deles
alojados na própria Rede Globo , ou seja, colegas de Caio Castro, bombardeassem
o moço com todo o tipo de criticas, como se o que distinguisse as pessoas de
bem das sem caráter fosse o gosto pelas artes cênicas e o hábito da leitura.
Assim sendo, começo a duvidar do meu caráter e da
minha infinita e reconhecida vocação para praticar o bem, eis que a última peça
de teatro a que assisti foi Medeia, dirigida pelo meu amigo Luciano Alabarse e
algumas produções vanguardistas do Porto Alegre em Cena, que o mesmo Alabarse
nos brindou. Em relação a leitura, encarreirei
cinco ou seis livros para começar – dos mais de 30 que repousam na minha
cabeceira – mas não passei dos primeiros
capítulos, como já confessei envergonhado, aqui mesmo. Virei, por isso, categoria sujo, bobo e
malvado?
Insurjo-me contra essas desqualificações e desde já
estou solidário com o galã global, não pelas bobagens que teria dito, mas pelo
direito de dizê-las, uma vez que o único prejuízo que poderia causar é pessoal,
ao reforçar o segmento que mais cresce no País,
o dos Sem Noção. Na verdade, meu
sentimento em relação ao Caio Castro é de pura inveja pelo personagem que desempenhava
na novela Amor a Vida, com direito a tórridas cenas com aquele monumento de
mulher, a Maria Casadevall e de quebra beliscava também a bela Carol
Castro. Tudo isso acontecendo só na
novela, acho eu.
Essa misturança de ficção e realidade, que às vezes
confunde até a mim, está presente nos
debates que se travam, postagem a postagem, nas redes sociais, com prioridade
para o Facebook. E é nesse cenário que
se perpetram verdadeiramente as grandes bobagens e as grandes infâmias, as piores
ignomínias, traduzidas pela defesa dos tiranos, o endeusamento dos medíocres, a
força aos falsos heróis, a suspeição apressada e a desqualificação dos justos. Todo mundo tem lado e em nome de suas crenças vale tudo.
Está em questão também a função das redes sociais, que se prestam para
pautar e fomentar o debate, com a mesma força que abrem espaço para os
desatinos. Mark Zuckerberg certamente
pensava em uma função mais nobre para
sua criação. O que me consola é que as redes, como os veículos tradicionais que tem controle
remoto para mudar de canal ou desligar, possuem mecanismos de não-participação
para os insatisfeitos. Basta não curtir, não comentar, não compartilhar e, por
fim, deletar os inconvenientes.