segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

A perda de um homem bom


Um homem bom, assim era o Lairson Kunzler que nós, seus amigos e admiradores, perdemos para o crime. Conhecia o Lairson desde os tempos do bairro Petrópolis – nossos pais foram contemporâneos e igrejeiros na Paróquia São Sebastião.  Depois, encontrava-o eventualmente ao trocar de carro – sempre dos usados – na Gaúcha-Car. Mais tarde firmamos uma sólida amizade quando a agencia da qual era diretor passou a atender a prefeitura.   O tempo havia passado, mas o Lairson não mudara, sempre gentil, cordato, pronto para um gesto generoso, acima do relacionamento profissional que se impunha.
Com frequência caminhávamos nos fins de semana pelo calçadão de Ipanema e aqueles 45 minutos de conversa, repassando os assuntos,  eram prazerosos e um dia ganho. Nossos almoços mensais deixaram um passivo:  por mais que tentasse nunca consegui pagar a conta e olha que existem testemunhas do meu esforço. “Nunca vais conseguir”, gracejava ele.
É verdade, nunca vou conseguir, mas não precisava ser dessa forma, meu bom Lairson.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Mistérios do Carnaval

* Reeditada do original publicado em fevereiro/2013.

Já fui um folião militante, do  tempo em que existiam carnavais nos bairros e imperavam os bailes de salão. Lembro como se fosse hoje os blocos e tribos descendo a rua Ijuí, no bairro Petrópolis,  onde o chefe dos correios local e sua mulher promoviam, lá no início dos anos 60 do século passado, um animado desfile. 

Depois, passei a  frequentar clubes de primeira linha e outros nem tanto, sempre à procura de uma colombina para uma noite. Inesquecíveis carnavais no hoje decadente Petrópole Tênis Clube, na Sogipa, no Gondoleiros, no Caminho do Meio, no União e Progresso,  nas sociedades de praia e uma memorável noitada no Rio Branco, de Cachoeira do Sul – espero que as testemunhas silenciem à respeito.  Mais tarde, fuzarquei nos pré-carnavalescos e, à época, o Vermelho e Branco do Internacional, no Gigantinho, era imbatível.

Foi lá que deparei a menos de dois metros com uma Xuxa em início de carreira, seminua, fantasiada de libélula. Era a grande atração daquele ano, providenciada  pelo Salim e o Fernando Vieira, os promotores do Vermelho e Branco. Era bom! Ou nem tanto, pois foi na volta pra casa de um desses bailarecos que capotei meu Fuka Fafa, na curva da Estrada da Serraria que meus detratores apelidaram de "curva Flávio Dutra".  Meu Anjo da Guarda estava de plantão e ele e as mamonas sobre as quais virou o carro garantiram que nada me acontecesse, além do susto.
Agora sou um carnavalesco mais comedido e menos participativo, que vai ao Porto  Seco e torce pela Praiana ou assiste pela TV aos desfiles do Rio, com uma discreta preferência pela União da Ilha e pela Vila Isabel.

Apesar de toda a experiência  acumulada ainda hoje fico intrigado com algumas coisas do Carnaval, verdadeiros mistérios que perduram. É o caso da cuíca. Prá que serve a cuíca? Não faz percussão, não dita ritmo, apenas chora sem ser notada no meio da bateria. E por que nas baterias  só às mulheres são reservados  os chocalhos, aquele instrumentos cheios de rodelinhas de metal? Por que as baterias, diferentemente dos conjuntos que animam os bailes, não usam metais que dão um colorido todo especial às músicas?

Também me intriga o fato de os carros alegóricos quebrarem sempre na entrada da avenida, atrapalhando a harmonia e a evolução da escola. As escolas fazem um enorme investimento e ficam reféns de uns cacos- velhos. Pode isso, Arnaldo? Não consigo entender, ainda, porque determinadas alas insistem em usar fantasias pesadonas, com adereços difíceis de carregar e equilibrar, quando o ideal seria a leveza das vestes para permitir  um desfile sem incômodos. E quem é que sai com aquelas mulatas maravilhosas?  E será que o Rei Momo, findo o Carnaval, devolve ao prefeito as chaves da cidade? Dúvidas, mistérios!
De uns tempos para cá tento entender outro mistério:  porque as moças da Secretaria da Saúde fazem questão de me oferecer camisinhas quando me encontram no Sambódromo. Não que seja contra a campanha, mas é que meu prazo de validade está vencido, tanto quanto um preservativo não usado por muito tempo.  O detalhe é que sempre guardo as camisinhas. Vai que...

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Mazelas da rede

O mundo está virado de cabeça pra baixo, mas uma das mais acaloradas discussões nas redes sociais diz respeito a um jovem ator da Globo, Caio Castro, que ousou dizer, em entrevista à Marília Gabriela, que não gosta de teatro e que só lê por obrigação.  Foi o suficiente para que os patrulheiros de plantão, muitos deles alojados na própria Rede Globo , ou seja, colegas de Caio Castro, bombardeassem o moço com todo o tipo de criticas, como se o que distinguisse as pessoas de bem das sem caráter fosse o gosto pelas artes cênicas e o hábito da leitura.

Assim sendo, começo a duvidar do meu caráter e da minha infinita e reconhecida vocação para praticar o bem, eis que a última peça de teatro a que assisti foi Medeia, dirigida pelo meu amigo Luciano Alabarse e algumas produções vanguardistas do Porto Alegre em Cena, que o mesmo Alabarse nos brindou.  Em relação a leitura, encarreirei cinco ou seis livros para começar – dos mais de 30 que repousam na minha cabeceira – mas não passei  dos primeiros capítulos, como já confessei envergonhado,  aqui mesmo. Virei, por isso, categoria sujo, bobo e malvado?
Insurjo-me contra essas desqualificações e desde já estou solidário com o galã global, não pelas bobagens que teria dito, mas pelo direito de dizê-las, uma vez que o único prejuízo que poderia causar é pessoal, ao reforçar o segmento que mais cresce no País,  o dos Sem Noção.  Na verdade, meu sentimento em relação ao Caio Castro é de pura inveja pelo personagem que desempenhava na novela Amor a Vida, com direito a tórridas cenas com aquele monumento de mulher, a Maria Casadevall e de quebra beliscava também a bela Carol Castro.  Tudo isso acontecendo só na novela, acho eu.
Essa misturança de ficção e realidade, que às vezes confunde  até a mim, está presente nos debates que se travam, postagem a postagem, nas redes sociais, com prioridade para o Facebook.  E é nesse cenário que se perpetram verdadeiramente as grandes bobagens e as grandes infâmias, as piores ignomínias, traduzidas pela defesa dos tiranos, o endeusamento dos medíocres, a força aos falsos heróis, a suspeição apressada e a desqualificação dos justos.  Todo mundo tem lado e em nome de suas crenças vale tudo.
Está em questão também a função das redes sociais, que se prestam para pautar e fomentar o debate, com a mesma força que abrem espaço para os desatinos.  Mark Zuckerberg   certamente pensava em uma função mais nobre para sua criação. O que me consola é que as redes,  como os veículos tradicionais que tem controle remoto para mudar de canal ou desligar, possuem mecanismos de não-participação para os insatisfeitos. Basta não curtir, não comentar, não compartilhar e, por fim, deletar os inconvenientes.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

O rádio esportivo

De todas as mídias o rádio é a que mais me fascina. “Teatro da mente”, na opinião de experts, “divertimento de cegos”,  segundo os insensíveis, o rádio mantém sua vitalidade nestes tempos de pressão da internet sobre todas as forma de comunicação.  Seus principais atributos estão na agilidade, o aqui e agora que nem as redes sociais conseguem superar e a portabilidade que os outros meios ainda ficam a dever.  Experimente assistir  a TV por celular caminhando no Calçadão de Ipanema?

Faço essa rápida introdução louvadora diante do quadro atual do rádio gaúcho, ao qual acredito que tenha dado minha contribuição em mais de 20 anos de atuação nas três principais emissoras  de informação.  Comecei trabalhando na Difusora,  hoje Band para onde voltei como coordenador de Jornalismo e Esporte numa de minhas tantas migrações.  Mas foi na grande Guaíba da década de 70, como coordenador de esportes e  convivendo com um time de cobras amestradas, que consolidei minha formação e me apaixonei definitivamente pelo rádio.  Como sempre, o mundo girou e um dia voltei a Guaíba,  agora como gerente de programação.  Na rádio Gaúcha foram duas passagens também,  primeiro como produtor de programas e depois como gerente de esportes, quando tive a oportunidade de participar de linha de frente de uma Copa do Mundo, em 1994. Tempos gloriosos aqueles.  Fui também diretor da FM Cultura, o que muito me orgulha.
Mas é sobre emissoras jornalísticas, que cobrem futebol, que volto a falar, aproveitando o gancho de que hoje a Gaúcha está completando 87 anos.  E chega a essa etapa com a liderança inconteste e cada vez mais ampliada.  Liderança feita em cima de muito investimento, especialmente em relação aos profissionais que fazem a sua programação .  Cada vez mais me convenço que o fator humano é o principal ingrediente para o sucesso de qualquer empreendimento e mais ainda de um sistema que vive de informação e opinião, como o rádio.

Por isso, saúdo a mexida do momento,  que levou o Luiz Carlos Reche da Guaíba para a Band. Tenho alguma culpa na trajetória do Reche, lá no seu início de carreira, não chego a ser  fã do seu estilo, mas acho que vai agregar muito para a Band, ao mesmo tempo em que pode representar a  oportunidade para uma mexida de fôlego no Esporte da Guaíba, até então demasiadamente dependente de sua chefia.  Uma mexida como essa não ocorria havia anos em nosso meio e, por si só e pelos desdobramentos que provoca , acaba sendo um processo que traz benefícios para todos:  a Gaúcha não se acomoda, a Band se reforça e a Guaíba se renova.
Por fora corre a Rádio Grenal,  do grupo Pampa, que começa a incomodar.  Mas aí é material para outra análise.