Nem Pelé, nem Garrincha. Meu ídolo nas copas de 58 e 62 era Nilton
Santos, um tanto pelo nome composto e elegante, um tanto pela sua categoria em
campo, que alguém inspirado comparou com uma enciclopédia. E ainda jogava, como
Garrincha, no Botafogo que era meu time de botão panelinha, aqueles de
plástico, com a bela estrela solitária em preto e branco.
Para o menino que estava descobrindo a
magia do futebol tudo isso era importante e fascinante. O menino cresceu e
virou lateral direito, como o ídolo, mas ainda bem que Nilton Santos não tinha
a mínima noção do que acontecia nos campos varzeanos do bairro Petrópolis – a
praça Tamandaré e o Ararigbóia, em especial – porque a falta de qualidade, mediocridade mesmo, do atleta amador que um dia fui causaria grande decepção
ao maior ocupante da posição em toda a história do futebol brasileiro.
Passam-se os anos e o varzeano virou jornalista das editorias de
Esportes. E lá pelos anos 70 do século passado, acompanhando a delegação do
Grêmio numa viagem a Salvador, eis que aparece na frente do repórter no saguão
do hotel, ele, Nilton Santos. Foi preciso conter a veneração para chegar até o ídolo, afetando profissionalismo, para pedir uma entrevista que foi aceita com
cordialidade e marcada para mais tarde.
Conversamos por quase duas horas, o que rendeu uma boa matéria para a
Folha da Tarde (sim, eu trabalhei na Folha da Tarde). A repercussão também foi
boa, me informaram da redação e eu fiquei ainda mais faceiro depois do encontro
com o idolatrado ex-jogador. Repórter novo, em busca de afirmação, com matéria diferenciada
e elogiada, era tudo o que eu precisava na ocasião. Da reportagem, lembro
apenas da incisiva defesa que Nilton Santos fez do técnico Vicente Feola que
era acusado de dormir durante os jogos e treinos. Para o craque, Feola era um grande e
injustiçado treinador.
Agora Nilton esta, com Feola, junto aos Deuses do Futebol que podem ser
divindades, mas nem por isso menos invejosos - afinal, não tem o talento da
Enciclopédia. De onde estiver, só peço que me perdoe por desonrar a posição
que o consagrou e fez dele um ícone.
* Onde se leu lateral-direito, leia-se esquerdo. Sorry.