quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

2010: Maria Clara está chegando

O que te espera não é propriamente o paraíso, mas tem gente boa por aqui e ansiosa por tua chegada. Teus pais, tão diferentes diante da vida, tão geniosos e geniais e tão iguais no imenso amor a ti, são garantias de que teus sonhos não serão utopias. Tua avó é uma doce criatura e outro porto seguro, só cuida para ela não te mimar demais. Teu avô é um tanto inconveniente, mas é do bem e podes confiar nele. E os teus tios, rabugices à parte, são jóias raras e serão uma fonte permanente de aprendizado. Há outros membros na família e podes desde já adotar como parentes, porque os cães e os gatos de nosso convívio são companheiros incondicionais de toda a hora. A raiz é boa e forte e a terra fértil. E raiz boa e forte em terra fértil gera frutos fortes e generosos. E assim serás.

*Maria Clara, filha da Flavinha e do Rodrigo, chega em janeiro

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Discrição é tudo - final

*Recomenda-se ler a postagem anterior de Discrição é tudo

Às vezes até mesmo o mais cuidadoso infiel acaba sendo descoberto em pleno dolo. Foi o que aconteceu com M., gerente de uma transportadora, que reuniu condições para uma escapada de fim de semana com a secretária, dona A., moça ajeitadinha mas uma boa bisca. Era início de outono e ele escolheu um hotel charmoso numa pequena praia no litoral norte para os dois dias de sonho. Estava certo de que não encontraria nenhum conhecido. Por isso, tão logo chegou ao local decidiu dar um passeio romântico com a acompanhante na beira da praia, mãozinhas dadas, preparando o clima para os grandes momentos que viriam.

No meio do passeio, a surpresa e o primeiro susto: um ônibus despejava pessoas, com sacolas, bóias, engradados de cerveja, churrasqueiras portáteis, instrumentos musicais e até uma ou duas pranchas de isopor. Era o pessoal do depósito da transportadora, que decidira excursionar, justo naquele dia e naquela praia, para aproveitar os últimos resquícios de calor. A turma da firma se fazia acompanhar das esposas, filhos, sogras, sobrinhos, vizinhos de uns e de outros e um grupo inteiro de pagode.

O gerente e a secretária estacaram diante daquela autêntica farofada outonal. Descobertos pelos subalternos, alguns já turbinados pelo trago, viraram motivo de brincadeiras. “Aí, hein, chefia. Tá bem na foto com a dona A”, e outras inconveniências. O fim de semana acabou ali para o casal de amantes. A carreira da dona A na empresa também e logo ela estava na fila do SINE, em busca de novos desafios. Nosso gerente, como um cachorro ovelheiro, não desistiu de empreender novas conquistas, mas agora prefere levá-las para as cidades serranas, que os farofeiros ainda não descobriram.

Agora vou dar a real pra vocês: de nada vai adiantar a discrição, a cautela e as artimanhas para manter o relacionamento em segredo. Um dia os amantes serão vistos juntos, o caso virá a tona e vai se espalhar como rastilho de pólvora. Então, enquanto isso não acontece, siga o conselho da Marta Suplicy: relaxa e aproveita.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Discrição é tudo - primeira parte

Ao contrário do que prega a clássica anedota da Sharon Stone náufraga, que recompensa seu Crusoé moderno, que depois pede a ela para se vestir de homem e dar uma volta pela ilha, etc. etc, etc., a discrição é o segredo para curtir um relacionamento transgressor por muito tempo. A recomendação vale especialmente se esse relacionamento for entre colegas. Em texto anterior (A Festa da firma) já nos debruçamos sobre as relações perigosas no ambiente de trabalho, mas omitimos a importante lição ensinada pelos mais credenciados especialistas no tema. Falha nossa.

Os mestres, moldados por muitas batalhas, são veementes na condenação do que poderíamos resumir por “se não for para espalhar, qual é a graça?”. Os homens têm obsessão em vitaminar seus currículos com histórias de grandes e pequenas conquistas. E para a maioria interessa mais a quantidade que a qualidade, embora as Sharon Stones da vida (você pode trocar por Angelina Jolie, Gisele Bundchen, uma ex-BBB ou outra celebridade qualquer) mereçam figurar na comissão de frente nas histórias contadas em mesas de bar. Só que não há tantas Sharon Stones disponíveis e muitas moças e senhoras só aparecem como tal por efeito de uns copos a mais na hora da conquista, ou no relato, ligeiramente exagerado, aos amigos. Todas ganham status de “verdadeiras Deusas” e na real, sabemos que não é bem assim. Mas não estamos aqui para julgar as atitudes dos parceiros ou fazer juízo de valor sobre as mulheres de suas vidas.

O que importa é que seja aprendida a lição de que a discrição é fundamental. O mínimo que aquele seu casinho no escritório espera é ser preservada diante do grupo de trabalho.

Há que ter cuidado com as armadilhas. Não faça como S., premiado publicitário que se apaixonou pela garota da Mídia e para agradar ao novo amor aceitou o convite para um cineminha, sexta-feira à noite, num movimentado shopping da cidade. Ele não contava que todo o pessoal da agência também estava com disposição para freqüentar o shopping naquela sexta-feira. O flagra foi inevitável e constrangedor, com sérios desdobramentos na vida profissional e familiar de ambos. Faltou dizer que os dois eram casados.

Um flagrante assim gera falatório, queima o seu filme e da sua acompanhante. Homem não dá muita importância a isso, acha que a fama de pegador é positiva, mas as mulheres detestam o ti-ti-ti e rejeitam ser vistas como “a outra”. Pessoa que já transitou por essas crônicas acrescenta que as mulheres até não se importam de serem a outra e ele chegou a essa conclusão quando foi abordado por uma conhecida com a seguinte sentença:

- Eu quero ser a outra da tua vida.

O exemplo pode legitimar a tese, mas ela precisa de adendo – desde que não seja identificada publicamente como a outra e fique tudo apenas entre as duas partes interessadas. Algumas mulheres até se expõe no limite do aceitável. A propósito, circulou recentemente no território livre da Internet, o acontecido com um executivo que estava de casamento marcado - e provavelmente não tratou da questão com a devida atenção - e foi surpreendido com uma faixa estampada em frente a sua casa, no dia do enlace.

- “Fulano, eu vou ao teu casamento. Assinado: a Outra”.

Imaginem agora como foi a cerimônia para esse pobre coitado. Quem tiver informações dos desdobramentos do caso, por favor, me repasse.

(continua)

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Receita de Ano Novo

De todas as mensagens de boas festas que recebi - e foram muitas - as que mais me tocaram foram as que fizeram referência a este belo texto do mestre Carlos Drummond de Andrade:

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A FESTA DA FIRMA - final

*Recomenda-se ler a postagem anterior de A Festa da Firma

O cenário contribui para criar o clima que vai funcionar como contraponto e negação às chatices do cotidiano. A música convida ao balanço e a bebida liberada desinibe até o sisudo chefe do RH. Se houver troca de presentes, surge a primeira chance de um amasso naquela colega bem dotada que a sorte reservou para você no amigo secreto. Enfim, está tudo pronto para que a festa descambe para práticas que extrapolam os limites do coleguismo. Olhares, gestos, palavras fazem parte do processo de interação e, aos poucos, as parcerias vão se formando naturalmente, por afinidades, desejos e pretensões fixadas com antecedência. Muitos colegas já chegam emparceirados e a festa é apenas a última etapa para os finalmente.

Na verdade, nada acontece por acaso. Aquela moça que de repente surge a sua frente, no caminho para o bufê, estava de olho em você há muito tempo. E aquela outra que era o seu sonho de consumo está logo ali, olhar pidão, esperando o convite para sacolejar na pista de dança. Você é caçador e é caça. Valeria a pena uma descrição mais detalhada desses momentos que expressam a realização plena da nobre arte da sedução. Mas vamos deixar para outra ocasião, porque agora o mais importante é repassar algumas dicas, especialmente preparadas por experts, que garantirão o sucesso da noitada.

Cuidado com a bebida é a primeira recomendação. Na dose certa ela encoraja; em excesso pode transformar você no bobo da corte com direito a todos os micos. Se ainda assim você conseguir ficar com alguém pode faltar energia na hora do vamos ver. (Lembre-se, existe vida real no dia seguinte).

Saiba também que mulher detesta bafo de cerveja, mas tem boa tolerância ao vinho e aos espumantes. Ah, os espumantes. Mulher adora dizer que adora espumantes. Então, é por aí. A cautela com a alimentação também é necessária. Nada mais desagradável que uma indisposição estomacal quando você está quase consumando o sonho de arrastar pra intimidade aquela morena dos Serviços Gerais. Pegue leve, portanto.

Pra não alongar mais o papo, o último - e talvez principal - conselho dos especialistas: tenha foco. Escolha o alvo, mire nele e vá em frente. No máximo, tenha um plano B à mão, caso a primeira alternativa não dê certo. Se você ficar dando tiros a esmo, vai gastar toda a munição, afugentar as potenciais pretendentes e, no fim da noite, terá que se contentar com aquela solteirona faceira do Almoxarifado, tamanho GG, mas trajando um modelito 42, vermelho "cheguei". (Prepare-se para ser sacaneado pelos colegas no dia seguinte e em todos os dias até a próxima festa).

Dentro do mesmo sub-tema, cuidado com suas escolhas. Certifique-se de que a parceira pretendida já não está comprometida com outras instâncias hierárquicas da empresa. Não faça como aquele contínuo boa pinta que se assanhou com a secretária da diretoria e no dia seguinte foi demitido pelo diretor financeiro, que tinha mais "cacife" que o afoito jovem. Se pintar um sinal de alerta durante o cerco à colega, saia de fininho e parta para outra. Manter o emprego é mais importante que uma noitada. O mercado de trabalho não está pra peixe e, afinal, sempre há outras opções no elenco feminino de sua empresa. Á luta, companheiros.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A FESTA DA FIRMA - primeira parte

Fim de ano é tempo de confraternização nos locais de trabalho. Conhecidas vulgarmente como “a festa da firma”, essas confraternizações estão a merecer um estudo sociológico sobre suas implicações, que vão além das afinidades funcionais. Na verdade, o estudo precisaria ser mais amplo por conta das relações perigosas que se estabelecem no ambiente de trabalho, em níveis inferiores e superiores.

Se fosse transformado em uma série de TV americana o título apropriado para tal estudo seria "Sex and the Office". Se fosse escolhido um patrono para a causa seria, sem dúvida, o ex-presidente Bill Clinton, que quase perdeu o cargo mais poderoso do mundo por causa do envolvimento com aquela estagiária bem nutrida, tendo como cenário o Salão Oval da Casa Branca.

Em outro episódio da série, mais recente, o governador do estado americano de Nova Jersey, gay assumido, confessou que traia a mulher com um assessor. A primeira-dama veio a público para revelar que também praticava adultério...com o mesmo assessor, na mesma cama, todos juntos. Togheter! Depois veio a público mais um escândalo, desta vez envolvendo o prefeito de Detroit, acusado de promover orgias em seu gabinete. Uma endemia de sacanagens oficiais!

O puritanismo americano, com seu viés hipócrita, julga com severidade esses casos e determina o fim de muitas carreiras políticas. (Renan Calheiros deve se considerar um homem de sorte por não ter vivido na América). Prevenindo-se contra revelações futuras, o sucessor do destituído governador de Nova Iorque - flagrado esbanjando dólares com prostitutas de alto quilate -, saltou na frente. Ao assumir o cargo, foi logo declarando que tivera um caso com uma assessora, durante uma crise matrimonial anos antes, mas que agora estava tudo bem em casa. Soube-se depois que a mulher do novo governador também pulara a cerca no mesmo período. Deve ser terrível viver num país com uma classe política dessa estirpe...

Vamos combinar que a prática de sexo no escritório, seja público ou privado, não é coisa nova. Deve ser tão antiga quanto os escritórios e por certo teve início quando homens e mulheres passaram a conviver boa parte do dia no mesmo ambiente. Só que se acentuou com a liberação dos costumes e os confortos proporcionados pelos escritórios modernos, climatizados e com aqueles sofás convidativos. O cinemão hollyodiano se ocupa do tema com freqüência e "Atração Fatal" talvez seja o exemplo mais conhecido.

Mas o que chama a atenção é o fetiche que o ambiente de trabalho significa para determinados funcionários e funcionárias. Tive acesso a inúmeros depoimentos de gente que se imagina transando em cima das mesas, entre grampeadores e computadores, relatórios e agendas e, às vezes, a foto de uma cena de família a espreitar os amantes. E conheço também alguns casos em que esse sonho foi realizado e todos garantem que é um momento único, pelo que representa de transgressão. E se for na sala do chefe, melhor ainda. Sei do caso de um contínuo que para se vingar da tirania do chefe transava no escritório dele com a faxineira, que era a garantia que tudo ficaria limpo e em ordem no final.

Mas o nosso foco é essa circunstância que predispõe às relações perigosas, coleguismo à parte, nos escritórios - " a festa da firma". Os congraçamentos servem para liberar alguns desejos sufocados no dia a dia da empresa, que impõe exigências cada vez maiores de produtividade, gerando insegurança quanto ao futuro e muito estresse. A verdade é que nesse contexto fica mais difícil a libido aflorar.

Aí vem o dia da grande festa de fim de ano e um frisson perpassa o ambiente de trabalho. As mulheres se produzem, marcam hora no cabeleireiro ou lançam mão da chapinha e à noite surgem resplandecentes com suas melhores roupinhas. Amigas sinceras me confidenciaram que estréiam peças íntimas, recém adquiridas, nessas ocasiões. Os homens não chegam a tanto, mas também se preocupam em dar um trato no visual.

(continua)

sábado, 19 de dezembro de 2009

Para Maria Clara

Quero ser teu exemplo e teu guia, teu mentor e protetor.
Minhas mãos te apontarão caminhos e juntos faremos novas descobertas.
Meus braços ainda serão fortes para te amparar e meu coração será aconchego para compartilhar teus segredos, celebrar tuas emoções, confortar tuas dores, refúgio nas incertezas, que um dia foram as minhas.
Tenho tantas histórias para contar, tantas canções para ninar, tantos sorrisos para te alegrar e, se os tombos da vida te fizerem chorar, eu chorarei contigo para que as lágrimas cessem mais rápido.
Não vai faltar energia para expurgar os bichos-papão, o monstro debaixo da cama e os fantasmas das noites insones, porque vou velar teu sono para que teus sonhos sejam povoados de fantasias de criança.
E quando cresceres quero estar presente e vou me empenhar para cedo aprenderes a voar. Aí poderás escolher o melhor destino que, se quiseres, poderemos traçar juntos e que a tua jornada seja segura e prazerosa.
E um dia, quando eu voltar a ser criança de novo, poderás retribuir, segurando a minha mão na paz de um acalanto final.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Fetiches e fantasias - final

*Recomenda-se ler a postagem anterior de Fetiches e Fantasias

Em termos de fantasias é recorrente o desejo de transar em público, com uma infinidade de variações - nas praças, na praia, nas festas - desde que haja muita gente em volta. Não se trata de exibicionismo, porque todos afirmam que não querem ser vistos em plena prática, mas da alta dose de adrenalina que a situação limite proporciona diante da possibilidade de serem descobertos.

Alguns pesquisados relatam acrobacias extraordinárias para realizar essa fantasia. Um deles se especializou em transar com a namorada em coquetéis, mas ele evita explicar os detalhes com receio de ser identificado. Suspeito que os fatos aconteçam nos banheiros e, como se trata de pessoa politicamente correta, acredito que alterna o masculino e o feminino para manter o equilíbrio de gênero. Questão de respeito a companheira de jornada.

O que ele não esconde é como tudo começou. Era um coquetel de abertura de uma exposição em um ambiente com luz de boate. Sua parceira na ocasião se apresentou com um vestido justo sem marca aparente das calcinhas. Observador atento, ele pressentiu a tentação. Aquilo não era um figurino de festa; aquilo era um convite à transgressão. Ele não resistiu. Refugiou-se com a moça em uma mesa mais retirada onde aconteceram as preliminares. A etapa conclusiva foi atrás de um dos painéis da exposição, um ato discreto mas intenso, enquanto o artista fazia um esforço danado para explicar sua complexa obra aos visitantes.

Foi uma experiência tão incrível, transbordando de adrenalina, que nosso amigo adotou como padrão desde então. Ele está tão viciado na prática que, cheio de ansiedade, consulta diariamente os cadernos de variedade dos jornais em busca dos eventos do dia e exulta, como criança que ganha brinquedo novo, quando recebe o convite para um vernissage. A amigos comuns ele confidenciou que está precisando de novos desafios e agora faz planos para transar com suas acompanhantes durante os shows dos grandes artistas que vem a cidade. To pagando pra ver, mas não duvido

Não deve ser desprezada outra fantasia recorrente entre os homens, a ménage a trois. Não conheço um que não queira dividir a cama com duas mulheres, embora a maioria não dê conta nem de uma. Todos, em algum momento da relação, insinuam esse desejo as suas parceiras e a melhor resposta que ouvi foi da namorada de um dos pesquisados, relatada pelo próprio:

- Sexo a três? Então convida aquele teu amigo para ir ao motel conosco.

Nosso pesquisado nunca mais ousou sequer pensar no assunto e, por via das dúvidas, evitava se encontrar com a moça em locais onde o tal amigo poderia comparecer, porque agora tinha razões para desconfiar que ele assumira lugar de destaque nas fantasias da namorada.

Em se tratando de fetiche e fantasia tem gosto para tudo. Liderança política de nossas relações é fascinado por mulheres que usam aparelho ortodôntico. Só que ele prefere arrebanhar suas conquistas na periferia onde, justifica, encontra belas garotas, mas não tão exigentes. Todas, acrescenta, sonham em se igualar às moças dos bairros mais nobres, não pelos cabelos alisados com chapinha ou pelas roupas e sapatos de marca, mas pela dentição perfeita.

Nosso amigo sacou essa frustração das bonitinhas da periferia, o que vinha ao encontro da sua inconfessável mania. Ele só se excitava se a mulher usasse aparelho e decidiu investir nesse nicho. Acertou com um amigo ortodontista um tratamento básico, a preços módicos, e passou a financiar novos sorrisos, com ferrinhos à mostra, em bairros distantes. Além disso, ele alega que está promovendo um trabalho de grande alcance social ao contribuir para a saúde bucal das moças da periferia, que não teriam recursos para pagar o tratamento.

“ Nenhuma resiste à oferta”, afirma, satisfeito com os dividendos do seu investimento, ao mesmo tempo em que desdenha de amigos comuns que preferem pagar aplicações de silicone, lipoaspirações ou plásticas para suas pretendentes: “ Eles gastam uma nota preta e quem acaba estreando a moça redesenhada é o vizinho motoqueiro”.

A propósito...

"Meu Viagra é uma calcinha preta".
(Anonimo)

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Fetiches e fantasias

Fui ao Google e constatei assombrado: existem mais de 780 mil verbetes sobre Fetiches, objeto da minha pesquisa. Confesso que o meu assombro nem foi tanto pelo volume de informações, mas pelos conteúdos, alguns absolutamente inéditos para mim e olha que não cozinho na primeira fervura. Vi coisas do arco, de oferta de produtos para a exaltação do prazer a estudos acadêmicos sérios, de conselhos médicos a sites fartamente ilustrados.

Descobri até um grupo de pressão, inspirado no modelo americano, que ensina como tratar publicamente do BDSM, que é a sigla para Bondage & Disciplina, Dominação/Submissão e Sadomasoquismo. Bondage tem a ver com a imobilização parceiro, pelo que entendi. Depois de tudo, cheguei a conclusão de que a perversão vai dominar o mundo – é a nova onda.

Mesmo assim, aprofundei a pesquisa e, entre outras coisas, fiquei sabendo que fetiche vem do francês fétiche, que por sua vez vem do português feitiço e este do latin facticius – artificial, fictício. Êta, erudição.

Pois bem, de posse dessas informações e ainda atordoado com o que vi no Google, decidi acionar o DataDutra, meu instituto particular de pesquisa, para saber o que passa pela cabeça do homem moderno em termos de fetiches e fantasias. A pesquisa não tem valor científico, mas a amostra é consistente: ouvi quase todos os meus amigos, que não são poucos.

As informações colhidas apontam como campeoníssima dos fetiches a calcinha preta, seguida da vermelha e da branca, estas bem abaixo na cotação. Ninguém conseguiu me explicar com clareza o porquê da preferência. Afinal, preto é ausência de cor, mas como não estamos aqui para explicar nem para entender, ficaremos somente no registro do fenômeno, sem enveredar pelas interpretações possíveis.

E um registro que vale a pena fazer e que dá uma idéia da dimensão que esse fetiche assumiu é que até comunidades virtuais foram criadas, entre elas a que se intitula "Pretinha Básica", com milhares de membros, ou melhor, integrantes, grupos de discussão e links para assuntos relacionados.

Durante a pesquisa ouvi outras histórias interessantes. Um dos entrevistados, por exemplo, tinha tanta devoção pela peça íntima preta que invariavelmente carregava uma sobressalente em compartimento da mochila em que acondicionava o laptop. Se a parceira se apresentava com a peça de outra cor, ele ordenava: "Tira essa daí e coloca a preta". E só depois desse ritual é que ele entrava em campo, despindo lentamente o adorno que determinara, momentos antes, que sua companheira usasse.

Outro amigo contou que evitava gastos supérfluos consultando antecipadamente anamorada. Se a calcinha não estivesse de acordo com a grade de cores do fetichismo, ele dava um jeito de transferir o encontro;

- Amor, tô usando aquela calcinha bege, tipo fio dental.

- Bege!!! Nem pensar. Sinto muito, mas hoje não vai rolar.

Não foram poucas as vezes que a moça teve que trocar a peça para satisfazer seu exigente amado.

Em termos de fantasias é recorrente o desejo de transar em público, com uma infinidade de variações - nas praças, na praia, nas festas - desde que haja muita gente em volta. Não se trata propriamente de exibicionismo, porque todos afirmam que não querem ser vistos em plena prática, mas da alta dose de adrenalina que a situação limite proporciona diante da possibilidade de serem descobertos.

(continua)

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Patrícia Poeta quase me deprime

Agora essa: está virando moda as mulheres não se depilarem. Um sacana que escreve num desses sites de abobrinhas sobre celebridades flagrou a tendência, citou nomes e comprovou com fotos. Lá está a minha ídala Patrícia Poeta posando para a revista Nova e exibindo aquelas belas coxas...cheias de pelos. Não é aquela penugem aloirada que, na medida certa e no lugar adequado, é capaz até de me fazer voltar à ativa e abandonar minha nova legenda – “Era bom!”. Mas o que aparece são pelos negros, gigantescos, espraiados sobre a pele morena. Parece uma teia de aranha. Quase entrei em depressão, mas logo me recuperei ao lembrar a época em que aquele corpo sarado da Patrícia, ainda sem máculas pilosas, abrilhantavam os comerciais televisivos da Academia do Parque.

O sacana do site pelo menos parece indignado com a nova moda e promete abandonar o país, assustado com a possibilidade de, na chegada do verão, termos um desfile de pernas e sovacos cabeludos pra lá e pra cá. Fecho com ele, mas recomendo que não vá para a França porque lá, ao que sabemos, o hábito da depilação ainda não chegou. Um amigo jornalista que viveu um bom tempo na Europa contava que para transar com uma namorada francesa, linda mas com uma aca broxante, alegava que era portador de uma rara doença que só permitia que fizesse sexo durante o banho. E assim conseguia minimizar os odores que emanavam daquelas axilas cobertas de pelos.

Tenho outros depoimentos sobre os efeitos da falta de higiene no desempenho sexual de homens e mulheres. Um companheiro se queixa, por exemplo, que a ex-namorada cheirava a virilha, aquela morrinha característica da região púbica masculina. Aí é duro de enfrentar. A queixa de outro é que as roupas da parceira pareciam contaminadas com naftalina, um detalhe perturbador na hora do vamos ver. Sexo é química, mas não precisa exagerar. Poderia relatar mais casos, mas o assunto é constrangedor e vou ficar por aqui.

Na real, acho mesmo que estou ficando sem inspiração para trazer ao blog um tema que beira o nojento. Nas próximas, me recupero.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Adjetivos e advérbios

Economia nos adjetivos e parcimônia com os advérbios, ênfase aos substantivos e força nos verbos. Os puristas do estilo recomendam essa fórmula básica para a construção do chamado texto escorreito, elegante, fácil de ser lido e entendido. “Escrever bem é cortar palavras”, acrescentaria Drumond. Pois, humildemente, me atrevo a contrariar o mestre. E vou me socorrer do ator Carlos Vereza para tentar uma justificativa, furada que seja. "Peço desculpas aos que, por ventura, acessem este Blog pelo uso excessivo de adjetivos ao expor minha opinião sobre Lula e o PT. Mas, tenho dificuldades em ser substantivo, tratando de tão lamentável tema,” escreveu o bom Vereza em seu blog. Concordo com ele em gênero, número, grau e conteúdo.

No caso, em nome da contundência, Vereza prioriza o conteúdo em detrimento da forma. O ideal é harmonizar forma e conteúdo, mas se tiver que optar, o quê tem precedência sobre o como. Diferente do que clama uma diligente amiga do curso de Letras, devota de Drumond, que reclama do excesso de palavras dos meus textos. A ela reafirmo que prefiro a clareza ao estilo, por isso repito palavras se necessário, uso e abuso do aposto - e das explicações entre travessões, se for o caso – , tudo em nome do bom entendimento que busco oferecer nos conteúdos. Mania de jornalista.

Afora isso, apanho das crases e na colocação das vírgulas, cometo também alguns pecadilhos de concordância mais por falta de revisão do que por desconhecimento. Nada que me envergonhe. Gostaria de me livrar das frases longas, que reprimem a legibilidade dos textos, mas não tenho preconceitos contra os adjetivos. Acho mesmo que eles dão colorido às frases e, às vezes, qualificam uma situação e uma pessoa mais acertadamente do que outra classe gramatical.

Gosto igualmente dos advérbios, especialmente os terminados em mente, seguramente porque transmitem fortemente a magnitude da idéia que quero expressar. Os puristas diriam que o uso freqüente tanto dos adjetivos como dos advérbios empobrecem os textos. Pode ser, mas como não tenho pretensões à Academia Brasileira de Letras nem a de ser o autor do grande romance latino-americano do século 21, vou continuar cometendo os mesmos vícios estilísticos. Bem-vindos os adjetivos, salve os advérbios.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Criança luminosa

Maria Clara está chegando e eu que vivo criticando a pieguice alheia já virei um avô babão. Não há quem resista ao fenômeno da vida se renovando e a mais dura carapaça acaba se rompendo diante do ser frágil gerado pelo melhor de mim e melhores do que eu, que são os meus filhos. Os filhos dos meus filhos não serão apenas extensões de mim, nem sairão a minha imagem e semelhança, mas a eles estão destinadas as benções reservadas aos futuros construtores de um mundo melhor, se assim o quisermos e formos suficientemente firmes nos nossos intentos e laboriosos nos nossos esforços.

Cada vez que uma criança nasce, a vida renasce, mas há uma longa e penosa estrada a ser percorrida e um horizonte a ser alcançado para que o renascimento se torne uma dádiva, repleta de generosidade, infinita de amor, plena de felicidade. É uma missão a ser cumprida e a ela vou me entregar, cultivando amorosamente a criança que chega.

Cada vez que uma criança nasce, renascem as esperanças. E a esperança é o que nos move diante dessas sombras que nos assustam e afligem, e que uma nova energia vem iluminar, curando as amarguras, reconciliando corações e desafeições.

Cada vez que uma criança nasce, a inspiração acontece. E é quando o peso da jornada nos faz querer ser criança de novo, recriar a vida, errar e acertar, compartilhar e desafiar, crescer e gerar mais vida. E que a nova vida seja o melhor legado e mais uma dádiva.

Bem-vinda, minha neta adorada, que é Clara e é luz. Criança iluminada, vem renovar o mundo e me transformar num homem melhor para que eu possa te merecer.

*Maria Clara, filha da Flavinha e do Rodrigo, masce em janeiro

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Para irritar colorados

Café da Manhã:

O Cliente entra na lanchonete, a garçonete se aproxima e diz:
-Bom dia, o que o Sr. vai querer ?
-Qualquer coisa pra enganar o estômago.
Então a garçonete grita pra cozinha:
-Sai um Sport Clube Internacional no capricho !!!
O cliente, surpreso, pergunta:
- Moça, que lanche é esse?
E ela:
- Uma meia taça e um sonho...

Fazendo amor na terceira idade: dicas

(Sexta-feira é dia de relaxar e publicar bobagens)

1. Use seus óculos. Certifique-se de que sua companhia esteja realmente na cama.

2. Ajuste o despertador para tocar em três minutos, só para o caso de você adormecer durante a performance.

3. Acerte com a iluminação: Apague todas as luzes!

4. Deixe seu celular programado para o número da EMERGÊNCIA MÉDICA!

5. Escreva em sua mão o nome da pessoa que está na cama, no caso de não se lembrar.

6. Fixe bem sua dentadura para que ela não acabe caindo debaixo da cama.

7. Tenha Tylenol à mão.. Isto, para o caso de você cumprir a performance!

8. Faça o quanto de barulho quiser. Os vizinhos também são surdos...

9. Se conseguir, telefone para todo o mundo para contar as boas novas.

10. Nunca, jamais, pense em repetir a dose.

( O detalhe é que eu não lembro se já publiquei isso ou não...)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Rádio Corredor: como trabalhar a seu favor - final

(Do Manual para Chefias Intermediárias, a ser lançado pela Via Dutra Publishers and Books/ Recomenda-se ler a postagem anterior sobre o assunto)

Depois que a teia de agentes for descoberta, o passo seguinte é fazê-la trabalhar a seu favor. Espalhe os boatos que lhe convém, sempre discretamente e sem todas as informações, mesmo porque a Rádio Corredor vai adicionar os elementos que darão força e credibilidade aos fatos. Isso funciona quando você precisa dar um “para-te quieto” num funcionário que está enchendo o saco, ameaçando pedir demissão se não ganhar aumento ou promoção. Mencione de passagem na conversa com um agente da Rádio Corredor que você teve contato com aquele profissional da concorrência cujo perfil se encaixa perfeitamente na vaga ocupada pelo tal funcionário. O cara vai ficar sabendo de tudo e mais um pouco. “Parece que só falta acertar o salário”, confidenciará o leva-e-traz e aí teremos um enchedor de saco a menos.

Os mesmos procedimentos podem ser adotados no caso daquele sujeito que está de olho no seu cargo. Espalhe que você tem sido procurado com freqüência por uma chefia superior, em busca de sua abalizada opinião sobre determinado tema. E acrescente, cândida e maldosamente: “Os homens não são bobos, sabem de tudo o que acontece aqui”. Ou seja, você é um elemento de confiança da direção, ao contrário daquele oportunista que está a fim de puxar o seu tapete.

Na relação com a Rádio Corredor você também não tem compromisso com a verdade, mas não abuse da sorte. A tarefa de contra-informação exige que sejam espalhadas algumas informações verdadeiras para ganhar credibilidade. Informações do tipo índices de aumento salarial, promoções previstas, viagens em perspectivas, cursos de capacitação, fatos positivos de preferência, porque a tendência destes, diferentemente dos negativos, é não serem muito ampliados. Além disso, servem como uma boa desculpa caso você seja flagrado manipulando a Rádio Corredor: “Ué, eu só estava antecipando uma informação positiva, de interesse de todos”.

No caso de uma informação relevante em que seja necessário se valer dos préstimos da Rádio, opte pelo lançamento durante uma reunião. Primeiro para você ter certeza de que a difusão da informação vai ser potencializada pelos vários agentes presentes à reunião e depois para você ter testemunhas em caso de distorção. Entretanto, pequenos boatos, santas maldades, fofocas mais ou menos interessantes, prefira transmiti-los individualmente para agentes duplos de sua confiança. O resultado final é melhor e você ainda se resguarda.

A relação com a Rádio Corredor pode se transformar ainda num exercício divertido. Espalhe coisas sem nexo e aguarde o resultado. Quando o boato retornar você vai se deliciar com a forma final que o assunto adquiriu. Exemplo: insinue que aquele colega que é um tanso de marca maior vai ser promovido para importantes funções na empresa. Depois do impacto inicial, no retorno do boato o cara vai ganhar qualidades e capacidades insuspeitadas. Não vai faltar quem diga: “O cara só estava precisando de uma oportunidade para mostrar seu valor”. E o bananão é até capaz de acreditar.

Senhores chefes, é assim que funciona. Portanto, olho vivo e ouvido apurado com a mais poderosa das rádios.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Presépio moderno


Olha quem apareceu neste presépio de Criciúma! (A Mariestela Bairros descobre cada uma!)

Rádio Corredor: como identificar

( Do Manual Para Chefias Intermediárias que Via Dutra Publisher and Books vai lançar)

A Rádio Corredor é um fantástico instrumento informal, presente em todas as organizações, para a difusão de informações, meias verdades, fofocas e boatos, mais boatos e fofocas do que meias verdades e informações. Esse instrumento recebe outros títulos, dependendo da natureza da organização – Rádio Bambu, Rádio Peão, Central de Boatos – mas a finalidade é sempre a mesma, cumprida com eficácia e eficiência: promover o leva-e-traz na local de trabalho.

A Rádio Corredor pode ser um inferno para as chefias. Muitos projetos foram frustrados simplesmente porque informações reservadas vazaram e chegaram à massa trabalhadora totalmente distorcidas. E chegaram via Rádio Corredor, que não tem qualquer compromisso com a realidade dos fatos, mas apenas com o tráfego de informações em si mesmo, de preferência aumentando um ponto em cada conto.

O processo ocorre normalmente em filas de banco, no intervalo para o cafezinho, no refeitório e naquelas conversas de pequenos grupos no pátio da empresa. Os e-mails e os twitters da vida também são usados, mas com cautela, porque deixam rastros que podem desmascarar os maledicentes de plantão.

É fácil perceber quando a Rádio Corredor está em ação: basta aproximar-se de um grupo reunido em um canto qualquer e perceber o constrangimento com a chegada do elemento estranho, a rápida troca de assunto, o olhar inquieto, insincero e o sorriso sem graça dos participantes. Nessas ocasiões, a Rádio Corredor sai do ar por instantes.

E quando voltar, podes crer, a interferência junto ao grupo será assumida como uma confirmação de que aquele boato tem um fundo de verdade. Dez entre dez vezes será ouvida a seguinte frase, após o seu afastamento do grupo: “Viu, o homem está preocupado, então aquele negócio é sério!” .

Na verdade, o efeito perverso da Rádio Corredor pode ser neutralizado e até direcionado a seu favor. A primeira medida é identificar quem são os principais agentes do leva-e-traz. O mais fácil de ser reconhecido é aquele que eventualmente procura a chefia para contar as fofocas envolvendo outros colegas. Esteja certo de que se trata de um agente duplo, que só está esperando você liberar alguma informação para realimentar o processo. Quantas vezes você foi tentado a fazer algum comentário nada elogioso sobre algum colega ou mesmo um superior, como contrapartida a uma informação supostamente privilegiada trazida pelo agente duplo? Você certamente já participou desse jogo e se deu mal. Doravante, resista: tudo o que eles querem é intrigá-lo com a massa ou, o que é pior, com as chefias.

Ouça mais do que fale e mantenha os olhos sempre abertos para identificar os outros participantes da sórdida conspiração. Para saber quem são os outros, basta observar quais são os que sempre repetem suas participações nos grupinhos, seja no encontro informal no pátio, seja na roda do cafezinho. Eles são os potenciais agentes inimigos.

Se você der um flagra num grupo, percebendo que a Rádio Corredor esteve no ar, e mais tarde for procurado por alguém com uma justificativa do tipo “pois é, a gente estava conversando sobre...”, bingo, este é o cara, tentando construir um álibi. Como se trata de um fracote sem caráter, basta um aperto que ele certamente vai vomitar tudo, com riqueza de detalhes.

Outro agente em potencial da Rádio Corredor é aquele sujeito que fala baixinho ao telefone. Das duas uma: ou está namorando no telefone, provavelmente uma colega de outra secção, ou está difundindo informações e boatos. Nos dois casos, merece atenção redobrada. No primeiro caso porque esse negócio de namorar em horário de expediente, ainda mais colegas, pode acabar em confusão; no segundo, para confirmar se o cara é ou não um agente da Rádio Corredor.

(continua)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Solidariedade entre iguais

A verdade verdadeira é que nós, homens, só pensamos naquilo. Então, é natural que as conversas no cafezinho, na mesa de bar e em outros encontros com predominância masculina, o assunto gire em torno daquilo. Essa nuança do comportamento dos machos só é igualada por outra em que as mulheres passam ao largo: a solidariedade. Você jamais vai ver parceiro dedurando parceiro e existe grande respeito pelas mulheres dos amigos, que assumem status de não-cantáveis, sejam elas oficiais ou não.

A espécie se protege e se ajuda, confirma álibis, cede local, carro e grana nos momentos de aperto e é capaz de estabelecer relações de amizade tanto com a titular do amigo como com a outra. É, digamos, uma ética singular nesse contexto. A introdução vem a propósito de história contada pelo jornalista Clóvis Heberle em seu blog (www.clovisheberle.blogspot). Como também fui testemunha dos acontecimentos, um case exemplar de solidariedade masculina, me permito reproduzi-lo, conforme relato do Heberle.

El templo de la perdición

Trabalhávamos muito na sucursal de verão de Zero Hora, instalada no hotel Beira Mar, em Tramandaí, nos anos 90-. Certamente tanto como agora. Pelo menos 12 horas por dia, isto quando não éramos acordados de madrugada para cobrir algum rolo policial. Mas também nos divertíamos bastante. Depois de enviar a última matéria, íamos jantar juntos e depois dar uma circulada pela cidade. Naquela época os argentinos vinham a Tramandaí em ônibus de Turismo e se hospedavam em nosso hotel, geralmente por uma semana. À noite ficávamos batendo papo, e naturalmente nos tornávamos amigos deles. Cada despedida era uma festa, e as vezes lágrimas rolavam nos rostos de hermanas enfeitiçadas por algum repórter da sucursal. O contrário também acontecia. Um dos nossos ficou enlouquecido por uma argentina, muito bonita na flor dos seus trinta e poucos anos. Ela parecia corresponder, mas havia um problema: o marido estava junto, e não desgrudava dela. Solidários, tentamos vários estratagemas para separá-los, pelo menos algumas horas, para que os dois pudessem, digamos, se entender. Tudo em vão. Decidimos jogar pesado: embebedar o maridão, para que ele, entregue a morfeu, deixasse a esposa e nosso apaixonado colega à vontade. Bate-bate era um boteco de madeira escondido entre duas dunas, cerca de um quilômetro depois da plataforma de pesca. Lá só se serviam batidas, todas de altíssimo teor alcoólico. O bar estava na moda – a moçada enfrentava a areia da beira da praia para passar algumas horas lá, bebendo e ouvindo música. Casais se perdiam nas dunas, motoristas tinham dificuldade em achar a trilha depois de provar coquetéis de cachaça. Alguns dias antes, no Carnaval, a turma do Bate-Bate havia desfilado na avenida Emancipação, um garçom vestido de padre à frente. Conferimos se a batina ainda estava por lá, e combinamos que no dia seguinte voltaríamos com um grupo de turistas argentinos, com a condição de que fossem recebidos pelo falso padre. O Bate-Bate mudou de nome: passou a ser El Templo de la Perdición. Convidados, os argentinos adoraram a idéia. Estavam loucos para conhecer o templo. Lotamos três carros (o meu e dois do jornal – a Núbia Silveira que me perdoe) e nos mandamos. O padre esperava na frente do barracão, e junto com a benção entregava a cada um de nós um copo daquelas batidas. Discretamente, todos olhávamos o copo do maridão, mas ele era o que menos bebia. Lá pelas tantas, decidimos voltar. Jantamos no Carlão, um restaurante à beira do rio, no Imbé e depois viemos até a minha casa. Bebemos, cantamos, conversamos, e o maridão, sóbrio. O dia amanhecia quando o grupo, exausto e conformado com mais uma derrotas, retornou ao hotel. A esposa continuou intocada até seu retorno à Argentina. Sim, ela chorou na despedida.

Agora me digam com sinceridade: é ou não é uma comovente história de solidariedade entre iguais?

Ditados Reciclados

"Quem é mala sempre aparece".

sábado, 5 de dezembro de 2009

Bobagens da Internet: atenção às dietas

Três assuntos interessantes:

Sobre a GORDURA
No Japão, são consumidas poucas gorduras e o índice de ataques cardíacos é menor do que na Inglaterra e nos EUA; em compensação, na França se consome muitas gorduras e, ainda assim, o índice de ataques cardíacos é menor do que na Inglaterra e nos EUA;

Sobre o VINHO
Na Índia, se bebe pouco vinho tinto e o índice de ataques cardíacos é menor do que na Inglaterra e nos EUA; Em compensação, na Espanha se bebe muito vinho tinto e o índice de ataques cardíacos é menor do que na Inglaterra e nos EUA;

Sobre o SEXO
Na Argélia, se transa muito pouco e o índice de ataques cardíacos é menor do que na Inglaterra e nos EUA; Em compensação, no Brasil se transa muuuuuito e o índice de ataques cardíacos é menor do que na Inglaterra e nos EUA;

CONCLUSÃO : beba , coma e faça sexo... sem parar, pois o que mata é falar inglês!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Bobagens da Internet: promessa de colorado

(Caso o Grêmio empate ou vença o Flamengo)

EU , COLORADO , PROMETO :

1- Não direi mais que a analvalanche é coisa de viado

2- esquecerei a história da poltrona 36 , direi que é mito

3- valorizarei a batalha dos aflitos , achando o maior feito de um clube gaúcho

4- pediremos para a direção começar os grenais com 3 a zero para o grêmio (para dar graça aos jogos )

5- direi para meus filhos que a toyota cup valia a mesma coisa que um título mundial

6- direi para meus filhos que clube grande também é rebaixado para a série b

7- nunca mais chamaremos a geral de coligay e também apagaremos da memória tal torcida

8- se vcs quiserem , poderemos chamá-los de Boca Junior !!!

9- ajudaremos com tijolos para a contrução da arena fantasma

10 - deixaremos vcs ganharem alguns grenais para equilibrar a rivalidade (assim como gauchões )

11- diremos a todos que De Leon sangrou a testa em uma batalha campal contra argentinos, pois não foi um imbecil que colocou a taça na cabeça onde tinha um parafuso

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O atendedor de chamadas dos avós:

(Copiei do Previdi.com porque já estou me preparando para essa fase)

- Bom dia! De momento não estamos em casa mas por favor deixe-nos a sua mensagem depois de ouvir o sinal sonoro:
- Se é um dos nossos filhos, disque 1
- Se precisa que lhe guardemos as crianças, disque 2
- Se quer que lhe emprestemos o carro, disque 3
- Se quer que lavemos a roupa e a passemos a ferro, ou que busque a roupa na lavanderia, disque 4
- Se quer que as crianças durmam aqui em casa, disque 5
- Se quer que os vamos buscar à escola, disque 6
- Se quer que lhe preparemos uns bolinhos para domingo, disque 7
- Se querem vir comer aqui em casa, disque 8
- Se precisam de dinheiro, disque 9
- Se é um dos nossos amigos, pode falar!

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Quando eu era milionário - final

*Recomenda-se ler a postagem anterior

Então, em 1994 veio o Plano Real. E eu que estava cobrindo a Copa do Mundo nos Estados Unidos acabei não sofrendo o primeiro impacto do novo plano. As informações vindas do Brasil davam conta que, depois de sucessivos planos econômicos malsucedidos, havia uma justificada desconfiança da população.

De volta a terrinha, a primeira coisa que fiz ao chegar no Galeão foi trocar dólares por reais e aí tomei contato com aquelas notas feias, diferentes uma das outras, eu que estava quase americanizado depois de 55 dias nos EUA, pagando e recebendo em verdinhas. Economizei uma boa grana em dólares naquela viagem, mas mesmo assim não levei vantagem porque no início do Plano Real o dólar valia tanto quanto a nova moeda brasileira. Era 1 por 1.

E lá se foi mais uma chance de reiniciar a vida de milionário.Fiquei curtindo essa frustração até que descobri no site da Fundação de Economia e Estatística (www.fee.tche.br) um programa que converte os valores monetários, atualizando-os no tempo. E constatei que a minha condição de milionário no passado era pura ilusão, fruto da mágica operada nas trocas de moedas, que perdiam zeros para passar a impressão que o nosso dinheiro se fortificava.

Os mais de 60 milhões que recebi em 1985, na verdade, equivaleriam hoje a pouco mais de 57 mil reais, ou 4,3 mil reais/mês, um salário nada desprezível. Os 5,2 milhões de 1991 seriam, em valores atuais, cerca de 30 mil reais. O Passat que vendi por 2,7 milhões em 1992 valeria hoje, só para efeito de exercício financeiro, uns 6,7 mil reais. A mensalidade da creche que custava 15 mil cruzados ficaria por 194 reais e a escola que cobrava 29 mil cruzados novos receberia hoje, se os proprietários não fossem gananciosos, exatos 208 reais.

Como se observa, nem precisa ser versado em macroeconomia para constatar a equivalência nos valores entre um período e outro, o que me leva a outra constatação: havia muito de efeito psicológico na tal de inflação. Mesmo assim, não sinto saudades daquele tempo. Prefiro a estabilidade de agora que me assegura um amanhã sem surpresas.

No quadro abaixo é possível visualizar melhor o que já enfrentamos em termos de mudanças de padrão monetário. De 1967 a 94 foram sete planos, ou quase uma mudança a cada quatro anos:


Quadro 1 - Mudanças no padrão monetário brasileiro

ANO MÊS MOEDA SÍMBOLO EQUIVALÊNCIA
1942 Out Cruzeiro Cr$ Rs 1$000 (um mil réis)
1967 Fev Cruzeiro Novo NCr$ Cr$ 1.000,00 (um mil cruzeiros)
1970 Mai Cruzeiro Cr$ NCr$ 1,0 (um cruzeiro novo)
1986 Fev Cruzado Cz$ Cr$ 1.000,00 (um mil cruzeiros)
1989 Jan Cruzado Novo NCz$ Cz$ 1.000,00 (um mil cruzados)
1990 Mar Cruzeiro Cr$ NCz$ 1,00 (um cruzado novo)
1993 Ago Cruzeiro Real CR$ Cr$ 1.000,00 (um mil cruzeiros)
1994 Jul Real R$ CR$ 2.750,00 (dois mil setecentos e cinqüenta cruzeiros reais

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Quando eu era milionário - parte 1

Jornalista tem mania de guardar papéis, recortes de jornal, contas pagas, documentos e similares na esperança de que um dia vai organizar tudo e que aquele manancial terá alguma utilidade. Ledo Ivo engano. A papelada acumulada serve apenas para atrair poeira, mofo e traças.

A importância que determinado documento tinha há 15 ou 20 anos se diluiu no tempo e o artigo de jornal que causou tanta polêmica perdeu seu valor. Com os recursos da informática nem faz mais sentido manter um arquivo físico nos moldes antigos.

Pois semana passada decidi enfrentar o desafio de vasculhar meus guardados para uma sessão de descarte e encontrei verdadeiras preciosidades. Descobri, por exemplo, que já fui milionário. A descoberta se deu quando encontrei a declaração de renda de 1985, atestando que eu recebi naquele ano a fortuna de 60 milhões, 286 mil cruzeiros, o que representava, em média, um salário de mais de 4 milhões e 600 mil por mês. Uma Mega Sena acumulada! Só o Imposto de Renda me mordeu em mais de 6 milhões e 700 mil retidos na fonte e ajudei a diminuir o déficit da Previdência contribuindo com 5 milhões e 400 mil.

E havia ainda a confusão com a troca de moedas.Em 1988, por exemplo, pagava 15 mil cruzadosde mensalidade na creche de um dos filhos e, no ano seguinte, 29 mil cruzados novos para outro numa escola particular. Uma verdadeira fortuna.

Devo ter empobrecido com o passar dos anos, pois em 1991 recebi míseros 5 milhões, 279 mil cruzeiros. No ano seguinte fui obrigado, inclusive, a vender um Passat, ano 78, por 2 milhões e 700 mil cruzeiros. Era dura a vida de milionário naqueles tempos de inflação galopante.

O poder aquisitivo ficava corroído da noite para o dia. A moeda ganhava novo nome a cada plano econômico, mas a desejada estabilidade durava pouco tempo ou era mantida artificialmente. Os preços eram remarcados todos os dias e o valor de hoje já não vigorava no dia seguinte. O overnight, uma aplicação bancária corrente na época, dava alguma proteção aos nossos ganhos e fez a fortuna de muitos espertalhões. Para se ter uma idéia de como funcionavam as contas públicas, o governo Collares (1990-94) se financiou graças à inflação alta: era só atrasar, sem correção monetária, o pagamento aos fornecedores por um mês ou pedalar o aumento do funcionalimo e o caixa estava garantido.

A empresa onde trabalhava na época decidiu, para preservar minimamente o poder aquisitivo dos funcionários, pagar os salários a cada 15 dias e depois semanalmente. Um expediente comum era o cheque pré-datado que permitia algum fôlego às finanças pessoais. Era comum também o pedido de antecipação de parte do 13º salário porque o montante no final do ano, com a correção monetária, ficava recomposto e ainda garantia-se um plus nos ganhos.

E assim sobrevivíamos quase numa boa, acostumados a espiral inflacionária, consumindo um pouco aqui um pouco ali, administrando as contas, fazendo ginástica com os salários e até planos para o futuros, na certeza de que mais dia menos dia nossa moeda deixaria de nos envergonhar.

Então, em 1994 veio o Plano Real.

(continua)

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Situações extremas - final

*Recomenda-se ler a postagem anterior

Outra história, baseada em fatos reais, envolveu dois repórteres esportivos, rapazes com família constituída, que decidiram dar uma escapada depois da cobertura de um Grenal noturno. Duas amiguinhas foram contatadas, toparam o programa e a noitada se prolongou madrugada à dentro. E aí chegou a hora de voltar para casa. Um dos repórteres, que identificaremos como o Desencaminhador, porque foi o responsável por todas as iniciativas, estava dirigindo o carro para devolver o Desencaminhado ao lar quando pintou o drama.

- Cara, tu estás impregnado do perfume da fulana, acusou o Desencaminhador.
- E agora o que eu faço?, desesperou-se o Desencaminhado, que era uma santa criatura.
- Vamos dar um jeito.

O Desencaminhador, escolado por muitas jornadas, era do tipo prático. A primeira providência foi sujar as mãos do Desencaminhado nos pneus, sugerindo um árduo trabalho de borracheiro. Depois, motor ligado, colocou a camisa dele junto ao cano de descarga e substituiu o perfume da parceira pelos cheiros característicos da máquina automotiva. E assim, vítima das falsetas de um carro velho, o Desencaminhado se apresentou em casa e, mais do que aplacar a fúria da patroa, virou o jogo porque sua aparência era de quem realmente tinha sido solidário no enfrentamento de problemas mecânicos e pneumáticos.

E agora vamos ao caso daquele consagrado músico gaúcho, bandalho de boa cepa, que ficou muito angustiado quando, em viagem pelo interior, deu pela falta de sua aliança de casamento. Ele costumava retirar o objeto na hora do banho e chegou a conclusão que perdera no banheiro da casa onde estava hospedado. As buscas foram inúteis. A aliança provavelmente caíra no ralo e estava irremediavelmente perdida.

De imediato acionou seu anfitrião que providenciou junto a um joalheiro local a confecção, em regime de urgência, de uma nova aliança. Por sorte, nosso amigo ainda lembrava do nome da mulher e da data do casamento, que foram gravados na nova aliança. Ele não poderia chegar em casa sem ela porque precisaria dar muitas explicações e, no entrevero, talvez surgissem desconfianças e acusações sobre suas andanças pretéritas. Estava com saldo devedor na conta corrente matrimonial e agora – que ironia! - poderia se enredar por uma situação em que era inocente. Enfim, retornou ao lar no dia seguinte e foi surpreendido com a reação da esposa:

- Amor, o que é isso aí no teu dedo?

- A aliança de casamento, benzinho.

- Ah é, vem comigo.

A mulher conduziu-o até o banheiro e lá estava a aliança original, boiando na saboneteira. Ao nosso amigo só restou contar toda a verdade, incutindo, porém, na mulher aquela dúvida que consome: “o que será que ele já não aprontou por aí?” Como penitência, passou usar as duas alianças juntas, que era a forma de expressar que aquele corpinho tinha uma dona vigilante.

Recomendo


Conheço o Alan dos meus tempos de TVE. É um cara de talento e do bem, que agora está se lançando com o grupo Cambatuque. Para assistir ao clipe da música "Subindo a Ladeira (A Face)", basta acessar http://www.youtube.com/user/cambatuque. O lançamento oficial do clipe está aí na ilustração.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Situações extremas

È dura a vida dos homens de vida dupla. O pior momento é ter que enfrentar a mulher na volta ao lar, depois de uma sessão de adultério. Acredito que com as mulheres aconteça o mesmo quando elas são agentes e não vítimas, mas não tenho elementos suficientes para julgar. Entre os homens, fica sempre aquela expectativa de que vai ser desmascarado e que ao chegar em casa encontrará as malas depositadas na sala como um veredito. “Pega tuas tralhas e some daqui, seu cafajeste”.

É uma situação extrema, mas existe coisa pior. Foi o que aconteceu com um jornalista, da área de artes gráficas, que saiu de casa no meio da tarde de um sábado de Carnaval para comprar pão, leite e frios para prover sua numerosa prole. No trajeto de volta da padaria para a casa, não mais do que quinhentos metros, nosso amigo acabou envolvido pelo baticumbum de uma banda que, na vizinhança, se aquecia para o Carnaval. Deu meia volta e se entregou para a folia. A batucada era irresistível e o time de mulatas um convite à perdição. A partir daí, sob as bênçãos de Momo, Baco e Eros, ele pintou e bordou durante os quatro dias de Carnaval, sempre acompanhado de uma bela passista que correspondeu as suas investidas.

Na quarta-feira de Cinzas, todo estropiado, lá estava ele de volta ao lar, após o meio dia. Carregava ainda, zelosamente, a sacola com os pãezinhos, o leite e a mortadela para a filharada. Ao entrar em casa, já levou o primeiro susto. A mulher o esperava, sentada no sofá da sala, armada com uma reluzente faca. Uma faca dessas de churrasco que ele mesmo havia afiado na semana anterior. Ele bem que tentou contornar a situação com um diálogo, que reproduzimos ligeiramente dramatizado:

- Pára com isso, mulher. Eu posso explicar.

- Não quero saber de explicação. Eu vou é cortar aquilo.

- Não faz isso, eu só tenho esse. Deixa eu explicar...

- Chega de conversa. Te prepara que eu vou cortar.

- Pô, eu to cansado, deixa eu dormir e depois a gente fala.

- Se dormir, vai acordar sem.

Em pânico, nosso amigo conseguiu sentar numa cadeira e ficou ali, com as mãozinhas gorduchas protegendo seu bem anatômico mais precioso. Às vezes, vencido pelo sono, ele dava uma cochilada, mas acordava em seguida com os berros da mulher e a faca rebrilhando.

- Olha que eu vou cortar.

Fiquem tranqüilos, infiéis. O cara escapou dessa. Num descuido da mulher, ele saiu porta a fora e foi se homiziar em casa de amigos até a poeira baixar. Acabou voltando ao lar pelo clamor dos filhos, que sentiam falta, não tanto do pai trêfego, mas do pão, leite e frios de todo o dia. Mas, por precaução, desde então abandonou a prática de afiar as facas de churrasco.

(continua)

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Interatividade questionável

A mídia descobriu o filão da interatividade. Rádios, tvs, jornais e portais da internet usam e abusam do recurso, certos de que a abertura de espaços para os usuários potencializa a repercussão de seus conteúdos, vale dizer, aumenta a “audiência”. E tome interatividade, agora acrescida também de torpedos telefônicos.

Chega a ser constrangedor o papel de porta-voz dessas mensagens imposto a alguns comunicadores de prestígio. Sim, porque a interatividade que deveria ser um canal de dupla mão – a fonte influenciando o destinatário da mensagem e sendo por ele influenciado, numa interpretação simplista da teoria da comunicação – foi desvirtuada por fonte (emissor) e destinatário (receptor). Pela fonte, a medida em que busca demagogicamente acarinhar o destinatário, passando-lhe a falsa impressão de que é mais do que um receptor passivo, mas um parceiro de verdade, cujas opiniões interessam e serão consideradas. É aquele negócio de “aqui você tem vez e voz”. Isso é falso e tem o mesmo valor do dólar de Burkina Fasso, sem contar que, em várias situações, a interatividade representa ganhos financeiros para a mídia, através de acordos com operadoras de telefonia, por exemplo.

Entre os receptores identificamos dois tipos de comportamento, ambos também enganadores. Há os crédulos e sinceros que ingenuamente acreditam que suas opiniões serão mesmo levadas em conta e que, a partir delas, o mundo será diferente, para melhor, é claro. E existem os mal-intencionados de carteirinha, os detratores de plantão, os raivosos de todo o dia, os metidos a engraçadinhos, os falsos moralistas, os malas opiniáticos, os comprometidos com essa ou aquela corrente política, à esquerda e à direita. Infelizmente, o segundo tipo é maioria e está contaminando todo um processo que, na sua concepção, encerra uma idéia generosa. Mais ainda: uma avaliação criteriosa revelaria que são quase sempre as mesmas pessoas opinando sobre tudo e sobre todos, o que me faz crer que se trata de um bando de ociosos, ávido de seus 30 segundos de exposição na mídia.

Excluo dessa análise as descompromissadas participações nos espaços esportivos e até sou tolerante com as chamadas pesquisas interativas, embora nem sempre fique claro na sua formulação não se tratar de uma enquête de caráter científico. Reconheço, ainda, os méritos de algumas experiências, como as do programa Gaúcha Hoje, que oferece a posição de especialistas para dirimir dúvidas dos ouvintes. Neste caso, a interatividade faz sentido e cumpre seu papel de prestadora de serviço.

Desde já refuto o rótulo de censor, que certamente virá, porque o que está faltando neste processo é filtro, para separar as contribuições de conteúdo, positivas para os debates propostos, das mal-intencionadas, que acusam sem provas, atacam pessoas de forma gratuita, julgam e condenam prévia e apressadamente. São opiniões inconseqüentes, irresponsáveis, sem compromisso com os valores da justiça e da verdade.

Publicado originalmente em Zero Hora, em 1º/10/2008

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Santa inveja: textos que eu gostaria de ter escrito

Adeus Tia Chica, como diz o outro

Paulo Tiaraju*

O outro é um personagem misterioso e onipresente no inconsciente coletivo do brasileiro; ele é quase um cúmplice das pessoas.
O outro está sempre pronto a ser responsabilizado por qualquer opinião, frase ou mesmo palavras soltas, quando quem disse não quer assumir descaradamente o que está dizendo. Por exemplo, a mulher que sugere sua disponibilidade sexual e afetiva, mas não quer fazê-lo de modo direto, o que ela diz? "Estou leve, livre e solta, como diz o outro". O outro passa a ser co-responsável por esta declaração, não foi ela quem disse. O lobista mal intencionado e covarde, o que ele diz? "Quero levar a minha beira neste negócio, como diz o outro". Com esta simples transferência de responsabilidade, ele desagrava-se: foi o outro quem disse. O outro é o bode expiatório caso dê alguma zebra. No receio de a vaca ir para o brejo, apela-se para o outro. Quem não tem cão caça com gato, como diz o outro.
Outra personagem misteriosa das lendas urbanas brasileiras é a Tia Chica. Sempre que algo dá errado, ela parte, se manda. Não quer participar daquela comédia de erros. Faz as malas e vai embora. As pessoas sensatas que predisseram o malfadado erro, imediatamente antecipam o adeus para a Tia Chica: "... Eu avisei, não quis me ouvir, agora, adeus, Tia Chica". E não por coincidência, quando Tia Chica parte, simultaneamente a Inez morre e o leite derrama. Portanto, em casos mais greves utiliza-se todas as expressões: "Não quis me ouvir, agora, adeus, Tia Chica, Inez é morta, e não adianta chorar sobre o leite derramado".
Imagino a Tia Chica fazendo as malas e o corpo de Inez estirado no chão, em meio a uma poça de leite derramado. Um gato se aproxima para beber o leite e alguém atira um pau no gato, mas o gato não morre. Um pouco antes de bater a porta, Tia Chica admira-se do berro que o gato deu. Na cantiga popular ela é descrita como Dona Chica, mas sei de fonte confiável tratar-se da mesma pessoa, não duvido.
Contudo, as metáforas não são menos interessantes quando os brasileiros falam dos seus problemas. Para omitir a gravidade deles buscam inspiração em produtos horti-fruti-granjeiros. O pepino, óbviamente pela evidente alusão a sua forma fálica e o risco e o temor que isto representa, é amplamente utilizado. Por exemplo, meu prazo para escrever esta crônica começou a se esgotar, eu estava com um baita pepino. Depois me dei conta da diferença entre pepino e abacaxi. Escrever nunca é um abacaxi. Claro, há sempre o risco de, na falta de assunto, falar-se em abobrinhas. Neste caso eu precisava fazer deste limão uma limonada, sob pena de levar uma banana do editor. Sei não, com esta crise que anda rondando, muitos cronistas estão aceitando numa boa protestos em que as pessoas atiram ovos e tomates, desde que estejam frescos e prontos para o consumo – e, se a moda pega, solicitamos que atirem sapatos aos pares, e de preferência de número 42.

*Paulo Tiaraju
paulotiaraju@terra.com.br
Paulo Tiaraju é publicitário, diretor de Criação da agência Match Point, cronista e violeiro. Foi o primeiro criativo gaúcho a ganhar o prêmio Publicitário do Ano, concedido pela Associação Riograndense de Propaganda (ARP). O texto foi escrito para o portal Coletiva.net

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Inclusão sexual

Depois do "Bolsa Celular" agora só falta o Lula instituir o "Bolsa Tia Carmem"...

E então a briga começou...

Sexta-feira bate uma preguiça, por isso resolvi editar essa série de situações, que encontrei na internet. Quero crer que são baseadas em fatos reais:


1) Minha esposa sentou-se no sofá junto a mim enquanto eu passava pelos canais.

Ela perguntou, "O que tem na TV?
"Eu disse, "Poeira. "

E a briga começou...

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2) Minha esposa estava dando dicas sobre o que ela queria para seu aniversário que estava próximo.

Ela disse, "Quero algo brilhante que vá de 0 a 200 em cerca de 3 segundos. "

Eu comprei uma balança para ela.

E então a briga começou...

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3)Quando cheguei em casa ontem a noite, minha esposa exigiu que a levasse a algum lugar caro.

Então eu a levei ao posto de gasolina.

E então a briga começou...

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4)Minha esposa e eu estavamos sentados numa mesa na minha reunião de colegial, e eu fiquei olhando para uma moça bêbada que balançava seu drinque enquanto estava sozinha numa mesa próxima.

Minha esposa perguntou, "Você a conhece ?"

"Sim," disse eu, "Ela é minha antiga namorada...Eu sei que ela começou a beber logo depois que nos separamos há tantos anos, e pelo que sei ela nunca mais ficou sóbria."

"Meu Deus!", disse minha esposa, "quem pensaria que uma pessoa poderia ficar celebrando por tanto tempo?"

E então a briga começou...

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5) Depois de aposentar-me, fui até o INSS para poder receber meu benefício.
A mulher que me atendeu solicitou minha identidade para verificar minha idade.

Chequei meus bolsos e percebi que a tinha deixado em casa.
Disse à mulher que lamentava, mas teria que ir até minha casa e voltar depois.

A mulher disse, "Desabotoe sua camisa."

Então, desabotoei minha camisa deixando exposto meus cabelos crespos prateados.
Ela disse, "Este cabelo prateado no seu peito é prova suficiente para mim," e processou meu benefício.

Quando cheguei em casa, contei entusiasmado o que ocorrera para minha esposa.
Ela disse, "Por que você não abaixou as calças? Você poderia ter conseguido auxilio-invalidez também.... "

E então a briga começou...

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6)A mulher esta nua, olhando no espelho do quarto de dormir.
Ela não está feliz com o que vê e diz para o marido, "Sinto-me horrível; pareço velha, gorda e feia. Eu realmente preciso de um elogio seu. "

O marido retruca, "Sua visão está perto da perfeição. "

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7) Eu levei minha esposa ao restaurante.
O garçom, por algum motivo, anotou meu pedido primeiro.
"Eu vou querer churrasco mal-passado, por favor."

Ele disse, "Você não está preocupado com a vaca louca ?"

"Não, ela mesma pode fazer seu pedido."

E então a briga começou...

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O Circo de Petrópolis vai à Praia - final

*Recomenda-se ler a postagem anterior, em 18/11


O aguerrido exército brancaleone de Rondinha, em 1974, na Praia da Cal: da esquerda para a direita, acima, Roberto, Medina, este que vos fala, Piero, Mário e Beto; agachados: Sérgio Português, Dedé, Falcetta, Juquinha e Julinho Sarará. (Foto Arquivo Caldas Junior)

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Outra alternativa para as viagens era lotar uma Kombi, pilotada pelo Rebelde, com partida na noite de sexta-feira, utilizando a Capivari-Osório e depois a Inrterpraias e a beira da praia. Junto iam os instrumentos musiciais, aos cuidados do mestre Galego, porque onde estivesse a turma de Petrópolis estaria também a banda. A chegada daquele verdadeiro exército brancaleone à Rondinha era uma festa. As cervejas estavam nos esperando e às vezes era servido um carreteiro com muito arroz e pouca carne, seguidos das primeiras performances musicais.

Durante o dia o ponto de encontro era a lancheria do seu Lotufo, junto a Rodoviária, onde se podia comer um honesto sanduíche para contrapor às muitas cervejas. O Hotel Rondinha, que hospedava os veranistas do SESC, era freqüentado sempre na esperança de tentarmos uma integração maior com as comerciarias. Conheço gente que se deu bem na empreitada sesqueana. Na época, o fornecimento de energia elétrica era precário e só nos fins de semana a pequena usina que abastecia e região prolongava o abastecimento até mais tarde, permitindo os bailarecos na Saron ou o mexe-mexe na boate Biafra, outra invenção do Beto que adaptou uma peça da sociedade para atrair a gurizada da praia. Nos outros dias, ali pelas dez da noite, vinha o sinal com três piques na eletricidade anunciando que em seguida seria cortada a luz. Casais recém formados aguardavam com ansiedade o corte de luz para uma pegada mais firme, que ninguém era de ferro e a escuridão, um manto protetor. Gente,é incrível, mas nem faz tanto tempo assim.

As noitadas se prolongavam, não interessando se havia jogo na manhã seguinte. E assim o valoroso time de Rondinha ganhou conjunto, mas fora de campo, nas mesas de bar e nas rodas de samba, dando início a amizades que perduram até hoje. Isso porque o time foi formado a partir da reunião de um grupo de petropolitanos aos quais se agregaram os amigos dos amigos. O resultado dessa mescla até que era promissor em termos esportivos não fosse o fato de que todos compartilhavam o mesmo prazer pela cerveja e pelas noitadas. Realmente, neste sentido, era uma equipe homogênea.

Nossa chave era a Norte, enfrentando adversários fortes e tradicionais como Torres, formado pelo pessoal da terra que apelidamos de marisqueiros, Praia da Cal, time de caxienses com o Pauletti, craque do salão, Bom Jesus, que sempre apresentava boas equipes e Arroio do Sal, à época ainda distrito de Torres e que não era páreo para os demais. O time de Rondinha era esforçado, brigador e com alguns jogadores de boa técnica, mas na hora da bola rolar pesava o retrospecto das atividades fora de campo. Além disso, a areia fofa da beira da praia exigia mais, exaurindo logo os atletas tresnoitados. O resultado é que viramos saco de pancadaria da chave. A exceção era Arroio do Sal que nos salvava do vexame completo.

Na última temporada, precisávamos de pelo menos uma vitória e o jogo final seria contra Arroio do Sal, que já estava desmobilizado. Domingo de manhã cedo reunimos o pessoal, só Deus sabe em que condições, e nos tocamos para Arroio, cerca de dez quilômetros ao Sul, em busca de uma vitória redentora. Lá chegando, encontramos o adversário com apenas seis jogadores. A regra é clara, como diz o Arnaldo: time com menos de sete jogadores leva WO. E nós precisávamos fazer placar para tentar o milagre da classificação. O pessoal de Arroio do Sal que não tinha nada a perder, a não ser a dignidade, para dar quorum concordou em enxertar um ou dois jogadores recrutados na hora. O representante da Federação, que eu conhecia da redação da Folha, fez vistas grossas e o jogo saiu. Ainda assim penamos para fazer três gols e a memória me trai para saber se foi suficiente para passarmos à fase seguinte. Mas a vitória nos reanimou e ali mesmo em Arroio do Sal começaram as comemorações que se estenderam a Rondinha e tarde a dentro. Regadas a cerveja, é claro.

Todos os ventos do Litoral

Vento sul é céu azul
Vento norte não tem sorte
A lestada é chuvarada
Nordestão é viração
Se vai da terra é terral
Se vem do mar é maral
Todos os ventos me levam
Pras bandas do litoral”

Da música Todos os Ventos do Litoral, de Elton Saldanha e Ivan terra

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

O Circo de Petrópolis vai à Praia - parte 1

“Era tanta palhaçada que para virar circo só faltava a lona”.

O campeonato praiano de futebol era a sensação esportiva dos verões gaúchos, nas décadas de 60 e 70 do século passado. O torneio era organizado por uma tal de Federação Gaúcha de Esportes de Praia, mas na prática quem mandava mesmo era o Jair Cunha Filho, editor de esportes da Folha Esportiva e depois da Folha da Tarde, da velha Caldas Junior. Os jornais respaldavam e abriam amplos espaços para os jogos. Na organização, funcionava o Flávio França, um figuraço que era repórter da Folha e técnico de futebol de salão, e avesso ao banho. Naqueles tempos de poucos atrativos no nosso litoral, o Praiano era o grande acontecimento nas tardes de sábado e manhãs de domingo, mobilizando as sociedades de cada praia, veranistas e moradores.

Diferente do futebol de areia de hoje, o Praiano gaúcho era na base de 11 contra 11, com as regras do futebol de campo. Os árbitros vinham da Federação Gaúcha de Futebol, alguns aspirantes ao primeiro nível na época, como Carlos Martins, Rui Canedo, Valdir Louruz. O Praiano dava prestígio aos árbitros, além de uma experiência desafiadora de apitar jogos sem qualquer proteção da torcida, que ficava em cima da quadra de areia, separada apenas por uma corda, gritando e xingando. O detalhe é que a arbitragem sempre era “boa”, pelo menos na ficha técnica do jornal.

Havia rivalidades memoráveis, como a das duas representações de Cidreira, a Sociedade Amigos de Cidreira e a Cidreira Praia Clube, ou destes times contra a Sociedade Amigos de Tramandaí, a SAT, ou ainda da SAT contra Capão, de Capão contra Torres, Torres contra Praia da Cal. A proximidade, como se vê, alimentava a rivalidade. Em certas temporadas, praias menores formavam grandes equipes, recrutando ex-jogadores profissionais, e surpreendiam os balneários tradicionais. Lembro de ter visto os irmãos Cléo e Paulo Souza, do grande Grêmio da década de 60, disputando jogos pela Praia do Barco. O Marino, centroavante de chute forte que atuou na dupla Grenal, também foi visto marcando gols nas areias do litoral norte.

Fiz toda essa introdução para contar que no início da década de 70, o Beto D’Alascio decidiu formar um time em Rondinha Nova para disputar o Praiano. Esguio e habilidoso, o Beto atuava em várias posições, além de ser um empreendedor nato. A Sociedade Amigos de Rondinha Nova (Saron) respaldava com seu nome a iniciativa e só. O resto era por conta da determinação do Beto, dos recursos de cada um e das ajudas mútuas. A casa da família D’Alascio comandada pela dona Teresa em Rondinha, serviria de base para o time. Dona Teresa era mãe do Beto, do amigão Piero e do nosso técnico Luciano. A garagem foi transformada em concentração, agregando cinco ou seis atletas em camas improvisadas.

Em uma das temporadas daqueles anos dourados, o Beto inventou a Femarisco, a pomposa Festa Nacional do Marisco, que consistia num barracão a beira da praia onde as senhoras veranistas comercializavam quitutes à base daqueles bichinhos e de outros frutos do mar. E tinha gente que comprava! Beto levava a sério a rivalidade com a Rondinha Velha, situada dois ou três quilômetros acima e pretendia, com a Femarisco e mais o time praiano, elevar bem alto o nome do balneário, especialmente diante da já decadente rival. Como ambas eram praias de gringos, gente de Caxias, Canela, Bento e arredores, acredito que a rivalidade fosse decorrente da natureza própria da gringalhada. A verdade é que essas iniciativas movimentavam a pequena Rondinha, acolhedora, mas sem outros atrativos.

Chegar às praias do norte naqueles tempos pré-Freeway e sem a Estrada do Mar era uma aventura. A volta não era diferente. Até Capão da Canoa, pela estrada de Santo Antonio e BR 101, demorava, mas tudo bem. O problema era dali em diante. A Interpraias existia mais nos mapas do que na realidade. Por isso, a principal opção era seguir pela beira da praia, buscando os trajetos de areia mais firme, atolando e desatolando, ultrapassando arroios – e como tem arroios naquele pedaço! –, com cuidado para o carro não apagar. Quando isso acontecia era uma mão de obra secar o motor e empurrar o veículo para que pegasse no tranco. Consumia-se quatro ou cinco horas de viagem.

Recordo de uma vez que retornamos debaixo de mau tempo e para evitar os arroios transbordando, arriscamos num comboio de três carros os caminhos da Interpraias. Foi a pior viagem. Até chegarmos a BR 101, atolamos pelo menos meia dúzia de vezes. E a viagem iniciada às 6 da tarde, terminou em Porto Alegre por volta das 4 da manhã, ai incluído o tempo para umas geladas em Arroio do Sal. Depois dessa indiada, o Tadeu, meu irmão, que havia comprado seu primeiro carro, um fuquinha bem ajeitado, desistiu de colocar o veículo a serviço da equipe rondinense. A solução foi apelar para o ônibus pinga-pinga da empresa Santos Dumont, que saia sábado de madrugada completamente lotado. Viajávamos em pé, a maioria tresnoitada, e chegávamos estropiados em Rondinha, depois de o ônibus descarregar gente e apanhar mais gente, por todas as bibocas do caminho.

O que restava de bom dessas viagens era o lado folclórico. O Piero lembra um episódio ocorrido pouco antes do ônibus chegar a Rondinha. O coletivo e um carro com vidros abertos chegaram juntos ao arroio Caniço, acidente geográfico importantíssimo antes do balneário. Na passagem pelo arroio, o ônibus deu um banho geral no pessoal que estava no automóvel. Na chegada a rodoviária de Rondinha, o indignado motorista do carro foi tirar satisfações do motorista do ônibus e acabou brindado com uma frase desaforada:

- Não qué se molhá, manda asfartá a pralha.

Dito isso, entrou no ônibus e arrancou, deixando o outro motorista e família aparvalhados e sem ação.

(continua)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Sobre hienas e lobos

Cansa este negócio de escrever sobre coisas ditas sérias. Por isso, decidi voltar às futilidades, para fazer um importante alerta: cuidado, muito cuidado, atrás de um lobo sempre vem uma hiena. A advertência nem é minha, mas do meu bom amigo LFA depois de ler a crônica Lobos em Ação, que cometi no ano passado e Coletiva.net se atreveu a publicar. Tenho boas razões para suspeitar que o próprio LFA seja um lobo disfarçado, daqueles que atacam em eventos musicais. Convém lembrar que os lobos são aquelas criaturas que, na busca de suas conquistas amorosas, atuam em locais e horários diferenciados, cercando suas presas com sutileza e determinação. Distinguem-se dos comuns mortais pelo gosto ao inusitado, pelo enfrentamento das adversidades, pela ousadia na ação e pela técnica refinada na abordagem. O maior risco que as mulheres correm com essa espécie é de terem suas expectativas atendidas, porque o verdadeiro lobo valoriza suas conquistas e quer fazê-las felizes.

Já as hienas são lobos fracassados. Elas bem que gostariam de ascender a condição maior, mas lhes falta finesse e, porque são hienas, ficam com as sobras. Alguns, de tanto viverem à sombra e no rastro dos lobos, acabam aprendendo e ocasionalmente podem se transformar em lobos juniores, mas jamais chegam a seniors e muito menos a masters.

A diferença entre as duas espécies não está na condição social ou em qualquer outro tipo de segmentação, mas na atitude. O lobo prima pela finura, a hiena é sinistra; o lobo é pacencioso, a hiena é afoita; o lobo é seletivo, a hiena está aí para o que der e vier. Mas não é justo afirmar que a hiena só tem defeitos. É ainda o LFA quem observa que, embora cheguem depois, nem por isso as hienas têm uma tática menos ofensiva e letal. Podem parecer desengonçadas, mas são resistentes, capazes de perseguir suas presas por muito tempo sem esmorecer.

É o caso da Hiena Eleitoral que só participa de caminhadas de partidos nanicos, mas suporta carregar bandeiras com mastros enormes sem jamais perder o alvo de vista. SCA. analista de sistemas, se encaixa neste perfil. A preferência pelos partidos menores e mais radicais se explica: ele entende que grupos reduzidos já estabelecem uma seleção natural para escolher a presa que vai ser atacada e acredita, ainda, que o radicalismo das moças pode se transformar em intensidade na hora do vamos ver.

VJB., que se apresenta como bacharel em direito, mas na verdade atua como despachante, é outra hiena típica. Ele até freqüenta as baladas mais descoladas, mas é traído pelo medalhão no peito, pelo vistoso anel de formatura, pelas cantadas sem rodeios e o resultado final é zero. Por isso, a esticada é nos festerês mais populares, onde é conhecido como a Hiena dos Bailões. Entre músicas do Sidnei Magal, Wando, pagodeiros românticos e vanerões modernosos, ele se sente em casa. Aí ataca com fúria. È dois pra lá, dois pra cá e ele já começa a percorrer a anatomia da vítima. Quando sente reciprocidade, vai direto ao ponto:

- Tá na hora da gente partir.

A Hiena dos Bailões garante que a cada duas dessas abordagens uma pelo menos funciona, o que determina que ele trabalhe em dobro para não terminar a noite invicto.

A hiena tem uma linguagem toda própria para se relacionar com suas vítimas, que podem ser honradas com expressões tipo “minha Deusa”, “Gatosa” , “minha Ídala” e outras meiguices do gênero. PNS., corretor imobiliário, prefere usar “minha Diva”, certo de que esse tratamento confere algum requinte as suas investidas. Ele é conhecido como “Hiena Bus Stop” porque seu habitat são as paradas de ônibus na região central, onde atua no final da tarde, à espera das moças que terminam seus turnos nas repartições públicas, bancos e comércio em geral. O elenco é numeroso e ele tem o cuidado de rejeitar as universitárias que se dirigem aos cursos noturnos porque sabe que vai ter poucas chances se a moça tiver que escolher entre o aprendizado e uma hienada. A hiena é hiena, mas não pra boba não serve.

A existência de lobos e hienas, cada um com seu estilo e forma de atuação, mostra como a natureza é sábia. Há espaço para todas as espécies, a convivência pode ser harmoniosa e uma complementa o trabalho da outra, de forma a contentar vítimas de todos os perfis.

*Publicado originalmente em Coletiva.net

sábado, 14 de novembro de 2009

Porto da Cultura

Na sexta-feira retrasada precisando fazer hora para um compromisso profissional (sim, eu trabalhei no Dia do Servidor Público) decidi visitar a Usina do Gasômetro. E deparei com duas mostras da melhor qualidade e aparentemente sem qualquer relação entre si. Logo na entrada estão os painéis da exposição Os Gaúchos nas Copas, resultado de um minucioso trabalho de pesquisa do Cláudio Diensteman, a serviço da Secretaria Extraordinária da Copa de Porto Alegre. Adiante, ainda no andar térreo, outra preciosidade para a nossa sensibilidade: Tempestade, uma coletânea de vídeos relacionando o tempo, as mudanças climáticas e as intervenções do homem , nem sempre benéficas, em ambientes naturais adversos. Tempestade tem a grife do mago Marcello Dantas como coordenador, ele que é responsável pela concepção e execução do estande de Porto Alegre na ExpoShangai 2010.

Mas que me chamou a atenção mesmo foi a presença maciça de jovens, aquele gurizada de colégio com suas câmeras fotográficas, na mostra Tempestade. E eu que achava que a exposição das Copas, em função do apelo que o esporte sempre exerce sobre as novas gerações, é que deveria atrair os estudantes. Mas não, a saudável algazarra estava concentrada mais adiante, talvez porque Tempestade, pelo formato da mostra com vídeos impactantes, tenha um apelo muito mais forte do que os painéis da Copa, bonitos, bem ordenados, mas estáticos. O inquieto Caco Coelho, diretor da Usina, diria que é a virtualidade que atrai a garotada.

Agora como explicar que, a caminho da Usina, tenha deparado com outras levas de crianças e jovens visitando a nem sempre compreensível Bienal do Mercosul, ali no Cais do Porto? Existe um projeto pedagógico, eu sei, inclusive com transporte gratuito para escolas. Mas isso por si só não explica esse interesse crescente das novas gerações pelas manifestações culturais de todos os tipos, que se replicou com força na Feira do Livro que está terminando.

Não consigo todas as respostas, mas suspeito que Porto Alegre tenha assumido a maturidade na oferta de cultura para todos os gostos e todos os segmentos. Ali mesmo naquele eixo central da cidade movimentam-se levas e levas de pessoas na Feira do Livro, na Bienal do Cais e nas suas extensões do Margs e do Santander Cultural e ainda há público para os eventos da Usina, da Casa de Cultura Mário Quintana, do Centro Cultural CEEE, do Memorial do Rio Grande do Sul e das pinacotecas que funcionam no Paço municipal. E daqui a pouco surge, junto a Câmara de Vereadores, o novo Teatro da Ospa e mais o Centro Cultural da CEF na Praça da Alfândega. Ou seja, um verdadeiro corredor cultural, colocando em evidência as artes plásticas, o teatro, o cinema, a música, a literatura, a preservação do patrimônio e a memória.

Temos grandes eventos que movimentam a cidade o ano inteiro: as 24 horas de Cultura, dentro da Semana de Porto Alegre, o Festival de Inverno, o Porto Alegre em Cena, a já citada Feira do Livro, o Porto Verão Alegre, a permanente Usina das Artes, o instigante Fronteiras do Pensamento, a cada dois anos a Bienal do Mercosul e a Bienal B, e, ainda, o Carnaval e a Semana Farroupilha por outro viés, mas com os pés fincados na cultura. Isso sem falar nas centenas de outros acontecimentos de todos os portes e de todas as artes, promoções estatais ou privadas. Além disso, Porto Alegre já faz parte do circuito nacional dos grandes espetáculos e não têm faltado atrações internacionais aportando por aqui, graças à qualificação do público e dos equipamentos oferecidos.

Assim é inevitável que essa livre fruição cultural chegue às crianças e jovens, participantes ativos do processo que vai resultar na natural renovação do público. Claro que o incentivo das escolas, dos pais e os esforços do poder público e dos promotores da cultura exercem papel fundamental no processo. Sem a pretensão de esgotar a questão ou produzir um ensaio além da minha capacidade, acredito que a cultura pode ser a grande vitrine de Porto Alegre para a Copa 2014, de modo a nos diferenciar das outras cidades sedes, certamente mais atraentes em termos turísticos e em outros quesitos. Porto da Cultura, essa deve ser a nossa bandeira.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Lobos em Ação - final

Recomenda-se ler a primeira parte, publicada dia 12

Mais intelectualizado, V, professor universitário, investe fortemente na área de cursos, seminários e palestras, desde que os temas tratados possam atrair vítimas potenciais. É capaz de sacrificar o fim de semana em cursos de extensão só para alargar o horizonte de seus conhecimentos e seu currículo com o conquistador. No primeiro dia de aula escolhe a vítima e no último ela está dominada. E não tem qualquer restrição às temáticas de auto-ajuda. Raciocina, com boa lógica, que as mulheres interessadas neste assunto estão carentes de apoio, de um ombro amigo e ali está ele para suprir essa necessidade.

Curso do Lair Ribeiro, seminário com Roberto Shinyashiki, palestra do professor Marins, contam sempre com a presença do nosso amigo. Durante a exposição do palestrante, ele mostra grande interesse, anota frases e conceitos que considera importantes e serão seus argumentos depois, enquanto seus olhos, não de lobo, mas de águia, varrem o ambiente a procura das suas vítimas. Não demora muito e encontra a mulher ideal: é aquela desacompanhada que mantém os olhos vidrados no conferencista e aprova, com leves maneios de cabeça, tudo o que é dito. Uma mulher receptiva. No final, dá um jeito de encontrar a mulher visada e, com a maior naturalidade, propõe a conversa:

- Que conteúdos! Que clareza! Não achastes? Eu gostaria tanto de aprofundar essas idéias com outras pessoas...

Daí em diante o ritual não varia: trocam cartões e telefonemas, compartilham cafés no fim da tarde e jantares noite adentro, e logo estão compartilhando também a mesma cama, embora ele faça questão de dizer que o sexo é apenas uma etapa para chegarem a um entendimento superior sobre a condição humana nestes conturbados tempos pós-modernos.

O “Lobo Eleitoral”, J, é um capítulo à parte. Sempre atento ao calendário eleitoral, ele entra em êxtase neste período e se torna freqüentador assíduo de passeatas, bandeiraços, comícios, inaugurações de comitês, enfim, de qualquer ato público que possa reunir militantes femininas. É metódico e trata desde cedo de armazenar bandeiras, adesivos, bandanas, bottons de todas as candidaturas, até porque seu lema é “respeito à pluralidade ideológica e prazer para todas”. O “Lobo Eleitoral” tem uma preferência toda especial pelos comícios, o que tem sua lógica. O espaço é delimitado, é mais fácil cercar as futuras presas e o tom dos discursos, carregado de emocionalismo, é o mote que ele usa para a primeira investida. Funciona assim: ele chega cedo ao local, agitando a bandeira da candidatura e se posiciona onde constata a maior concentração feminina. Durante o comício, canta animadamente todos os jingles e é o primeiro a puxar o coro compassado com o nome do candidato. Aquela animação toda contagia as circunstantes e logo ele está interagindo com a militância.

- Sabe, guria, me emocionei com o discurso do nosso candidato. Presta atenção no que eu vou te dizer: assim não tem prá ninguém.

Não há como resistir a tanta devoção, tanto ardor cívico, tanto comprometimento com a causa, tanta certeza na vitória, e logo ele passa para a etapa seguinte:

- Puxa, acho que essa demonstração de cidadania merece uma comemoração. Vamos tomar uma cerveja ali no Mercado?

Depois, é só questão de incrementar a conversa, oscilando à direita e à esquerda, dependendo do matiz ideológico da vítima, ora ressaltando as virtudes do neoliberalismo, ora espinafrando o capitalismo selvagem, ora insinuando ligações com o pessoal da luta armada, ora condenando os “baderneiros dos movimentos sociais”. Por fim, o arremate:

- Na verdade, sou mesmo um liberal, no sentido da liberdade das pessoas, entende? Liberdade para tudo, compreende? Tenho o maior respeito por essa questão da liberalidade, da liberdade, as pessoas poderem fazer sexo com quem quiser, entende? A propósito, conheço um lugar...

O ato cívico-sexual vai se dar no seu apartamento, previamente ornamentado com motivos da coligação que está prestigiando na ocasião. Esse lobo nunca perdeu uma disputa eleitoral.

Especialistas que estudam o comportamento da espécie anotam a existência de outros tipos bizarros, alguns inclusive com slogans marketeiros. Exemplo é o “Lobo da Carris”, que atua nas alongadas linhas T e que garante: “Comigo não tem viagem perdida”. Registra-se ainda o “Lobo dos Estádios” (“antes do apito final, uma grande conquista”, vangloria-se), que não perde jogo nem no Passo da Areia e tem predileção pelas moças das torcidas organizadas; o “Lobo Bancário”, que ataca nas filas dos caixas e promete “crédito amoroso sem limites para todas”, o “Lobo das Manifestações”, uma variação do “Lobo Eleitoral”, auto-intitulado “Ativista do Amor” e que não renega nem caminhada do MST. Por fim, o mais bizarro de todos, o “Lobo de Velórios”, que se anuncia às enlutadas como ‘um conforto no momento da dor”. É muita cara de pau. Acreditem, eles existem e estão por toda a parte.

*Publicado originalmente em Coletiva.net

A propósito...

"Quem anda com lobos, a uivar aprende."
Provérbio espanhol

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Lobos em Ação

Lobos nunca dormem. Suas vítimas indefesas podem ser atacadas a toda hora e em qualquer lugar e são poucas as que resistem às investidas. Deixemos de lado os lobos que atacam nas academias e nas baladas, locais que favorecem a interação entre as espécies. Esses são lobos manjados, indolentes, indisponíveis para novos desafios. Lobo que se preze, lobo mal intencionado mesmo, ataca em lugares e horários inusitados, cercando progressivamente suas vítimas, quase sempre travestido de cordeiro, até dar o golpe final.

C. advogado, bem de vida e de casamento, é um exemplo. Todas as quartas-feiras ele assume sua porção lobo e sai à caça nos supermercados. Ele varia de estabelecimento para não dar na vista, mas o perfil das suas vítimas não se altera muito: mulheres maduronas, de boa aparência e sem aliança nos dedos – ou seja, solteiras ou descasadas. A estratégia para a abordagem também não varia muito. Assim que escolhe a presa, aproxima-se e pergunta, com o semblante mais inocente do mundo:

- Sabes onde eu posso encontrar sabão em pó?

Pode ser detergente para louça, água sanitária, amaciante de roupa, mas sempre um produto que passe a idéia de um homem afeito às lidas domésticas, vivendo sozinho e atrapalhado com esse universo. As mulheres dificilmente resistem ao perfil de homem maduro numa fase de carência, que é o personagem que, afinal, nosso amigo encarna.

Dependendo da ocasião, nosso causídico muda de tática. Ele é fascinado, por exemplo, por mulheres que consomem produtos orgânicos. Por isso, fica na espreita próximo à gôndola desses produtos, esperando uma vítima. Assim que surge alguma que se encaixa no perfil pré-definido, parte para a abordagem:

- Com licença, tu sabias que na Europa já predominam os produtos orgânicos?

E emenda um ecopapo capaz de fazer inveja aos ecochatos, mas, diferentemente destes, sua conversa é vivaz e convincente, discorrendo sobre o aquecimento global, a diferença entre light e diet, os efeitos perversos dos agrotóxicos na produção de alimentos – e firma posição contra os trangênicos. “O que será das futuras gerações? O que será dos nossos filhos?”, costuma exaltar-se, acentuando o nossos, o que já é uma insinuação. As mulheres ficam maravilhadas com tamanha erudição ecológica que, a bem da verdade, exige tempo de pesquisa, um investimento que ele considera que vale a pena para os fins a que se propõe.

A primeira abordagem não é problema, mas o segredo está no segundo momento, aquele que encarreira a conquista. E nesse aspecto nosso amigo é imbatível. A tática dele consiste em prolongar a conversa e em seguida fazer um convite:

- Conheço uma loja de produtos naturais que tu vais amar. Podemos dar uma escapada lá, se quiseres.

Da loja ao convite para um jantar especial na casa da moça, com pratos natureba, é um passo e aí a história segue seu curso natural. Missão cumprida!

S, economista, ataca em outro cenário. Conhecido como “Lobo de Livraria”, é entre best sellers e um bom sebo que ele fareja suas futuras presas. Escolhe sempre as que usam óculos, porque entende que o adereço lhes dá um ar de intelectual, mas faz também uma pré-seleção pelo gênero de obra que interessa à moça. Se elas estiverem folheando livros de Martha Medeiros ou Lya Luft, ele trata de se aproximar com a mesma obra na mão e lança a isca:

- Já leste Trem Bala? Achei fantástico!

- Já leste O Silêncio dos Amantes? A Lya Luft se superou!

Em seguida a conversa deriva para os temas recorrentes nas duas autoras: as angústias e anseios da mulher moderna, suas frustrações, o amor, o desamor e a paixão, perdas e danos – enfim, tudo o que passe a idéia de um homem sensível e conhecedor da alma feminina. Para reforçar seus argumentos, assiste ao Saia Justa e se diz fã da Márcia Tiburi, embora secretamente tenha uma queda pelo estilo mais maternal da Mônica Waldvogel. A conversa é irresistível. Não foram poucas as ocasiões em que a troca de impressões se completou na cama, após o embate amoroso.

Quando a vítima se mostra interessada em livros do David Coimbra, nosso amigo não tem a mesma fineza, pois considera que as leitoras do cronista são “mais saidinhas”. Aí vai direto ao ponto:

- Conheço o David e tô louco para contar para ele uma história picante sobre tu e eu...Topas?

Ele jura que a abordagem funciona. Não perde tempo, porém, com mulheres que compram livros de Paulo Coelho, pois acha que terá conversas muito aborrecidas. Mas em relação a Dan Brown reconhece o mérito desse escritor, não como valor literário, mas como argumento para suas investidas.

- Já lestes Anjos e Demônios? Recomendo: é melhor do que O Código Da Vinci.

(continua)

A propósito...

"Não subestime os outros, nem os idolatre demais. Seja educada, mas não certinha. Não minta, nem conte toda a verdade. Dance sozinha quando ninguém estiver olhando. Divirta-se enquanto seu lobo não vem."

Atribuído a Martha Medeiros