sábado, 29 de agosto de 2015

Tenho visto e ouvido coisas

Os principais portais da Internet reservam espaços para  matérias nada a ver sobre celebridades, tipo “Bruna Lombardi dá receita para se manter bela aos 63 anos”,  ou  então de ocorrências  sexuais extraordinárias,  capazes envergonhar garotas de programa.  Exemplo típico do segundo caso foi publicado UOL, bem recentemente, sob o título "Relatos da bela senhora: 32 amantes, um para cada ano com marido infiel". 

O lide da matéria é precioso e sei de amigos que tremeram nas bases já no primeiro parágrafo:  “Do que é capaz uma mulher traída? A resposta de Isabel Dias está nas 208 páginas de 32 – Um homem para cada ano que passei com você. Depois de 50 anos e de um casamento de mais de três décadas, a autora se divorciou e começou a escrever uma história a partir das experiências sexuais e afetivas nas quais mergulhou após descobrir ter sido traída pelo marido com quem imaginou uma velhice tranquila na casa de praia”.

Seguem-se relatos de como a senhora montou a operação que denominou “Chega da Bandalheira”  e detalhes de cada um dos parceiros e dos momentos prazerosos vividos com eles que, segundo ela, superariam os 32 elencados.  “Sai da zona de conforto e entrei na zona”, brinca.

“Pouca vergonha”, foi o mínimo que ouvi de alguns contumazes e cínicos puladores de cerca. Em defesa alegam que nenhum deles teve tantas amantes  que justificassem uma vindita tão rigorosa. É bem verdade que a maioria reconheceu que a vingadora só passou a oferecer-se em larga escala depois da separação. “Tecnicamente não seria uma corneada”, consolou-se um deles. Da mesa ao lado, ouvi manifestações femininas, todas de apoio à revanchista. A surpresa veio de uma reconhecida liderança municipal de nossas relações, senhora de conduta inatacável, que se saiu com essa:

- Eu fora! Imagina a trabalheira administrar essa montoeira de relacionamentos. Um só já incomoda...

Há controvérsias a respeito. O que me foi dado a ouvir da mesa do outro ao lado, de predominância masculina, pode ser resumida numa frase: quem desdenha quer comprar. Pior ouvi na sequencia:  "Desdenha porque ninguém vai querer pegar..."


Como a disputa começou a engrossar foi a minha vez de me manifestar: Eu fora! (Mas, cá entre nós: se a moda pega, quem acaba se beneficiando com tanta oferta das vingadoras será o naipe masculino.)

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Os lobos da mesa ao lado

“Lobos nunca dormem”, sentenciou na mesa ao lado um parceiro das antigas. Era uma provocação e uma lembrança que remete a uma crônica cometida anos atrás aqui neste descaminho do ViaDutra. O texto fazia uma analogia entre os canídeos e aqueles humanos masculinos que, na busca de suas conquistas amorosas, atuam em locais e horários diferenciados, cercando suas presas com sutileza e determinação. Distinguem-se dos comuns mortais pelo gosto ao inusitado, pelo enfrentamento das adversidades, pela ousadia na ação e pela técnica refinada na abordagem. O maior risco que as mulheres correm com essa espécie é de terem suas expectativas atendidas, porque o verdadeiro lobo valoriza suas conquistas e quer fazê-las felizes. 

Conhecedor do histórico,  o parceiro da mesa ao lado achegou-se a nós e passou a enriquecer a galeria de lobos com novos tipos que jura existirem, até porque a categoria, assim como os costumes, está sempre se renovando.

Revelou, por exemplo, que está na moda o Lobo Sertanejo que ataca nos shows das duplas e cantores do gênero na certeza de que encontrará uma infinidade de fãs receptivas às más  intenções – ou seriam boas?.  Pode ser a mais melosa das duplas ou o mais brega dos cantores lá está nosso amigo, sabendo de cor a maioria das canções (“preparação é a chave do sucesso”, explica)  e movimentando os bracinhos levantados na hora do “ todo o mundo cantando comigo agora”.  Vale até show de padre sertanejo, que é o que não falta no cenário musical da atualidade. “Como o padre não pode 'pegar' as moças, sobra mais para o pessoal laico”, esclarece didaticamente.  O bote nem requer muito esforço porque a plateia feminina está no clima das musicas e com um pouco de habilidade e um repertorio de informações sobre os cantores e sua obra aí fica mais fácil ainda. Os habitués destas abordagens ensinam que, às vezes, funciona elogiar um artista que se contraponha ao que esta se apresentando. “O contraditório aproxima e sempre rende uma boa conversa  que vai se estendendo até chegar aos finalmente, com direito a bis...”, conclui o falso caipira,  que se apresenta como “um romântico universitário e sertanejo” e é facilmente reconhecido nos shows por dois detalhes: o figurino,  de jeans apertados, camisas xadrez e  chapéu de cowboy, e a proximidade das belas e bem produzidas fãs de quem se apresenta no palco.

As revelações rendem e o companheiro velho de guerra já está falando de outro personagem, o Lobo das Redes,  também conhecido como Lobo Digital, que ataca preferencialmente no Facebook, Segundo ele,  essa rede apresenta uma cartela de perfis femininos variados e instigantes, ao mesmo tempo em que  despreza a  Tinder porque entende  que proporciona muitas facilidades e é da natureza dos lobos enfrentar uma dose de desafios. No caso do Lobo das Redes a estratégia é sempre começar curtindo as postagens da presa escolhida. A etapa seguinte é fazer comentários frequentes e  de preferência espirituosos.  Depois de fincar  bandeira na timeline da futura parceira ele faz uma chamada inbox, a propósito de algum tema levantado por ela na rede.  Se a outra parte corresponder e mantiver a conversação  por mais de cinco diálogos o Lobo despe a pele de cordeiro e parte para o ataque. Um ataque matreiro,  com questionamentos aparentemente inofensivos, tipo hábitos após o trabalho,  indicações de onde encontrar um bom sushi, preferencias musicais, gastronômicas e etílicas. Conversas sobre cães e gatos sempre funcionam. Um bom estoque de frases de Caio Fernando Abreu, Arnaldo Jabor, Cora Coralina, Clarice Lispector, mesmo que de autoria duvidosa, também ajudam. Daí para o convite para aquele encontro é só questão de tempo e aí a vida seguirá seu curso.  Mas nosso amigo faz um alerta: nestes tempos de radicalismo é vital saber se a moça é simpática aos petralhas ou aos coxinhas.  São raros os casos de convivência pacifica entre as duas espécies, e um obstáculo para que esse esperto lobo torne realidade seu slogam:  "Meu negócio é curtição!"


O narrador já ia emendar mais um perfil, o do sujeito que decidiu investir nos shows de musica gospel, acreditando firmemente que o recato das crentes pode esconder uma energia erótica a ser explorada e compartilhada, mas aí já outra história.

domingo, 16 de agosto de 2015

A Loira, o Tatuado e a salada de frutas

Cada história que me contam!  Dia desses, sorvendo um expresso com pão de queijo na Galeria Chaves, um médico que é quase um familiar relatou-me a divertida relação com sua assistente. Não é o que vocês estão pensando.  Tanto o médico como a moça são gente séria.  Sucede que ela ganhou o apelido de Loura e faz jus se levarmos em consideração que  tal perfil ficou estigmatizado e passou a ser sinônimo de mulher despossuída intelectualmente – burrinha, no popular.  E isso ficou mais evidenciado ainda em recente almoço que tiveram no centro. A moça ficou faceiríssima com as sobremesas que estavam a disposição no restaurante.

- Arroz de leite e creme de abacate, que coisa boa! Minhas sobremesas preferidas.

E de imediato serviu-se do creme de abacate cobrindo-o com a outra sobremesa, o que já é um procedimento  um tanto bizarro, para dizer o mínimo. Mas já nas primeiras colheradas fez cara feia e chamou o garçom para reclamar.

- Moço,   este arroz de leite não tá bom,  tá com um gosto estranho.

- Senhora, isso não é arroz de leite, é canjica!

Além de despossuída intelectualmente, a assistente revelava-se despossuída de paladar e de noção.  Pelo menos teve autocrítica.

- Agora entendo porque me chamam de Loira.

Outra história me foi repassada pelo Gunther, que volta e meia transita por este espaço.  O relato,  entretanto, nada tem a ver com suas conquistas amorosas.  Dileto amigo do Gunther estava desempregado e acabou contratado, graças aos esforços do parceiro, numa assessoria do imortal Grêmio.  Ocorre que o tal amigo era colorado fanático e  tinha tatuado  nas costas e nos braços dois ou três distintivos do clube, além de um Saci de touca vermelha e cachimbo fumegante.

O amigo conseguia esconder esse outdoor dos vermelhos sob a roupa e mantinha um comportamento discreto quanto a sua preferencia esportiva.  Isso até a pré-temporada do clube na Serra, em pleno o verão. Num daqueles dias calorentos, todas na delegação  decidiram desfrutar da piscina do hotel  após o treinamento.

Nosso amigo hesitou, mas acabou se jogando na piscina, tendo o cuidado de ficar permanentemente coberto pela água e com as costas e membros tatuados encobertos pela borda da piscina.  A atitude, entretanto,  levantou suspeitas de um dirigente do clube:

- Por que tá te escondendo ai nos cantos da piscina. Levanta que eu quero ver o que tu tá escondendo.

Foi quando se deu  o encerramento de uma promissora carreira de assessor clubístico, o que provocou uma queixa do moço excluído pelo cartola.

- Esse pessoal do Grêmio não tem espírito esportivo.

Já o Gunther, como sabemos, vive metido em aventuras mais prazerosas que mereceriam um livro de crônicas só para ele. Solteirão convicto, com situação financeira estável, boa formação intelectual e diríamos que é um rapagão ainda, embora não cozinhe na primeira fervura, o Gunther acabou envolvido com uma parceira já cinquentona, mas muito competitiva no mercado dos relacionamentos. Competitiva e criativa, acrescentaria ele mais tarde, contando que antes de rumarem à casa dela a senhora passou numa fruteira e providenciou uma cesta básica de frutas – mamões, melões,  morangos, pêssegos, maças e bananas.

Gunther imaginou que as frutas serviriam para uma salada após a transa e ai mesmo é que  se quedou apaixonado pela parceira “tão dedicada a agradar seu companheiro”,  observou ele.

Mas os produtos tinham  outra destinação e tão logo ficaram a vontade ela o fez deitar  de decúbito dorsal  e o cobriu de alto a baixo com as frutas.

- Eu estava virado num pomar, que foi sendo consumido lentamente..., relembrou , com um suspiro profundo  do tipo “foi muito bom”.

De fato, era uma salada de frutas só que de características bem  peculiares e saboreada não como sobremesa, mas como aperitivo.  O entusiasmo da dupla  durante o ato só arrefeceu quando a senhora sugeriu uma utilização menos nobre para a banana, o que ele repeliu com determinação.

- Ainda mais que era uma banana caturra, foi a justificativa para não ser tão indelicado diante da proposta mais ousada.

Mesmo assim o relacionamento deixou boas lembranças e o casal já esta planejando novo festerê, dessa vez com  outros produtos agrícolas, um encontro que apelidaram de “ a horta dos prazeres”.

- Mas já avisei que é sem cenoura,  concluiu o prudente Gunther.


quarta-feira, 12 de agosto de 2015

15 minutos de fama


                                          O bom pe. Atilio no Chalé

O lançamento do livro Crônicas  da Mesa ao Lado me proporcionou os 15 minutos de fama a que tenho direito, como previa Andy Warhol. Talvez um pouquinho mais do que os 15 minutos. Foram três programas de TV, um de rádio, notas nos jornais e uma infinidade de postagens nas redes sociais dos amigos. Quem tem amigo não  fica inédito. 

Não é verdade, porém, que os estúdios Disney tenham comprado os direitos da obra para uma versão cinematográfica, estrelada pelo Linei Zago e dirigida pelo Steve Spielberg. Isso é intriga do Márcio Pinheiro que está precisando de publicidade para vender seu livro Este Tal de Borghettinho.  Sobre um telefonema do Boninho para participar do BBB 16 prefiro não comentar...

O melhor de tudo foi rever os amigos do passado, como o Léo Ustarroz,  dono do mimeógrafo onde rodávamos o Na Onda,  e outros com os quais estava apartado há tempos, como o Marco Antônio Baggio, dos bons tempos da Rádio Gaúcha, que apareceu junto com o Cláudio Moretto e a Lucia. O distanciamento não vale para o Piero e a Terezinha D’Álascio que tenho encontrado com frequência e foram dos primeiros a prestigiar o evento.  O Piero é irmão do Luciano, um dos suspeitos- uso “suspeitos”  para ser politicamente correto -, de ter sequestrado o bonde Petrópolis, história  contada na página 67.  Mas talvez tudo não passe de lenda urbana.

Claro que fiquei faceiríssimo  com a presença parceiros da Confraria 1523 e da Confraria do Cachorro Quente e um ou outro desgarrado da Confraria da Caveira Preta,  que está presente no livro pelo prefácio do David Coimbra. Ainda conto as historias da Caveira Preta. E a parentada estava toda lá, com destaque para a Maria Clara que até autógrafo deu, embora ainda não esteja alfabetizada.  Línguas maldosas dizem que, mesmo assim, os escritos da neta são mais legíveis do que os do vô.  Várias caldáveis de primeiro escalão estiveram presentes mas não vou citar nomes porque isso dá uma ciumeira!

Mas o que me deixou surpreso foi a presença do padre Atílio Hartmann, que conheci quando eu produzia um programa para a Cáritas Brasilieira na Rádio Difusora, hoje Band, e ele a missa dominical no Canal 10 – na época  as emissoras pertenciam a Ordem dos Capuchinhos. Aprendi muito de TV com ele e ficamos sem contato por mais de 30 anos, até a noite do lançamento do livro no Chalé da Praça 15.

Após os abraços fraternos, o generoso sacerdote colocou a Livraria Padre Reis que ele administra (fica ali na Duque de Caxias) à disposição para a venda do Crônicas, estabelecendo-se então o seguinte diálogo.

- Mas padre,  acho bom o senhor ler e avaliar antes o conteúdo do livro, especialmente a primeira parte.

Para quem ainda não sabe, a primeira parte contem as crônicas que dão titulo ao livro e, para dizer o mínimo, são as mais picantes, ou seja, inapropriados para uma livraria especializada em obras religiosas. O padre voltou a carga, porém.

- Olha, o Francisco, que é jesuíta como eu,  está provocando muitas mudanças, são novos tempos para a Igreja, tempos mais flexíveis... (O Francisco vem a ser o Papa).

- Vamos fazer o seguinte: o senhor lê as crônicas e se achar que o livro  pode ser comercializado na livraria me avisa que deixo  lá.

Até agora estou esperando o novo contado do bom padre Atílio. Acho que ele já leu as crônicas...


Mesmo assim,  Crônicas da Mesa ao Lado pode ser encontrado em duas livrarias do Centro Histórico: na Nova Roma, na General Câmara,394 e na Karolle, no Santander Cultural, ao lado do restaurante Moeda.  Encontrável ainda na Karolle da José Bonifácio, 95, na Bamboletras, no Shopping Nova Olaria, na Palavraria, Vasco da Gama, 165 e na Banca da República, quase esquina de João Pessoa. Breve também na Livraria Cultura do Bourbon Country. Pedidos pelo Correio para fladutra@uol.com.br.   Na Feira do Livro sessão de autógrafos já agendada para o dia 6 de novembro, um sexta-feira, as 17 horas.

sábado, 8 de agosto de 2015

O ópio do povo

* Publicada originalmente em Zero Hora, em 08/08/2015, páginas 34/35 

Motivação pode ganhar jogo, mas não ganha campeonato. Campeonato se ganha com time, grupo e estratégia.  Vem aí o Gre-Nal e,  mais do que nunca, a combinação dos três fatores é que vai ser decisiva para determinar o vitorioso, embora no clássico gaúcho a motivação tenha enorme peso  –  para os dois lados.

Time por time,  os dois tem  lá suas limitações, mas  o Grêmio parece mais ajustado e a posição na  tabela está aí para comprovar. O elenco do Inter oferece mais opções, embora os desfalques previstos de Aránguiz e, talvez, de  Geferson.  Mais opções significam mais possibilidades de decidir o jogo com alguma peça de reposição.  Já o tricolor, ainda  vai ter que apostar em Edinho para suprir a importante ausência de Wallace. Em compensação,  terá a volta de Grohe, antes que Tiago leve os gremistas à loucura com suas bisonhices nas saídas de gol.

Vamos então para a estratégia, o esquema de jogo, as artimanhas que poderão surpreender,  a jogada ensaiada e treinada secretamente, mistérios de escalação para  deixar   o adversário desnorteado,   enfim, a hora da verdade,  o jogo jogado, a bola rolando. O Diego Aguirre era mais experiente que o Roger, mas errou tanto que acabou demitido, colocando o jovem e estudioso técnico gremista em ligeira vantagem diante de um interino. Nesse caso, a estratégia da direção colorada é arriscadíssima em semana de clássico  e fica a duvida sobre como reagirá o time sem um treinador  na casamata. Mas vale lembrar que Roger foi bem sucedido como interino no Grêmio, inclsuive com vitória em Gre-Nal. Ou seja...

Ten ainda o fator local, a Arena cheia de fervor gremista , a empurrar o dono da casa. Ainda assim, mesmo que  o quadro  do momento seja mais favorável para o Grêmio, não me arrisco a considerá-lo favorito para o clássico.  O Gre-Nal tem se prestado para , como se diz no popular, “arrumar a casa”.  Ou, como agora, para definir “o menos pior”,  expressão que tomei a liberdade de roubartilhar do Diego Olivier.

Isso posto, agora um momento confessional: depois de mais de  30 anos atuando no jornalismo esportivo em rádio, tv e jornal, cuidando para que meu gremismo não aflorasse, fiquei vacinado diante das disputas envolvendo nossos dois principais clubes. Faço minhas provocações nas redes sociais, mas  quem me conhece sabe que é só pelo espírito provocador, pois já me flagrei torcendo  pelos Vermelhos, discretamente é verdade,  em competições nacionais e internacionais.  Porém, esse meu lado harmonioso não vale para o Gre-Nal: no domingo, cheio de motivação,  sou só Imortal. E se nada der certo, já tenho a saída pronta:  vou postar no Face -  “Grenal  é o ópio do povo”.


domingo, 2 de agosto de 2015

O circuito do livro


Hoje é muito fácil produzir um livro. O processo industrial está descomplicado e agiliza com qualidade qualquer pretensão literária.  Obviamente até chegar à gráfica há a etapa de produzir os conteúdos, a edição, a revisão e a arte da capa para que a obra seja bem atraente, mas com um mínimo de experiência e bom gosto,  mais os parceiros certos,  o resultado final pode ser alcançado sem muito estresse.

As dificuldades começam quando a carga de livros chega da gráfica.  O prazer de manusear os primeiros exemplares é indescritível, ainda mais para autor estreante, mas logo sobrevém a questão  dramática:  quem vai consumir  a  obra, num ambiente dominado pela comunicação via redes sociais e de crescente desinteresse pelos formatos impressos? Ah, tem os amigos e os parentes, o pessoal da firma, todos a merecer uma cortesia, e quem mais?

Então a solução é vender nas livrarias.  Não, não é. As grandes redes não se interessam por obras de autores estreantes e desconhecidos, mesmo que os livros fiquem em consignação ao custo de 40% sobre o preço de capa.  As outras,  mais tradicionais, que vendem livros novos e usados, alegam que não tem controle sobre o estoque e preferem não se arriscar e ter que indenizar o autor por extravio dos exemplares.  “Existe um buraco negro aqui dentro onde os livros acabam sumindo”, reconheceu um dos livreiros, cercado por pilhas de obras.  E tem ainda a tal de crise que restringiu o consumo  e o mercado livreiro não é exceção.

Com a ajuda do amigo Ayres Cerutti consegui  romper essa barreira e colocar o Crônicas da Mesa ao Lado na Nova Roma, da rua General  Câmara. Menos mal que outros estabelecimentos, que classifico como mais charmosos, também aceitaram  expor  e vender o livro, sem muita burocracia. São eles a Palavraria, na rua Vasco da Gama, a Bamboletras , no Shopping Nova Olaria, a Karolle, na avenida  José Bonifácio e no Santander Cultural e, ainda, a Banca da República, quase esquina da avenida João Pessoa.

Tenho informações que a venda está acontecendo tímida mas efetivamente nesses locais, assim como os pedidos para envio pelo Correio, que já levaram o Crônicas para Brasília, Rio, Sorriso-MT, Arcos-MG, Caxias, Flores da Cunha e Camaquã, pelo que  lembro.  Mais do que isso,  o que recompensa é opinião de quem  leu, gostou e elogiou publicamente os textos.  Isso não tem preço, isso tem valor.

Crônicas da Mesa ao Lado começou a nascer aqui no ViaDutra e se materializou para os interessados no dia 28/07,com o lançamento  no Chalé da Praça 15, onde o que não faltou foram mesas cheias e divertidas. No dia seguinte fiz este registro:

Emoção de dar calo nos dedos:
Fiquei faceiríssimo com a presença de novos e antigos amigos, autoridades civis, militares e até eclesiásticas, os Dutras em peso e quase todas as caldáveis no lançamento do livro Crônicas da Mesa ao Lado. Deu calo nos dedos de tanto autógrafo. De coração agradeço a todos, até porque vão ajudar a cobrir o investimento feito, mas agradeço especialmente as manifestações carinhosas e de incentivo, inclusive dos que não puderem comparecer ao Chalé da Praça 15 na convidativa noite de ontem. Nada mais animador do que saber que tem gente se divertindo com a Mesa ao Lado. (...) Peço desculpas a todos pelos garranchos nos autógrafos, não é nada pessoal, apenas que herdei a escrita mal traçada e já admiti que vou precisar um curso de caligrafia, até para fazer frente ao próximo livro porque, confesso, gostei muito da brincadeira. Será mais um passo rumo a Academia Brasileira de Letras, que a ilustração visionária do Linei já antecipa. Abraços apertados e beijos no coração de todos.


Detalhe, que só me dei conta depois, é que na data do lançamento do livro, meu pai, o Cel. Dastro, poeta de muitos sonetos e escritor bissexto, personagem da crônica Um enamorado na noite alucinada, estaria completando 100 anos, ele que nos deixou em 2010. Fica o registro, mesmo que tardio.