A grande novidade em termos de marketing de
relacionamento pode ser constatada nas principais esquinas da cidade e, por
certo, não se originou em cursos de especialização e nem tem um guru de renome
a propagandeá-la. A inovação fica por conta da mudança de atitude dos pedintes
das sinaleiras ou daqueles que abordam as pessoas nos terminais de ônibus, com
cantilenas do tipo ¨eu poderia estar assaltando, matando, mas estou aqui,
pedindo uma moeda, uma moedinha que seja... ¨.
Chama a atenção que o apelo é direto, mas com grande
carga emocional e aparenta sinceridade, o que torna o atendimento do pedido
quase irresistível. Nas sinaleiras o
pessoal tenta também se superar nas abordagens, mas falando menos e comunicando
mais por meio dos cartazetes. E quando falam é de forma menos agressiva e sem
muita insistência. Afinal, o tempo é exíguo, por isso a estratégia tem que ser
eficiente e eficaz para atingir o maior número de motoristas e garantir ganhos
de escala. Essa prática depõe contra os manipuladores de malabares e outros
praticantes de artes circenses. Quando acabam o número o sinal já está se
abrindo e os carros se movimentando, sem deixar o óbolo.
A
moda dos cartazes chamativos parece ter sido importada dos EUA, onde os sem
teto abusam da criatividade nos seus anúncios em papelão (¨Ajude o viajante do
tempo! Preciso de dinheiro para um novo capacitor de fluxo¨, ¨Minha esposa foi
sequestrada! Faltam 98 centavos para o resgate¨, são exemplos), ou super sinceros
(¨Uma pequena colaboração: para comida, para vinho, para cigarros e para
cocaína¨, ¨É sexta-feira e eu só quero uma gelada¨).
Pelo
jeito nossos mendigos estão se globalizando, só que são menos intensos, por assim
dizer, nas suas mensagens. ¨Tenho fome,
me ajude¨ ou ¨Me ajuda a comprar um lanch qual que ajuda obrigado¨, é por aí e os
erros gramaticais são tolerados em nome da solidariedade. Alguns pedintes,
entretanto, sofisticam a mensagem como aquele que apela pela contribuição para
garantir um futuro melhor ( ¨Sonho em ser bombeiro, mas nunca vou conseguir de
estômago vazio¨), ou aquele outro que exibe, diante da negativa dos potenciais
colaboradores, uma maquininha de cartão de crédito, conforme relatou Tulio
Milman na Zero Hora. O estratagema arranca sorrisos e às vezes reverte a decisão
de não doar.
Pra
falar a verdade, nem sei se o caso se caracteriza como marketing de relacionamento,
mas que funciona, funciona essa estratégia dos despossuídos.