domingo, 12 de fevereiro de 2017

Futebol americano. Futebol?

Sem  precisar de muita reflexão constato que a cada temporada o futebol americano ganha mais e mais adeptos entre nós da terra do verdadeiro futebol, aquele jogado com os pés. E aí começam minhas contrariedades, pois futebol deriva do inglês foot (pé), enquanto o esporte dos gringos é jogado preferencialmente com as mãos e eventualmente um daqueles gigantes dá um chutão na goleira em forma de H.
Admito que desconheço o que representa o chutão e qualquer outra regra do futebol americano e fiquei confortado ao ouvir, dias atrás, um especialista explicar que acompanhando os jogos de uma temporada ao final a gente adquire razoável domínio daqueles correrias,  dos empurra, empurra e das pirâmides humanas que suspendem momentaneamente a  partida. Aliás, o que tem de paralisação  no futebol americano e assim as disputas chegam a durar três horas ou mais.  Por isso, mais do que um jogo, especialmente as finais da NFL (a CBF deles), o Super  Bowl,  precisam transformar-se em um grande evento, com direito a show  de Lady Gaga, como aconteceu domingo passado no intervalo de New England Patriots x Atlanta Falcons (vitória de virada do time do marido de Gisele Bundchen , Tom Brady,  por 34 a 28).
Apesar de  tudo, não sou de brigar com os fatos e observo que gente importante aderiu ao futebol americano. Destaco o mestre André Arnt,  o consagrado jornalista Felipe Vieira e uma gurizada da Rádio Gaúcha que alimenta os espaços dedicados ao esporte na programação da emissora. Quanto ao pessoal da Gaúcha não sei, mas suspeito que a adesão do André e do  Felipe  está diretamente relacionada à má fase do futebol colorado, eles que são  - ou eram – torcedores de não perder jogo no Beira-Rio.  Ambos tem equipes de preferencia na NFL e dia desses flagrei o André acompanhando – com entusiasmo, via Facebook  - um match do seu american team em detrimento do Colorado, que, no mesmo horário, disputava mais uma partida do seu calvário.
Acho  que está  nesse desencanto a raiz da crescente interesse por  aqui pelo futebol americano. Não vejo outra  razão. O futebol  brasileiro, com suas mazelas fora de campo e sua mesmice nas quatro linhas,  está  deixando de ser paixão e a oferta pela TV dos  campeonatos  europeus, acompanhados com atenção pela plateia brasileira, já  era um forte  indício  de um distanciamento que se amplia.
Para quem gosta mesmo de competição e antagonismos, o futebol americano, do pouco que sei, propõe um  jogo que nada mais é  do que conquista de território e para isso são realizadas verdadeiras batalhas  em campo, com os jogadores envergando uniformes que lembram armaduras . Nada  retrata mais o espírito americano,  nada mais colonialista do que isso, se me  permitem a tese geopolítica  ou sociológica, sei lá.
Pra  concluir, não  posso deixar de fazer referência a outro  esporte  chatérrimo , também muito apreciado nos EUA, o tal de beisebol. Razão  tem meu amigo Cezar Freitas, da RBS TV, ao afirmar que o beisebol é tão chato que dá sono,  por isso os jogadores usam uniformes tipo pijama. O jogo de taco da nossa infância certamente tinha muito  mais emoção.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Contos da Mesa ao Lado: Contagem regressiva

* Publicado originalmente em novembro de 2011

“ Agora faltam cinco dias...”

A frase enigmática postada no Facebook causou alvoroço entre os amigos. O que estaria acontecendo com ele, todos se questionavam. Alguma doença grave? Vai se demitir ? Viajar para longe? Abandonar o lar? Ganhar uma bolada de herança? As especulações se sucediam e se ampliavam diante do silêncio dele. No dia seguinte, outra frase para deixar o pessoal mais aturdido: “ Faltam só quatro...” E mais não acrescentou.

Houve quem apostasse que era uma jogada de marketing do amigo: “Sabe como é, jornalista, mente imaginativa, deve estar preparando alguma coisa bombástica”. Também é nessas situações que sempre surge uma ave de mau agouro: “Deve ser algo muito grave e a gente sem poder fazer nada, coitado”.

“Três dias...” foi a mensagem seguinte, mais lacônica e, ainda, instigantemente enigmática. Os amigos decidiram convocá-lo para um encontro e escolheram um boteco que costumavam frequentar, mas ele não apareceu. A essa altura começaram a entrar em pânico. Não havia explicação para o estranho e preocupante comportamento dele.

O pânico aumentou com a mensagem do dia seguinte: “Dois...”, assim, uma única palavra, um número apenas, escondendo um grande enigma. Aí os amigos se deram conta de que conheciam muito pouco da vida privada dele, embora a convivência de anos. Ele nunca falara de sua família e vagamente se referia a um grupo que denominava de “o pessoal aquele”, sem entrar em outros detalhes. Ou seja, não tinham a quem apelar.

“Fim!” era a postagem que todos temiam. Agora estavam em contato permanente e revezavam-se nos telefonemas a ele, mas quem respondia era a caixa postal, que já nem era mais personalizada, como haviam se acostumado. Encurralados pela impotência, estavam preparados para o pior. Naquela noite nenhum deles conseguiu dormir, à espera do telefonema esclarecedor e certamente fatídico. Mas a vigília se mostrou inútil, aumentando a ansiedade dos amigos.

Na manhã seguinte, o perfil dele sumira do Facebook.