*Publicado nesta data em coletiva.net
A interceptação de
conversas privadas das mais altas autoridades
do país leva a duas conclusões,
uma alarmante e outra positiva. A alarmante:
nunca foi tão fácil hackear quem quer
que seja. Quatro chinelões grampearam mais de mil pessoas, do presidente e sua família
a membros do Congresso e do Judiciário. A
positiva: a divulgação de conversas hackeadas transformou o Brasil num país transparente
por excelência. Sabe-se de todos e de tudo na República, onde de tédio não se morre.
Um dos meus
interlocutores nas caminhadas pelo calçadão de Ipanema enxerga neste segundo
aspecto o grande mérito da ação – criminosa, é importante que se frise - dos meliantes envolvidos no caso e atualmente
presos na Policia Federal. Entende ele que a população tem todo o direito de
saber o que pensam e como agem as autoridades, inclusive e
principalmente as do mais alto escalão da República.
No caso do presidente
Bolsonaro entendo eu que isso é absolutamente irrelevante. O que pensa, quais
suas intenções, suas idas e vindas nas decisões, de quem gosta e a quem
rejeita, é expresso claramente pelo presidente nos seus pronunciamentos e nas frequentes postagens nas redes sociais. Mais
transparência impossível. E que evolução para o país. Estou sendo irônico,
esclareço.
Outro interlocutor
eventual no calçadão, figura de grande projeção no meio jurídico e, por isso
mesmo, com alto potencial de hackeamento, ao ser provocado sobre a
interceptação de mensagens de
autoridades, afetou tranquilidade. “Comigo ficariam frustrados com o
resultado”, respondeu. Entretanto, o provocador acha que este
argumento reforça a posição que defende intransigentemente: se os conteúdos dos
vazamentos não são reveladores de questões escabrosas, não deveriam ser também motivos para queixas e
ameaças de censura. Se não há o que esconder, não há o que reclamar.
Sei, não. “De perto
ninguém é normal”, canta Caetano Veloso e essa
é uma verdade até para os ministros
do STF, certamente em polvorosa a essa altura com a informação de
que parte da corte teria sido alvo da
quadrilha.
Já eu estou de boa,
embora me sentindo discriminado e
cidadão de segunda classe por ter sido solenemente ignorado pelo
quarteto ou seus asseclas. Mais de mil hackeados e eu continuo invicto, como
postei no Face. Pensando bem, melhor
assim. Imagina se vazam conversas menos
civilizadas – mas fora do contexto, como é comum alegar - com alguma caldável, o que vou ter que dar
explicações! Me deixem fora dessa.