sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Terceiro turno

Estava enganado quem apostou que o segundo turno das eleições colocaria um fim à guerra de posições que dividiu o país neste histórico 2014. A guerra se transformou em guerrilha que seria divertida, não fosse dramática na medida em que o resultado das urnas esta consumado e ninguém mais vai convencer ninguém de que seu posicionamento é o que vale, como de resto não convenceu no primeiro nem no segundo turno, pelo menos nas redes sociais. 

Agora é o terceiro turno em curso. De um lado os aecistas contestando os resultados no TSE e fustigando a candidatura oficial com ameaça de impeachment e oposição feroz no legislativo. De outro os dilmistas defendendo a legitimidade da vitória e buscando argumentos para sustentar um governo que vai recomeçar frágil, tanto assim que o mentor de Dilma, o ex-presidente Lula, vem a público dizer que vai participar mais da próxima administração.  Trata-se claramente de uma maneira de reforçar politicamente o novo período, ainda mais que já tem aliado fazendo mais oposição do que os tucanos.

Só com uma boa dose de humor para aguentar o que vem por aí.  Procuro fazer um esforço danado nesse sentido nos meus embates facebuquianos contra os petistas.  Mas eles não ajudam no processo.  Tenho enfrentado cada chato que vou te contar. É só postar algo mais provocativo e eles atacam de bando, furiosos alguns, peremptórios outros, cheios de cifras, fatos e versões  para embasar suas opiniões e contra-ataques.  Chego a suspeitar que exista uma central petista, permanentemente on line, só pra subsidiar essa gente.

Às vezes participo dos debates de forma mais aguda, dando uma canelada aqui e ali,  porque todos tem telhas de vidro em seus telhados, mas prefiro responder com bom humor e alguma ironia, deboche até.  É o que recomendo aos que cerram fileiras – nada a ver com a volta dos milicos – no nosso campo democrático , para usar uma expressão tão a gosto do outro campo.  Fiquem atentos especialmente aqueles que afirmam não ter filiação, nem militância, mas estão sempre alinhados com um só lado, constrangidos, os cínicos.  Guerreiro da democracia que se preze tem lado e sai do armário na política.


segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Se Curasal fosse um país

O texto abaixo não é inédito: foi publicado em janeiro de 2013, mas ficou mais atual do que nunca diante dos resultados eleitorais que acentuaram a divisão do Pais entre "nortistas" e "sulistas", além de potencializarem os movimentos que advogam o separatismo desses dois brasis. Curasal, se fosse um pais, certamente pediria para se separar do Brasil e formar uma federação com o Rio Grande do Sul. Mas antes seria necessário constituir esse novo estado soberano. Assim:

Um plebiscito vai propor a independência de Curasal do Brasil.  A ideia é inspirada na Revolução Farroupilha, uma vez que a futura capital, a próspera Âncora, nasceu com o nome de Bento Gonçalves e as seis ruas da localidade ganharam nomes de vultos históricos dos farrapos, como Anita Garibaldi, Antonio Neto, Davi Canabarro. 

O novo país será dividido em dois territórios bem definidos: Curasal do Sul e Curasal do Norte, separados pela principal rodovia da região, a Interpraias, que certamente receberá um novo nome. Outros territórios de menor importância serão  Marambaia, Bom Jesus e Curumim na fronteira com Arroio Teixeira, e Figueirinha e Raiante na fronteira com Arroio do Sal.  As duas fronteiras serão fortemente vigiadas porque Curasal já nasce com pretensões expansionistas e tem ocorrido atos de beligerância nos limites com os dois vizinhos. 

Movimentos radicais se preparam para propor ações bélicas visando a anexação de Arroio do Sal e depois Rondinha e Torres, isso litoral acima, e Arroio Teixeira, Capão Novo, Praia do Barco e toda a Capão da Canoa, litoral abaixo, preservando apenas Xangri-lá porque isso não é nome que se dê a uma localidade.  O critério para anexação será o étnico:  praias com pessoal predominantemente da região serrana correm riscos.  Existe até quem advogue que o novo país se chame Gringolândia.

O problema para o enfrentamento com os vizinhos é que as forças armadas de Curasal se resumem a meia dúzia de salva-vidas que serão nacionalizados, tornando-se cidadãos curasalenses. A verdade é que os futuros adversários estão mais bem equipados e provavelmente o governo de Curasal será obrigado a recorrer a mercenários, a exemplo do que fizeram os farroupilhas com Giuseppe Garibaldi.

A Constituição do novo país validará um regime inédito, que será conhecido como Rodízio Democrático, pronunciado com carregado sotaque de gringo. Funciona assim: de seis em seis meses um dos comerciantes da região assume o executivo, enquanto os outros compõem a Câmara de Representantes, que seria uma espécie de legislativo. É a forma engenhosa de valorizar o empreendedorismo e evitar que se eternizem nos cargos. Só não está definido como esse pessoal será eleito, mas aí já é detalhe.

 A Carta Magna, para reforçar o patriotismo da população, vai exigir que todos os órgãos públicos e grandes empresas agreguem o nome do país.  Assim, teremos a Air Curasal (um teco-teco e dois paragliders),  a CurasalNet (distribuidora de sinal de TV), a Olá Curasal (operadora de telefonia celular), a TeleCurasal (principal rede de TV), a RMC (Rede de Metrôs de Curasal), a Loide  Curasal (marinha mercante à serviço dos pescadores) e por aí vai.

Difícil dizer se daria certo, mas que seria divertido, ah,seria!


sábado, 25 de outubro de 2014

15 verdades inconvenientes desta eleição

            1)      Os grandes derrotados foram os institutos de pesquisa
2)      Dilma foi mal em todos  os debates
3)      Agressividade de Aécio  nos debates foi gol contra
4)      Debate civilizado é uma chatice
5)      O eleitor foi muito volúvel
6)      Veja e Carta Capital prestaram um desserviço à democracia
7)      O que teve de jornalista de redação engajado!
8)      Maluf, Collor, Renan e Sarney não pesaram contra Dilma
9)      Ronalducho, Neymar e Romário não pesaram a favor de Aécio
10)  O PT deve trocar de nome e se chamar PD,  Partido da Desconstituição ou Partido Desconstituído
11)  Minas Gerais e Cuba foram mais importantes que o Brasil.
12)  Arrogância tira votos, viu Tarso?!
13)  Quanta mentira nesta afirmação:" O que importa são as propostas"
14)  O próximo presidente vai governar um país mais dividido ainda
15)   O Facebook não será o mesmo depois desta eleição

Há outras constatações, mas como escrevo antes da abertura das urnas, o risco é que as verdades virem teses ou desejos, Então, fiquemos por aqui.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Bobagens eleitorais

Essa campanha eleitoral está uma chatice só, com ataques e contra-ataques e a repetição das mesmas fórmulas de sempre, mais para desqualificar o adversário do que para conquistar o eleitor.  Agora justiça seja feita: nunca se produziu tantas sacadas bem humoradas como agora. Graças às redes sociais, todos os dias surge uma nova criação para temperar o mau humor que, por outro lado, impregnou as postagens de boa parte dos dilmistas e dos aecistas.

E quando falo de humor não estou me referindo aquelas  bobagens que alguns amadores jogam na rede imaginando que vai carrear mais votos para seu candidato.  Me espanta,  por exemplo, que ainda se use a baboseira da ameaça comunista como argumento.  O medo é uma arma poderosa para manipular a opinião pública e todos os tiranos modernos – vide Hitler  – souberam usá-la com maestria, mas vamos combinar que apelar para o comunismo- comedor- de -criancinhas é muito retrocesso. Nem os cubanos acreditam mais. Do outro lado,  os petistas deram grande destaque na semana passada à manifestação de um intelectual bolivariano lamentando a possibilidade de Aécio ganhar a eleição e o que isso representaria de nefasto para a América Latina. Vai palpitar assim lá na Bolívia.

Mas o troféu besteirol campeão vai pra postagem que compara os shows dos Beatles no Brasil na era tucana e depois no período petista.  Uma bobagem quase igual ao orgulho  de ter o apoio do Dani Glover, como se a eleição fosse nos EUA. No caso dos Beatles achei que era brincadeira, mas teve tanta gente curtindo e alardeando a diferença roqueira cultural dos dois períodos, que pensei que tinha dado a louca no Facebook.


Sou mais as brincadeiras tipo aquela do apoio do Mick Jaeger, conhecido pé frio, à Dilma , ou os votos conquistados pela presidente a partir da declaração  do cantor Lobão de que vai deixar o Brasil se ela ganhar.  Pode ser contra minha posição,  aecista confesso e militante, mas não deixo de achar engraçado e dar trânsito as sacadas de bom humor.  Quanto as outras, só lamento que as bobagens e a intolerância não escolham ideologia, nem lado.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Histórias da mesa ao lado: A Fórmula

Dividi uma mesa bem humorada, dias atrás ,com meu bom amigo Neni, acompanhado de lambisgóias de nossas relações.  Enquanto as moças falavam de trivialidades, Neni me revelou como conheceu a fórmula da eterna excitação, ele que,  como eu, já se inclui na era dos que sentem saudade dos bons tempos.  Sucede que outro comum amigo, um ex-galã das radionovelas, não se conformava com o chamado “volume morto”, para usar um termo da moda, e apelou para uma fórmula que não negava fogo:

- A recomendação dele era a seguinte: um Cialis cinco horas antes e um Viagra uma hora antes. Não tem erro, o bichão vira um "torpedo".

Neni confessa que na primeira oportunidade adotou a fórmula, tendo um desempenho que deixou a patroa extasiada.  Entretanto, a alegria durou pouco. A revista Veja daquela semana, entre uma e outra denuncia contra os petistas, trazia uma pequena nota preocupante, para dizer o mínimo.

- A notinha, não mais do que três linhas, advertia que o Cialis, associado ao Viagra, poderia causar cegueira. Ou seja, estreei, fui beneficiado, mas nunca mais...

De imediato, Nani mostrou a nota ao amigo inventor da fórmula, preocupado com a possibilidade dele ter sérios problemas de visão, eis que estava abusando das saliências com uma namorada 30 anos mais nova.  Nani foi surpreendido com a reação do amigo:

- Provoca cegueira, é? Então pode me chamar de Steve Wonder.

E completou: “Eu quero é rosetar”.

Ao Neni só restou uma lamuria, depois do cafezinho e antes de pedirmos a conta: “Foi bom!”


quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Encontro com Mário Marcos

Deparei  ontem com o Mário Marcos de Souza, consagrado jornalista, dono de um dos melhores textos que conheço.  Mário e eu já trabalhamos juntos na antiga Caldas Junior e mais tarde na ZH, para qual voltei para a editoria de Geral por indicação dele.  Com isso quero deixar claro que tenho a melhor das relações com ele, embora nosso recente histórico de divergências politicas e ideológicas.

O Mário, por exemplo, exalta o regime cubano e suas conquistas, enquanto eu me posiciono radicalmente contra aquela ditadura. O Mário é ardoroso defensor de Dilma e tudo o que ela representa, enquanto eu sou oposicionista de carteirinha e vou de Aécio.  E, cada um na sua trincheira, temos nos digladiado nas redes sociais. Entretanto, ao nos encontrarmos, saudei-o com um “Meu adversário cordial”,  ele abriu um sorriso franco e trocamos um abraço fraterno.

Faço o relato porque tenho ouvido histórias do arco de amizades de anos que se romperam nesta eleição.  Acho mesmo que alguns parceiros deixaram de interagir comigo por causa das minhas posições nesta eleição.  Aviso que não vou mudar meu comportamento e muito menos minhas posições,  mesmo que eventualmente tenha sido mais agudo numa ou noutra intervenção, mas certo de que não avancei o sinal e mais certo ainda de que não dei trânsito a baixarias.


Só lamento que a atual campanha passara para a história como a eleição  marcada pela intolerância, como nunca antes. Não contem comigo para fomentar esse processo perverso, até porque meus desafetos eu escolho  e não será por causa de divergências políticas.

domingo, 5 de outubro de 2014

Minhas escolhas

A vida é feita de escolhas e mais do que frase feita essa  é a verdade verdadeira na hora do voto. O que está em jogo é o que queremos para os próximos quatro anos. Sou  um ser eleitoral desde criancinha. Com parentes na política,  meus irmãos e eu tínhamos envolvimento por inteiro no processo eleitoral e lembro bem que na eleição de Brizola x Peracchi (1958, vencida por Brizola) a brincadeira na casa  era de comitê eleitoral,  um para cada candidato e devidamente ornado de cartazes e santinhos dos litigantes.  Eu tinha oito anos e já achava o dia da eleição cerimonioso, um ritual a ser cumprido, postura que mantenho até hoje.

Quando fico diante da urna sempre me questiono se estou fazendo as escolhas corretas. São segundos de avaliação, de mergulho nas minhas crenças e valores e aí, reconfirmado,  cumpro o meu dever com firmeza. Passei aos meus filhos a idéia da importância do voto e, salvo alguma trairagem que desconheço, temos votado alinhados.  Isso desde a primeira eleição direta para a presidência em 1989, quando o presidente de mesa concordou que eles me acompanhassem a cabine e marcassem, cheios de orgulho, o x por mim (Covas no primeiro turno; Lula no segundo).
Perdi naquela eleição e amarguei outras derrotas, mas celebrei muitas vitórias, porque essa é a essência do jogo democrático, cujo processo eleitoral é um dos instrumentos.
Agora preparo-me para mais uma ida a escolinha da minha seção para depositar meu voto em Ana Amélia Lemos para o governo estadual e Aécio Neves para a presidência da República. São votos bem conscientes, de clara oposição a quem está no poder, mas nem por isso vou desconstituir as preferencias que não coincidem com as minhas. Só espero que a recíproca seja verdadeira para que não fique a má impressão de uma campanha eleitoral mais odienta e menos propositiva.
E que ao final do dia, quando a verdade das urnas se sobrepor às pesquisas e às teses, possamos repetir a afirmação bíblica: “Combati um bom combate”.