*Publicado nesta data em Coletiva.net
Peço licença ao Rafael Cechin, especialista em
esportes aqui na Coletiva.net, para
também dar meus pitacos nessa grande área. Pois, agora que as atenções
esportivas estão voltadas para o Mundial de Clubes, vale uma reflexão sobre uma
das características mais marcantes do grenalizado futebol gaúcho: a gangorra que move os nossos dois principais
clubes a cada ciclo ou temporada. Parece combinação: quando um deles está por
cima, o desempenho do outro pende para baixo.
Desde o início da profissionalização, o futebol gaúcho
vive desses ciclos, do sobe e desce de Grêmio e Inter. Tivemos a era do Rolo
Compressor Colorado, nos anos 1940 e 50, seguida da hegemonia gremista, após a inauguração
do Estádio Olímpico, com o futebol estilo Osvaldo Rolla, na segunda metade dos
anos 1950 e depois em boa parte dos anos 1960, até que o Inter reconquistou o futebol
gaúcho em 1969 e seguiu vencendo nos anos 1970, inclusive com conquistas
nacionais. Daí à projeção continental pela Copa Libertadores e depois à presença no Mundial de Clubes foi
questão de tempo e acúmulo de experiência para a dupla, enquanto se revezavam no
predomínio do futebol gaúcho.
A hegemonia tricolor nos últimos anos foi ameaçada
pela retomada do título gaúcho pelo Inter agora em 2025, mas parece que os vermelhos
já perderam o gás, como refrigerante depois de algum tempo aberto, para usar
uma corneta recorrente em relação às campanhas do técnico Roger Machado. A
gangorra, então, está assim no momento: o Inter patina no Campeonato
Brasileiro, dentro do Z4, enquanto o Grêmio se distancia da zona do
rebaixamento, com pontuação de primeira página da classificação.
Entretanto, o que devia preocupar mesmo os dirigentes da
dupla é que nossos clubes estão ficando muito para trás nas conquistas atuais e
projeções futuras, em relação os principais centros, Rio, São Paulo e Minas. A
situação é tão crítica que qualquer equipe das séries inferiores ou até mesmo
sem divisão ou, ainda, clubes desconhecidos dos terceiros e quartos níveis do
futebol sul-americano, fazem frente aos outrora poderosos do extremo sul do
Brasil. Pior ainda: as pretensões de um ou outro se limitam a vaga na
Libertadores ou Sul-Americano ou, o que é mais lamentável, a escapar do
rebaixamento no Brasileiro.
As direções de Grêmio e Inter entraram num círculo
vicioso do qual não conseguem sair. O diagnóstico de más gestões já é
conhecido, enquanto as dívidas e os déficits só crescem. Desperdiçam os poucos recursos, contratam mal
e não formam times competitivos, sem times competitivos não ganham títulos, que
garantiriam novos recursos para melhor contratar, globalizar a marca, conquistar
mais sócios e torcedores, etc.etc
Se eu tenho a solução para os nossos clubes? Não, não tenho
e nem é este o papel do analista. Consultem os especialistas, façam benchmarking,
debatam virar SAF, vendam pros árabes, apelem para o papa, o escambau. Só não dá pra continuar cometendo os mesmos
erros de sempre. Este amadorismo das direções em uma atividade que está
altamente profissionalizada vai levar Grêmio e Inter a serem o Vasco ou o Santos
amanhã, ou pior, o Ameriquinha, e aí só vai restar a ambos a parte baixa na
gangorra.
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