*Publicado nesta data em Coletiva.net
Previsão: em futuro não muito distante todos os
programas de TV e de rádio serão um grande comercial, cercado de algum
conteúdo. Constatação: em nome da sustentabilidade financeira de seus projetos,
os veículos eletrônicos passaram a misturar, sem constrangimento, a publicidade
com o editorial.
O distinto público fica
confuso, sem saber se o que esta sendo anunciado faz parte da temática do
programa ou são informações de interesse do patrocinador, assumida e validada
pelo veículo. Sim, eu sei que os
patrocínios garantem as programações no ar, os investimentos necessários e os
empregos dos profissionais, mas sei também que as empresas viraram o fio nesse
processo, em alguns casos, para sobreviverem, em outros porque o que interessa
mesmo é faturar e a credibilidade a gente vê depois,
Exemplos não faltam, mas
vou me permitir omiti-los, sabendo que é regra geral a prevalência da
publicidade. Qualquer feira do agro ou festa típica no interior e lá estão as
emissoras com seus programas de ponta e seus principais comunicadores. Idem em
relação aos eventos turísticos. Nessas
ocasiões, em que âncoras e repórteres se esforçam para agradar os anfitriões, prenhes
de elogios ao motivo da presença na festa ou evento, as autoridades e
lideranças empresariais ganham espaço, falam de suas realizações e projetos,
além de retribuírem os elogios recebidos.
É função dos veículos dar cobertura às realizações das comunidades, o
questionável é o tratamento chapa branca e interesseiro dado a presença no
acontecimento festivo ou empresarial. Na maioria dos casos, a presença só
ocorre se for patrocinada.
Até a poderosa Rede Globo
– ou principalmente ela - se rendeu aos merchandisings descarados em seus programas,
ampliando as possibilidades antes restritas apenas às novelas. As ações comerciais vão engordar,
além do faturamento da emissora, os bolsos já bem aquinhoados dos principais comunicadores
envolvidos, que pelo menos se esforçam no ar para fazer jus à grana extra. Por
enquanto, os telejornais e o pessoal do Jornalismo não participam desse
esquema.
Até lembro que tempos
atrás havia um certo pudor dos profissionais com a chamada pauta 500, aquela de
interesse mais do departamento Comercial do que da redação, e com o “toco”,
certos mimos que os patrocinadores e as
fontes enviavam ao pessoal dos veículos para estreitar as relações. Hoje, lamento informar, o constrangimento foi
pras cucuias e muitas vezes o “toco” é saudado com entusiasmo quando chega ao
seu destino. Ou seja, contaminou geral.
Tento não me investir em
corregedor da mídia, mas a verdade é que já foram superados todos os limites do
aceitável em termos comercialização, ferindo ainda mais a já desgastada
credibilidade dos veículos de comunicação e, por consequência, atinge também o
Jornalismo na sua essência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário