quinta-feira, 20 de abril de 2017

Procura-se uma parceira

Estou me sentindo extremamente rejeitado pelo naipe feminino, inclusive no âmbito familiar. Ocorre que ao tentar dar seguimento a minha incipiente carreira de escritor tenho buscado uma parceira para dividir uma obra que já tem até título – Dueto – mas nenhuma adesão. A rejeição começou com minha filha Mariana, considerada o melhor quadro literário da família, mas, na mesma medida, muito restritiva em dividir espaços e conteúdos, ainda mais com alguém metido a cronista com forte viés politicamente incorreto.
Eu devia pressentir que a negativa dela era  um mau presságio. Se nem os mais próximos confiam, o que esperar do mundo lá  fora?  Vou deserdar a ingrata e, sem esmorecer, continuo com a busca, que segue infrutífera. Até já  anunciei  em programa de TV, todo exibido, que estava bem encaminhada uma nova parceria que,  entretanto, não se consumou porque a talentosa autora está envolvida com outras prioridades no momento. Apelei para outra alternativa que  se mostrava promissora,  mas que não demonstrou muito entusiasmo com a empreitada.
Mais uma tentativa e uma conversa animadora, regada a expressos, e a bela e qualificada quase futura parceira acabou também desistindo por incompatibilidade de estilos, segundo ela própria, que recebe o meu respeito pela decisão.
Ou seja, continuo na estaca zero e com aquele sentimento de rejeição, que nem um tinto encorpado consegue minimizar.
Só me resta a inveja do pessoal da Farol 3 Editores, o Auber Lopes  de Almeida e o Paulo Palombo Pruss,  que conseguiram  não  uma mas dez mulheres, cada uma com quatro crônicas, para o livro DezMioladas, a ser lançado  dia 6 de maio.  Vou lá pra fazer um apelo: não me deixem só

sexta-feira, 14 de abril de 2017

A pauta da Sexta-Feira Santa

Publicada originalmente em abril de 2012.
Repórter de plantão na Sexta-feira Santa enfrenta uma pauta obrigatória: a cobertura da encenação da Paixão de Cristo no Morro da Cruz, no Partenon, também conhecida como subida ou procissão do Morro da Cruz. O evento ocorre desde 1960, criado pelo padre Angelo Costa, já falecido, e cresce a cada ano, reunindo preferencialmente atores da comunidade. Lá no final da década de 80 do século passado este que vos fala era repórter de geral da Zero Hora, estava de plantão da Sexta-feira Santa e, claro, foi escalado para acompanhar a encenação.
Lembro bem que era um dia quente no final de março e para escapar das obviedades das coberturas tradicionais, decidi escolher dois ou três personagens interpretados por atores locais para, através deles, montar a minha matéria.  Um dos personagens era balconista de uma ferragem e intérprete do soldado romano que passava toda a encenação surrando, com uma espécie de relho, um dos ladrões, que na vida real era motorista de táxi.  É importante esclarecer que a encenação reproduz a Via Sacra  e suas 14 estações ou etapas do suplício de Cristo naquela sexta-feira, há mais de dois  mil anos. Só que alguns atores imprimem demasiado realismo a suas interpretações e era  caso do soldado romano que, volta e meia, pesava a mão contra o pobre e talvez bom ladrão. O infeliz olhava enfurecido para seu algoz, mas nada podia fazer durante a celebração religiosa, mesmo que o sacana legionário revelasse perversa satisfação em maltratar o companheiro de elenco.  Sei lá se não deu o troco após o evento. O soldadinho, um sujeito atarracado e malvado, bem que merecia.
O mais inusitado ainda estava para acontecer naquela encenação do século passado.  O gran finale seria a ascensão de Cristo, a partir da capelinha existente no platô do Morro da Cruz e onde ocorria o final da procissão.  O espetáculo no fim da tarde previa jogo de luzes, uma trilha épica e aqueles fumacinhas de shows,  que acompanhariam a subida do filho de Deus feito Homem aos céus. Um engenhoso sistema mecânico elevava o ator, com suas vestes brancas, enquanto ele recitava lições de religiosidade. O ator já era o ex-vereador Aldacir Oliboni, considerado a réplica moderna do Cristo, de acordo como mostram as ilustrações que conhecemos.
Pois bem, lá estava o Cristo- Oliboni exortando os fiéis quando, à esquerda do platô, começou uma movimentação frenética. “É ele, é ele, sim!”, repercutia a massa.  Vocês estão autorizados a pensar que era o próprio Cristo redivivo comparecendo ao seu velório, mas na verdade era quase isso, guardadas as proporções e o período histórico. Quem surgia triunfalmente era Sérgio Zambiasi no auge da sua popularidade. O Zamba foi cercado e festejado pela multidão, enquanto Cristo subia ao encontro do Pai,  lentamente e quase de forma incógnita. 
Oliboni ainda tentou atrair a atenção dos infiéis, gritando palavras de ordem pelo sistema de som:  “Cristo está aqui!  Cristo está aqui! Agora é o momento  glorioso da subida aos céus. Venham, venham, é aqui que está o Filho do Senhor! Demos glórias ao Senhor!”, apelava o bom Oliboni. Inúteis apelos.  A massa queria mesmo era confraternizar – e fazer pedidos – a quem mais tinha a oferecer naquele momento.  Entre os consolos espirituais que Oliboni inspirava e os materiais que Zambiasi poderia proporcionar  a escolha do povo pecou pelo pragmatismo, mesmo na Semana Santa.
Confesso que fiquei penalizado com a situação do Oliboni, supliciado durante toda a subida do morro e justo no momento da sua consagração como Cristo e ator o público o abandonava daquela forma, trocando-o por uma situação tão mundana.  De novo, mais de dois mil anos depois, a história se repetia e  o povo renegava Jesus Cristo. 
Insensível público, mas depois fiquei pensando que fatos como o que presenciei talvez expliquem porque Sérgio Zambiasi chegou a senador e Oliboni, mesmo sendo Cristo por um dia, só conseguiu assumir como deputado estadual, ainda assim vindo da suplência. Mas aí já é outra história, nada a ver com a Semana Santa.
Boa Páscoa a todos. Que o coelhinho seja mais generoso que a massa que renegou Cristo-Oliboni.




segunda-feira, 10 de abril de 2017

Bons e mau exemplos

Com sincero pesar fui atender à convocação dos proprietários da Palavraria, aquele simpático espaço cultural incrustado em pleno Bom Fim, para uma prestação de contas dos livros Crônicas da Mesa ao Lado comercializados  e devolução do que sobrou. Isso porque a Palavraria encerrou  suas atividades em 30 de dezembro, depois  de mais de dez anos de resistência promovendo a boa literatura.  Expressei minha solidariedade aos proprietários que explicaram que nos últimos dois anos a crise econômica atingiu em cheio o segmento, já que “cultura é tida  como supérfluo”, lamentam.  Nem os frequentes eventos que promoviam conseguiram segurar a onda contrária.

Feito o acerto de contas (sou um dos  mais de 400 listados para isso) fui ter  com outra guerreira, a  Lu Vilela, que há  20 anos mantém a Bamboletras no Centro Comercial Nova Olaria, na Cidade Baixa. A L u foi a primeira a aceitar comercializar o Crônicas, sem muita burocracia e devo reconhecer que o livro teve boa procura, tanto assim que fiz uma reposição e agora fui  receber o resultado das vendas.  Não deu para enriquecer, mas foi o suficiente para trocar por dois livros  infantis (Passarinhos  do Brasil , Poemas que voam, de Lalau e LauraBeatriz e o clássico Um  Menino Daltônico,  do inesquecível Carlos Urbim), que serão presenteados à Maria Clara e à Rafaela.  Grande Lu, as gurias agradecem.
Faço esses registros, positivos ambos, embora melancólico no primeiro caso, para contrastar com os procedimentos da Livraria Cultura, gigante  do setor que, além de não prestar contas dos  livros comercializados, também não dá  retorno aos pedidos de informações. Tenho conhecimento de que pelo menos sete exemplares foram vendidos na filial de Porto  Alegre, uma vez que fui chamado  para retirar 13 livros restantes, do lote de 20 que deixei em  consignação. Por ocasião da  retirada a informação é de que em  três meses  seria feito o repasse da grana. Já  se passaram seis meses e nada, apenas o silencio da administração em São Paulo.
O dinheiro é  o  que menos importa, até  porque a Cultura, diferente das outras parcerias que ficam com 20% a 30% do preço de capa, cobra 50%.  A gente  se submete porque quer ver a obra ser exposta numa grande livraria, facilitando para os eventuais interessados,  mas o mínimo que se exige é retorno que significa respeito.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Meu mundo caiu

Cada vez que vejo a cara contristada dos envolvidos na Lava Jato sendo levados pela Policia Federal lembro daquela música da imortal Maysa: Meu Mundo Caiu.  Vale o mesmo quando avalio os recentes casos  de celebridades  acusadas de assédio ou agressão à  mulheres e deixo  claro que não estou fazendo condenação prévia.  O fato é que, quando o assunto vem a público  e ganha manchetes na mídia,   o sujeito deve se sentir muito miserável. Tinha tudo, inclusive o sentimento de impunidade e daqui a pouco não tem mais chão, não tem mais nada, exceto a execração pública. Ah, se pudessem voltar atrás!


De início,   fico  sinceramente compadecido porque penso sempre na família dos envolvidos,  que é a outra vítima mais próxima dos malfeitos, embora, muitas vezes, também beneficiária no caso dos  desvios de dinheiro público. Passo a imaginar como os  filhos vão encarar  e ser recebidos pelos colegas na escola, ou o que vai dizer a esposa dos indiciados as suas amigas, o que não  vale evidentemente para a mulher do Sérgio Cabral. “Meu mundo caiu”, devem pensar.
Mas chega a hora em que o que cai é a ficha e  me dou conta de quem são as verdadeiras vítimas: todos  nós espoliados pela corrupção e todos aqueles que enfrentam as variadas formas de  preconceito e violência. E aí, diante  da magnitude e da perversidade dos  episódios, fico penalizado por mim e por todos,  porque foi meu mundo que caiu.
Pra compensar, feche os olhos e  imagine a maravilhosa Maysa interpretando "Meu mundo caiu":  
Meu mundo caiu
E me fez ficar assim
Você conseguiu
E agora diz que tem pena de mim

Não sei se me explico bem
Eu nada pedi
Nem a você nem a ninguém
Não fui eu que caí

Sei que você me entendeu
Sei também que não vai se importar
Se meu mundo caiu
Eu que aprenda a levantar
https://letrasweb.com.br/maysa/meu-mundo-caiu.html

terça-feira, 4 de abril de 2017

Prova de vida

-Vem cá, deixa eu te dar um abraço.
Quem pede é o Vitor  Hugo, tri secretário estadual (Cultura, Turismo e Esporte),  que  encontrara no subsolo da agencia central Banrisul, tratando, como eu, de burocracias bancárias.
-  Ué, pra quê tanto abraço ? - indago.
-  Porque sou a primeira pessoa a testemunhar que tu realmente está vivo.
Vitor  Hugo fazia referência ao  motivo que me  levara  ao banco : fazer prova de vida, convocado que sou, todos os anos, pela Previdência Social, sob pena de deixar de receber os magros proventos  da aposentadoria.   O bom tri secretário, amigo de longa data, parceiro de outras jornadas e recente prefaciador do livro DezMiolados, cometeu, porém, um equívoco, já  que a primeira testemunha de que eu sou eu mesmo - e bem vivinho -  foi a gerente de conta.
Nesse caso, a burocracia que nos exige prova de vida, certamente para combater  fraudes, revelou-se  uma dádiva para este que vos  fala.  Antes, meu gerente de conta era um rapaz  simpático, agora é uma moça simpática e muito bonita.
Fico  até com vontade de fazer prova  de vida todas as semanas, ou até que ela descubra que sou um despossuído financeiramente e me remeta para a vala comum  dos outros  correntistas. Seria muita chinelagem dessa interesseira.