quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Bem-vinda, Maria Clara

Maria Clara chegou e eu que vivo criticando a pieguice alheia já virei um avô babão. Não há quem resista ao fenômeno da vida se renovando e a mais dura carapaça acaba se rompendo diante do ser frágil gerado pelo melhor de mim e melhores do que eu, que são os meus filhos. Os filhos dos meus filhos não serão apenas extensões de mim, nem sairão a minha imagem e semelhança, mas a eles estão destinadas as benções reservadas aos futuros construtores de um mundo melhor, se assim o quisermos e formos suficientemente firmes nos nossos intentos e laboriosos nos nossos esforços.

Cada vez que uma criança nasce, a vida renasce, mas há uma longa e penosa estrada a ser percorrida e um horizonte a ser alcançado para que o renascimento se torne uma dádiva, repleta de generosidade, infinita de amor, plena de felicidade. É uma missão a ser cumprida e a ela vou me entregar, cultivando amorosamente a criança que chega.

Cada vez que uma criança nasce, renascem as esperanças. E a esperança é o que nos move diante dessas sombras que nos assustam e afligem, e que uma nova energia vem iluminar, curando as amarguras, reconciliando corações e desafeições.

Cada vez que uma criança nasce, a inspiração acontece. E é quando o peso da jornada nos faz querer ser criança de novo, recriar a vida, errar e acertar, compartilhar e desafiar, crescer e gerar mais vida. E que a nova vida seja o melhor legado e mais uma dádiva.

Bem-vinda, minha neta adorada, que é Clara e é luz. Criança iluminada, vem renovar o mundo e me transformar num homem melhor para que eu possa te merecer.

*Maria Clara, filha da Flavinha e do Rodrigo, masceu hoje, no Divina Providência.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Balseira do ciberespaço

Um dos bons presentes que ganhei recentemente foi o livro “De Cuba, com carinho”, de Yoani Sánchez. Ela escreve um dos blogs mais visitados em todo o mundo, o Generacion Y, com milhões de acessos, mas quase não consegue ser lida em Cuba pela óbvia razão de que o governo não tem o menor interesse em que seus conteúdos sejam difundidos entre a população local. Isso não impediu Yoani foi eleita pela revista Times uma das mulheres mais influentes do mundo e ganhasse em 2007 o prêmio Ortega e Gasset de jornalismo digital – que não pode receber pessoalmente na Espanha!

Formada em Filologia Hispânica, essa balseira do ciberespaço, como ela mesmo se define, escreve admiravelmente bem porque com simplicidade. Cada palavra e cada frase está no seu devido lugar e cumpre sua função, talvez porque a parcimônia nos seus textos reflita a própria Cuba de hoje, que impôs a seus filhos privações de toda a ordem e é preciso saber conviver somente com o essencial, inclusive para se comunicar. Mas diferente da situação do país, o resultado do trabalho de Yoani é harmonioso, mesmo com a dureza com que ela trata dos assuntos, sem meias palavras para criticar os dirigentes cubanos ou para descrever as difíceis condições de vida dos hermanos.

Yoani e Generacion Y são exemplos de resistência ao totalitarismo, clamor por mais liberdade, um grito de esperança, alternando destemor e medo diante das ameaças, tudo isso com muito amor pelo seu país e apesar das imensas dificuldades de acesso à rede e do absoluto controle e restrições governamentais.

Entretanto, aos 35 anos Yoani parece desencantada com o futuro de Cuba, nem tanto pela falta de liberdades ou pela carência dos bens mais básicos, mas pelo fim das ilusões que transformou os cubanos em um bando de embusteiros, diferente do povo que recuperou sua dignidade nos primeiros anos da revolução. Enganar o governo sempre que possível, encontrar formas de burlar as determinações legais para o bem e para o mal, apelar para o mercado negro ou simplesmente dar as costas à Ilha e buscar o exílio é o que move hoje a maioria dos 11,5 milhões de cubanos. Yaoni preferia que toda esta energia fosse direcionada para a luta contra a ditadura castrista, por isso extravasa seu ressentimento em alguns textos. "Medalhistas de Vermelho" é um dos textos que reflete bem como se dão as relações na Cuba de hoje:

Existe entre nós um esporte praticado com freqüência, mas cujas estatísticas e incidências não são mencionadas em lugar algum. Trata-se da modalidade esportiva de devolver a carteira do Partido Comunista, para a qual muitos dos meus compratriotas vêm se preparando durante anos. O mais importante é treinar os sentidos para encontrar o momento adequado de levantar-se na assembléia e dizer "companheiros, por motivos de saúde não posso continuar arcando com a tarefa que voces me confiaram". Há quem alegue ter uma mãe doente – de quem terá que cuidar – e outros manifestam sua intenção de se aposentar para tomar conta dos netos. Poucos dos testemunhos dos que encerraram a militância contém a confissão honesta de terem deixado de acreditar nos preceitos e princípios que o Partido impõe.

Conheço um que encontrou um modo original de escapar das reuniões, das votações unânimes, dos chamamentos à intransigência e das freqüentes mobilizações do PCC. Como um boxeador, treinado para agüentar até que soe a campainha, compareceu ao que seria seu último encontro com o núcleo partidário de seu local de trabalho. Supreendeu a todos pelo argumento inusitado, um verdadeiro swing de esquerda que ninguém esperava. “Todo o dia compro no mercado negro para alimentar minha família e isso um membro do Partido Comunista não deve fazer. Como devo escolher entre colocar alguma coisa no prato dos meus ou acatar a disciplina desta organização, prefiro renunciar.” Todos na mesa se entreolharam incrédulos, “mas Ricardo, o que você está dizendo? Aqui a maioria compra no mercado negro”. O ‘golpe’ que vinha ensaiando encerrou com chave de ouro o breve assalto: “Ah...então eu vou embora, pois não quero pertencer a um partido de dissimulados, que dizem uma coisa e fazem outra”.

O livrinho vermelho, com seu nome e sobrenome, ficou sobre a mesa à qual nunca mais voltou a sentar-se. A medalha de campeão, quem lhe deu foi a própria mulher quando chegou em casa. “Finalmente se livrou do Partido”, disse ela, enquanto lhe sapecava um beijo e lhe passava a toalha.
"

Não é preciso dizer que recomendo com entusiasmo "De Cuba, com Carinho", de Yoani Sánchez (Editora Contexto).

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

BBB e os brios gaúchos

Assisti - pasmo! - a uma reportagem do Jornal do Almoço de hoje que, para resumir, lamentava o mau desempenho dos gaúchos no BBB, vide a eliminação daquela bocuda que foi miss qualquer coisa. A Regina Lima fez um esforço danado para ser convicente no "fala povo" e teve gente que pareceu sinceramente pesarosa com a falta de vocação dos "representantes" nativos para seguir adiante na casa. Faltou pouco para a deflagração uma nova Revolução Farroupilha ou para que os nossos pingos, a exemplo de 1930, fossem atados novamente no obelisco carioca. O Brasil inteiro não estaria entendendo o peculiar estilo gaúcho de se relacionar, por isso precisamos revidar a altura. Os brios gaudérios foram profundamente afetados. Abaixo a Rede Globo, abaixo o Boninho, abaixo o Bial! Vou deixar claro, se ainda não ficou: este pessoal que reclama contra os nossos irmãos brasileiros e sua principal rede de Tv por causa do BBB não me representa. Repito: não me representa, tô fora. Se a cruzada da hora for esta, estou abdicando da minha cidadania riograndense, morto de vergonha dos gaúchos torcedores de BBB.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Recomendo

Texto usado na campanha dos 100 anos da ABI (Associação Brasileira de Imprensa)

A Importância da Vírgula

Vírgula pode ser uma pausa... ou não.
Não, espere.
Não espere.

Ela pode sumir com seu dinheiro.
23,4.
2,34.

Pode criar heróis..
Isso só, ele resolve.
Isso só ele resolve.

Ela pode ser a solução.
Vamos perder, nada foi resolvido.
Vamos perder nada, foi resolvido.

A vírgula muda uma opinião.
Não queremos saber.
Não, queremos saber.

A vírgula pode condenar ou salvar.
Não tenha clemência!
Não, tenha clemência!

Uma vírgula muda tudo.

ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua informação.

Teste prático.

Coloque a vírgula:

SE O HOMEM SOUBESSE O VALOR QUE TEM A MULHER ANDARIA DE QUATRO A SUA PROCURA

* Se você for mulher , certamente colocou a vírgula depois de MULHER...
* Se você for homem , colocou a vírgula depois de TEM...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Assino embaixo

"Se você me encontrar numa fila não compulsória, chame a polícia, há alguém com um revólver nas minhas costas." (Mário de Almeida)

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Bobagens da Internet: injustiças da lingua portuguesa

A Sociedade Feminina Brasileira se queixa do tratamento machista existente na gramática portuguesa, e com razão...
Vejam os exemplos :

Cão.............melhor amigo do homem.
Cadela..................puta.

Vagabundo...........homem que não faz nada.
Vagabunda.............puta.

Touro....................homem forte.
Vaca....................puta.

Pistoleiro...............homem que mata pessoas.
Pistoleira.................puta.

Aventureiro..........homem que se arrisca, viajante, desbravador.
Aventureira.............puta.

Garoto de rua.........menino pobre, que vive na rua,
um coitado.
Garota de rua..........puta.

Homem da vida........pessoa letrada pela sabedoria adquirida ao longo da vida.
Mulher da vida.......puta.

O Galinha...............o 'bonzão', que traça todas.
A Galinha...............puta.

Tiozinho................irmão mais novo do pai.
Tiazinha..................puta.

Feiticeiro...........conhecedor de alquimias.
Feiticeira..............puta.

Roberto Jefferson, Zé Dirceu, Maluf, ACM, Jader
Barbalho, Eurico Miranda,
Renan Calheiros, Lula, Delúbio.........políticos.

A mãe deles...............putas.

E pra finalizar...
Puto.....................nervoso, irritado, bravo.
Puta....................puta.

Depois de ler este e.mail:
Homem................vai sorrir.
Mulher...............vai ficar puta.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Fetiches, o retorno

Outro dia confessei meu espanto com o que descobri no Google a respeito de fetiches e fantasias sexuais. Coisas do arco. Quando pensei que já conhecia tudo sobre o assunto eis que minha sempre atenta e diligente assistente Mariana me alcança o último número da revista Void, com uma entrevista de um cineasta neozelandês especialista em bondage, que vem a ser um tipo específico de fetiche, geralmente relacionado com sadomasoquismo, onde a principal fonte de prazer consiste em amarrar e imobilizar seu parceiro ou pessoa envolvida.

David Blyth é o nome do tal diretor, que tem a cara do Gerald Thomas e assina o documentário Trasfigured Nights (Noites Transfiguradas), todo filmado pela internet, que explora o universo de pessoas que se excitam usando roupas de borracha, máscaras e fantasias enquanto conversam via webcam. Segundo a Void, a coisa vai muito além do sexo virtual, pois alguns personagens que aparecem são a Miss Piggy, um senhor barrigudo que usa minisaia e máscara de porca e que dança de forma burlesca. Ou ainda um garoto que usa máscaras e roupas de colegiais japonesas, só que estranhamente deformadas, já que são feitas de papel machê. Outro coloca em média 16 camadas de roupas de borracha, junto com peitos falsos gigantes enquanto se amarra todo em frente à webcam. Não é ficção, garante a revista, e sim um registro de pessoas reais, o que eleva a bizarrice a outro nível.

Ainda chocado com essas revelações, eu que tenho fetiches e fantasias tão simplórias, fiquei mais aturdido quando o cineasta explicou suas relações com uma dominatrix muito famosa na Nova Zelândia. Foi quando eu descobri o que significa dominatrix.

A dominatrix profissional é a que exerce a profissão de realizar as fantasias de clientes submissos. Elas podem também ser dominatrix em seu cotidiano, possuindo "escravo pessoal" sem compromisso profissional. Mas muitas são apenas profissionais, e seguem esse emprego apenas pelo pagamento, sem um real comprometimento com a sub-cultura da bondagem ou sadomasoquismo. Imagina o que deve ter rolado entre o nosso neozelandês e sua dominatrix, conhecida como Madame Lash.

A entrevista é provocativa, tanto assim que uma pergunta questiona o fato de pessoas que são escravas por prazer às vezes são as mesmas que estão no comando nos seus trabalhos no dia a dia. (‘Sobre esses executivos que gostam de ser dominados, de onde vem isso?’). A resposta do sujeito me deixou muito preocupado. “Quanto aos CEOs e pilotos de avião e essas coisas, é que eles precisam sair da posição de quem tem toda a responsabilidade. Quando voce pilota um avião voce tem 300 pessoas a bordo. Quando voce vai a mestra dominatrix, voce consegue deixar essa responsabilidade sair e entrar num outro espaço. Voce tem um incrível alívio sexual e mental (...)”

Meu Deus, pilotos de avião metidos nessa? A que ponto chegamos! Como vamos saber se o comandante que nos saúda cheio de gentilezas a 12 mil pés não é o mesmo que veste roupas de borrachas na frente da webcam ou se submete a sanha de uma dominatrix? As minhas viagens aéreas, pelo menos, não serão mais as mesmas.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Meu mundo digital

Agora posso confessar: estou apaixonado por essa coisa de blog. Custei a me entregar, mas hoje me divirto ao escrever os textos. Os poucos que lêem têm gostado, elogiado, o que me gratifica duplamente porque, de alguma forma, estou ajudando a melhorar o astral das pessoas.

O amigo Nilson Souza entende que os blogs são o “jornalismo do umbigo”, a medida em que os blogueiros falam mais de seus assuntos do que da vida lá fora. Pode ser, mas como não tenho pretensões jornalísticas no Via Dutra, viva os blogs! Gosto tanto que faço postagens todos os dias e estou preocupado porque daqui a pouco vai faltar conteúdo. Não sou tão talentoso, nem prolífico assim.

Também estou no Orkut (74 amigos!), esperando as novidades que se anunciam, e no MSN, que uso cada vez menos. Recebo solicitações de amizade para o hi5, mas como não entendi pra que serve, tenho resistido. Nada pessoal a recusa aos convites. E alguém me adicionou ao Quepasa, uma espécie de Facebook latino, mas não tenho freqüentado o espaço que achei muito esquisito. Sem contar que o tal Quepasa, sem minha autorização ou pedido, replicou convites a uma extensa lista de contatos. Sacanagem digital.

Ao Facebook já aderi, com vários amigos conectados e tenho convites todos os dias. O crescimento é exponencial, mas ainda estamos numa fase de namoro, eu tentando entender como funciona e a ferramenta me atrolhando de mensagens dos parceiros. Aí reside minha contrariedade com o Facebook. Alguns dos novos e velhos amigos escrevem demais na área do feed de notícias e ainda tem os amigos dos amigos que se metem a comentar e acaba virando uma "secção abobrinha". Sei que o espírito do Facebook é esse mesmo, integrar as pessoas em rede, replicar informações, gerar conteúdos, expressar um momento, mas não custa nada fazer um filtro. A mim, por exemplo, não interesse que determinada pessoa esteja se preparando para dormir, ou o que comeu no jantar ou ainda que está na hora de levar o cachorrinho para passear.

Pelo volume de mensagens acredito que alguns parceiros vivem para o Facebook, sem outra atividade mais produtiva. Ficaram viciados, esquecendo que tem tanta coisa boa pra se fazer além da comunicação digital. Me poupem.

Agora comecei a flertar com o twitter. Falam maravilhas deste canal de 140 caracteres, pela agilidade – e concisão - ao passar as informações. Sou viciado em informações e isso está me atraindo cada vez mais para virar twiteiro. E me encanta também as sacadas dos mais criativos, verdadeiros haikais, que acompanho eventualmente.

O que me preocupa é como fazer para administrar todos esses formatos e ferramentas, eu que sou da geração pré-digital. Como processar tanta informação? E como encarar o que de novo vem pela frente? Ainda não tenho as respostas, mas vou fazer um esforço para enfrentar com dignidade e sem preconceito esse novo mundo que nos desafia.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Sessentinha

Acho que foi o Caimmy, com aquela malemolência bem baiana, quem disse: a velhice é uma merda. Se não foi ele deve ter sido o Jorge Amado. Não chego a tanto, até porque ao atingir os sessentinha não me considero velho. Continuo ativo e operante em todas as atividades, inclusive naquela e sem aditivos – ainda. Por isso, celebro a vida e o que ela me proporcionou de melhor, minha família em fase de expansão e uma legião de amigos generosos. Vou brindar a todos com os finos vinhos que recebi de presente. Cheio de gás, estou no partidor para mais 60. Vocês estão condenados a me aturar.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O circo de Petrópolis: vaias no Olímpico - final

*Recomenda-se ler a postagem anterior de O Circo de Petrópolis: vaias no Olímpico

O Luciano, nosso treinador, montou um time forte, recrutando alguns guris do Anchieta, e estreávamos um terno de camisetas doado pelo São Paulo, sim o São Paulo do Morumbi, campeoníssimo brasileiro, mas essa história conto outra vez. Interessa saber que entramos em campo cheios de bossa, com este que vos fala na lateral-direita que os modernos chamam de ala.

Minha missão era marcar um ponteiro de cabelo foguinho, forte e veloz, que nas duas primeiras investidas passou por mim como se fosse um raio. Quase gol. Os tricolores haviam descoberto o caminho da roça: era o lado que me cabia defender. E lá se foram mais lançamentos para o foguinho até que, incentivado pelos companheiros, resolvi tomar uma atitude. No ataque seguinte, bola dividida, entrei pra rachar e derrubei o adversário. Mais um ataque e outro dos nossos deu uma entrada que jogou o cara na pista atlética. Em seguida fui substituído porque não ia agüentar muito tempo a pressão do atacante e também porque não tinha tamanho nem força física para enfrentá-lo.

A chinelagem é que nosso terno tinha apenas 11 camisetas e a troca era na beira do campo. Quem entrava jogava com a camisa suada do companheiro substituído, mas a emoção de jogar no templo tricolor compensava até o vexame.

Enquanto isso, torcida do Grêmio, já em bom número no Olímpico, nos vaiava, pois o pau continuava comendo agora nos embates em outros setores do campo. A violência não resolveu muito porque acabamos perdendo por 2 x 1, nosso gol marcado por Cláudio, que eu não lembro quem era.

Fim de jogo no vestiário, satisfeitos por não termos levado uma goleada, comentávamos as principais incidências da partida, animadíssimos, quando o seu Álvaro entrou berrando:

- Selvagens! Vocês nunca mais vão pisar no Olímpico, seus animais.

O velho estava possesso com a violência praticada contra seus garotos e não parava de esbravejar. Até que dois ou três dos nossos, os mais fortes e menos civilizados, avançaram em direção a ele para fazer jus a selvageria da qual nos acusava. Seu Álvaro sentiu a barra e, com a pressa que a perna manca permitia, tratou de escapar, debaixo de vaias e desaforos. Estávamos vingados das vaias da torcida e das acusações do treinador. Para comemorar, fomos todos derrubar uma rodada de cervejas na primeira copa do estádio que encontramos aberta.

A escalação do Tupy no histórico jogo, uma clássica formação 4-4-2, conforme descobri nos meus alfarrábios: Piero; Flávio (Nelson), Felipe (Sombra), Geléia e Caio (Manta), Silvio e Pinguinho; Beto (Zé do Burro), Geada (Carlinhos), Cláudio e Alfredo (Caio). (Tirando os irmãos Piero e Beto D'Alascio, os outros não sei ondem andam e o que fazem).

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O circo de Petrópolis: vaias no Olímpico - parte 1

(Era tanta palhaçada que para virar circo só faltava a lona)

Nos anos 60 havia campeonatos de futebol varzeano para todos os gostos e todas as idades. A Prefeitura promovia o interpraças que reunia equipes representando cada uma das principais praças com campos de futebol. Era competição para a garotada até 15 ou 16 anos. E havia ainda os campeonatos promovidos por empresas, como a Copa Presidente, patrocinada pelos cigarros com este nome, que seria a Copa Paquetá de hoje. Era uma maratona de jogos, tipo mata-mata que empolgava toda a várzea. E havia ainda os campeonatos do Departamento Autônomo Amador da Capital, ligado a Federação, que congregava os diretórios das regiões da cidade.

Envergando a gloriosa jaqueta azul e branca do Grêmio Esportivo Bagé, disputávamos o diretório da Zona Leste, contra times como o Clarão da Lua, o preto e branco do Mont Serrat; o Concórdia, vermelho, preto e branco e nosso principal rival que disputava seus jogos no Valão da Várzea; o Universal, time de carroceiros do Jardim Botânico; o Bonsucesso, da Bom Jesus; o Vila América, lá do Mato Sampaio; o Vila Federal, que era o bicho papão, e outros menos votados, como o Rajados, que conseguia ser pior que o nosso Bagé. Minha qualificação não ia além do time de aspirantes e ainda assim era reserva.

No interpraças representávamos a Praça Tamandaré, ali entre a Caçapava e a Taquara, em Petrópolis. O campeonato era aberto para outras equipes e vai merecer que, em breve, recordemos algumas histórias. Grêmio e Inter formavam times B de infantis, infanto e juvenis para disputar esses campeonatos. O Inter, ainda na era dos Eucaliptos, era de uma pobreza franciscana. O Rolinho colorado, como era conhecido, tinha a batuta do seu Jofre Funchal, grande descobrir de talentos, vide Falcão. O treinador do Grêmio era o seu Álvaro, metido a brabo, pedreiro nas horas vagas e apelidado cruelmente de Pneu Furado porque coxeava de uma das pernas.

Certa vez seu Álvaro concedeu a honra ao aguerrido Grêmio Esportivo Tupy de disputar uma pré-preliminar no estádio Olímpico em um jogo do campeonato nacional de então, o Roberto Gomes Pedrosa ( Robertão). O jogo era Grêmio x Palmeiras. A data: 19 de março de 1967. A pré-preliminar começava ao meio dia, quando os primeiros torcedores chegavam ao estádio, mas para nós do Tupy era decisão de Copa do Mundo.O Olímpico era o grande estádio da cidade naqueles anos 60 (o Beira-Rio foi inaugurado em 69) e o adversário seria os infantos do Grêmio, algo como sub 17 de hoje. Imaginem o que isso significava de emoção para a gurizada de Petrópolis.

(continua)