quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Pedidos singelos a um Novo Ano

Hei, meu jovem Novo Ano, será que posso dispor de um minuto dos milhares que tens estocado? É que eu queria renovar alguns pedidos feitos para o instável e já caduco 2011. São coisinhas singelas, uma concessãozinha aqui, uma atençãozinha ali, nada que vá interferir no andamento do universo, mas que podem mudar o meu andamento no universo - antecipadamente peço perdão pelo jogo de palavras.


Só para lembrar, meu infantil Novo Ano, reitero encarecidamente o pedido já feito: livrai-me dos chatos; vale repetir, livrai-me dos chatos. E reforço os outros pleitos: mantenha longe de mim também os mordedores em geral e os pedintes de favores. Se possível, afaste os hipocondríacos, com suas doenças e seus remédios para todos os males. Quero distância igualmente dos baixo astrais, dos angustiados, dos obsessivos porque tenho medo de contrair uma deprê. E mais, se não for abuso, suplico: mande para longe os duvidosos de caráter, os falcatruas, os descompromissados e os sugadores de energia. Coloque em fuga, por especial gentileza, os arrogantes, os prepotentes, os invejosos e todos da mesma laia.

Promissor Novo Ano, não me leve a mal, mas gostaria de acrescentar outros pedidos. Apelo para o teu anunciado espírito harmonioso para reaproximar-me dos que ofendi e se apartaram, e daí-me o dom da tolerância para aceitar e receber os que se desgarraram. Faça pousar em mim a deusa da paciência e que venham juntas as amazonas altivas da fé e da esperança. Com isso, serei fortaleza que não se dobra, terei coragem para enfrentar as adversidades e energia para novos desafios, porque bem sei, minha criança, que algum tropeço há de ter e faz parte da jornada.

Vamos tratar de coisas práticas, meu pueril 2012? No repeteco, salve-me das filas, as dos bancos e dos supermercados, e todas as outras onde corra o risco de ser interpelado por desconhecidos que me tiram para confessionário e interrompem minhas ruminações. Não admita, por compaixão, que a guria bonita me pergunte a idade antes de distribuir a senha, se a maldita fila for inevitável. Abusando da compaixão, não permita que as bonitinhas me chamem de tio e muito menos de vô, mas dá uma forcinha para que a Maria Clara e a Rafaela aprendam logo a me chamar de vô.

E tem mais uma listinha facilzinha e repetida, meu imberbe 2012. Não deixe faltar uma boa carne na minha mesa, saladas variadas, cerveja gelada e um vinho encorpado para as noites de inverno. E se não for pedir muito, que eu reencontre aquele doce de abóbora, de comer ajoelhado. Ah, e aquela berinjela, a carne de panela com batatas e uma caixa de Bis só pra mim. Se não for contraditório, aproxime de mim essas tentações. E que sempre possa dividir a boa mesa com companhias agradáveis, brindando os bons momentos da vida que não são muito e até por isso precisam ser valorizados. Conceda-me, de vez em quando, jogar um pouco de conversa fora, curtir mais a minha gente, vagabundear sem culpa, experimentar o novo e, por que não?, me entregar a alguma extravagância. Vamos combinar que não é pedir demais.

Em contrapartida, Novíssimo Ano, prometo continuar sem fumar , me exercitar com regularidade, comer menos fritura e beber moderadamente, cometer menos infrações no trânsito, voltar a ler e fuçar menos na internet, ouvir mais e falar menos, lembrar o aniversário de casamento e outras datas importantes e não desejar a mulher do próximo, nem a do distante, porque os outros pecados não os cometo. A não ser que um pouco de rabugice seja pecado, dos veniais, mas até isso pretendo corrigir. Nesses termos peço sua compreensão e deferimento, jovem e bem-aventurado Novo Ano.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A vigília dos pastores

“Escrevo à noite. Vem na aragem noturna um cheiro de estrelas. E, súbito, eu descubro que estou fazendo a vigília dos pastores. Aí está o grande mistério. A vida do homem é essa vigília e nós somos eternamente os pastores. Não importa que o mundo esteja adormecido. O sonho faz quarto ao sono. E esse diáfano velório é toda a nossa vida. O homem vive e sobrevive porque espera o Messias. Neste momento, por toda a parte, onde quer que exista uma noite, lá estarão os pastores – na vigília docemente infinita. Uma noite, Ele virá. Com suas sandálias de silêncio entrará no quarto da nossa agonia. Entenderá nossa última lágrima de vida”
Nelson Rodrigues, publicado originalmente em O Globo.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Galeria de ex

Tenho um certo fascínio por essas galerias de fotos de ex-presidentes e outros ex que adornam as mais nobres paredes das repartições públicas e até de algumas instituições privadas. Ao conferir as fotos mais antigas, daqueles senhores com vastos bigodes, cavanhaques bem cuidados e cabelos engomados, fico a imaginar o que fizeram para estar ali, dividindo espaços com outros senhores de olhar circunspectos. Que desafios enfrentaram, que legado deixaram, como se moviam naqueles tempos menos agitados? Quanto mais volto no tempo, mais minha imaginação se atiça. Deve existir alguma explicação para essa nostalgia do que não vivi.

A verdade é que essas galerias são uma tentativa de perpetuar determinado período, mesmo que o homenageado não tenha reunido tantos méritos assim. É o que me ocorre, com uma pontinha de incerteza , quando recordo que este humilde blogueiro também figura, impávido e de fatiota, na galeria de ex-presidentes da TVE. Alguma contribuição devo ter dado para figurar naquela parede, ao lado de luminares da comunicação.

Ao mesmo tempo, a imaginação se liberta e passo a pensar que tributos devem ser materializados para outras categorias de ex: ex-chefes, ex-amigos, ex-colegas, ex-amores. Como expressar o que representaram nas nossas vidas, que espaço poderiam merecer tais personagens, que critérios adotar para revelar a justa dimensão de cada um, se decidíssemos montar galerias para todas ou algumas categorias. Mas como é só um exercício de imaginação, numa fase de tédio criativo, fiquei em dúvida se vale a pena revolver o passado. Vamos que nesse processo surjam fantasmas que já estavam sepultados, tipo ex-chefes tiranos, ex-amigos que não corresponderam, ex-colegas puxadores de tapetes e ex-amores insinceros. Pensando bem, é melhor deixar pra lá.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Pérolas da Internet II

Prossigo com minha mesopotâmica campanha, como diria o Macaco Simão, contra a chatice no Facebook e pela eliminação das mensagens de auto-ajuda, das religiosas em geral, das citações fakes e das que fazem defesas obsessivas e agressivas de causas. Para não ganhar o carimbo de mal humorado e mostrar que é possível interagir na rede com  humor e criatividade, selecionei uma nova série de Pérolas do Facebook:

1. Inglês para principiantes:

2. Chantagem:

3. Bichanos na rede:

3. Dm Quixote moderno:

4. Atenção à nova sinalização:

5. Se for bebê, não dirija:

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Nãs mãos do doutor House

Foi assim: estava sentindo uma dorzinha incômoda na região do abdômen e resolvi passar na emergência do Mãe de Deus para uma consultinha básica. Entrei no hospital pela manhã e só sai seis dias depois, como se o doutor House tivesse se materializado em Porto Alegre e com toda a sua equipe passasse a cuidar do meu caso. Essa idéia me passou pela cabeça a cada etapa em que avançada rumo às entranhas do hospital.

É curioso isso e deve ter sua lógica a dinâmica hospitalar: quanto mais se internaliza, mais séria a coisa fica para o seu lado. Primeiro, nas áreas da frente, tiram sua pressão, fazem uma série de perguntas e você é atendido pelo clínico – no meu caso, uma médica jovem e charmosa, o que me animou naquele momento de fragilidade. São providenciados os exames que vão confirmar um ou outro diagnóstico da médica, a jovem e charmosa: diverticulite ou apendicite.

Minha torcida passou a ser imediatamente pela apendicite, porque logo me veio à memória que Tancredo Neves fora hospitalizado com uma diverticulite e deu no que deu. Três exames depois, veio o veredito: apendicite e das agudas. Não havia motivos para comemorar. O bisturi me esperava, na verdade uma videolaparoscopia, e logo fui apresentado ao cirurgião, falante e objetivo, que me explicou que, diferente do se imagina, a apendicite entre adultos e mesmo veteranos como eu, não era incomum.

Elegi o cirurgião - Guilherme Pesce, ele é o cara - como o doutor House desse relato, não pelas idas e vindas dos diagnósticos que caracterizam a série americana, nem pela rabugice, mas pela segurança que passava. Soube depois pelas enfermeiras e técnicas de enfermagem que se tratava de um profissional muito competente e respeitado, mas a essa altura eu só queria saber o que aconteceria logo adiante.

A cirurgia estava marcada e fui encaminhado a uma sala de medicação, uma enfermaria mais interna, para receber soro e ser privado de qualquer alimentação ou liquido. Até agora não entendi o que acontecia naquela sala: era um entra e sai de pacientes, enfermeiros, auxiliares, médicos, numa movimentação que devia ter sua lógica, mas se tinha, não alcancei. E o pessoal da casa, menos mal, estava sempre animado e muito prestativo, apesar do caos organizado.

Confesso a vocês que esse foi o pior momento: uma longa espera de mais de seis horas até ser chamado para o “bloco” que é jargão utilizado pelo pessoal para designar a área cirúrgica. Pior foi agüentar o rapaz com um ferimento na cabeça que aguardava a ambulância ( atrasada!) para voltar para casa e a todo o momento ameaçava escapar da sala. E eu ali, tomando soro e esperado a hora fatídica. Será que eu posso falar de novo com a médica jovem e charmosa? Não, não pode. Será que eu posso tomar um golinho d’água ou um cafezinho? Não, não pode. Onde está doutor House, o falante e objetivo, para começar logo a cirurgia? Calma, logo o senhor será encaminhado para o ‘bloco’. Pelo menos agora a Santa já está junto dando apoio moral, afetivo e logístico. Santa Santa!

A noite chegou e com ela o chamado para o ‘bloco’, conduzido em cadeira de rodas, que vexame. Vexame maior viria em seguida quando o paciente se despe de suas roupas e do que ainda resta de dignidade e veste a “roupa” com que enfrentará a cirurgia. Chegou a hora da verdade e tremer é para os fracos. Éramos três com aquelas batas ridículas a espera do bisturi, cada um com seus problemas. Sinceramente eu era o mais animadinho e ao ser chamado para a sala de cirurgia desejei boa sorte ao que ainda estava na sala, que me devolveu um olhar de boi que vai para o matadouro.

A cirurgia é precedida de uma conversa com a enfermeira que vai acompanhar o procedimento e antecede a aparição de outro personagem – o anestesista. Jovem, simpático, repete as mesmas perguntas da enfermeira e antecipa a cobrança dos seus honorários - R$ 900,00 cash! Ainda tenho energia para protestar, mas o jovem e simpático argumenta que na sua profissão enfrenta uma barra, com chamados fora de hora e tudo o mais. Deve ser dura essa vida de anestesista, mas me ocorreu fazer uma proposta, digamos provocativa, ao me apresentar como jornalista:

- Tô trocando, doutor.

O jovem e simpático levou na flauta e agora me pergunta, eu já deitado na cama cirúrgica, se “está tudo bem?”. Quando o doutor House faz a mesma pergunta, logo em seguida, devolvi:

- Comigo tudo bem. Agora o paciente pergunta: e a equipe médica está pronta e segura?

Em seguida apaguei, sob o efeito da anestesia e acordei na sala de recuperação, calculo que três horas depois. Estou inteiro, menos um apêndice. Esse é um momento crucial: pouco a pouco começa a tomar contato com a realidade e a sentir os primeiros desconfortos do pós operatório. Entubado por uma sonda pelo nariz e preso ao soro, tenho dificuldade até para o mais simples movimento, sinto um leve enjôo e a retomada do sono é complicada. A vontade de fazer xixi é enorme e um dos olhos arde, sabe-se lá por que. Já no quarto, intuo as horas porque a TV é ligada no Programa do Jô..

Pela manhã sou acordado por dois técnicos em enfermagem, um homem e uma mulher, sugerindo que é hora do banho. Pode ser na cama ou no banheiro, informam. Lá sou homem de me deixar banhar na cama e, num momento de superação pessoal, vou para baixo do chuveiro, observado pelos dois. Não estava preparado para esse constrangimento, mas vamos em frente que está começando a terceira e última etapa dessa jornada.

Para resumir, como o apêndice estava mais inflamado e dera mais trabalho, o médico determina um período maior de resguardo, vale dizer de hospitalização, estimado em cinco dias. Período em que, acarinhado pela família (Mariana apareceu de surpresa, vinda de Buenos Aires), dediquei-me a leitura, a sessões de internet e a assistir a TV, enquanto era visitado em todos os turnos, que começavam às 4 da matina, ora pelos técnicos de enfermagem me espetando de todas as formas e auscultando os sinais vitais, ora pelas enfermeiras de plantão, ora pelas nutricionistas e até pela freira da Pastoral da Saúde. Os médicos, nosso Doutor House mais o cardiologista, batiam ponto sempre pela manhã.

Duro foi vencer o primeiro dia com uma dieta apenas de líquidos e gelatina, o que me levou a um decisão: nunca mais vou beber suco de pêssego. Depois, até passei a gostar das mordomias, embora invasivas e restritivas, mas comecei também a contagem regressiva para a alta.

- Os resultados dos exames foram bons e tá na hora de ir pra casa, informou o nosso doutor House na manhã no sexto dia de reclusão.

Foi só o tempo de ouvir as ultimas recomendações do médico, apanhar minhas tralhas, agradecer a atenção do pessoal e lá me fui pra casinha, que é o melhor lugar do mundo.


Hesitei muito antes de escrever e divulgar esse relato, receoso de que um problema pessoal de saúde pudesse passar uma idéia de coitadismo, de uma situação dramática ou algo do gênero. Nada disso: fui muito bem tratado no Mãe de Deus, em todas as instâncias e etapas, certamente porque tenho cobertura de um plano de saúde privado, mas principalmente porque toda a equipe do hospital está comprometida em fazer o melhor e o faz com satisfação. Pelo menos foi essa a minha percepção. Vale o mesmo para a equipe médica, presente todos os dias. O que me levou a escrever e tratar o assunto com naturalidade e alguma graça, foi destacar a importância de buscar a avaliação médica na hora adequada, sob pena de agravar um problema para o qual não damos a devida atenção. Atender aos reclamos do corpo, ainda mais depois de uma certa idade, é fundamental. A ficha me caiu quando tomava um expresso com o companheiro Cláudio Thomas e ele contou o sucedido com um amigo comum. Os sintomas eram os mesmos, uma dor persistente na barriga, que foi diagnosticada como câncer – a palavra que eu temia ouvir, confesso agora -, quando o nosso amigo finalmente decidiu recorrer aos cuidados médicos. O dado positivo é que o amigo está reagindo bem ao tratamento. Estou na torcida, Moisés.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Pérolas do Facebook

O Orkut já era e o Facebook está indo pelo mesmo caminho. Muita abobragem e grandes bobagens, mensagens de auto ajuda, carolices religiosas, alguns embates ideológicos um tanto raivosos para o meu gosto, recados indiretos ou nem tanto para os ex, sem contar aquelas citações que os autores nunca fizeram e a cruzada obsessiva em favor dos pets. Mas assim caminha a humanidade e claro que tenho minha parcela de responsabilidade no circo geral, postando recados de natureza muito pessoal. Para minha surpresa, as postagem tem conseguido boa receptividade, o que me deixa mais preocupado ainda.

Na verdade, estou sendo muito rigoroso nessa avaliação porque o FB é essencialmente, digamos, uma mídia autoral e cada um posta o que quer. Quem não gostar, oculta, denuncia, exclui. Simples assim. Além disso, sou obrigado a reconhecer que em meio à geléia geral aparecem verdadeiros achados, pérolas de sabedoria popular, sacadas simples e bem humoradas, mesmo em temas revisitados. Aqui estão alguns exemplos, selecionados por um gosto não tão refinado:


1. Deu merda:


2. Confusão no galinheiro



3. Vida de cachorro

 
4. Sessão nostalgia

 
5. Boletim escolar

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A festa da firma - final

*Recomenda-se ler a postagem anterior de A festa da firma


O cenário contribui para criar o clima que vai funcionar como contraponto e negação às chatices do cotidiano. A música convida ao balanço e a bebida liberada desinibe até o sisudo chefe do RH. Se houver troca de presentes, surge a primeira chance de um amasso naquela colega bem dotada que a sorte reservou para você no amigo secreto. Enfim, está tudo pronto para que a festa descambe para práticas que extrapolam os limites do coleguismo. Olhares, gestos, palavras fazem parte do processo de interação e, aos poucos, as parcerias vão se formando naturalmente, por afinidades, desejos e pretensões fixadas com antecedência. Muitos colegas já chegam emparceirados e a festa é apenas a última etapa para os finalmente.

Na verdade, nada acontece por acaso. Aquela moça que de repente surge a sua frente, no caminho para o bufê, estava de olho em você há muito tempo. E aquela outra que era o seu sonho de consumo está logo ali, olhar pidão, esperando o convite para sacolejar na pista de dança. Você é caçador e é caça. Valeria a pena uma descrição mais detalhada desses momentos que expressam a realização plena da nobre arte da sedução. Mas vamos deixar para outra ocasião, porque agora o mais importante é repassar algumas dicas, especialmente preparadas por experts, que garantirão o sucesso da noitada.

Cuidado com a bebida é a primeira recomendação. Na dose certa ela encoraja; em excesso pode transformar você no bobo da corte com direito a todos os micos. Se ainda assim você conseguir ficar com alguém pode faltar energia na hora do vamos ver. (Lembre-se, existe vida real no dia seguinte).

Saiba também que mulher detesta bafo de cerveja, mas tem boa tolerância ao vinho e aos espumantes. Ah, os espumantes. Mulher adora dizer que adora espumantes. Então, é por aí. A cautela com a alimentação também é necessária. Nada mais desagradável que uma indisposição estomacal quando você está quase consumando o sonho de arrastar pra intimidade aquela morena dos Serviços Gerais. Pegue leve, portanto.

Pra não alongar mais o papo, o último - e talvez principal - conselho dos especialistas: tenha foco. Escolha o alvo, mire nele e vá em frente. No máximo, tenha um plano B à mão, caso a primeira alternativa não dê certo. Se você ficar dando tiros a esmo, vai gastar toda a munição, afugentar as potenciais pretendentes e, no fim da noite, terá que se contentar com aquela solteirona faceira do Almoxarifado, tamanho GG, mas trajando um modelito 42, vermelho "cheguei". (Prepare-se para ser sacaneado pelos colegas no dia seguinte e em todos os dias até a próxima festa).

Dentro do mesmo sub-tema, cuidado com suas escolhas. Certifique-se de que a parceira pretendida já não está comprometida com outras instâncias hierárquicas da empresa. Não faça como aquele contínuo boa pinta que se assanhou com a secretária da diretoria e no dia seguinte foi demitido pelo diretor financeiro, que tinha mais "cacife" que o afoito jovem. Se pintar um sinal de alerta durante o cerco à colega, saia de fininho e parta para outra. Manter o emprego é mais importante que uma noitada. O mercado de trabalho não está pra peixe e, afinal, sempre há outras opções no elenco feminino de sua empresa. Á luta, companheiros.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A festa da firma

Digamos que o período sabático que estou passando me livrou de vários eventos que se encarreiram nos finais de ano. Além da inevitável festa da firma, há as premiações de natureza variada, as prestações de contas dos setores produtivos, sem contar as eventuais formaturas, os aniversários e casamentos, tudo regado a muita bebida e comilança. Haja fígado. Haja estomago.


De todas as celebrações a mais esfuziante, sem dúvida, é a chamada festa da firma. Como já passei por muitas firmas e borboleteei por inúmeras confraternizações de final de ano, permito-me reproduzir aqui um texto, originalmente publicado em dezembro de 2009 e devidamente reeditado, sobre esse marcante evento. Aí está:


Fim de ano é tempo de confraternização nos locais de trabalho. Conhecidas vulgarmente como “a festa da firma”, essas confraternizações estão a merecer um estudo sociológico sobre suas implicações, que vão além das afinidades funcionais. Na verdade, o estudo precisaria ser mais amplo por conta das relações perigosas que se estabelecem no ambiente de trabalho, em níveis inferiores e superiores.

Se fosse transformado em uma série de TV americana o título apropriado para tal estudo seria "Sex and the Office". Se fosse escolhido um patrono para a causa seria, sem dúvida, o ex-presidente Bill Clinton, que quase perdeu o cargo mais poderoso do mundo por causa do envolvimento com aquela estagiária bem nutrida, tendo como cenário o Salão Oval da Casa Branca.

Vamos combinar que a prática de sexo no escritório, seja público ou privado, não é coisa nova. Deve ser tão antiga quanto os escritórios e por certo teve início quando homens e mulheres passaram a conviver boa parte do dia no mesmo ambiente. Só que se acentuou com a liberação dos costumes e os confortos proporcionados pelos escritórios modernos, climatizados e com aqueles sofás convidativos. O cinemão hollyodiano se ocupa do tema com freqüência e "Atração Fatal" (de 1987, com Michael Douglas e Glenn Close) talvez seja o exemplo mais conhecido.

O que chama a atenção é o fetiche que o ambiente de trabalho significa para determinados funcionários e funcionárias. Tive acesso a inúmeros depoimentos de gente que se imagina transando em cima das mesas, entre grampeadores e computadores, relatórios e agendas e, às vezes, a foto de uma cena de família a espreitar os amantes. E conheço também alguns casos em que esse sonho foi realizado e todos garantem que é um momento único, pelo que representa de transgressão. E se for na sala do chefe, melhor ainda. Sei do caso de um contínuo que para se vingar da tirania do chefe transava no escritório dele com a faxineira, que era a garantia que tudo ficaria limpo e em ordem no final.

Mas o nosso foco é essa circunstância que predispõe às relações perigosas, coleguismo à parte, nos escritórios - " a festa da firma". Os congraçamentos servem para liberar alguns desejos sufocados no dia a dia da empresa, que impõe exigências cada vez maiores de produtividade, gerando insegurança quanto ao futuro e muito estresse. A verdade é que nesse contexto fica mais difícil a libido aflorar.

Aí vem o dia da grande festa de fim de ano e um frisson perpassa o ambiente de trabalho. As mulheres se produzem, marcam hora no cabeleireiro ou lançam mão da chapinha e à noite surgem resplandecentes com suas melhores roupinhas. Amigas sinceras me confidenciaram que estréiam peças íntimas, recém adquiridas, nessas ocasiões. Os homens não chegam a tanto, mas também se preocupam em dar um trato no visual.

(continua)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Patrícia Poeta me deve essa

“Fátima Bernardes deixa o JN. E daí?” Bastou postar esta despretensiosa mensagem no Facebook para que, em minutos, aparecessem mais de uma dezena de comentários e outras tantas curtições. A maioria dava conta do seu desconforto com a relevância que adquiriu na mídia a troca de âncora no principal telejornal brasileiro. De fato, quando quem processa a informação ganha mais importância que a própria informação e vira notícia e manchete é porque há algo de errado no reino da comunicação. Nada contra a Fátima Bernardes, uma apresentadora correta e de grande empatia com o púbico, formando um casal telejornal nota 10 com o Bonner, no ar e no lar. Até por isso foi apropriadamente apelidada de Ótima Bernardes pelos Cassetas.

Mas vamos combinar que a troca da Fátima pela ascendente Patrícia Poeta não mexe um milímetro com o dia a dia dos brasileiros e mereceria no máximo uma nota discreta nessas revistas dedicadas a esmiuçar a vida das celebridades. Só que a Rede Globo se movimenta por outra lógica, como se fosse meio e mensagem, e dispensa tratamento de artistas aos seus âncoras jornalísticos. Tanto assim que a dança das cadeiras no JN mereceu entrevista coletiva e a promessa de um programa especial na segunda-feira, na despedida da Fátima. Certamente correrão lágrimas e é capaz de a dona Maria, lá das grotas, chorar junto, mesmo sem entender nada, pensando que a cena faz parte da novela

Agora permitam-me revelar que a Patrícia Poeta me deve, em parte, essa nova fase na sua carreira. Calma que eu explico. Nos tempos em que era atuante no ramo televisivo por duas vezes tive a chance de contratar a recém formada estudante de Comunicação da PUC. A primeira vez por indicação do Flávio Porcello, professor da moça e expert em reconhecer talentos femininos e depois pelo Sérgio Martins, que fora casado com a Patrícia Poeta. Nas duas vezes vacilei e a promissora profissional seguiu outros caminhos. Sorte dela, pois acabou se consagrando na Globo. E a mim só o que resta é ser alvo das chacotas do Sérgio Martins, sempre nos encontramos nos eventos: “Duas vezes, Flávio Dutra, duas vezes...e tu mosqueou”. Eu mereço!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A outra

Reedidato a partir da publicação original de 28/12/2009 com o titulo "Discrição é tudo".


Ao contrário do que prega a clássica anedota da Sharon Stone náufraga, que recompensa seu Crusoé moderno, que depois pede a ela para se vestir de homem e dar uma volta pela ilha, etc. etc, etc., a discrição é o segredo para curtir um relacionamento transgressor por muito tempo. A recomendação vale especialmente se esse relacionamento for entre colegas. Em texto anterior (A Festa da firma) já nos debruçamos sobre as relações perigosas no ambiente de trabalho, mas omitimos a importante lição ensinada pelos mais credenciados especialistas no tema. Falha nossa.


Os mestres, moldados por muitas batalhas, são veementes na condenação do que poderíamos resumir por “se não for para espalhar, qual é a graça?”. Os homens têm obsessão em vitaminar seus currículos com histórias de grandes e pequenas conquistas. E para a maioria interessa mais a quantidade que a qualidade, embora as Sharon Stones da vida (você pode trocar por Angelina Jolie, Gisele Bundchen, uma ex-BBB ou outra celebridade qualquer) mereçam figurar na comissão de frente nas histórias contadas em mesas de bar. Só que não há tantas Sharon Stones disponíveis e muitas moças e senhoras só aparecem como tal por efeito de uns copos a mais na hora da conquista, ou no relato, ligeiramente exagerado, aos amigos. Todas ganham status de “verdadeiras Deusas” e na real, sabemos que não é bem assim. Mas não estamos aqui para julgar as atitudes dos parceiros ou fazer juízo de valor sobre as mulheres de suas vidas.

O que importa é que seja aprendida a lição de que a discrição é fundamental. O mínimo que aquele seu casinho no escritório espera é ser preservada diante do grupo de trabalho.

Há que ter cuidado com as armadilhas. Não faça como S., premiado publicitário que se apaixonou pela garota da Mídia e para agradar ao novo amor aceitou o convite para um cineminha, sexta-feira à noite, num movimentado shopping da cidade. Ele não contava que todo o pessoal da agência também estava com disposição para freqüentar o shopping naquela sexta-feira. O flagra foi inevitável e constrangedor, com sérios desdobramentos na vida profissional e familiar de ambos. Faltou dizer que os dois eram casados.

Um flagrante assim gera falatório, queima o seu filme e da sua acompanhante. Homem não dá muita importância a isso, acha que a fama de pegador é positiva, mas as mulheres detestam o ti-ti-ti e rejeitam ser vistas como “a outra”. Pessoa que já transitou por essas crônicas acrescenta que as mulheres até não se importam de serem a outra e ele chegou a essa conclusão quando foi abordado por uma conhecida com a seguinte sentença:

- Eu quero ser a outra da tua vida.

O exemplo pode legitimar a tese, mas ela precisa de adendo – desde que não seja identificada publicamente como a outra e fique tudo apenas entre as duas partes interessadas. Algumas mulheres até se expõe no limite do aceitável. A propósito, circulou recentemente no território livre da Internet, o acontecido com um executivo que estava de casamento marcado - e provavelmente não tratou da questão com a devida atenção - e foi surpreendido com uma faixa estampada em frente a sua casa, no dia do enlace.

- “Ricardo, Eu vou no seu casamento. Ass: A OUTRA”.

Assim mesmo: A OUTRA, tudo em caixa alta para saber com quem estavam lidando.Imaginem agora como foi a cerimônia para o pobre Ricardo. Quem tiver informações sobre desdobramentos do caso, por favor,  repasse ao ViaDutra.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Contagem regressiva

“ Agora faltam cinco dias...”

A frase enigmática postada no Facebook causou alvoroço entre os amigos. O que estaria acontecendo com ele, todos se questionavam. Alguma doença grave? Vai se demitir ? Viajar para longe? Abandonar o lar? Ganhar uma bolada de herança? As especulações se sucediam e se ampliavam diante do silêncio dele. No dia seguinte, outra frase para deixar o pessoal mais aturdido: “ Faltam só quatro...” E mais não acrescentou.

Houve quem apostasse que era uma jogada de marketing do amigo: “Sabe como é, jornalista, mente imaginativa, deve estar preparando alguma coisa bombástica”. Também é nessas situações que sempre surge uma ave de mau agouro: “Deve ser algo muito grave e a gente sem poder fazer nada, coitado”.

“Três dias...” foi a mensagem seguinte, mais lacônica e, ainda, instigantemente enigmática. Os amigos decidiram convocá-lo para um encontro e escolheram um boteco que costumavam freqüentar, mas ele não apareceu. A essa altura começaram a entrar em pânico. Não havia explicação para o estranho e preocupante comportamento dele.

O pânico aumentou com a mensagem do dia seguinte: “Dois...”, assim, uma única palavra, um número apenas, escondendo um grande enigma. Aí os amigos se deram conta de que conheciam muito pouco da vida privada dele, embora a convivência de anos. Ele nunca falara de sua família e vagamente se referia a um grupo que denominava de “o pessoal aquele”, sem entrar em outros detalhes. Ou seja, não tinham a quem apelar.

“Fim!” era a postagem que todos temiam. Agora estavam em contato permanente e revezavam-se nos telefonemas a ele, mas quem respondia era a caixa postal, que já nem era mais personalizada, como haviam se acostumado. Encurralados pela impotência, estavam preparados para o pior. Naquela noite nenhum deles conseguiu dormir, à espera do telefonema esclarecedor e certamente fatídico. Mas a vigília se mostrou inútil, aumentando a ansiedade dos amigos.

Na manhã seguinte, o perfil dele sumira do Facebook.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Espírito curador

Pensei que já tivesse visto de tudo, mas inventam cada uma  que vou te contar. Exemplo vem de pessoa amiga, moça culta e bem situada na vida, que aderiu a uma tal de “cirurgia dos espíritos”. Não tenho mais detalhes do que se trata, só sei que a pessoa precisa vestir uma camisola branca, espargir sal pelo quarto e acender velas para “chamar” o espírito que vai curar o mal que a aflige. O restante da família deve sair de casa, deixando a “paciente” a sós com o espírito.

A filha adolescente da moça, impressionada com a descrição do ritual, nem queria voltar para casa e deu uma trabalheira explicar para a menina porque a mãe receberia em trajes íntimos um estranho no quarto do casal, mesmo que fosse um espírito curador. A amiga jura que o negocio funciona, tanto assim que apareceu mais coradinha na firma, embora continue mandona como sempre.

Vai daí que um amigo comum sacou que o procedimento esotérico poderia ser uma boa desculpa para suas escapadelas. E começou a se queixar insistentemente de incômodas dores nas costas, dando a entender que poderia estar acometido de grave enfermidade. A família entrou em pânico diante do sofrimento do seu ente querido, mas o insensível deu seguimento a sua desfaçatez . Logo começou a invocar uma entidade chamada “O Mestre, O Sacerdote dos Espíritos”, indicado por um conhecido que tivera uma prima curada de doença crônica. “O Mestre é um bambambã espiritual”, assegurava o bandalho, para tranqüilizar a família.

Ato seguinte, marcou uma série de sessões, sempre as quartas e sábados à noite, com O Sacerdote dos Espíritos. Não, de jeito nenhum, deveria ser acompanhado por qualquer pessoa nas sessões, explicou. O encontro com a espiritualidade exigia isolamento e muita tranqüilidade: “Vou ser inundado de luz”, era a explicação. Até por isso, as sessões aconteceriam do outro lado da cidade, distante das influencias ambientais que poderiam perturbar a superior comunhão espiritual que levaria a cura dos males daquele corpo sofrido.

A verdade verdadeira é que até as pedras da rua sabiam que tudo não passava de uma farsa. Na real, a “entidade” era uma colega de trabalho, com mais atributos físicos do que espirituais. Mesmo assim fazia um bem danado ao nosso amigo, que chegava em casa depois das sessões e ia direto para cama, onde dormia como um anjo, sem que a família desconfiasse de nada. O cara era profissional, até nos detalhes, pois fazia questão de espalhar sal grosso pelo quarto do motel e queimar algumas velas. “Vamos que eu leve um flagra, preciso de elementos comprovatórios dos rituais, vamos que...”, justificava. Bandalho profissional, sem dúvida.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Vidro fumê

Existe muita controvérsia em relação ao vidro fumê, especialmente na sua aplicação tipo insulfilm para carros. Inclusive sei de casos em que o tal insulfilm interferiu em relacionamentos amorosos, como relatarei mais adiante.

Quem defende o escurecimento dos vidros dos automóveis alega questões de segurança e mesmo uma forma de burlar as leis de trânsito. Os assaltantes evitariam abordar carros com insulfilm, receosos das surpresas que poderiam encontrar entre os condutores e passageiros. Tenho minhas dúvidas porque depois de se apossar do veículo, talvez com apavorados passageiros dentro, o meliante teria a proteção dos vidros escurecidos para impedir o reconhecimento da sua ação criminosa.

Também não me associo aos que encontram no vidro fumê o salvo-conduto para burlar a lei, no caso usar e abusar do celular em pleno tráfego, sem ser flagrado. É uma conduta reprovável.

Bem que o Conselho Nacional de Trânsito tentou regulamentar o uso do insulfilm. A lei estipula que o pára-brisa precisa ter 75% de visibilidade, ou seja, a película pode escurecer no máximo 25%. Já para os vidros laterais dianteiros o limite é de 70% e, para os vidros laterais traseiros e traseiros, de 50%. De acordo com a lei, o motorista que desobedecer a esses limites pode ter o veículo apreendido, além de ser multado em R$ 125 e ainda perder 5 pontos na carteira. Como sempre, a aplicação da lei é que são elas e está faltando aprovar as normas para a medição do grau de visibilidade.

Enquanto a definição não vem, os que apostam no vidro fumê bem escurecido como uma forma de circular com discrição continuam por aí, impunemente, e até mereceriam uma análise à parte e mais aprofundada. O que pretendem esconder essas pessoas? A si próprio ou seus/suas acompanhantes? Que atos condenáveis estariam cometendo ao abrigo dos vidros escuros?

Cada caso é um caso e devem ter lá suas justificativas. Como o da moça que, temerosa de ser reconhecida no carro do parceiro casado, deu um ultimato ao sujeito: “Não saio mais contigo enquanto o carro não tiver vidro fumê. Fica expondo a pessoa, é muita bandeira!”

O rapaz vacilou, não cumpriu a exigência e acabou levando um pé na bunda. Agora, para evitar conflitos futuros, sempre que troca de carro providencia de imediato que venha com vidros escurecidos.

Essa ligação do vidro fumê com os relacionamentos amorosos tem lá sua importância, tanto assim que ganhou destaque em forma de letra e música. “Vidro Fumê” é interpretada por um tal de Ricky Vallen e fez parte da trilha sonora da novela Negócio da China, da Rede Globo. Os mais curiosos encontram o clipe de “Vidro Fumê” no YouTube. Para quem quer conhecer apenas a letra, aí vai:

Foi num telefonema anônimo


Uma voz disfarçada


Me falou que eu estava sendo traído


Eu nem quis acreditar


Pensei que era só um trote


Mas no fundo do meu peito


Já desconfiava dessa minha sorte


No calor de um momento


Na loucura do meu pensamento eu fui atrás


Em busca da verdade de um segredo


Senti o amor estremecer


Na hora em que eu te vi entrando num carro importado de vidro fumê


Quando você chegou em casa, eu te tratei naturalmente


E quando fiz amor contigo a noite inteira lentamente


Foi a canção da despedida


Foi, foi de verdade diferente


A última noite de amor da gente.

Preciosidade musical, não?! E o coitado do vidro fumê leva as culpas de tudo.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Judas em forma de mulher, o retorno

Quando pensava que tinha me livrado de encontros incômodos e reveladores, eis que sou abordado, em plena Feira do Livro, por aquele amigo de outras jornadas, cuja desventura amorosa relatei aqui em “Judas em forma de mulher”. Só para relembrar, esse amigo estava descornado porque sua amada o havia rejeitado em nome da adesão a um movimento social. “Fui trocado por uma ideologia”, lamuriou-se no encontro anterior.

Agora a abordagem se deu quando eu esgravatava um balaio de saldos e ofertas, a procura de algum título interessante. A busca cessou imediatamente porque ele me pegou pelo braço, talvez temeroso de que eu fugasse do encontro, e abriu o verbo: “Aquele teu outro amigo viajou. Que história é essa de que a Andi é travesti? Donde ele tirou essa idéia?”.

Para melhor entendimento do caso, o outro amigo já se identificou. Trata-se do renomado fotógrafo Eurico Salis que expôs sua tese, ao ler o texto original e daí foi gerado um segundo texto intitulado “Judas em forma de mulher na versão de ES”, tudo socializado aqui no ViaDutra e propagandeado nas redes sociais.

Como meu amigo estava um tanto exaltado, saímos do burburinho da Feira e fomos tomar um expresso. À mesa, contraditei que havia feito uma pesquisa em busca da verdade e recebi informações de fontes confiáveis de que a versão do Eurico tinha fundamento. “Isso é invenção de alguns desafetos, invejosos porque namorava uma pessoa bem mais jovem do que eu”, justificou. Confesso que aquele tratamento de pessoa, ao invés de moça ou mulher, me incomodou, mas não registrei meu desconforto.

A conversa seguiu animadamente unilateral. Ele explicou que alguns atributos físicos da tal pessoa realmente coincidiam com o perfil que fora traçado: era do tipo mignon, ligeiramente estrábica (o termo que usou foi “vesguinha”, que considerei carinhoso), com alguns dentes mais pronunciados, mas assegurou que o conjunto da obra era interessante, sensual e...feminino. Daí a fazer novas revelações sobre o relacionamento foi um pulo. Contou as escapadas no horário do almoço, no fim da tarde e aos domingos pela manhã, das vezes em que foi buscá-la no intervalo das aulas na faculdade rumando direto para o motel, reprisou o episódio do tórrido encontro no exterior – em Londres, confidenciou -, e enveredou para histórias mais picantes de extravagâncias sexuais cometidas ao longo do relacionamento.

A riqueza de detalhes começou a me perturbar e antes que a minha imaginação fosse mais uma forma de traição ao meu amigo, atalhei: “E agora?”. (Isso nunca falha para dar uma pausa às conversas de uma só via).

“Agora estou noutra. A fila anda e já me enredei em outro relacionamento, só não posso contar mais detalhes porque as duas são colegas e, apesar de tudo, não quero causar constrangimentos às partes”, respondeu, como se estivesse praticando um ato de nobreza.

Ato de nobreza até por ali, pois em seguida passou a revelar todo o seu ressentimento em relação a ex-parceria. “Fico imaginando como ela será no futuro. Certamente uma pessoa amargurada, faminta de carinho, solitária com seus cães, porque esse é o destino dos que trocam o amor por uma ideologia”.

Com sinceridade, afirmo que fiquei com pena da moça, ou pessoa, depois desse vaticínio cruel. Aproveitei a deixa e me despedi, voltando a Feira, agora à procura do livro “A arte de amar”, de Erich Fromm. Talvez nele encontre explicações para os enredos amorosos que teimam em me envolver.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O Tédio Criativo

Domenico De Masi é italiano, professor de Sociologia do Trabalho da Universidade La Sapienza de Roma e consagrou-se com a obra O Ócio Criativo, que trata de temas sobre a sociedade e o trabalho. Na obra, De Masi dá conta da sua insatisfação com o atual modelo social, propondo uma nova ordem, baseada na simultaneidade entre trabalho, estudo e lazer. Com todo o respeito ao professor, suspeito que ele deu uma embalagem acadêmica para justificar a vagabundagem.

É bem verdade que no momento não tenho muita autoridade para falar contra a vagabundagem, só que no meu caso preferi batizar a situação de período sabático. Além disso, sou obrigado a reconhecer que De Masi ganhou notoriedade com suas teses e agora percorre o mundo dando palestras e faturando alto. Só no Brasil esteve 18 vezes, acho que duas delas em Porto Alegre, onde recebeu honrarias dignas dos grandes intelectuais.

É isso o que está me faltando para ascender aos píncaros da glória da intelectualidade: uma tese diferente, não necessariamente comprovável, mas que venha ao encontro do que as pessoas querem ouvir e se iludir. Sonho em fazer parte da galeria dos grandes conferencistas, freqüentar os mais afamados ambientes acadêmicos, polemizar com o Juremir Machado e participar do Polêmica, com o Lauro Quadros, sempre defendendo a minha tese. Quem sabe até me convidam para palestrar no Fronteiras do Pensamento ou ser entrevistado no Encontros com o Professor. Bateria ponto no Sarau Elétrico, do Ocidente e circularia garboso pela Feira do Livro, mas adotaria uma postura blasé caso insinuassem que poderia ser o próximo Patrono. A HSM me contrataria a peso de ouro para apresentações em auditórios lotados. Te cuida, Kotler!

Talvez esteja próximo de atingir meu objetivo máximo nesta quadra da vida. Inspirado pelo companheiro Roberto D’Azevedo, começo a construir a Teoria Geral do Tédio Criativo. A experiência que vivencio no período sabático está me subsidiando com valiosos elementos para a formulação dos principais referenciais teóricos que embasarão o estudo a ser divulgado oportunamente. Pretendo também aprofundar as informações sobre o Nadismo, que é o tédio estruturado. Por enquanto, já posso antecipar as cinco premissas que dão sustentação ao Tédio Criativo:

1) O tédio leva a reflexão, que leva à criatividade.

2) O tédio deve ser desfrutado sem culpa e com criatividade

3) O tédio criativo não tem contra indicações

4) O tédio criativo é fator de inclusão social pois está ao alcance de todos.

5) O tédio criativo é a quarta onda

Agora vou precisar desdobrar essas premissas, rechear com alguns adjetivos e advérbios, inventar umas historinhas para ilustrar e escolher pelo menos uma situação engraçada para abrir as palestras que vou dar mundo afora. Preciso resolver outro dilema: se tudo der certo, como conciliar o tédio criativo com a pesada agenda que passarei a cumprir? Como coerência não é o meu forte, não vou permitir que um detalhezinho qualquer atrapalhe o projeto.

E, dessa forma, vou acabar dando razão ao meu amigo Joca, atualmente exilado em Brasília, que se referia assim a este promissor intelectual e a todos com os quais queria implicar: “Duas ou três frases de efeito, meia dúzia de truques e enganou toda uma geração”. Por enquanto, só amealhei os truques, mas ainda chego lá, amigo Joca.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Judas em forma de mulher na versão de ES

Encontro no shopping meu bom camarada ES, que, antes mesmo do cumprimento, dispara: “Aquela história do teu amigo que virou corno de uma ideologia está mal contada”. Figura renomada das artes visuais, ES é um observador da cena quotidiana, como eu, mas muito mais talentoso para adornar os fatos e a prova está no complemento da primeira intervenção, ainda antes do cumprimento: “A tal pessoa que colocou os chifres no teu amigo só pode ser um travesti”, sentenciou. Quedei-me pasmo.

ES estava se referindo ao texto “Judas em forma de mulher”, aqui publicado no início da semana, dando conta do desabafo de um amigo que levou um pé na bunda da parceira de anos, sob a alegação de que as idéias que ela passara a comungar não combinavam com as dele. Esse amigo estava sucumbido em tristeza, um tanto pela perda da amada e outro tanto pela forma como foi rejeitado. “Sou um corno, um corno de uma coisa imaterial. Ainda se fosse outra pessoa, talvez até me conformasse, mas ser trocado por uma ideologia, aí já é demais. Fui traído por um Judas em forma de mulher”, relembro as palavras textuais.

ES pegou o gancho e seguiu na sua tese: “Se é Judas, só pode ser homem e homem em forma de mulher só pode ser traveco”. Juro que não havia pensado nisso. Talvez ES tivesse razão.

Divagando e associando idéias, ES puxou do fundo do baú um filme de Neil Jordan (Traidos pelo Desejo, de 1992) estrelado por Forest Whitaker, que interpreta um soldado inglês sequestrado pelo IRA. O guerrilheiro (Stephen Rea) encarregado de vigiar o soldado desenvolve uma certa amizade pelo refém. O soldado acaba morrendo e o guerrilheiro vai comunicar sua morte à namorada dele, por quem acaba se apaixonando. Mas esta paixão lhe provocará um choque inesquecível, quando ele descobre que a moça é na verdade... um travesti. Como havia assistido ao filme, lembro bem da cena da descoberta, ousada para a época, com o nu frontal do travesti.

“A historia do teu amigo nada mais é do que a vida imitando a arte”, provocou ES. E antes que eu pudesse opinar e sem uma pausa sequer, afirmou categórico:

“Nesse caso, teu amigo foi duplamente enganado: pela parceria e por si mesmo ao não admitir o relacionamento com um travesti”. A ser verdade as conjecturas de ES, há mais um enganado no episódio, no caso este relator da história, ao qual teria sido sonegada a verdade por inteiro.

Pilhado por ES, consumido em dúvidas, fui atrás da verdade. Indaga daqui, indaga dali, acabei descobrindo que meu dileto e sofrido amigo tivera realmente um relacionamento recente com uma tal de Andressa Suellen ( com dois “eles”), Andi ou Su para os íntimos, ou Andrigo na sua versão masculina. Os informantes juraram, entretanto, que a pessoa era feminina ao extremo, uma baixinha bem jeitosa, só que ligeiramente estrábica e um pouco dentuça, defeitinhos de fabricação que, na verdade, lhe conferiam um charme especial e talvez fossem a chave que explicava a entrega amorosa do meu amigo. (Lembro agora que, na juventude, ele sempre procurava esses diferenciais nas suas parceiras).

Sou rodado e mesmo assim fiquei surpreso com as revelações acerca do relacionamento aqui relatado. Mas fazer o quê diante das ciladas do amor? Compreender e aceitar é preciso.

Só que, diante do episódio, tomei uma decisão para não mais ser surpreendido: chega de dar trela para velhos amigos, chega de histórias à Nelson Rodrigues.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O temível TCC: adeus ao "veja bem"



O veterano aqui decidiu enfrentar um MBA na esperança de retardar sua transformação em dinossauro. Foram 18 meses de dedicação, muitas leituras, produção de trabalhos caprichados para não fazer feito diante da turma mais jovem. Foi também um tempo de convivência com um grupo heterogêneo que se integrou e se curtiu de forma que a volta à academia fosse prazerosa, sem falar que a predominância de mulheres, cada uma com seu charme peculiar, conferiu qualidade estética ao espaço que dividíamos a cada duas semanas. Tivemos mestres inspiradores, a maioria bem mais jovem do que o autor destas mal traçadas. Um deles me chamava de senhor, mas o pior foi ser tratado de vô pelas gurias. Provocação barata, mas tirei de letra e, ao fim e ao cabo, sai invicto.

O pior vem agora: o temível TCC – Trabalho de Conclusão de Curso, também conhecido como Transtorno na Conclusão do Curso. O negócio é tão sério que temos uma disciplina só para esmiuçar a questão. Apesar de a adorável professora Cláudia tentar nos incutir confiança, estamos todos em pânico. A tarefa se equivale aos 12 trabalhos de Hércules, exige muita pesquisa e seguir um roteiro cheio de nuances e de bem fundamentados referenciais teóricos, tudo em prazos curtíssimos como coice de mula, como se diz lá pra fora. E ainda tem todas aquelas regrinhas da ABNT, que não contribuem para o conteúdo, mas podem prejudicar na forma e provocar descontos nas notas. Não dá mais para apelar para os “veja bem”, como tenho feito até agora.

O parceiro Poti, ao invés de ajudar azedou ainda mais nosso humor, ao postar no Facebook o comentário "Fatos sobre o TCC", retirado da Desciclopédia:

O TCC te faz virgem de novo. - O TCC te afasta dos amigos e da família. - O TCC te estressa. - O TCC te induz ao vício. - O TCC te faz adoecer. - O TCC te faz perder a fome (ou comer demais). - O TCC causa distúrbios de personalidade. - O TCC destrói relacionamentos. - O TCC não te deixa dormir. - O TCC te causa problemas de coluna. - O TCC dá tendinite. - O TCC te faz xingar tudo e todos a qualquer hora do dia - O TCC causa amnésia temporária (faz você esquecer o que é balada, academia, viagem com os amigos, cerveja, feriado, fim-de-semana etc).

Valeu, Poti. Invejo essa tua capacidade de fazer graça diante do drama, mas saiba que vais sofrer tanto quanto nós, pobres estudantes à procura de um tema e de um formato. Artigo ou Monografia? Plano de Negócios ou Pesquisa Bibliográfica? Que dilema!

E qual o tema a ser abordado, que teses defender, como sustentá-las? Dúvidas cruéis. Não me entrego, porém. Já tenho uma vaga idéia do que será meu TCC. Se tem relevância acadêmica aí é outra questão. Mas vou a luta com garra e determinação até para manter a pose e não levar vaia no final, mas cheio de saudades dos meus salvadores “veja bem”.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Judas em forma de mulher

Reencontrei dia desses um velho companheiro de antigas jornadas. O sujeito, antes um boa-pinta e conhecido por seu alto astral, se apresentava agora qual um farrapo humano. Quase andrajoso, fisionomia sofrida, olhos fundos, barba por fazer, vagava a esmo pela cidade até encontrar um ombro amigo, no caso o deste que vos fala.


Antes mesmo que eu perguntasse o que atormentava aquela alma aflita ele contou sua desdita. Revelou que mantinha um relacionamento estável com uma moça, ex-colega de trabalho, mas que agora estava tudo acabado e que a vida para ele já não tinha mais sentido, dramatizou. Nem precisei cutucar para ele detalhar o que sucedera. Vou tentar reproduzir o relato da forma mais fiel possível:

“Ela me convidou para um happy e lá fui eu, todo feliz, fantasiando o que aconteceria depois. Mas qual não foi a minha surpresa quando, logo no inicio do encontro, ela disparou que precisava dar um tempo no nosso caso. E em seguida explicou os motivos para o rompimento: estava envolvida com uma corrente ideológica que não combinava com as minhas idéias e o movimento passara a ser o centro da sua existência naquele momento. Na minha cara, acrescentou que seus valores agora eram outros, que precisava redirecionar sua vida e que não havia mais espaço para a convivência entre as novas idéias libertárias e o relacionamento amoroso. Entendeu o que isso significa? Sou um corno, um corno de uma coisa imaterial. Ainda se fosse outra pessoa, talvez até me conformasse, mas ser trocado por uma ideologia, aí já é demais”.

Como sempre acontece nessas ocasiões, a pessoa rejeitada passa a relembrar os bons momentos do passado que é a forma de se martirizar ainda mais. Contou sobre um tórrido encontro que tiveram no exterior, sobre as escapadas em horários pouco convencionais, sobre o sexo sem limites, sobre as idas e vindas e os reencontros sempre prazerosos. “Era bom!”, acrescentou, após um longo e melancólico suspiro.

Na sequencia do roteiro previsível desses dramas, o sujeito tenta desqualificar aquela que foi a dona de seu coração . Começaram, então, a ser revelados os defeitos da parceira – “é uma sonsa, uma falsa” – e situações passadas que agora ganham relevância e são reveladoras do verdadeiro caráter da parceria. O amigo, agora mais recomposto depois do desabafo, falou vagamente de falsetas praticadas pela ex-namorada – “uma série de pequenas mentiras, esquivas e dissimulações que ainda hoje me deixam intrigados”.

Compadecido com o episódio e tomado de compaixão, tentei consolar o velho companheiro, mas foi inútil:

- Não adianta, fui traído, fui traído por um Judas em forma de mulher.

Antes de me despedir daquele pobre-vivo e seu drama, tentei outra vez levantar-lhe o ânimo com uma mensagem final positiva: “Olha, Judas em forma de mulher é uma boa definição, um achado para o caso”, elogiei com sinceridade, mas ele já não prestava a atenção, imerso novamente na sua infinita tristeza.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Os caranguejos de Pequenópolis

O caranguejo B não suportou ver o caranguejo J se sobressaindo no cesto e tentou puxá-lo para baixo. No cesto de Rio Apequenado do Sul é assim: para qualquer caranguejo que consegue ascender tem sempre um bando de outros caranguejos torpedeando a subida.

Rio Apequenado do Sul já foi um grande cesto, mas hoje está dividido entre os que trabalham para subir e os que fazem de tudo para impedir a progressão dos outros caranguejos. Com isso, o cesto foi se apequenando e só o que cresce naquele ambiente é o dissenso, que leva à crise, que vai tornar inviável todo o sistema.

É bem verdade que a história de Rio Apequenado do Sul foi construída de divergências, de grandes refregas entre a caranguejada, mas sempre que os crustáceos se uniram em torno de causas comuns houve progressos no cesto e foi bom para todos.

Agora está mais difícil a convivência porque em breve será escolhido o líder de Pequenópolis, o canto mais importante de Rio Apequenado do Sul. Pequenópolis também já foi grande, mas perdeu espaço por causa dos caranguejos-do-não, uma facção extremamente radical, barulhenta e retrógada, que atrapalhou como pode os projetos que melhorariam a vida no cesto. A eles se juntaram os oportunistas de plantão, os interesseiros de ocasião, os voluntariosos trapalhões e até alguns parceiros sinceros nas suas intenções, mas ingênuos porque não percebem as artimanhas em que acabam envolvidos.

O caranguejo J tenta recuperar o tempo perdido e isso é insuportável para a turma do não, que quer retomar o poder em Pequenópolis, sem medir esforços para boicotar as subidas proporcionadas por J.

Pequenópolis voltará a ser grande, apesar dos crustáceos mal intencionados, porque a maioria da caranguejada já se deu conta de que com esse pessoalzinho ninguém sobe, nem desce, estaciona no tempo e o cesto acaba indo para as cucuias.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Só não me chamaram de bonito

Será que morri e não fiquei sabendo? Calma que posso explicar, como diria o infiel apanhado em flagrante. Sucede que ao despedir-me da repartição, passei a receber elogios dignos de um necrológico, daqueles que os jornais publicam quando partimos desta vida. Deixei de ter defeitos, passei a ser uma pessoa maravilhosa e um chefe sem igual. Meu bom humor é destacado, minha competência profissional enaltecida, a generosidade reconhecida. Sou doce e meigo; inspirador e motivador; irônico e debochado, aqui incluídos também como elogios. Bobagens que um dia pronunciei viraram mantras. Concedi benefícios, fiz favores e estendi a mão para mais pessoas do que imaginava. Recebi, inclusive, telefonemas de solidariedade, que não se aplica ao momento. Fui atento nas atividades profissionais e sensível nas questões pessoais. Um exemplo de cidadão. O cara!


Acredito na sinceridade de todas as manifestações, que massagearam o meu ego, o que não representa tanta vantagem, porque ele não é muito grande. De coração agradeço. Fiquei comovido, admito, mas peço reservas para preservar minha couraça de durão. Se fiz bem a alguns ou a muitos é isso o que importa.

Elogio sempre é bem-vindo, mesmo que às vezes não corresponda à realidade. Percepção é tudo e vale a versão, mas é preciso lembrar que Dr. Jeckyll e Mr. Hyde convivem na mesma persona, e nem sempre é possível diferenciar a personalidade boa da má. Antes que seja mal interpretado, até porque Dr. Jeckyl e Mr. Hyde entraram neste texto como Pilatos no Credo, devo acrescentar que não me identifico nem com um nem com outro. Sou apenas aquele que faz suas escolhas, erra, acerta e continua aprendendo.

Agora, se me dão licença, permitam-me gozar as delícias do ócio e me enfarar de tédio. Acho que mereço.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Marley e eu

“Marley & eu - Vida e Amor ao lado do pior cão do mundo” é um livro de grande sucesso de vendas, escrito pelo jornalista norte-americano John Grogan e virou filme também de grande sucesso, estrelado por Owen Wilson e Jennifer Aniston . Através de uma narrativa em primeira pessoa, Grogan relata a história real de seu cachorro da raça labrador americano chamado Marley e sua participação durante treze anos na sua vida. A história tem um final triste, com a morte do simpático cãozinho.


Não é o caso de vida imitando a arte, pois se trata de outra história real, o drama que teve desfecho nesta semana com a morte do nosso Marley. O cão, um belo collie de plumagem dourada, chegou à nossa casa há mais de 10 anos, presente de uma namorada ao Rafael. A namorada se perdeu no tempo, mas o Marley se aquerenciou na casa, recebendo esse nome em homenagem ao Bob Marley, uma das preferências musicais do Rafael.

Só que, ainda pequeno, o cão contraiu uma verminose, ou algo parecido e desde então tinha convulsões freqüentes. Nem as doses crescentes de gardenal conseguiam diminuir seu sofrimento, até que foi sacrificado depois de sucessivas crises no fim de semana.

Mesmo com uma existência sofrida, o Marley era um nobre representante dos pets entre nós. Grande, desajeitadamente imponente, mas dócil a ponto de se deixar acarinhar pela Maria Clara, que sempre fazia questão de visitá-lo no seu recanto quando estava na casa dos avós. E convivia soberano com os seus iguais de hoje, a yorkshire Felícia e seu filho, o Gordo, o primo Bento, o gato errante Peter e com os que por aqui passaram, deixando saudades, como a carismática vira-latas Penélope e o dengoso Chamã, da Flávia, um pincher preto como o Bento.

Todos eles, inclusive o peixe 101 da Mariana, se tivessem o dom de falar, me chamariam de avô, pois meus filhos os consideram seus filhos, tanto assim que a Maria Clara pede pelo “Maño” quando quer “conversar” com o Bento. Mas, devo confessar, que não sou muito afeito a cães e gatos, embora eles sintam uma irresistível atração por mim. Os bichos me cercam, procuram chamar minha atenção e pulam no meu colo desavisadamente e jamais os maltrato, mas seguramente vocês não me verão passeando com a bicharada. Se isso acontecer, pode chamar o Samu e me internar.

A verdade é que acabo me afeiçoando aos bichos e confesso que fiquei abalado com a morte do Marley, a quem dedicaria uma lápide se fosse o caso: “Aqui jaz um guerreiro – Marley Dutra”.

domingo, 30 de outubro de 2011

"Vou me embora pra Pasárgada"



“Vou-me embora pra Pasárgada”, publicado pela primeira vez em 1930,  é um dos poemas mais conhecidos e citados da literatura brasileira. O autor, Manoel Bandeira, revela que foi o poema de mais longa gestação de sua obra. Acometido de tuberculose, Bandeira encontrou em Pasárgada o refúgio ideal, onde seus sofrimentos teriam fim e todos os seus sonhos poderiam se transformar em realidade:

“Vi pela primeira vez esse nome de Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e foi num autor grego. [...] O douto Frei Damião Berge informou-me que Estrabão e Arriano, autores que nunca li, falam na famosa cidade fundada por Ciro, o antigo, no local preciso em que vencera a Astíages. Ficava a sueste de Persépolis. Esse nome de Pasárgada, que significa “campo dos persas” ou “tesouro dos persas” suscitou na imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias (...). Mais de vinte anos quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda sensação de tudo o que eu não tinha feito na minha vida por motivo da doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: “Vou-me Embora pra Pasárgada!” Senti na redondilha a primeira célula de um poema, e tentei realizá-lo mas fracassei. Abandonei a idéia. Alguns anos depois, em idênticas circunstâncias de desalento e tédio, me ocorreu o mesmo desabafo de evasão da “vida besta”. Desta vez o poema saiu sem esforço, como se já estivesse pronto dentro de mim. Gosto desse poema porque vejo nele, em escorço, toda a minha vida; e também porque parece que nele soube transmitir a tantas outras pessoas a visão e promessa da minha adolescência - essa Pasárgada onde podemos viver pelo sonho o que a vida madrasta não nos quis dar”.

O ViaDutra, em momento poético cultural, reproduz o famoso poema, para levantar o astral na pré segunda-feira:

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada


Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo incosenqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive


E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei um burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’agua
Pra me contar as histórias
Que no tempo de seu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada


Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar


E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
– Lá sou amigo do rei –
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada







segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Haja coração!

Eta semaninha complicada. Vencê-la será um martírio. A contagem regressiva já começou e tudo tem que estar nos trinques em pouco tempo. Sobre a mesa, há uma montanha de papéis, projetos, documentos, pastas diversas e só de olhar dá um desânimo. Cada papel terá que ser examinado com critério, antes de ser preservado ou descartado para a “cesta” sessão. Jornalista paga caro por essa mania de guardar tudo, imaginando que um dia terá utilidade e jornalista desorganizado paga mais caro ainda. Tenho evitado olhar para aquelas pilhas porque a papelada já deve estar desconfiada que logo será travada a grande batalha do homem contra o que deveria ser acervo. Haja coração!


E ainda há as gavetas, entulhadas de outros papéis, contas pagas, coisinhas particulares, dois ou três pendrives cujo conteúdo desconheço e outras inutilidades. Por fim, será necessário enfrentar os armários, também repletos de guardados de passado útil, mas futuro duvidoso. Em cima dos armários, outras pilhas, atopetadas de revistas, planos comerciais e algo mais que só vou descobrir quando aportar naquele espaço.

Não posso esquecer de levar o porta-lápis com as fotos da Maria Clara, nem os cartões com o nome do ocupante da mesa em mandarin, muito menos o cartaz “Eu Curto, Eu Cuido”, atrações da sala, mas vou deixar a latinha cheia de moedas, espécie de caixinha do gabinete. Assim, o café da semana estará garantido. A propósito,vou deixar a bela cafeteira italiana recém adquirida - com recursos próprios. Será o meu legado.

De resto, é atender os telefonemas cheios de por quês a espera dos meus porquês. Haja coração!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Celebração

Já é possível pressentir um novo horizonte ali adiante. Esse novo tempo que se aproxima, repleto de boas expectativas, é também de ansiedade. Uma ansiedade bem-vinda, porque placidez em demasia leva ao tédio, que não é bom companheiro nas guinadas da vida.


Uma etapa se completa, deixou marcas, mas daqui a pouco tudo volta a ser como antes, ou melhor do que antes e mais um ciclo se inicia. Não dá para congelar o tempo, nem impedir a renovação. O importante é que todos saiam, no final do processo, maiores do que entraram porque isso fortalece para os embates que virão.

Não é hora de despedidas, sempre melancólicas, mas de celebração do que ficou de bom e de acreditar que a renovação é que nos move e deve nos animar para o passo adiante. E é sempre a confirmação que a única certeza nesta vida é que estamos de passagem. Sempre de passagem, porque meu lugar é em trânsito.

sábado, 15 de outubro de 2011

Rafinha Bastos e outras frivolidades.

Fico pasmo com alguns assuntos que a chamada mídia tradicional, e aí já incluo os portais de notícias, elegem para destacar e suitar. O tema frívolo da hora é o comportamento do tal de Rafinha Bastos, do programa CQC, atração da Band, que passou dos limites em termos de inconveniência ao comentar a gravidez da cantora Vanessa Camargo – ou seria da Maria Gadú?

O assunto está rendendo há mais de uma semana, potencializado pelas redes sociais que, não se enganem, ainda tem nas mídias tradicionais a principal matéria prima para suas postagens e comentários. O que está bombando no momento é o futuro de Rafinha, que foi suspenso do programa e ameaçaria se bandear para a concorrência. E, claro, se formaram correntes pró e contra o humorista- ele um dos campeões de seguidores nas redes sociais.  Até o Juremir Machado dedicou uma coluna inteira ao caso.

Tempos atrás se desperdiçou enorme espaço nos meios digitais e analógicos em torno do músico Tonho Crocco, por causa de uma música descascando nossos deputados estaduais, que virou polêmica porque um deles decidiu buscar reparação na via judicial. “Abaixo a censura”, bradaram os mais exaltados e o deputado, acuado, acabou retirando a ação. Mas até isso acontecer, o assunto rendeu bem acima do talento do músico e da importância do assunto.

E tem também a polêmica envolvendo a virginal Sandy que vacilou numa pergunta maliciosa em entrevista a Playboy sobre sexo anal e precisou dar muitas explicações. Quanto mais explicava, mais o assunto bombava. Queria o que a doce e meiga Sandy numa entrevista para a Playboy? Perguntas sobre papai-e-mamãe?

Confesso que se abate sobre mim um desânimo ao constatar o destaque dado a esses casos, mesmo num episódio mais picante como o da Sandy. Vou radicalizar: temo que a revista Contigo esteja influenciando em demasia as chamadas mídias tradicionais e, em outro viés, os rasos conteúdos e a ausência de outros interesses de boa parte dos adeptos das redes sociais acabam por produzir o fenômeno da reprodução massiva das frivolidades.

Agora, se me dão licença, vou descarregar minha rabugice e algumas frivolidades nas redes sociais.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A praça

A praça rústica e um tanto descuidada em frente à casa já foi o parque de diversão dos filhos quando crianças. Havia muita fantasia naquele espaço verde e cada recanto aguçava a imaginação dos três pimpolhos, fazendo a inveja dos primos visitantes que não tinham o mesmo espaço de aventuras tão próximo.

Amigos imaginários transitavam por ali, a árvore mais copada podia ser um castelo de fadas, os caminhos de terra batida levavam à terras desconhecidas e a mata nativa certamente era a floresta onde habitavam seres estranhos, alguns talvez malévolos. Tudo ao redor é grande e, às vezes, assustador quando a gente é criança.

As crianças cresceram e a praça ficou por um tempo fora de seus mundos, substituída por outros apelos e novas emoções. Mas o reencontro começa a acontecer com a nova geração que chega. A visita à praça envelhecida, levando a menina pela mão, foi mais prazeroso para o homem do que para a pequena, que ainda não descobriu todo o fascínio dos cantos e recantos cercados de verde.

Para a menina, como para sua mãe e tios quando iniciaram a fase das descobertas, o que atrai agora são as pequenas flores silvestres e o som compassado do balanço enferrujado que, para ela, passou a ser sinônimo da praça- di-dá, di-dá, di-dá.

A volta no tempo é inevitável, mas é preciso refrear a nostalgia, porque este é um momento mágico e curti-lo com a menina-criança não tem preço.

domingo, 9 de outubro de 2011

Fetiches de consumo

Tenho alguns hábitos, quase fetiches, em termos de consumo que me acompanham há alguns anos e que, com o passar do tempo, procuro refinar. Camisas azuis, de preferência quadriculadas, fazem parte dos fetiches. Diante de alguém envergando tal peça do vestuário não hesito em perguntar onde adquiriu e quanto custou. E, confrontado com o mostruário das lojas, vou direto às azulzinhas quadriculadas, até ouvir a corneta da Santa: “Camisa azul, de novo!!!”.


Nas gôndolas de vinho nos supermercados não tenho sofrido reprimendas quando adquiro, uma vez sim e outra também, aquele tinto encorpado que vai me dar prazer, cálice à cálice. Minha adega caseira é modesta em quantidade, mas tento preservar a qualidade, sem chegar ao exagero do Renato Machado, aquele âncora da Globo, segundo o qual vinho bom deve custar mais de 100 dólares!

De um tempo para cá, adquiri novo fetiche: canecas. Tudo começou quando amigas doces e meigas me presentearam com uma caneca personalizada, onde apareço de forma caricata com uma xícara de café numa mão e um cigarro na outra. Até hoje não entendi se era uma homenagem um uma censura. A verdade é que, a partir daquele mimo inicial, minha coleção se multiplicou e o canecódromo aqui de casa já conta com mais de 100 peças, de todos os tamanhos e formas. A cada viagem novos e diferentes tipos de canecas são acrescentadas, sem contar as que recebo de presente, como a mais recente incorporada ao acervo, a que a minha nenê Mariana me trouxe de Buenos Aires

Já os livros não são um fetiche, mas uma obsessão. Entrar numa livraria é um martírio: gostaria de adquirir todos os lançamentos ofertados, auto-ajuda fora. O que me atormenta é que não teria recursos, nem tempo para curtir tudo e fico frustrado porque deixarei muitas histórias e novos conhecimentos para trás.

O que me levou a escrever este texto foi exatamente o dilema que estou enfrentando: em algum momento perdi o hábito da leitura diária, substituído pelas incursões na internet, sessões de vídeo caseiro e necessidade de produzir trabalhos profissionais e acadêmicos. Na cabeceira da cama repousam, à espera do leitor ávido que fui, pelo menos cinco livros, do "Marketing 3.0"", de Philip Kotler, ao "Filé de Borboleta", de Luiz Coronel, passando pela coletânea "24 Letras por Segundo", pelo "Sob o Céu e Agosto", de Gustavo Machado e pelo "Vozes da Legalidade", do Juremir Machado. Houve um tempo em que traçava meia dúzia de obras, partes de um e de outro a cada dia, mas hoje mal comecei a leitura dos atuais livros de cabeceira, sem contar os mais de 30 que comprei nas duas últimas feiras do livro e outros tantos que ganhei e que estão na fila, intocados na prateleira e entristecidos pelo descaso.

Vem ai mais uma Feira do Livro e, apesar de tudo, vou circular entusiasmado pelas barracas, esgravatar nos balaios e, certamente, adquirir um lote de livros que estão condenados a fazer companhia aos outros desprezados pela indiferença.  Um dia me reencontro com todos eles.

sábado, 1 de outubro de 2011

Politicamente (in) correto

Piada de negrão? Não pode. Piada de judeu? Também não pode. Piadas de gays? É preconceito. Piadas do Joãozinho safado? Cuidado que pode afrontar o ECA. Cantada na colega? Assédio sexual. Exigir responsabilidade? Assédio moral.

Vivemos em tempos de amarras ao políticamente correto. Pelo menos as piadas de sogra ainda não sofrem restrições. Ainda, porque não vai faltar quem advogue que atenta contra os direitos da terceira idade.

Reprimir a espontaneidade e a criatividade popular, a malícia que não é maldosa, hábitos e práticas aculturadas, como sendo incorreções políticas, preconceitos e outros que tais, convenhamos, é uma demasia, é procurar cabelo em bola de bilhar. “Ás vezes um charuto é apenas um charuto”, teria dito Freud, restringindo as interpretações fantasiosas de que o charuto poderia ser um símbolo fálico. Quase sempre uma piada é apenas uma piada, não uma forma de desqualificação e o julgamento que cabe é se tem graça ou não.

Politicamente incorreto, verdadeiramente, é o autoritarismo, a corrupção, a violência, as injustiças, a falta de serviços públicos básicos, o levar vantagem e tantas outras mazelas que infernizam a nossa vida. Em nome do políticamente correto, permitem-se contraditórios.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Ah, eu sou Gaúcho!

O chimarrão não faz parte dos meus hábitos. Jamais usei bombachas ou qualquer adereço gauchesco. A única vez que montei a cavalo quase me fui com montaria e tudo Caracol abaixo, em Canela. A vida campeira não me atrai e só uso faca afiada para a preparação do churrasco e nisso, modéstia a parte, sou competente. Ah, e não morro de amores pela Polar e por qualquer outro produto ou atitude que demonstre nosso ufanismo gaudério.


Esse distanciamento de algumas de nossas mais caras tradições e hábitos, tão exacerbados no 20 de setembro, não me tornam menos gaúcho do que o taura pilchado que desfila orgulhoso. Ainda me emociono com os acordes do Hino Riograndense e reconheço no cancioneiro do chamado nativismo jóias raras de poesia, que também mexem com a minha sensibilidade. “Guri”, de João Batista Machado e Julio Machado, é uma delas, de preferência interpretada por César Passarinho. Outro dia me deu nó na garganta na chegada da Cavalgada dos Mil Dias para a Copa, quando Elton Saldanha recebeu os cavalarianos entoando “O Rio Grande a Cavalo” - Lá vem o Rio Grande a cavalo/entrando no M'Bororé/là vem o Rio Grande a cavalo/que bonito que ele é.

É impossível renegar as origens e não ser contaminado pelo ambiente de exaltação do gauchismo que, registre-se, cresce como compensação, na medida em que o Rio Grande perde poder e espaço no contexto nacional. Talvez seja o momento de avaliar também porque um movimento que foi derrotado em armas, embora vitorioso na permanência dos seus ideais, seja tão exaltado e reverenciado, enquanto outros movimentos bem sucedidos, capitaneados por gaúchos, como a Revolução de 30 e a Legalidade, não tem o mesmo reconhecimento e a mesma força de aglutinação dos gaúchos. Estaria faltando um Paixão Cortes, um Barbosa Lessa e seus pioneiros da retomada do gauchismo para reconstruir esses momentos da nossa história e criar novas razões para nos orgulharmos?

Como História e Tradição escapam do meu campo de conhecimentos, repasso a questão para os especialistas, antes de reafirmar, com algum recato e muito orgulho: Ah, eu sou Gaucho!

domingo, 11 de setembro de 2011

Para Rafaela

Rafaela, tão pequena, tão frágil e tão bela. Como te esperamos e como te amamos antes mesmo do primeiro choro e de podermos te aninhar ternamente em nossos braços. Os mesmos braços que vão te proteger nos primeiros passos da longa caminhada, até que te sintas segura para seguir em frente, amparada nos valores que vais herdar.


Teus pais são criaturas amorosos e aí está o primeiro valor a ser herdado. Com o tempo vais conhecer o resto dos clãs e poderás retribuir todo o amor que te dedicam. Mas não imagine que é troca, esse amor é incondicional, porque tua chegada é benção e renovação.

Bem-vinda Rafaela, tão pequena, tão frágil, tão bela e tão amada.Vem nos guiar para o futuro.

* Rafaela, filha da Rozana e do Rafael, nasceu dia 4 de setembro.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Abrindo a Caixa de Pandora

Legado, gosto desta palavra e uso-a com freqüência. Legado passa uma idéia de permanência, do que fica de positivo de um período, um testamento para o futuro, mas pode ser também um ônus que se repassa, vide o que está ocorrendo com a presidente Dilma em relação a algumas parcerias herdadas.


O dilema da dona Dilma é o mesmo que, mais dia menos dia, queiramos ou não, somos obrigados a enfrentar. É a hora de verdade, um exercício sofrido de avaliar o que se fez e o que vamos deixar, e isso exige que se abra a Caixa de Pandora da nossa existência. O que vai surgir nem sempre é o melhor do gênero humano e muito pouco da grandeza da missão que nos foi confiada. As expectativas que nos impuseram podem não ser correspondidas, gerando frustrações e desafeições, incompreensões e amarguras. Tanta coisa ficou pelo caminho, num descompasso entre o que se sonhou e o que virou entrega. Um passivo difícil de encarar e os oportunistas estão de plantão para cobrar.

O melhor legado é aquele que enobrece o testamenteiro, mas vamos combinar que todos nós olhamos para o nosso umbigo e o legado só é bom se houver um ganho pessoal e imediato, porque assim caminha a humanidade. O melhor legado, portanto, não existe.

Certamente não estamos falando de bens materiais, que logo se dissipam porque não foram conquistados, mas de valores, atitudes e boas prática, estes sim legados positivos, mas tão difíceis de serem compreendidos e quantificados.

Ter consciência desse processo é só o que conforta.







domingo, 21 de agosto de 2011

Estranha obsessão

Conheço gente que tem fixação em assuntos mortuários. O caso mais notório é o do Paulo Sant’Anna, que está fazendo seu necrológico em etapas  e deixando o legado de suas crenças e valores, afetos e desafetos, em colunas seriadas. A bem da verdade, essa obsessão do Sant’Anna não é de hoje. Na antiga redação de esportes da Zero Hora, o pessoal folgava com ele - que não perdia enterro e fazia questão de pegar na alça dos caixões, sempre na primeira e mais nobre posição -, antecipando que ele encontraria uma forma de segurar a de seu próprio ataúde. Reprovável esse humor negro!

Outro amigo, das relações do Sant’Anna e minha, só me liga para dar notícia ruim, de conhecidos ou nem tantos que se foram deste vale de lágrimas. Toca o celular e lá vem ele com a notícia impactante, sem qualquer preparação prévia:

- Morreu o fulano! Preciso saber se tu pretendes ir ao enterro.

É assim, de supetão. Com o tempo cheguei a conclusão que o tal parceiro me liga não para que me solidarize com os familiares do defunto, mas para gozar da minha carona. Pior é quando ele fica sabendo do falecimento após o enterro. O sujeito se martiriza.

- Fiquei sabendo da morte do fulano pelo jornal, que coisa! Por acaso, vais à missa de 7º Dia?

Esse amigo, mais um grupo de jornalistas bandalhos, participava de uma tal de Confraria da Caveira Preta, que se reunia mensalmente, entre iguarias gastronômicas e muitas cervejas, para conferir a lista feita no início do ano dos que apostavam que seriam chamados para outra dimensão, durante o período. Cada confrade tinha direito a 10 votos e quem acertasse o maior número de vítimas não pagava o jantar de fim de ano. Valia incluir desafetos, gente tida pela bola sete e personalidades em geral. Os indicados não podiam ser repetidos nas diferentes listas. De tanto ser votado, o Sant’Anna decidiu participar também da confraria e ganhou imunidade, pelo menos naquela congregação.

Pelo que soube, a confraria se desfez depois da morte de seu patrono, o queridíssimo Evaldo Gonçalves.

Outro caso sobre o mesmo tema me foi contado por uma dileta amiga. Um tio da moça fez um estranho pedido à família, antecipando o post-mortem: queria ser cremado e que um tantinho das cinzas fosse colocado numa caixa de fósforos e depositado em um canto discreto da Abadia de Westminster, na Inglaterra:

- Assim vocês poderão se orgulhar de ter um parente com seus restos mortais repousando junto a reis e rainhas, justificava o cidadão.

De minha parte, tenho apenas uma preocupação, já repassada a amigos e parentes: no meu velório, que demore em chegar, fiquem atentos às mulheres de óculos escuros. Se for desconhecida da maioria, aí mora o perigo. Intervenham. Não quero vexames na minha despedida.



quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Era bom!

Estou empenhado em reunir um bom número de pessoas, preferencialmente homens, em torno de uma confraria que será denominada de “Era bom!”. Não haverá qualquer preconceito quanto à idade dos participantes, mas acredito que o mote que vai nos reunir não será atraente para os mais jovens.

A proposta é ensejar o encontro de pessoas que tem em comum o fato de terem abdicado de um dos melhores prazeres que a vida pode nos proporcionar e para isso é preciso ser firme nas decisões, o que requer maturidade. É coisa para sessentões ou mais. O peso dos anos exige cuidados extremos no enfrentamento de certos desafios. A resposta do nosso corpo não é a mesma de anos atrás quando traçávamos o que vinha pela frente. Nem a evolução da medicina, com suas panacéias, consegue minimizar os efeitos danosos de uma extravagância, a demandar esforços que os nossos órgãos não podem suportar.

Temos que ter consciência dos nossos limites, fugir às tentações. Por isso, ao criar a “Confraria do Era Bom” já vamos lançar o nosso slogam: gordura, nunca mais!

Adesões em aberto no Via Dutra.

sábado, 13 de agosto de 2011

Mais de 10 mil !

O reloginho aí ao lado indica que o ViaDutra superou os 10 mil acessos. Como diria o Anselmo Gois, não é nada não é nada, não é nada  mesmo.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O Dia dos Filhos

Se dependesse de mim, trocava o Dia dos Pais pelo Dia dos Filhos. Parece bobagem, mas o que justifica a paternidade senão os filhos? Filhos são dádivas, sementes que devemos zelar para que cresçam e se transformem em nosso melhor legado para o futuro. Com a certeza de que não errei na receita, celebro então o Dia dos Filhos.

O Dia da Flávia, primogênita, capricorniana como o pai, rebeldia domada pela maturidade, filha e mãe amorosa, solidária e ansiosa com o bem estar dos mais próximos. O Dia do Rafael, o atlético do meio, um romântico escorpião, olhos de bolita e um pouco da sina de rabugento, prestes a começar seu ciclo de pai. O Dia da Mariana, meu nenê, pequeno dínamo, muita sensibilidade, um passarinho que cedo aprendeu a voar e foi crescer lá longe.

Talvez não tenha feito justiça, nessas poucas linhas, ao que meus filhos tem de melhor. Mas eles sabem que sinto um enorme orgulho deles e curto a forma como se curtem. E sabem também que o pai que sou foram eles que moldaram. Agora, mais ainda, é eles que me dão o norte e vou estar cada vez mais dependente do rumo que me apontarem.

Instituo, portanto, o Dia dos Filhos e celebro a data, mas aviso: o velho aqui não abre mão dos presentes no domingo. Podem ser até pijamas e chinelos.



segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Olhar profundo na minha alma

Estava eu a fumar, algo distraído, na entrada da Galeria Pacífico na calle Florida, em Buenos Aires, quando fui interpelado por uma jovem alta e bonita. Antes que os maldosos comecem a fazer ilações indevidas, devo acrescentar que a moça logo perguntou qual o meu signo. Ainda impactado pela abordagem inesperada, custei a revelar que sou capricorniano da gema. Foi então que a porteña me alcançou um cartão, explicando que estava realizando um trabalho de arrecadação de fundos para os “descamisados” de Buenos Aires – “é igual aos favelados do Brasil”, acrescentou -, um reforço na argumentação para me arrancar alguns pesos ou talvez porque minha cara revelasse que não estava entendendo nada.

Saquei 10 pesos (cerca de R$ 4,00) e entreguei à moça que saiu bem faceira à procura de outros senhores distraídos. Foi então que me interessei em ler os textos do cartão e fiquei estarrecido. Ao descrever as virtudes e defeitos dos capricornianos, o conteúdo mergulhou fundo na minha alma, revelando nuanças e subterrâneos que nem os mais próximos suspeitam. A confrontação com o meu verdadeiro eu, estampado na pequena cartela, foi uma experiência perturbadora, ainda mais que sou um cético assumido em relação a tudo que cheire à crendice, o que, aliás, é próprio dos pragmáticos nativos de Capricórnio.

Num ímpeto, sai à procura da jovem para saber a origem dos cartões e também para adquirir de outros signos, mas ela já havia sumido no fim de tarde gelado de Buenos Aires. Só me restou ler e reler minha melhor virtude e meu pior defeito, entre outras revelações que, por modéstia de um lado e embaraço de outro, não vou socializar aqui. Se quiserem saber, se mandem para Buenos Aires e tentem achar a moça alta a bonita na calle Florida, entre Lavalle e Córdoba.

A propósito de Buenos Aires, a cidade continua charmosa e infestada de brasileiros. Os porteños são um tanto graves para o meu gosto, mas me sinto à vontade entre eles, especialmente quando estou à frente de um prato com aquelas carnes maravilhosas e um malbec de boa cepa. Meu nenê Mariana vive lá desde outubro do ano passado e se adaptou bem à cidade. Em dúvida, nossa delegação – a Santa, mais a Flávia, o Rodrigo e a irriquieta Maria Clara – recorria ao espanhol, com acento de Buenos Aires, da nossa embaixatriz.

No domingo ocorreu a disputa pelo segundo turno das eleições municipais entre o atual prefeito Maurício Macri e o candidato da presidente Cristina Kirchner, o senador Daniel Filmus. Macri venceu com facilidade, obtendo mais de 64% dos votos e se firmou com a principal referência da oposição na Argentina. Entretanto, o que me chamou a atenção, acostumado que estou às duras e agitadas disputas municipais em Porto Alegre, foi a discreta campanha em Buenos Aires. Não fossem os cartazes nas ruas e inserções de péssima qualidade nos canais de TV, a eleição passaria despercebida. Nada de comícios, nem passeantes, nem carreatas ou qualquer outro tipo de manifestação que lembrasse de perto uma campanha política. Alô marqueteiros políticos: a Argentina é logo ali e há um grande vazio a ser ocupado.

domingo, 24 de julho de 2011

Meninos, eu vi

A marcha do tempo é cruel, não tem me poupado, mas pelo menos minha memória não me trai quando o assunto diz respeito a alguma abobragem do passado. Quando lembro, por exemplo, que já andei de bonde – e muito – as pessoas ficam me olhando desconfiadas. É, Porto Alegre tinha bondes e até ônibus elétrico, conhecido como trólebus e que a Carris quer resgatar agora. Também viajei de trem, de Porto Alegre à Bento Gonçalves, e hoje o que temos é o Trensurb.


Não é para contar vantagem, mas lembro que assisti à primeira novela diária da TV brasileira na extinta TV Excelsior, transmitida aqui pela TV Gaucha, hoje RBS TV: um dramalhão chamado “ 25499 Ocupado”, no qual Glória Menezes interpretava uma vilã e a mocinha era Lolita Rodrigues. O ano era 1963 e foi nessa novela que o Tarcisio Meira iniciou sua longa e bem sucedida carreira de canastrão.

Minha memória alcança até os programas que a Hebe Camargo apresentava semanalmente na ex-TV Piratini, onde assisti também, acreditem, a um programa de entrevistas apresentado, com voz doce e cabelo engomado, pelo Edemar Tutikian, o executivo governamental que levou adiante o projeto do Cais do Porto. Já nem falo do Conversa de Arquibancada e do Ringuedoze e das séries Bonanza, a primeira à cores, o Homem de Virgínia, Os Intocáveis, Papai Sabe Tudo, I Love Lucy, a nacional Vigilante Rodoviário e tantas outras que fizeram sucesso nas décadas de 60 e 70 do século passado...

Estive presente no auditório da Rádio Farroupilha, na Siqueira Campos e bati palmas para o Ari Rêgo e as atrações do Clube do Guri, mas não lembro de ter visto a Elis Regina cantar naquele palco. Ouvi transmissões esportivas com o Ataídes Ferreira, Euclides Prado, Mendes Ribeiro, Guilherme Sibemberg, Antonio Carlos Rezende e tive o privilégio de trabalhar com o Geraldo José de Almeida na TV Difusora, hoje Band.

Não tenho como provar, mas assisti a um jogo de amadores no estádio Tiradentes, o Alçapão da Sertório, quando tinha 8 ou 9 anos - o time do Renner, dono do local, agonizava ou já estava licenciado. Já dei minhas botinadas no antigo estádio do Cruzeiro, a Colina Melancólica, hoje Cemitério João XXIII e torci para o Força e Luz, nas arquibancadas de madeira trocadas pelo zagueirão Airton do estadinho ali do bairro Rio Branco, quando meu amigo Beto D’Alascio capitaneou uma fugaz volta do Forcinha ao futebol.

Tive todo o tipo de Fuscas e Brasílias e pelo menos um Corcel. Todos prestaram inestimáveis serviços, mas pelo menos nisso concordo com o Collor: eram umas carroças comparadas aos carros de hoje. Já me exibi com camisas Volta ao Mundo, blusas de banlon, calças de tergal e dei bicancas com tênis Bamba, aqueles de sola alta, tipo All Star, que depois viraram fashion e são indispensáveis para os descolados de hoje. Fumei Minister e Continental sem filtro, acesos com isqueiros Ronson, fedendo a fluído. Bebi muita Polar Export original e gostava de uma Grapete e de um Ki-Suco.

Faço essas reminiscências sem saudosismo, mas para mostrar que, apesar de usado e gasto pela passagem do tempo, minha memória segue viva e afinada, inclusive para os detalhes de acontecimentos bem remotos. O problema é que só não lembro onde deixei os óculos e o celular. Será o “alemão” me rondando?

sábado, 16 de julho de 2011

Teste para jornalistas: qual o seu nível de vaidade?

 Do blog “Desilusões Perdidas” (http://desilusoesperdidas.blogspot.com),  de Duda Rangel. Até o Noblat repercutiu. Então, deve ser bom.


Responda às questões e descubra. O resultado está no fim do post.

1) O que você faz quando tem uma matéria assinada na capa do jornal?

A) Mostra o jornal para a família, amigos, para a torcida do Flamengo.

B) Guarda o jornal e, vez ou outra ao longo do dia, dá uma paquerada na capa.

C) Não se ilude. Sabe que, no dia seguinte, aquele jornal vai enrolar peixe na feira.

2) Se alguém de outra área lhe diz que ser jornalista é o máximo do glamour, você...

A) Concorda que é um ser humano especial e pergunta se a pessoa não quer um autógrafo.

B) Agradece meio encabulado: “Nem tanto, nem tanto”.

C) Responde: “Dá uma olhada no meu extrato bancário e depois me diz o que é glamour”.

3) Como você gosta de se vestir na redação?

A) Super descolado e de acordo com as tendências da moda.

B) Sem exageros, mas sempre com a camisa e a calça passadinhas.

C) Tênis sujo, calça rasgada e camiseta do Seu Madruga de Che Guevara.

4) Você gostaria de ganhar um Prêmio Esso?

A) Lógico, eu vivo para isso.

B) Ficaria muito feliz.

C) Caguei para o Esso. Prefiro ganhar a Mega-Sena acumulada.

5) Se alguém lhe pergunta se foi difícil entrevistar o Rodrigo Santoro, você...

A) Diz que foi uma moleza, afinal você é amigão do Rô.

B) Diz que foi difícil, mas que sua boa relação com o assessor do ator ajudou.

C) Confessa que as declarações foram dadas numa entrevista coletiva, com outros 37 jornalistas.

6) Você é um apresentador de TV. Ao sair uma noite para jantar, não é reconhecido por ninguém no restaurante. O que você faz ao chegar em casa?

A) Se entope de Prozac para não cometer suicídio.

B) Acredita que só não foi reconhecido por estar de óculos e boina.

C) Descobre o lado bom do anonimato: pôde jantar sem ninguém enchendo o saco.

7) Ao entrar na área VIP de uma festa, ao lado de celebridades, você...

A) Cumprimenta a Gisele Bündchen (“Gi”) como se fossem íntimos há 20 anos.

B) Faz fotos da festa com seu celular pré-pago para colocar no Facebook.

C) Acha tudo aquilo muito chato e sente saudade do boteco ao lado da redação.

8) Como você reage a uma crítica negativa ao seu texto?

A) Fica puto da vida, afinal como podem falar mal de um texto tão perfeito?

B) Finge que aceitou as críticas e não admite para si que o texto está ruim.

C) Reconhece que o texto ficou mesmo uma merda.

9) Quando algum entrevistado elogia publicamente sua pergunta em uma coletiva de imprensa, você...

A) Faz que não ouviu o elogio e pede para ele repetir o que disse em voz mais alta.

B) Se imagina mais tarde na redação contando o elogio para o chefe.

C) Preferiria ter recebido uma resposta interessante à sua pergunta.

10) Se você é demitido do jornal porque fez uma cagada, você diz aos amigos que...

A) Pediu um ano sabático ao editor para se reciclar. Talvez uma viagem para Viena.

B) Foi vítima do processo de downsizing da redação.

C) Revela que matou Itamar Franco três dias antes da morte oficial.

RESULTADOS

Se a maior parte de suas respostas foi a letra “A”: O seu nível de vaidade é comparável ao de publicitários loucos para ganhar um Leão de Ouro em Cannes. Você tem certeza que é o fodão, o semideus, praticamente um Arnaldo Jabor. Se liga, mané!

Se a maior parte de suas respostas foi a letra “B”: Você é vaidoso, sim, mas ainda dentro de um padrão de normalidade. Não é o caso de você ser encaminhado ao consultório de um psiquiatra. Só tome cuidado para não pular para a letra “A”, ok?

Se a maior parte de suas respostas foi a letra “C”: Você é o jornalista-Amélia, aquele que não tem a menor vaidade. É um tipo raríssimo, mais difícil de ser encontrado do que jornalista que não reclama ou jornalista que ganha bem.