domingo, 24 de julho de 2011

Meninos, eu vi

A marcha do tempo é cruel, não tem me poupado, mas pelo menos minha memória não me trai quando o assunto diz respeito a alguma abobragem do passado. Quando lembro, por exemplo, que já andei de bonde – e muito – as pessoas ficam me olhando desconfiadas. É, Porto Alegre tinha bondes e até ônibus elétrico, conhecido como trólebus e que a Carris quer resgatar agora. Também viajei de trem, de Porto Alegre à Bento Gonçalves, e hoje o que temos é o Trensurb.


Não é para contar vantagem, mas lembro que assisti à primeira novela diária da TV brasileira na extinta TV Excelsior, transmitida aqui pela TV Gaucha, hoje RBS TV: um dramalhão chamado “ 25499 Ocupado”, no qual Glória Menezes interpretava uma vilã e a mocinha era Lolita Rodrigues. O ano era 1963 e foi nessa novela que o Tarcisio Meira iniciou sua longa e bem sucedida carreira de canastrão.

Minha memória alcança até os programas que a Hebe Camargo apresentava semanalmente na ex-TV Piratini, onde assisti também, acreditem, a um programa de entrevistas apresentado, com voz doce e cabelo engomado, pelo Edemar Tutikian, o executivo governamental que levou adiante o projeto do Cais do Porto. Já nem falo do Conversa de Arquibancada e do Ringuedoze e das séries Bonanza, a primeira à cores, o Homem de Virgínia, Os Intocáveis, Papai Sabe Tudo, I Love Lucy, a nacional Vigilante Rodoviário e tantas outras que fizeram sucesso nas décadas de 60 e 70 do século passado...

Estive presente no auditório da Rádio Farroupilha, na Siqueira Campos e bati palmas para o Ari Rêgo e as atrações do Clube do Guri, mas não lembro de ter visto a Elis Regina cantar naquele palco. Ouvi transmissões esportivas com o Ataídes Ferreira, Euclides Prado, Mendes Ribeiro, Guilherme Sibemberg, Antonio Carlos Rezende e tive o privilégio de trabalhar com o Geraldo José de Almeida na TV Difusora, hoje Band.

Não tenho como provar, mas assisti a um jogo de amadores no estádio Tiradentes, o Alçapão da Sertório, quando tinha 8 ou 9 anos - o time do Renner, dono do local, agonizava ou já estava licenciado. Já dei minhas botinadas no antigo estádio do Cruzeiro, a Colina Melancólica, hoje Cemitério João XXIII e torci para o Força e Luz, nas arquibancadas de madeira trocadas pelo zagueirão Airton do estadinho ali do bairro Rio Branco, quando meu amigo Beto D’Alascio capitaneou uma fugaz volta do Forcinha ao futebol.

Tive todo o tipo de Fuscas e Brasílias e pelo menos um Corcel. Todos prestaram inestimáveis serviços, mas pelo menos nisso concordo com o Collor: eram umas carroças comparadas aos carros de hoje. Já me exibi com camisas Volta ao Mundo, blusas de banlon, calças de tergal e dei bicancas com tênis Bamba, aqueles de sola alta, tipo All Star, que depois viraram fashion e são indispensáveis para os descolados de hoje. Fumei Minister e Continental sem filtro, acesos com isqueiros Ronson, fedendo a fluído. Bebi muita Polar Export original e gostava de uma Grapete e de um Ki-Suco.

Faço essas reminiscências sem saudosismo, mas para mostrar que, apesar de usado e gasto pela passagem do tempo, minha memória segue viva e afinada, inclusive para os detalhes de acontecimentos bem remotos. O problema é que só não lembro onde deixei os óculos e o celular. Será o “alemão” me rondando?

sábado, 16 de julho de 2011

Teste para jornalistas: qual o seu nível de vaidade?

 Do blog “Desilusões Perdidas” (http://desilusoesperdidas.blogspot.com),  de Duda Rangel. Até o Noblat repercutiu. Então, deve ser bom.


Responda às questões e descubra. O resultado está no fim do post.

1) O que você faz quando tem uma matéria assinada na capa do jornal?

A) Mostra o jornal para a família, amigos, para a torcida do Flamengo.

B) Guarda o jornal e, vez ou outra ao longo do dia, dá uma paquerada na capa.

C) Não se ilude. Sabe que, no dia seguinte, aquele jornal vai enrolar peixe na feira.

2) Se alguém de outra área lhe diz que ser jornalista é o máximo do glamour, você...

A) Concorda que é um ser humano especial e pergunta se a pessoa não quer um autógrafo.

B) Agradece meio encabulado: “Nem tanto, nem tanto”.

C) Responde: “Dá uma olhada no meu extrato bancário e depois me diz o que é glamour”.

3) Como você gosta de se vestir na redação?

A) Super descolado e de acordo com as tendências da moda.

B) Sem exageros, mas sempre com a camisa e a calça passadinhas.

C) Tênis sujo, calça rasgada e camiseta do Seu Madruga de Che Guevara.

4) Você gostaria de ganhar um Prêmio Esso?

A) Lógico, eu vivo para isso.

B) Ficaria muito feliz.

C) Caguei para o Esso. Prefiro ganhar a Mega-Sena acumulada.

5) Se alguém lhe pergunta se foi difícil entrevistar o Rodrigo Santoro, você...

A) Diz que foi uma moleza, afinal você é amigão do Rô.

B) Diz que foi difícil, mas que sua boa relação com o assessor do ator ajudou.

C) Confessa que as declarações foram dadas numa entrevista coletiva, com outros 37 jornalistas.

6) Você é um apresentador de TV. Ao sair uma noite para jantar, não é reconhecido por ninguém no restaurante. O que você faz ao chegar em casa?

A) Se entope de Prozac para não cometer suicídio.

B) Acredita que só não foi reconhecido por estar de óculos e boina.

C) Descobre o lado bom do anonimato: pôde jantar sem ninguém enchendo o saco.

7) Ao entrar na área VIP de uma festa, ao lado de celebridades, você...

A) Cumprimenta a Gisele Bündchen (“Gi”) como se fossem íntimos há 20 anos.

B) Faz fotos da festa com seu celular pré-pago para colocar no Facebook.

C) Acha tudo aquilo muito chato e sente saudade do boteco ao lado da redação.

8) Como você reage a uma crítica negativa ao seu texto?

A) Fica puto da vida, afinal como podem falar mal de um texto tão perfeito?

B) Finge que aceitou as críticas e não admite para si que o texto está ruim.

C) Reconhece que o texto ficou mesmo uma merda.

9) Quando algum entrevistado elogia publicamente sua pergunta em uma coletiva de imprensa, você...

A) Faz que não ouviu o elogio e pede para ele repetir o que disse em voz mais alta.

B) Se imagina mais tarde na redação contando o elogio para o chefe.

C) Preferiria ter recebido uma resposta interessante à sua pergunta.

10) Se você é demitido do jornal porque fez uma cagada, você diz aos amigos que...

A) Pediu um ano sabático ao editor para se reciclar. Talvez uma viagem para Viena.

B) Foi vítima do processo de downsizing da redação.

C) Revela que matou Itamar Franco três dias antes da morte oficial.

RESULTADOS

Se a maior parte de suas respostas foi a letra “A”: O seu nível de vaidade é comparável ao de publicitários loucos para ganhar um Leão de Ouro em Cannes. Você tem certeza que é o fodão, o semideus, praticamente um Arnaldo Jabor. Se liga, mané!

Se a maior parte de suas respostas foi a letra “B”: Você é vaidoso, sim, mas ainda dentro de um padrão de normalidade. Não é o caso de você ser encaminhado ao consultório de um psiquiatra. Só tome cuidado para não pular para a letra “A”, ok?

Se a maior parte de suas respostas foi a letra “C”: Você é o jornalista-Amélia, aquele que não tem a menor vaidade. É um tipo raríssimo, mais difícil de ser encontrado do que jornalista que não reclama ou jornalista que ganha bem.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Pessimismo e modernidade


O “Fronteiras do Pensamento” trouxe segunda-feira, 11, ao Salão de Atos da UFRGS o filósofo Luiz Felipe Pondé. Confesso que não conhecia Pondé, embora ele escreva regularmente na Folha SP e já tivesse participado de uma edição do Festival de Inverno, a convite do bom secretário municipal da Cultura, Sergius Gonzaga. Assíduo que sou do “Fronteiras”, o que posso acrescentar é que poucas vezes vi uma platéia tão atenta, eletrizada até, com a prosa vivaz, bem humorada e recheada de referências históricas, como ocorreu na conferência de Pondé. Como não sou egoísta, reproduzo uma boa síntese de Sônia Montaño sobre a conferência “Pessimismo e Modernidade”.

O conferencista, o filósofo Luiz Felipe Pondé, se propôs a responder e respondeu à pergunta que deu título a sua fala: Seria o pessimismo mais inteligente? Conforme o professor da USP, a pergunta nasce do fato de que a maior parte dos intelectuais só fala em desgraça. Ao mesmo tempo, “pessimismo” e “otimismo” apresentam suas dificuldades por não serem conceitos, são termos escorregadios que podem significar muitas coisas. Para Pondé, os avanços do mundo acontecem porque grande parte de filósofos, escritores e cientistas continuam a ser pessimistas. “Uma pessoa que sempre está alegre, você se pergunta se sabe o que está acontecendo à sua volta”, brincou o filósofo. O pessimismo, então, seria mais inteligente?


Refletindo sobre o dualismo pessimismo–otimismo no mundo ocidental, o colunista da Folha de S.Paulo lembrou que esperança é essencial para os seres humanos, e entre os pessimistas da história ocidental estariam o gnosticismo e o cristianismo, mas não só, o pessimismo teria prevalência na história do pensamento. Entre os exemplos de otimistas, o conferencista lembrou a filosofia grega, que é uma reação à tragédia grega, pessimista por natureza. “A filosofia, – Sócrates, Platão, Aristóteles – investe na ideia de autonomia do ser humano. Com o tempo ela cria um problema. A ideia de autonomia como capacidade do ser humano orientar a vontade a partir do intelecto ganha contornos sombrios na história ocidental”, explica Pondé.


Os dois humanismos


No Renascimento, a noção de humanismo tinha dois sentidos. O primeiro é um humanismo mais filosófico, aquele que é a base do otimismo moderno, que tem a visão do humano do filósofo Pico Della Mirandola (1463-1494), um homem cheio de potências a serem realizadas. A pergunta era: basta a filosofia para a felicidade ou precisa da fé? Os estudiosos de Aristóteles defendem a primeira opção, com a razão e o intelecto basta. É o que está na base da grande dogmática moderna, visão de autonomia intelectual como potência infinita para ser realizada. A natureza humana teria tudo para resolver os problemas que vão se apresentando à humanidade. O que nos falta é prática,  conhecimento, esforço. Essa ideia supõe conhecimento do passado para iluminar o futuro.
O segundo humanismo é o de um grupo que ficou conhecido como anti-humanista, entre os séculos 13 e 17, que afirma que não dá para confiar direito na natureza humana. No século 17, na França, esse debate é muito acirrado. Os otimistas venceram pelo surgimento da ciência moderna, a tecnociência. A ideia de ciência já trazia implícita uma relação direta entre ela e o bem-estar da humanidade. A maior parte dos seres humanos pensa que a ciência é um ganho.


“A ciência já nasceu com um otimismo implícito. Marca-passo, transplante, avião, computador. Mas a história da evolução científica está associada a uma série de problemas”, disse o conferencista.
Para Pondé, a espécie humana tem dentro dela certa violência e crueldade, e seria ingênuo lidar com os avanços da humanidade com otimismo total. Do ponto de vista filosófico, existe sempre a pergunta sobre o sentido da vida, que normalmente produz um pessimismo. “A vida é algo que no final sempre dá errado, e no meio dela, às vezes, você tem boas experiências”, ironizou o filósofo, lembrando que o ensaísta Michel de Montaigne (1533-1592) acreditava que as virtudes da velhice são a impossibilidade de realizar os vícios da juventude. Existiria, então, um pessimismo de fundo, uma angústia ligada ao cotidiano. A ciência, a liberdade e a democracia não teriam muito a dizer quando você descobre que seu filho de 15 anos tem um câncer e pergunta “por quê?”, buscando conforto. “Temos o medo de fundo de que a gente seja só pedra vagando pelo universo. É um assalto de pessimismo que nos acompanha”, diz o conferencista. A ciência avança muito em relação à extensão da vida, mas não consegue dar sentido para a vida.


O pessimismo e suas dúvidas funcionariam, então, como uma espécie de controle de qualidade, atenção contínua, avaliação de tudo o que o ser humano faz. Grande parte dos filósofos e intelectuais são pessimistas porque a história dá muitas razões para sê-lo. Luiz Felipe Pondé destacou o perigo que é quando um ser humano tem excessiva paixão por si mesmo, excessiva confiança no que faz. “O século 20 foi profundamente otimista. Pessimismo e otimismo são necessários o tempo todo.


Quando você é pautado por uma hibris, isto é, quer dar o passo maior que a perna, é bom ter uma crisezinha de pessimismo”, defendeu Pondé. Para ele, seria ingênuo achar que o debate está em ser contra ou a favor da ciência e da modernidade. Entre ciência e política, é necessário operar nesse equilíbrio entre pessimismo e otimismo. “Isso é o que o século 20 nos ensinou”, salientou Pondé.


O pessimismo seria a consciência, a dúvida. Mas, se alguém duvida demais, paralisa. O capitalismo só funciona no otimismo. Em momento de muitos avanços técnicos, é muito importante ficar atento, porque os avanços não são só fruto da nossa capacidade criativa. São fruto também da dúvida da própria capacidade criativa. É o perigo da eugenia, que, em certa forma, já estava com Platão em A república, onde projeta uma utopia, em que as mulheres mais bonitas e saudáveis teriam filhos com
os homens mais bonitos e saudáveis e seria o início de uma geração mais bela. A eugenia é um dos piores riscos do otimismo. “Me parece um enorme erro filosófico para alguém que vive em 2011 não perceber que devemos tomar cuidado com ideias como essa. Pessimismo no sentido de olhar mais crítico, mais lento, que parece pisar no freio em algumas coisas. Já tivemos exemplos suficientes de que os avanços técnicos precisam de cuidados com os projetos utópicos e os riscos que eles implicam”, defendeu o filósofo.


Para ele, o que sempre humanizou o ser humano é uma certa dose de sofrimento. A vitória e o sucesso são coisas fantásticas, mas podem ser ferramentas de desumanização, de impaciência com as pessoas vistas como lentas demais, que choram demais, frágeis demais. “A experiência do limite humaniza o ser humano, faz com que ele se sinta frágil, pequeno. O pessimismo seria um modo de olhar a humanidade”, concluiu o conferencista.


Encerrada a conferência, Luiz Felipe Pondé respondeu às perguntas da plateia. Questionado sobre o papel da ciência no desencantamento do mundo, ele lembrou como no Romantismo houve um reencantamento com a ideia de natureza e reafirmou a ideia de ciência como otimismo.


Perguntado sobre o fundamentalismo religioso, disse que a religião é um sistema de sentido que reúne comportamentos cotidianos e narrativas cósmicas que dão significado ao comportamento. O fundamentalismo seria uma reação a determinados índices da modernidade a partir de práticas da religião literais do texto sagrado. Um suposto retorno a um mundo religioso verdadeiro que teria sido destruído pela modernização, já que a modernização é vivida como desencaixe de tudo. Haveria,

então, uma visão pessimista em relação à modernização, mas ele oferece um reencantamento da vida.


Pondé comentou ainda sobre o problema do pensamento politicamente correto, como aquele pensamento covarde que simplifica a discussão, e disse que, se pudesse voltar para o passado, escolheria a Idade Média, já que foi muito injustiçada pelos iluministas. “Mas iria com passagem de volta”, brincou o conferencista.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Prazo de Validade

Quando nascemos começa a disparar o relógio que marca nosso principal Prazo de Validade. Demora mais ou menos, mas é implacável. O Prazo de Validade se aplica também em todas as situações do dia a dia, nas atividades profissionais, nas carreiras políticas, nas mamatas com dinheiro púbico e até na vida amorosa. Como o iogurte, tudo e todos somos perecíveis.

Quem não tem a compreensão de que vai passar, muitas vezes nem percebe que já perdeu o Prazo de Validade e vai pro limbo, antes de cair no inferno, achando que tá numa boa. Enquanto isso, o universo vai conspirando contra, até que a casa cai. Admita, você já passou por uma situação dessas.

É preciso estar atentos aos sinais para não ser surpreendido. O Prazo de Validade emite sinais claros quando a hora se aproxima. Desinteresse, falta de perspectivas, horizontes sombrios, portas que se fecham, caminhos que ficam tortuosos são alguns dos “recados” mais comuns.

Os mais espertos logo sacam e tratam de partir para outra, renovando prazos de validade em outros cenários, outras atividades, outras parcerias. Só não dá para revalidar o Prazo final quando o chamado daquela Senhora bate a porta. Aí já é outra conversa, porque há os que acreditam que isso nada mais é do que a passagem para outra dimensão, onde o Prazo de Validade é infinitivo, para o bem ou para o mal.

Nem sei por que estou falando nessas coisas. Acho que o Prazo de Validade dos meus assuntos está próximo do fim.