quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Desejos para o Novíssimo Ano.

2015 está indo embora e não vai deixar saudades. O ano que chega é esperança de renovação. É sempre assim na largada mas nem sempre as expectativas se realizam, se bem que será difícil superar o 2015 em termos de conflitos e decepções. Mas vamos lá, injetando uma dose de otimismo que mal não faz. De minha parte, como já é tradição no descaminho do ViaDutra, antecipo meus pedidos ao novíssimo ano e prometo contrapartidas para equilibrar a relação. Tem vários repetecos dos anos anteriores, mas é assim mesmo porque não dá pra ficar demandando ao recém nascido muita coisa nova.

Assim, em tese, mas só em tese por enquanto, não quero paz, mas as provocações que constroem e não as que desqualificam. Quero emoções novas e desafios que eu mesmo me imponha. Quero um pouco de desarmonia, que não é sinônimo de conflito, mas uma forma de mostrar outros matizes e semitons onde pode estar contida a verdade verdadeira. Sempre gostei deste parágrafo,cheio de alegorias!

Sigo reiterando o apelo feito em anos anteriores: encarecidamente,  livrai-me dos chatos; vale repetir, livrai-me dos chatos. E reforço os outros pleitos: mantenha longe de mim também os mordedores em geral, os picaretas de todos os matizes e os pedintes de favores que não estão ao meu alcance. Quero distância igualmente dos baixo astrais, dos angustiados, dos obsessivos porque tenho medo de ser contaminado e contrair uma deprê. E mais, se não for abuso, suplico: mande para longe os duvidosos de caráter, os falcatruas, os descompromissados e os sugadores de energia. Coloque em fuga, por especial gentileza, os arrogantes, os prepotentes, os invejosos e todos da mesma laia.

Repito  outros pedidos impossíveis de postergar. Apelo, meu ainda bom menino,  para o teu anunciado espírito harmonioso: dê um jeito de reaproximar-me dos que ofendi e se apartaram, e dai-me o dom da tolerância para aceitar e receber os que se desgarraram por qualquer razão. Faça pousar em mim a deusa da paciência e que venham juntas as amazonas altivas da fé e da esperança, que um dia tive e que se perderam no tempo.  Com isso, serei fortaleza que não se dobra, terei coragem para enfrentar as adversidades e energia para novos desafios, que podem ser intensos, mas gratificantes na mesma medida.

No repeteco, salve-me das filas, as dos bancos e dos supermercados, e todas as outras onde corra o risco de ser interpelado por desconhecidos que me tiram para confessionário e interrompem minhas ruminações. Não admita, por compaixão, que a guria bonita me pergunte a idade antes de distribuir a senha, se a maldita fila for inevitável. Guarde uma boa vaga de Idoso pra mim nos supermercados.  Abusando da compaixão, não permita que as bonitinhas me chamem de tio e muito menos de vô, chamado que prefiro reservar apenas para a Maria Clara e a Rafaela e logo adiante para o Augustão. Mas não abro mão do carinho das caldáveis, mesmo que seja afeto virtual.

E tem mais uma listinha facilzinha e repetida, meu ainda futuroso 2016. Não deixe faltar uma boa carne na minha mesa, saladas variadas, cerveja gelada, um vinho encorpado para as noites de inverno e um espumante para acompanhar o gosto feminino. E se não for pedir muito, que eu reencontre aquele doce de abóbora de comer ajoelhado e o pudim que justifica nossa ida frequente aquele restaurante.  Ah, e aquela berinjela, a carne de panela com batatas e uma caixa de Bis só pra mim. Se não for contraditório, aproxime de mim essas tentações. E que sempre possa dividir a boa mesa com companhias agradáveis, brindando os bons momentos da vida que não são muito e até por isso precisam ser valorizados. Conceda-me, de vez em quando,  jogar um pouco de conversa fora, curtir mais a minha gente, vagabundear sem culpa, experimentar o novo e, por que não?, me entregar a alguma extravagância. E dá uma forcinha e inspire os médicos para que receitem menos remédios e exijam menos exames.  


Em contrapartida, Novíssimo Ano, prometo continuar sem fumar , me exercitar com regularidade, voltar a academia, comer menos fritura e beber moderadamente, cometer menos infrações no trânsito, voltar a ler e fuçar menos na internet, ouvir mais e falar menos, terminar meu TCC sobre as banalidades do Facebook, lançar um novo livro, respeitar mais e debochar menos, lembrar o aniversário de casamento e outras datas importantes e não desejar a mulher do próximo, nem a do distante, porque os outros pecados acho que não os cometo. A não ser que um pouco de rabugice seja pecado, dos veniais, mas até isso, afirmo de novo, pretendo corrigir. Nesses termos peço sua compreensão e deferimento, bem-aventurada criança.

sábado, 26 de dezembro de 2015

Histórias Curtas do ViaDutra: Vilmar, o atrevido

Vilmar é baixinho, feio, despossuído  financeiramente, não tem carro, nem veste roupas de grife, mas circula com as mais belas mulheres do pedaço, todas bem mais altas do que ele. Quem contou as aventuras do Vilmar num encontro na mesa ao lado foi seu primo Geneton que, como todos à mesa, também se surpreendeu com a sorte do rapaz.

- Sorte que nada! Para ter sucesso neste caso é preciso dedicação, determinação e coragem - ensina Vilmar, por intermédio do primo porta-voz.

O método de abordagem dele é simples e direto.  Nas festas  mapeia as mulheres mais caldáveis  e, como um artesão meticuloso e atrevido, encara uma a uma, numa tarefa que ele define como “tijolada”,  o que diz bem das intenções e do modo de agir do moço.  Se leva um fora da primeira, vai na segunda, se não der certo, tenta a terceira e assim por diante. Se nenhuma ceder aos seus parcos encantos, muda de festa,  recomeça as “tijoladas” e invariavelmente sai acompanhado, dirigindo o carro da nova parceira.  Jamais, porém, baixa de nível.

- As feias que me perdoem, mas para mim beleza é fundamental -  sustenta ele, apropriando-se de um verso de Vinicius de Moraes, em “Receita de Mulher”.

Vinicius é seu modelo pelas semelhanças físicas e sucesso com o naipe feminino, se bem que Vilmar leva vantagem na comparação porque não canta nem compõe,  as contas bancárias de ambos não guardariam qualquer relação de equidade e ainda assim  ostenta um portfólio de conquistas de dar inveja a muito poetinha.

Vilmar não revela o que fala para suas escolhidas, alegando,  um tanto blasé, que isso é de “somenos importância”, porque o que vale mesmo no momento da abordagem é a atitude.  “E mulher sabe reconhecer um homem de atitude”, completa, agora ostentando ligeira soberba.

O grupo que ouvia o relato reproduzido pelo Geneton chegou, entretanto, a uma conclusão:  Vilmar é bem sucedido porque não se abate com a rejeição, ao contrário, faz disso sua energia para novos enfrentamentos. 

Um dos parceiros da mesa aproveitou o exemplo para exercitar filosofia de boteco,  defendendo que assim pode ser na vida - cada percalço deve nos impelir  para o desafio seguinte.  A assertiva não teve a repercussão esperada entre os confrades, mais invejosos das vitórias do Vilmar e de sua autoestima imbatível  do que atentos à filosofada regada a cerveja.


É que também nos demos conta de que o sucesso de Vilmar  estava  igualmente relacionado à escalada de suas abordagens. Quanto mais tentativas, mais chances de pelo menos uma dar certo.  Simples assim, mas quem se arrisca?

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Chatices de fim de ano

* Publicado em dezembro de 2014, mas atual como nunca

Está aberta a temporada de chatices de fim de ano. Com isso é cada vez maior o numero de pessoas que se deprimem, ficam melancólicas nesta época  e admitem publicamente que detestam as chamadas festas natalinas.  O número de desgostosos cresce na proporção direta em que o comércio antecipa suas campanhas de Natal, para vender mais e quanto mais cedo melhor.  Os shoppings, esses templos do consumo, se enfeitam como se disputassem um campeonato  de ornamentação natalina.

Particularmente já curti menos o Natal, mas voltei a me entusiasmar por causa das netas Maria Clara e Rafaela - a agora o Augusto. Natal é a grande festa da criançada que  adora as tais casas do Papai Noel nos shoppings , mesmo que os pequeninos ainda se assustem com o velho gordo, de barbas brancas e vestido de vermelho. Mas, como diz minha faceamiga Monica Goulart,  acabar com a fantasia das crianças é crime inafiançável.

Eu prefiro olhar as assistentes do personagem,  mas não pensem que é um olhar cúpido, nada de más intenções, apenas um gesto fraterno de solidariedade, creiam-me,  às moças que lidam com crianças irrequietas ou assustadas e pais ansiosos.  Pois é  assim que se estabelece o ciclo que vai impulsionar ao consumo: atraindo a criança para o ambiente repleto de ofertas de produtos e serviços é inevitável que os mais velhos sejam levados ao ato da compra.  Os números variam conforme a pesquisa, mas de 50 a 60% dos brasileiros admitem fazer compras por impulso.  E a roda da economia anda.

Frequentar os shoppings nessas circunstâncias não é a pior chatice do período.  Tem coisas que nem o CD natalino da Simone ou o show do RC conseguem bater em termos de malice.  O noticiário esportivo, por exemplo, se esmera em nos torturar com teses sobre o (mau) desempenho dos nossos clubes, o futuro incerto nas competições que virão e as especulações sobre reforços e dispensas.  E as retrospectivas repletas de pequenos e grandes dramas; e as previsões para o próximo ano, repletas de obviedades.  E os comerciais piegas;  e a programação de fim de ano das TVs. Ah, e tem a festa da firma e o inevitável  Amigo Secreto,  que por si só já mereceriam uma boa dose de Prozac.

É quando sobrevém aquele sentimento de impotência e incompetência pelo que foi planejado e não realizado. Sempre fica algo para trás, inconcluso, desafiador, a debochar da nossa capacidade de entrega, como se os 12 meses  passados não fossem mero recorte de um tempo que prossegue, um tempo  em que nem tudo precisa ser renovação, mas sim um espaço para continuidades e retomadas. 

Relaxemos, pois, porque há vida após o Natal . O ciclo recomeça logo adiante, na passagem para mais um ano, uma etapa que como as outras anteriores e as que virão nada mais é do que representação  de uma convenção.   Perdão pelo reducionismo, mas é simples assim. Portanto, não precisa forçar a alegria. 

domingo, 20 de dezembro de 2015

Que semana, que tempos!

A semana que está terminando  foi a autentica semana para não esquecer.  Num ano trepidante de acontecimentos, especialmente na área politica, esta semana produziu uma série de episódios que fizeram jus à sina do período e que terão desdobramentos mais adiante.  Houve até acontecimentos positivos como o título mundial de surfe conquistado por um ex-favelado de Guarujá, feito que transforma o Brasil definitivamente como o ex-país do futebol, agora afirmado como o país do surfe.

Mas foram os fatos produzidos em Brasília que movimentaram a cena politica, a começar pelo parecer do juiz Fachin,  reforçando a posição do presidente da Câmara no caso do impeachment da presidente Dilma, no mesmo dia em que o procurador  Rodrigo Janot  pedia o afastamento  de Eduardo Cunha por usar indevidamente seu cargo, o mesmo  Cunha que teve casa e escritórios devassados pela PF na Operação Catilinárias e viu suas posições sobre o andamento do impeachment reformadas - por goleada -  no Pleno do STF, um dia antes da saída, tantas vezes anunciadas, do ministro  Joaquim Levy, substituído por um contendor interno, o então ministro do Planejamento,  Nelson Barbosa, e, finalizando a semana, o anuncio de que o Supremo autorizava a quebra dos sigilos bancário e fiscal de  Renan Calheiros por suspeita de envolvimento no Petrolão e outros malfeitos. Ufa, tudo isso em apenas uma semana.

Mas enganam-se aqueles que pensam que foram estes acontecimentos, de importância e gravidade incontestáveis, que mexeram com o brasileiro comum, no popular,  a dona Maria e o seu Zé.  Foram dois outros fatos  que bombaram especialmente nesse canhão  de posicionamentos e repercussões em que se transformaram as redes sociais.  O mais insólito, o bloqueio do serviço de WhatsApp por um juiz de São Bernardo do Campo mereceu espaço até na mídia tradicional pelo estrago que provocou nas nossas vidas,  whatsappdependentes que somos.

Uma questão com tal magnitude que afetou 100 milhões de brasileiros não pode ser decidida por um magistrado sozinho, mesmo que seja de São Bernardo do Campo – terra adotiva do ex-presidente Lula -  mas exige, no minimo, uma acalorada sessão plenária do Supremo, com aquele desfile teses que se contraditam, acompanhada de caras, bocas e gestos altivos. Imaginem o ibope da TV Justiça!

Entretanto, o Oscar dos eventos da fatídica semana vai para as estrepolias causadas pela traição de uma tal Fabíola, que deveria estar fazendo as unhas na manicure,mas foi apanhada em flagrante pelo marido à entrada de um motel no carro de um concunhado. O barraco aconteceu numa cidade mineira e foi filmado e narrado por um amigo do corneado.  Seria cômica, não fosse trágica a mágoa do maridão que repetia, entre um safanão e outro na infiel: “Pô, nós íamos passar o Natal juntos!”  Baita decepção com o concunhado,  o Ricardão que atende pelo nome de Léo, um gordinho que deve ter lá suas vantagens em relação ao marido, um rapagão sarado.  O vídeo teve milhares de acessos nas redes e logo foi completado com outro , mostrando a moça em plena atividade,  presumivelmente num  motel em ato anterior ao flagra.  Dei uma rápida olhada e cheguei a conclusão de que a Fabíola sabe agradar um parceiro.

Na verdade, a conclusão que se impõe diante desse elenco de fatos e situações é que a maioria dos brasileiros parece ter atingido um nível de esgotamento frente ao noticiário do dia a dia, carregado de denuncias de corrupção,  desmandos administrativos,  conflitos entre lideranças, com a recessão  econômica mexendo no bolso, um processo  que pode ser resumido na palavra CRISE, em caixa alta. A população começa perigosamente a se anestesiar, uma vez que a sucessão de episódios negativos e repetitivos tende à banalização.  Assim, protesta mais pela  falta do WhatsApp do que contra a corrupção e prefere  mais o flagra documentado na Fabíola do  que as sisudas sessões do Supremo. Que tempos vivemos.


quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Gourmetizaram até as festas infantis

Sou do tempo em que festa infantil era regada a Q-Suco sabor groselha e pizza daquelas altas, feitas em casa, com cobertura de sardinha ou tomate. Os tempos mudaram e agora até aniversário de criança, e não interessa a idade, ganhou sofisticação nos acepipes oferecidos aos convidados. A carta de bebidas inclui vários tipos de refrigerantes e sucos, mais os líquidos de diversas graduações alcoólicas para os adultos poderem acompanhar, quase anestesiados, a algazarra da petizada.

Admito que curto muito tais eventos, especialmente quando a cerveja está bem gelada e não é da marca Promoção. Só que o pessoal que organiza as festinhas começou a exagerar. Empresas de eventos são contratadas, espaços especiais são ornamentados com o tema escolhido, cerimonialistas chamadas para por ordem no ritual que deveria ser simples, e não pode faltar uma atração circense, normalmente um palhaço gritão acompanhado de uma palhacinha bem fornida, que chama mais a atenção dos papais do que das crianças.

Como já disse o pessoal está exagerando e agora gourmetizaram até as guloseimas para a criançada. Outro dia me chegou as mãos um Menu com verdadeiras preciosidades alimentares da festa de primeiro aniversário de uma menina, graciosa bonequinha. Começava com “Snacks Saudáveis”, a saber: espetada caprese, palitos vegetais com molho de Iogurte, wrap (tipo de sanduíche enroladinho) de acelga, dados de pernil com abacaxi, sempre com a advertência se continha ou não lactose. Neste caso, ponto para os pais.

Na sequencia, vieram os “Churrasquinhos”, a parte mais convencional e não menos deliciosa da comilança, e, por fim, a seção das “Comidinhas”, com destaque para as folhas verdes com vinagrete de laranja e o Salpicão da Mamãe. De dar água na boca e nó na cabeça. O bom e honesto cachorro quente e os tradicionais “negrinhos” ficaram na saudade.

Se até as festas infantis entraram no padrão da pós modernidade gastronômica vou me obrigar a aderir aos modismos, da mesma forma que faço um esforço para acompanhar a comunicação digital. Não quero virar um dinossauro por antecipação, nem receber a acusação de ser um despossuído à mesa.  Assim vou poder fazer frente ao mais espetacular cardápio que já tive acesso, composto de uma entrada de “tranche de hagiki crocante com palmitos pupunha assados e creme de cabocham”, com o prato principal de “mignon bovino com roti de ossobuco, brie, chip’s de poró e spatize all triplo burro”, fechando com  a magnífica sobremesa de “pêssegos californianos assados com especiarias, fondue au chocolate e tuile de amêndoas”.


Estou pensando em me fazer acompanhar de um tradutor no próximo jantar festivo.

sábado, 28 de novembro de 2015

Histórias curtas do ViaDutra: O casal

O avanço em termos de costumes, com a oficialização dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo, tem provocado situações insólitas, segundo me contam.  Recentemente, cidadão de seus 65 anos ou mais foi as compras no supermercado acompanhado do filho,  um rapagão de seus 35 anos.  No caixa, o rapaz nem se coçou pra pagar, o que provocou a reação bem humorada do paí:

- Com essa idade mora na minha casa e só me dá despesa.

Foi então que a moça da caixa resolveu interagir com a dupla:

- Eu queria fazer uma pergunta, mas estou constrangida...

Tanto o veterano como o rapagão insistiram para que formulasse a pergunta e ela veio com tudo:

- Vocês são um casal?

O pai quase teve um infarto e o filho estaqueou.  Convém esclarecer que o rapaz é mais parecido com a mãe, daí que  não  seria a semelhança  entre pai e filho o que inibiria o questionamento da moça bisbilhoteira.

Diante do esclarecimento irritado da dupla, a moça tratou de se desculpar.

-  Sabe cumé, tenho visto tanta coisa aqui, que pensei...

O cidadão, visivelmente contrariado, tratou de pagar logo a conta, mas o filho ainda alongou a conversa, perguntando quem a atendente achava que era o lado feminino da relação.  Pediu e levou:

- Olha, quer mesmo saber? Acho  que é tu!

O rapagão saiu bastante perturbado do supermercado, sem saber se ela tinha sido respeitosa com o idoso ou se algum trejeito,  modo de agir e falar dele referendava a opinião da moça.  Por via das dúvidas, decidiu que nunca mais irá compras acompanhado do progenitor.




segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Gourmetizaram a pipoca

Acho que já falei que considero alho poró uma das mais sonoras expressões da língua portuguesa. Não canso de repetir: alho poró, alho poró ! Que sonoridade!  Tão sonora como “paradigma”,  “destarte”, “viés”, “elidir”, das quais gosto igualmente sem qualquer razão aparente.  A diferença é que alho poró é materializável e, mais do que isso, é degustável, enquanto as outras servem apenas para adornar editoriais jornalísticos que ninguém lê .

Na real, o alho poró aparece aqui como gancho para falar da mania que tomou conta da gastronomia moderna. Parece que é fenômeno mundial. Qualquer cardápio que se preze precisa estar devidamente gourmetizado, isto é, o que era uma simples e honesta comida, agora ganhou status, senão no preparo, na descrição do prato. 

A revista Superinteressante sacou bem a nova onda e recentemente produziu matéria revelando 15 alimentos simples que foram gourmetizados, entre eles a tradicional pipoca que recebeu ingredientes como flor de sal e perfume de trufas e, ainda, a coxinha com recheio de lascas de limão siciliano e confit de pato;  o brigadeiro, o nosso negrinho, que estão maculando com temperos indianos,  sem contar o cachorro quente que já vinha sendo sendo atolado de porcarias e agora se sofistica com maionese de trufas e queijo gruyère. Com o perdão do trocadilho, o destempero nesses casos não tem limites.

Pior são aquelas reuniões-almoço que me obrigo a frequentar e sou provocado com menus difíceis de decodificar e, por conseguinte, de sabores muitas vezes indecifráveis. Outro dia  serviram de entrada algo como "royal de legumes da estação" que achei parecido com uma seleta de legumes. Depois,  no prato principal,  veio um "timble  de legumes", que fico devendo a tradução e, por fim, na sobremesa,  "marquise de dois chocolates com coulis de frutas vermelhas e gelado de creme", uau! Em outro evento a sobremesa era "sopa de frutas" – suspeito que seja o mesmo que salada de frutas – com sorvete de manjericão.  Também já enfrentei de entrada um "salmão sob leito de aspargos ao molho de laranja polvadre" e na sobremesa um "cheesecake de Oreo com gelato de iogurte com frutas vermelhas".

Podem me chamar de rabugento e preconceituoso diante das inovações culinárias,  mas gosto mesmo é da simplicidade e tenho o respaldo de afamado chef francês, daqueles citados pelo Guia Michelin, que declarou, sem constrangimento, que seu prato preferido é a prosaica a la minuta.  No meu caso, pode até ser temperada com um bocadinho de alho poró.


quinta-feira, 12 de novembro de 2015

A estrela solitária me conduz



Em algum lugar do passado ouvi do técnico Ernesto Guedes sobre a situação do Botafogo:  “É uma torcida e um saco de uniforme”.  O exagero do técnico,  que recém havia dirigido o time carioca,  me incomodou muito, eu que sou botafoguense desde pequenino.  A verdade é que o simpático Fogão desafia os astros, a lógica, a realidade e, entre altos e baixos,  sobrevive e se renova.  Só que vivia um dos tantos momentos de baixa quando o Ernesto por lá passou.

Minha paixão pelo Botafogo nasceu no dia em que ganhei de Natal um jogo de futebol de botão do tipo panelinha, com aquela estrela solitária aplicada sobre os botões.  Para o menino de 10 anos só uma bola poderia ser um presente melhor.  Era também o tempo em que o Botafogo rivalizava com o Santos  como grande time brasileiro e uma das bases da seleção canarinho, campeã do mundo em 1958 e 62. O Santos tinha o talento coroado de Pelé e o Botafogo a magia de irresponsável de Garrincha e mais meu ídolo  Nilton Santos,  além de Didi, Quarentinha, Zagalo, Amarildo e, antes, o grande Heleno de Freitas, e tantos outros craques que ficaram na história.  Ainda é o clube que mais forneceu jogadores para seleção brasileira em copas do Mundo.

Mais tarde descobri que o Glorioso, como também é conhecido, era o time preferido da maioria dos gaúchos que migravam para o Rio. Não consegui descobrir a razão dessa  preferencia de gremistas e colorados expatriados, mas ela é real e, se precisar, cito quantos exemplos forem necessários. Nos meus tempos de repórter esportivo descobri também que havia uma ativa torcida organizada do Botafogo em Porto Alegre.  Desconheço se ainda existe, mas em se tratando do Fogão, não duvido.

Mantenho uma paixão à distância, quase platônica, pela Estrela Solitária, tanto assim que não me lembro de ter assistido a qualquer jogo da equipe em estádio.  A razão dessa idealização talvez esteja na percepção que o Botafogo passa, nem popularesco como o Flamengo e o Vasco, nem metido a elitista como o Fluminense, mas afetando uma nobreza que o distingue dos seus pares cariocas. Este é o meu Botafogo, que acompanho desde que me conheço por gente.   É uma trajetória  de altos e baixos,  como a venda do patrimônio do estádio de General Severiano e da sede do Mourisco que representaram também  a perda  parte da identidade botafoguense,  as boas fases com os títulos nacionais (1968 e 95) e o recorde de invencibilidade (52 jogos entre 1977 e 78), a queda para a segunda divisão (que sina a minha!) e agora o retorno glorioso, como o cognome do clube, com três rodadas de antecedência.

Por tudo isso, jamais vou perdoar Ernesto Guedes pela avaliação cruel e intempestiva do passado, porque, afinal, como no hino de Lamartine Babo, a estrela solitária me conduz!

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Pequenópolis, de novo

Pequenópolis é uma cidade grande com gente que pensa pequeno. Seu povo é alegre e hospitaleiro, mas parte dele, uma minoria enfezada, detesta progresso. Essa minoria prefere que a cidade fique numa redoma, de forma a se tornar imutável, mesmo com prejuízo para todos. E a maioria cala e assiste impassível o presente ser congelado e o futuro exterminado. Por isso, a cidade que já foi Futurópolis trocou de nome na medida em que se apequenou. Era a cidade sorriso, hoje é a cidade rançosa.  ( Publicado em dezembro/2010)

Os representantes da banda do atraso de Pequenópolis voltam a atacar. Qualquer projeto que represente um mínimo de avanço é boicotado com os argumentos mais disparatados.  Travestidos de defensores da cidade, uma cidade idealizada mas inviável, essa turminha  não hesita em apelar para a mistificação para reforçar seus frágeis posicionamentos.  São especialistas em nada, exceto na capacidade de se intrometer em tudo que possa trazer inovação, mas opinam sobre complexas questões técnicas como se tivessem  grande embasamento.  E, reconheça-se,  tem público receptivo, aqueles mesmos que ficaram sem  determinadas bandeiras partidárias e precisam de novas  formas  de mobilizações para se manterem ativos. 

Intitulam-se formadores de opinião e se apropriaram indevidamente da exclusividade de pensar Pequenópolis.  Afirmam representar a sociedade, mas não resistem  a uma pesquisa de opinião sobre a aceitação das melhorias previstas para a cidade.  Não são muitos, mas fazem barulho e, por isso, às vezes preocupam quem tem que tomar decisões. 

Dois exemplos da intervenção maléfica desses oportunistas de plantão se expressam nas campanhas contra o projeto de revitalização do Cais Mauá e o Projeto Orla, ambos do consagrado urbanista Jaime Lerner. Sobre o primeiro afirmam, por exemplo,  que os armazéns tombados irão abaixo, o que não é verdade, mas mostram fotos de um prédio  - não tombado -  em demolição como prova de que a intervenção no espaço é lesiva ao patrimônio histórico. Em relação ao projeto Orla fazem questão de confundir com o do Cais para tumultuar o processo, mas como não tem muito a criticar direcionam a reprovação aos tapumes de segurança. “Escondem a obra e o Guaíba”, é a alegação, que não se sustenta diante do resgate futuro daquele recanto de Pequenópolis. São tantas inconsistências que chega a irritar, como fizeram no movimento contra o projeto de moradias no Pontal do Estaleiro, decretando que aquela área está destinada a se tornar um deserto após o horário comercial. Foi um autentico movimento de lesa cidade! 

Haja paciência com essa gente. Parece que  odeiam a cidade  e, até por isso,não me representam.

domingo, 8 de novembro de 2015

Compulsão por escrever

Tem tanta gente escrevendo e publicando que acho que vai acabar faltando leitores para tantos escritos. Ficou muito fácil publicar, tanto nos blogs como em forma de  livro, cujo processo industrial está mais acessível e simplificado, vale dizer mais barato para os escritores iniciantes e/ou independentes.   Pequenas tiragens, renováveis de acordo com a demanda, viabilizam-se por meio das gráficas expressas.  Assim é possível enfrentar uma sessão de lançamento sem o risco de encalhe e prejuízo.

Aprendi isso depois de velho, após as idas e vindas para a edição do Crônicas da Mesa ao Lado. A negociação com a editora  (Bartblee, de Juiz de Fora-MG)  foi rápida e satisfatória, a impressão demorou  um pouco,  mas nada que provocasse estresse e o problema mesmo surgiu quando chegou a hora de transportar os livros para Porto Alegre.  Resolvido à contento essa logística, chegou a hora da verdade:  o livro tinha que chegar aos potenciais interessados.
Não sei se vocês já perceberam, mas basta entrar numa livraria para verificar que a concorrência é feroz, a começar pelos best-sellers vindos do exterior,  sem contar os autores consagrados, os livros de autoajuda,  as biografias atraentes autorizadas ou não e, ainda, os de besteirol, eis que existe público para isso. É quando o autor recém-lançado se pergunta:  será que alguém vai se interessar pela minha obra?

Devo dizer que, mesmo diante das dificuldades de distribuição, não tenho queixas.  Distribuí  por conta própria,  garantindo aceitação em meia dúzia de locais, especialmente as livrarias mais cults Cinco livros aqui, dez ali, pelo menos duas reposições,  encomendas pelo Correio e o Crônicas me surpreendeu,  vendendo acima do esperado. Claro que as livrarias ficam com 30 a 50% do preço de capa, mas vale pela vitrine e o dinheirinho pingado que entra sempre ajuda a fechar o orçamento. 
E aqui volto a questão inicial, na verdade, mais do que uma constatação, uma angustia: será que haverá leitor para tanta produção literária? Fiz um rápido levantamento e contei pelo menos seis companheiros jornalistas com livros recentes na praça – aqui praça como sinônimo de mercado – e outro tanto anunciando lançamentos para breve, além de lideranças politicas que começam a investir no livro para difundir suas ideias e, de novo, os autores consagrados que tem público cativo.

Acredito que boa parte desse boom de aspirantes a literatos se deve às oficinas literárias que abundam em nosso meio, dando vazão a compulsão por escrever . Mais do que autores zelosos com a suas obras criou-se uma geração de reféns da necessidade de colocar ideias, enredos, cenários e personagens em forma escrita.  É isso, afinal, o que nos move.

"Crônicas da Mesa ao lado" pode ser adquirido  nas livrarias Bamboletras (Shopping Nova Olaria), Palavraria (na Vasco da Gama, 165), Nova Roma (General Câmara, 394), Cultura (Shopping Bourboun Country), Koralle (José Bonifácio,95 e Santander Cultural) e Banca da República,(República quase esquina de João Pessoa). Na Feira, pode ser encontrado também na barraca da Associação Riograndense de Imprensa (ARI) e na da Associação Gaúcha dos Escritores Independentes.

domingo, 1 de novembro de 2015

Não me deixem só

Não precisa relógio, nem calendário.  O ano começa a chegar ao fim quando a Feira do Livro toma conta da Praça da Alfandega.  Mais do que anunciar a primavera e a quadra final do ano – e tomara que  este dramático 2015 vá embora logo -  a Feira é um momento mágico no Centro Histórico, refugio confortável e abrigo seguro de quem gosta de prosa e verso em forma de livro. Me incluo nessa.

Comecei a frequentar a Feira na década de 70 do século passado quando trabalhava nos veículos da então Caldas Junior.  As barraquinhas, mais modestas e em menor número, ficavam a meia quadra da vetusta Caldas e não havia como fugir à tentação de manusear e adquirir os livros em oferta.  Lembro de numa primeira incursão, acompanhado do Nilson Souza (hoje editor de Opinião da Zero Hora) quando comprei O Príncipe,  de Maquiavel, manual de politica ainda atual, que permanece ornando minha modesta estante e é consultado eventualmente.

A Feira cresceu,  acrescentou outras atrações, mas mantem inalterado seu charme e o apelo à leitura, à reflexão, à interação entre leitores e autores. Em razão de cargos que assumi acabei participando mais diretamente do evento, sem jamais  deixar  de ser o consumidor ávido de livros,  que é o perfil do principal protagonista frequentador da  praça nestes dias. Em uma das edições recentes cheguei a comprar mais de 30 livros entre lançamentos e os selecionados nos balaios dos sebos e ofertas.  É bem verdade que o ritmo das minhas leituras diminuiu  sensivelmente por causa das redes sociais, as quais me dedico mais do que deveria.  Isso, aliás, está ocorrendo em grande escala, especialmente entre as novas gerações, impactando no mercado livreiro. No meu caso, porém,  a compulsão pelos livros da Feira continuou e tenho agregado às aquisições as edições infantis, quanto mais coloridas melhor,  que brindo às  netas Maria Clara e  Rafaela,  para que desde cedo gostem de ler e, quem sabe,  escrever.

Nesta semana volto a feira em outra condição. No dia 6, próxima sexta-feira, as 17 horas,  o autor de Crônicas da Mesa ao Lado sobe o estrado do pavilhão de autógrafos para colocar seus  garranchos nos exemplares dos que apareceram.  Confesso que estou preocupado. Sempre fica aquela dúvida angustiante: e se ninguém aparecer?  Já fui a sessão de autógrafos na Feira em que era um dos raros presentes, vendo penalizado o autor desamparado.  Acho que pelo menos os parentes vão marcar presença e felizmente a família não e pequena. Aos amigos e outros potenciais interessados lanço um apelo: não me deixem só!



sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Desculpas, desculpas

Conheço gente que tem justificativa para tudo.  Um deles, depois de ter experimentado todas as venturas da vida, decidiu realizar um sonho de infância e comprar o ultimo modelo da Mercedes Benz – um conversível flamante.  Já entrado em anos, mas em boa forma, saiu-se com essa  para evitar cobranças familiares pela ostentação desnecessária:

- Pode ser meu último carro...

Quase provocou um vale de lágrimas na família, o cínico gastador.  O episódio vale uma breve e rasteira reflexão,  enquanto  me faz lembrar  a estratégia de um parceiro das antigas, assessor de imprensa de um órgão público que,  diante de uma crise e da cobrança da mídia, pedia apenas:

- Me arranjem uma desculpa, qualquer desculpa,  e deixem o resto comigo.

A desculpa, boa ou ruim, consistente ou fajuta, é isso: uma muleta a nos apoiar nos momentos de aprêmio,  ou uma mentira palatável, eu diria até inofensiva, dependendo da proporção do que tenta  justificar.  Só não vale a mais fácil de todas,  a mais usada nos tempos da escola quando a professora questionava por que o tema de casa não fora entregue:

- Esqueci, fessora.

Tem gente que ainda hoje lança mão dessa autentica desculpa esfarrapada no ambiente profissional,  após a cobrança de uma tarefa ou missão não concretizada. Só muda o interlocutor:

- Esqueci, chefia.

E tem a variação também muito usada, especialmente pelos que não são  chegados ao batente: “Não deu tempo, chefia”

Interessante é que ninguém esquece o dia do pagamento, assim como nenhum jovem chega atrasado aos shows de rock, diferente do que ocorre nos  exames do Enem.  Ouvi cada desculpa da gurizada que ficou de fora!

A desculpa pressupõe condescendência e absolvição, por isso peço  tolerância e perdão a todos,  porque  vou ficar por aqui já que minhas ideias se esgotaram.


terça-feira, 20 de outubro de 2015

O mantra do patrono e a nova Playboy

O queridíssimo Evaldo Gonçalves, além de competente editor dos chamados esportes amadores da Zero Hora na década de 80/90 do século passado, era o patrono da Confraria da Caveira Preta, que reunia um bando de jornalistas bandalhos em festins gastronômicos,  etílicos e difamatórios.  Incapaz de compartilhar as maldades dos confrades, Evaldo a tudo ouvia,  mantendo aquele seu jeito generoso e o máximo que pronunciava, mesmo diante do mais escabroso dos assuntos, era uma frase que acabou virando um mantra:

- Que fim de século!

Se ainda estivesse entre nós, o bom Evaldo certamente teria alterado sua frase diante deste desconcertante século 21:

- Que início de século!

Não há mais dúvida de que 2015 vai marcar definitivamente o término de uma era e o início de outra. O marco simbólico desta nova era é o fim da revista Playboy como a conhecemos: sem mulher pelada.  A onda, motivada pela perda de leitores e faturamento,  começa na edição americana e logo deve chegar ao Brasil. Agora só aparecerão os chamados ensaios sensuais.

As peladonas gráficas foram derrotadas pela internet com seus portais para adultos  e a profusão  de vídeos  eróticos e pornográficos em todas as plataformas.  Hugh Hefner, fundador da Playboy nem tem porque se queixar, uma vez que mantém um canal na Tv por assinatura, muito assistido nos motéis. É o que me contam porque já não frequento mais esses estabelecimentos.

A Playboy revista formou gerações inteiras , cumprindo um papel  relevante  na iniciação sexual artesanal, por assim dizer,  entre os rapazes.  Só por isso mereceria teses e teses de mestrado, se é que isso já não aconteceu.  Parece que estou vendo os falsamente intelectuais  elogiando as entrevistas de abertura e os artigos avançadinhos, quando, na verdade, se deleitavam com as histórias picantes do Fórum e as peladonas em geral, com direito à exibição daquela página central dupla.

De minha parte não é a primeira vez que falo da revista aqui neste descaminho do ViaDutra. Da outra vez (Musas na Playboy, em 26/05/2012) lembrei que houve um tempo em a informação de quem seria a garota da capa era tão esperada como o anúncio dos planos econômicos para conter  inflação. Talvez houvesse relação de causa e efeito entre as duas situações, uma impactando fortemente nosso bolso e a outra compensando com verdadeiros colírios para os nossos olhos e provocações para nossa libido.

Agora,  a notícia da mudança na publicação provocou uma onda saudosista e só eu,  um respeitável avô,  já recebi  duas remessas digitais de fotos de ensaios pra lá de sensuais, verdadeiras relíquias do acervo da revista. No primeiro, um lote bem mais retrô, com Cláudia Raia, Sônia Braga, Sandra Bréa, Vera Fischer, Monique Evans, a eterna Luiza Brunet, a Xuxa da era Pelé e Cláudia Ohana com aquela antológica floresta amazônica de pelos pubianos.  O outro lote, mais contemporâneo, contempla caras, bocas e poses de um time de respeito, entre outras,  Grazi Massafera, Cléo Pires, uma tal de Amanda ex BBB, Aline Prado, Carol Dias e Sabrina Sato que não, não tem aquilo atravessado, diferente do que imaginávamos quando começamos a nos interessar pelo tema e discutíamos sobre o formato das japas.  Isso em passado distante.

Com essas máquinas, antigas e  modernas, com ou sem photoshop, a Playboy deixou de ser exclusividade das paredes de borracharia e ganhou espaço nas boas casas de família. Saudosista que sou, vou deplorar a mudança mais pela estética do que pelo erotismo, apelando para o mantra que o nosso patrono Evaldo Gonçalves usaria;

- Se é assim, que lamentável  início de milênio!        


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Histórias curtas do ViaDutra: O Dindo

Criança não mente, por isso é um perigo.  Foi a conclusão a que chegou meu amigo Gunther ao saber do ocorrido com um parceiro da chamada Grande Agronomia.  O sujeito resolveu levar o filho, um piá de seus 7, 8 anos , na festa de fim de ano da firma.  O pai, exibido como só ele, apresentava o guri para todo mundo, especialmente às chefias, certo de que estava agradando.  Até que, reunido com o grupo dos companheiros mais chegados, decidiu questionar o menino e por a prova o quanto constituíam um lar feliz.

- Conta ai pro pessoal com quem é que a mamãe fica quando o papai não está em casa, - perguntou, levantando a bola para que o filho respondesse algo do tipo “é comigo, papai”.

Mas o guri parece que não entendeu a tabelinha do pai e naquela ingenuidade da infância saiu se com esta resposta:

- Quando o papai não está em casa, a mamãe fica com o Dindo. Mas daí  eu vejo pouco porque daí  eles ficam todo o tempo no quarto e daí eles me mandam jogar bola com os amiguimhos..

Não precisa dizer que acabou ali a festa para os dois. Gunther conta  também que não  foi preciso uma comissão de inquérito para a senhora confessar que, sim,  se refestelava frequentemente  com o Dindo, um simpático e espadaúdo vizinho,  escolhido a dedo  pelo próprio pai, com a aprovação entusiasmada da mãe,  para a nobre missão de apadrinhar o menino.

Vida que segue, o Dindo mudou de cidade, o casal se recompôs, a traição foi perdoada, mas como nas antigas histórias em que o sofá levava as culpas e era retirado da sala, o menino nunca mais frequentou  as mesmas festas do pai, além de receber uma missão especial:

- Meu filho, fica de olho na rapaziada da vizinhança.

Ao saber do desfecho, Gunther não se conteve:


- Certas coisas só acontecem na Grande Agronomia. Que sina!

sábado, 3 de outubro de 2015

As regras do jogo - parte II

                                          Autentico campinho varzeano

Típico alemão de Santa Cruz do Sul, como o próprio nome indica, Horst Knak foi colega na Zero Hora na década de 80 do século passado. Era repórter da editoria de Campo & Lavoura mas, gremistão,  gostava mesmo era de frequentar a editoria de Esportes onde eu labutava e onde ele era vitima frequente do bullyng que reservávamos aos intrusos do nosso espaço.

Agora tenho cruzado eventualmente com o Horst, especialmente em eventos ligados  à produção  primária ( ele edita o jornal da Associação Brasileira de Angus), além dos encontros da Confraria do Cachorro Quente e da “amizade” que mantemos no Facebook.  E foi no Face, na esteira da crônica Sessão Nostalgia : As Regras do Jogo publicada no ViaDutra (http://viadutras.blogspot.com.br/2015/09/sessao-nostalgia-as-regras-do-jogo.html) que o Horst postou sua experiência com as  peladas em campinhos de terrenos baldio. Vale reproduzir:

Em tempos já imemoriais, lá entre os 7 e os 17 anos, jogamos muita bola nos potreiros perto de casa. O arroio demarcava um dos lados e a cerca de arame farpado o outro. Ninhos de cupins ou bostas secas de vacas leiteiras eram usadas para formar as goleiras. Pronto, o campinho estava pronto. Isto era na periferia da minha cidade natal, Santa Cruz do Sul, meio termo entre a zona urbana e rural. As regras que valiam eram parecidas com estas publicadas pelo eminente jornalista e blogueiro Flávio Dutra, recuperadas por um colega de peladas. Anos depois, em tempos de blocos de carnaval, jogamos em um campo da Escola Rural, que carinhosamente apelidamos de "Estádio Bostão", ou "Boston Stadium", para os mais colonizados, rsrs. Isto porque, apesar das firmes goleiras e vistosas redes do campo, as vacas da Escola Rural moravam e faziam suas necessidades por ali, enquanto não eram tratadas e ordenhadas. O desafio era fazer uma jogada em velocidade pela ponta ou dar um carrinho sem lambuzar-se numa bosta ainda molhadas, hahahaha... Em todo caso, havia um arroio e uma torneira ao lado para lavar a sujeira... Não é mesmo, Ricardo Capaverde, Regis Capaverde,Flavio MullerEdison EckertPaulo Luiz KonzenRolf KnakMarcos Edmundo Baumhardt, Bruno Wagner Goghost Ridergo), Percio (Marcia Machado) e muitos outros da turma do futebol do sábado à tarde. Que, invariavelmente, terminava numa cervejada!

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Stenio e Marilene & Lennon e Yoko

O mundo caindo e a nudez do Stenio Garcia e da mulher viraram a polemica da hora nas redes sociais, nos portais de informação e mesmo em veículos da chamada imprensa tradicional.  É recorrente relatos assim, como se a imprensa e o público – que é conivente com essa prática porque consome tais besteiras  – precisassem de uma derivação no viés do entretenimento para suportar a carga pesada (sem trocadilho com o seriado protagonizado por Stenio e Antônio Fagundes) , das notícias do mundo da política, da economia, do dia a dia de violência. Os defensores da teoria da conspiração afirmam que se trata de uma manobra para desviar a atenção da Lava Jato. Não é pra tanto.

A verdade é que o noticiário internacional também está carregado de nuvens sombrias, com seus relatos das  infâmias do Estado Islâmico e de outros grupelhos terroristas, a grande marcha dos refugiados,  as provocações entre Estados Unidos e Rússia resgatando a guerra fria e, ainda, as oscilações das bolsas de valores.   Nesse contexto, só Francisco salva, mas vamos combinar que não fica bem envolver o carismático Papa com a nudez do Stenio.

A propósito, o casal de famosos precisa chegar a um consenso sobre que atitude adotar, pois enquanto o ator leva o assunto numa boa, a mulher Marilene Saade quer ir as últimas consequências para descobrir quem vazou as fotos dos dois em nu frontal. O desacordo ajuda a deitar por terra o argumento de que o assunto ganha destaque porque é preciso preservar a  privacidade das pessoas. Além disso, quem viu as fotos revela que Stenio surpreende negativamente em termos de equipamentos, se bem que deve ter outras qualidades porque vive há mais de seis anos com a atual companheira, 36 anos mais jovem – ele tem 83 anos e ela 47.

Na real, estão tão banalizados esses vazamentos que, às vezes, desconfio que vítimas e algozes são a mesma pessoa e que o berro de indignação faz parte do teatro, Certamente não foi o caso de Carolina Dieckmann, envolvida em um vazamento de fotos, que esperneou o que deu e acabou ganhando lei promulgada em 2012 com seu nome, tipificando os chamados delitos ou crimes informáticos.

Caso emblemático mesmo foi o da  nudez de John Lennon e Yoko Ono em 1968 para ilustrar a capa do álbum Unfinished Music Nº:Two Virgins, como bem lembrou meu amigo Caco Belmonte numa postagem que fiz sobre o assunto no Facebook. O que o Caco não disse foi que as fotos de costas mostraram uma realidade cruel : a derrière dela era mais feia do que a dele, bem mais feia. Vai no Google e confere, porque eu nao tenho coragem de reproduzir. 



quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Papos de aposentados

Encontro no supermercado meu velho e querido amigo Belmonte, o João Carlos. Trabalhamos juntos por quase 20 anos nas rádios Guaíba e Gaúcha entre as décadas de 70 e 90 do século passado. Faz tempo isso e há tempos não nos cruzávamos.

Belmonte foi, sem dúvida, o melhor e mais criativo repórter esportivo de rádio que já vi atuando.  Às vezes era chamado a narrar, mas com certeza essa não era a praia dele. Nos últimos anos migrou para o comentário e foi nessa função que se aposentou, depois de fazer parte da geração de ouro do radio esportivo gaúcho,  a geração do Ranzolin, do Lauro, do Ruy, do Lasier, do Milton, do Edegar, entre outros.  Em boa forma aos 72 anos, agora é mais conhecido como o pai do Beto (Roberto),  respeitado ambientalista e professor universitário e do Caco (Ricardo), também jornalista e escritor de texto irretocável.

Na nossa conversa,  diferente do que possam estar imaginando, não ficamos rememorando o passado – e teríamos tantas coisas para lembrar e celebrar! – mas preferimos colocar o papo em dia, inclusive cometemos algumas maledicências,  como é de praxe em encontro de jornalistas.  Belmonte e eu temos, entre outras afinidades, o fato de sermos aposentados, mas com uma cruel diferença contra mim, que continuo na ativa, ralando para garantir o rancho da semana e o plano de saúde indispensável nesta quadra da vida, enquanto ele goza as delicias da ociosidade e gasta parcimoniosamente a grana que amealhou nos tempos da fama.  Agora até virou consultor, demandado que foi por um ex-companheiro em vias de se aposentar.

- Ele queria saber como eu ocupava meu dia, porque estava preocupado em não ter oque fazer e se entediar, explicou.

Aí, com entusiasmo e num fôlego só, relatou o seu cotidiano, que ele considera movimentado.

- Acordo cedo, desço para apanhar o jornal, volto para fazer o café e preparar as frutinhas para a Liginha (dona Lígia, companheira de anos),  tomamos o café juntos, leio as noticias esportivas, vou ao supermercado,  saio para uma caminhada de uma hora pelo bairro (Menino Deus) ou para a ginástica no CETE (Centro Estadual de Treinamento Esportivo), volto, tomo o banho,  e fico esperando o almoço. Depois faço uma breve sesta, termino de ler o jornal, jogo uma canastra, vejo as novelas e os noticiários até  chegar a hora de nanar  e lá se vai mais um dia. Isso quando não dou uma escapada à praia.

E completou: “ Nunca estive tão ocupado como agora.  Antes era um trabalho só, na rádio, agora são múltiplas atividades no dia a dia.”

Tem sua lógica na ocupação do tempo a rotina diária montada pelo Belmonte, que revelou, ainda,  que só se desloca de ônibus na cidade, provavelmente para economizar combustível e fazer uso efetivo da isenção de tarifa concedida aos idosos.  Evito, entretanto, opinar a respeito.  Na despedida, combinamos de nos reencontrar no lançamento do livro do Lauro Quadros (Olha Gente! no dia 5, na Livraria Cultura) e até pensei que ele reclamaria do preço da obra, mas me enganei.  Vai ver que recebeu uma cortesia...

O mais incrível é que no encontro em nenhum momento se falou em doença e remédios, temas recorrentes entre veteranos. Em seguida chegou o João Padeiro, outro personagem do Menino Deus, que só falou em doenças, mas aí já é outra história.

domingo, 27 de setembro de 2015

Sessão nostalgia: As Regras do Jogo

O título não tem a ver com a nova novela da Globo, mas tudo a ver com um mergulho na infância lá no bairro Petrópolis , entre as décadas de 50 e 60 do século passado.  Na confluência das  ruas Montenegro e Bagé existia o que chamávamos de terreno baldio, uma nesga de terra que lembrava vagamente um triângulo escaleno, se lembro bem as aulas de trigonometria, ou seja com todos os lados desiguais.  O terreno tinha ainda um pequeno declive dos fundos em direção às ruas. Era o Triangulo,um campinho de futebol.

Não havia marcação no campinho, as goleiras eram demarcadas com tijolos ou tocos de madeira e a bola de borracha circulava tanto pelo areão como pelo lado de grama irregular e repleto de guanxumas    Mesmo assim o Triangulo era a nossa grande arena esportiva, o  Maracanã  de um bando de garotos  de 10, 12 anos, por aí, que morava nas vizinhanças.  Ali éramos Messi e Neymar, Luan e Valdivia, ou para ser fiél àquele período, éramos Pelés, Garrinchas, Vavas, Niltons Santos, os campeões mundiais que tanto nos orgulhavam. 

Pelo que sei nenhum de nós virou craque, mas ficou uma lembrança gostosa que não se apaga.  Uma lembrança que foi avivada por um parceiro de então, o Romano Bottin, hoje um bem sucedido engenheiro e empreendedor que, juntamente com o  irmão Sérgio (os filhos do seu Bottini,dono do armazém de secos e molhados na João Abott com Carazinho)  dava suas bicancas no Triangulo. Pois o Romano resgatou no Facebook, de autor desconhecido, As Regras do Campinho de Futebol, que tomo a liberdade de reproduzir como um tributo a todos os que, nos triângulos da vida,  se sonharam craques, e desfrutavam de uma felicidade conquistada com tão pouco - um terreno baldio, uma bola de borracha e a energia inesgotável dos meninos sonhadores.

As Regras do Campinho de Futebol:

(1)Os dois melhores não podem estar no mesmo lado. Logo, eles tiram par-impar e escolhem os times. 
(2) Ser escolhido por último é uma grande humilhação.
(3) Um time joga sem camisa. 
(4) O pior de cada time vira goleiro, a não ser que tenha alguém que goste de Catar. 
(5) Se ninguém aceita ser goleiro, adota-se um rodízio: cada um cata até sofrer um gol. 
(6) Quando tem um pênalti, sai o goleiro ruim e entra um bom só pra tentar pegar a cobrança.
(7) Os piores de cada lado ficam na zaga. 
(8) O dono da bola joga no mesmo time do melhor jogador. 
(9) Não tem juiz. 
(10) As faltas são marcadas no grito: se vc foi atingido, grite como se tivesse quebrado uma perna e conseguirás a falta.
(11) Se você está no lance e a bola sai pela lateral, grite "nossa" e pegue a bola o mais rápido possível para fazer a cobrança (essa regra também se aplica a "escanteio").
(12) Lesões como destroncar o dedão do pé, ralar o joelho, sangrar o nariz e outras são normais.
(13) Quem chuta a bola pra longe tem que buscar.
(14) Lances polêmicos são resolvidos no grito ou, se for o caso, no tapa.
(15) A partida acaba quando todos estão cansados, quando anoitece, ou quando a mãe do dono da bola manda ele ir pra casa. 
(16) Mesmo que esteja 15 x 0, a partida acaba com "quem faz, ganha".