2015 está
indo embora e não vai deixar saudades. O ano que chega é esperança de renovação.
É sempre assim na largada mas nem sempre as expectativas se realizam, se bem
que será difícil superar o 2015 em termos de conflitos e decepções. Mas vamos
lá, injetando uma dose de otimismo que mal não faz. De minha parte, como já é
tradição no descaminho do ViaDutra, antecipo meus pedidos ao novíssimo ano e
prometo contrapartidas para equilibrar a relação. Tem vários repetecos dos anos
anteriores, mas é assim mesmo porque não dá pra ficar demandando ao recém
nascido muita coisa nova.
Assim, em
tese, mas só em tese por enquanto, não quero paz, mas as provocações que
constroem e não as que desqualificam. Quero emoções novas e desafios que eu
mesmo me imponha. Quero um pouco de desarmonia, que não é sinônimo de conflito,
mas uma forma de mostrar outros matizes e semitons onde pode estar contida a
verdade verdadeira. Sempre gostei deste
parágrafo,cheio de alegorias!
Sigo
reiterando o apelo feito em anos anteriores: encarecidamente, livrai-me
dos chatos; vale repetir, livrai-me dos chatos. E reforço os outros pleitos:
mantenha longe de mim também os mordedores em geral, os picaretas de todos os
matizes e os pedintes de favores que não estão ao meu alcance. Quero distância
igualmente dos baixo astrais, dos angustiados, dos obsessivos porque tenho medo
de ser contaminado e contrair uma deprê. E mais, se não for abuso, suplico:
mande para longe os duvidosos de caráter, os falcatruas, os descompromissados e
os sugadores de energia. Coloque em fuga, por especial gentileza, os arrogantes,
os prepotentes, os invejosos e todos da mesma laia.
Repito outros pedidos impossíveis de postergar. Apelo,
meu ainda bom menino, para o teu anunciado
espírito harmonioso: dê um jeito de reaproximar-me dos que ofendi e se
apartaram, e dai-me o dom da tolerância para aceitar e receber os que se
desgarraram por qualquer razão. Faça pousar em mim a deusa da paciência e que
venham juntas as amazonas altivas da fé e da esperança, que um dia tive e que
se perderam no tempo. Com isso, serei
fortaleza que não se dobra, terei coragem para enfrentar as adversidades e
energia para novos desafios, que podem ser intensos, mas gratificantes na mesma
medida.
No
repeteco, salve-me das filas, as dos bancos e dos supermercados, e todas as
outras onde corra o risco de ser interpelado por desconhecidos que me tiram
para confessionário e interrompem minhas ruminações. Não admita, por compaixão,
que a guria bonita me pergunte a idade antes de distribuir a senha, se a
maldita fila for inevitável. Guarde uma boa vaga de Idoso pra mim nos
supermercados. Abusando da compaixão, não permita que as bonitinhas me
chamem de tio e muito menos de vô, chamado que prefiro reservar apenas para a Maria
Clara e a Rafaela e logo adiante para o Augustão. Mas não abro mão do carinho
das caldáveis, mesmo que seja afeto virtual.
E tem
mais uma listinha facilzinha e repetida, meu ainda futuroso 2016. Não deixe
faltar uma boa carne na minha mesa, saladas variadas, cerveja gelada, um vinho
encorpado para as noites de inverno e um espumante para acompanhar o gosto
feminino. E se não for pedir muito, que eu reencontre aquele doce de abóbora de
comer ajoelhado e o pudim que justifica nossa ida frequente aquele
restaurante. Ah, e aquela berinjela, a carne de panela com batatas e
uma caixa de Bis só pra mim. Se não for contraditório, aproxime de mim essas
tentações. E que sempre possa dividir a boa mesa com companhias agradáveis,
brindando os bons momentos da vida que não são muito e até por isso precisam
ser valorizados. Conceda-me, de vez em quando, jogar um pouco de conversa fora, curtir mais a
minha gente, vagabundear sem culpa, experimentar o novo e, por que não?, me
entregar a alguma extravagância. E dá uma forcinha e inspire os médicos para
que receitem menos remédios e exijam menos exames.
Em
contrapartida, Novíssimo Ano, prometo continuar sem fumar , me exercitar com
regularidade, voltar a academia, comer menos fritura e beber moderadamente,
cometer menos infrações no trânsito, voltar a ler e fuçar menos na internet,
ouvir mais e falar menos, terminar meu TCC sobre as banalidades do Facebook,
lançar um novo livro, respeitar mais e debochar menos, lembrar o aniversário de
casamento e outras datas importantes e não desejar a mulher do próximo, nem a
do distante, porque os outros pecados acho que não os cometo. A não ser que um
pouco de rabugice seja pecado, dos veniais, mas até isso, afirmo de novo, pretendo
corrigir. Nesses termos peço sua compreensão e deferimento, bem-aventurada criança.