* Artigo publicado em Zero Hora, página 33, nesta data
Entre tantos assuntos candentes deste
tórrido janeiro surpreende que a TVE figure como fonte de debates e
polêmica. De um lado questiona-se a suspensão do edital para a produção
de séries para TV, devido à falta de previsão de recursos para as contrapartidas;
de outro critica-se a drástica redução orçamentária da Fundação Cultural
Piratini, o que inviabilizaria boa parte das produções das suas emissoras, a
TVE e a FM Cultura. Na raiz dos problemas está a precária situação
financeira do Estado, a exigir sacrifícios de todos os seus órgãos.
Entretanto, o debate não se
esgota na dificuldade financeira, que é episódica, nem envolve o uso
político dos canais, como em passado recente. Questiona-se agora a
própria vinculação das emissoras à estrutura estatal, sob a alegação de que
não é função do Estado manter veículos de comunicação. Uma posição que não leva
em conta experiências bem sucedidas de canais públicos, como a PBS nos EUA, a
BBC inglesa, a TVE espanhola e mesmo a TV Cultura-SP.
Diferente do amigo e confrade David
Coimbra, acredito firmemente que as emissoras públicas têm papel relevante
a desempenhar. No caso da TVE e da FM Cultura, o de expressar toda a
diversidade e riqueza da cultura gaúcha, dos concertos da Ospa aos
eventos tradicionalistas, da literatura às produções audiovisuais e de
dramaturgia, do Carnaval ao Hip Hop, com espaço para a cidadania, a educação,
programas infantis, e até para a informação e o debate, por que
não? O Rio Grande precisa se ver e ser visto na TVE, a quem cabe
exibir o que as emissoras comerciais não mostram porque estão focadas no
entretenimento para as grandes audiências.
Foi o que busquei construir nas minhas
três passagens pela Fundação, duas delas como presidente. E é na condição de
quem se sente comprometido com o futuro da instituição que confesso o quanto me
dói cada vez que ouço que só os governos do PT valorizaram os dois veículos,
enquanto as outras administrações só querem sucateá-los e forçar sua
privatização, mais uma besteira recorrente. A verdade é que cada
dirigente que por ali passou deu o melhor de seus esforços, mesmo diante
das adversidades, para que se consolidassem como inalienáveis emissoras
públicas dos gaúchos.
Conhecendo a atual presidente, a
jornalista Isara Marques, profissional experiente, com liderança e
comprometimento diante dos desafios propostos, tenho absoluta certeza de que
ela conseguirá dar a volta por cima e fazer da TVE e da 107,7 verdadeiras
expressões da nossa cultura e patrimônios de todos nós. Especialmente se contar
com a mobilização dos servidores e o apoio do Conselho e de seu público – que
não é massivo, mas é fidelíssimo.