Uma pesquisa feita agora não apenas aprovaria a
execução do traficante brasileiro na Indonésia, mas também diria
"sim" à pena de morte no Brasil. Fiz esta postagem no Facebook e o resultado
foram dezenas de curtições, não sei se contra ou a favor da execução e da pena
de morte, se bem que os comentários mostraram-se majoritariamente favoráveis à
punição. O mesmo comportamento pode ser constatado nas postagens em outros
perfis.
No noticiário dos principais portais a constatação
é mais dramática: grosso modo, mais de 90% dos comentários torciam pela
execução do brasileiro, mesmo em terras distantes. Não só torciam, mas em alguns casos
integrariam o pelotão de fuzilamento, se isso fosse possível, tudo na base do “mata
e arrebenta”. Tal nível de rejeição, beirando o ódio, afronta nossa tão
decantada matriz de gente cordial e generosa, da qual falava Sergio Buarque de
Holanda.
Acabou sobrando para a presidente Dilma, que apenas
cumpriu seu papel de estadista e buscou interceder pela vida do condenado. Um
gesto inútil e desgastante, mas necessário, mesmo para uma governante já
fragilizada. Como bom brasileiro, o assessor para assuntos internacionais da
presidência, o gaúcho Marco Aurélio Garcia admitiu que esperaria até a última
hora por um jeitinho que livrasse o
brazuca traficante. Acredito mesmo que a posição da presidente só aumentou a adesão
à decisão da Indonésia, até pelo fato de ser um país que leva a sério o
cumprimento das suas leis.
A pergunta que não quer calar é: por que tanta
intolerância diante de um condenado à morte? Marco Archer Moreira - este é o nome -, até
tem jeito daquele tio amigo ou do vizinho boa praça, preso ha ais de dez aos e
confessadamente arrependido, estaria a merecer clemência dos indonésios e um
mínimo de nossa solidariedade. Mas que observamos é um clamor pela execução. O
caso não está fora do contexto do complicado momento que vivemos, de comoção provocada
pelos episódios de Paris, aos quais se associam as denuncias de corrupção por
aqui e o massacrante cotidiano de violência e insegurança geradas pelo tráfico
de drogas. Estaria eu a misturar alhos com bugalhos? Pode ser, mas estou
convencido que a banda boa da população, na verdade, não tem ânsia punitiva,
mas sede de justiça. Não é um sim à intolerância, mas um não à impunidade.
Particularmente, não concordo com a pena de morte,
nem mesmo para traficantes, mas não sou Marco Moreira, assim como não há o que
justifique os massacres de Paris, nem mesmo uma charge grosseira e antirreligiosa,
por isso sou Charlie Hebdo.
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