sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Nós, os vikings


*Recomenda-se ler as postagens anteriores “Um abutre em nossa história”


Surgem novas versões sobre a origem dos Dutra e sua saga, desde o aparecimento do clã na Europa até sua chegada ao Brasil. O historiador familiar, nosso irmão Luiz Vicente, relata que uma parente distante pesquisou a fundo a origem do nome e descobriu uma até então impensável ligação com os vikings. A moça, Maria Dutra da Silveira, natural de Jaguarão, entregou-se de corpo e alma a pesquisa sobre os Der Huertere, financiada e estimulada pelo marido, um português abastado. Visitou as terras por onde viveram os nossos ancestrais, como Wienendael, na Bélgica e Faial, nos Açores, produzindo um trabalho meticuloso, mas incompleto, eis que morreu antes de concluir o livro que resgata a história dos Dutra. O marido repassou os originais da obra à família de Maria Dutra Da Silveira que, por sua vez, entregou aos cuidados do Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas.

Fui desafiado pelo Luiz Vicente a dar um pulo lá e avaliar o material. Não perco por nada essa oportunidade, pois fiquei curiosíssimo em saber detalhes dessa instigante descoberta sobre o nosso passado viking. Consta que seríamos descendentes dos valentes e desbravadores nórdicos, mas fico cheio de urticária em imaginar que podemos ser comparados ao Hagar, o Terrivel, menos pela sua coragem e liderança e mais pelos seus defeitos – o simpático personagem é chegado a um copo e, em casa, é preguiçoso como ninguém. Pensando bem e conhecendo alguns Dutra, até que faz sentido...

Só que o comportamento do Hagar é fichinha perto do que fez um ancestral nosso, já convertido de Der Huertere em Dutra, nos Açores. Esses assuntos escabrosos de família a gente deveria tratar com reservas, mas já faz tanto tempo que o embargo pode ser levantado, até para servir de lição às novas gerações. Em resumo, a história é a seguinte: o tal Dutra, homem poderoso em Faial, acabou preso na Corte Portuguesa quando descobriram que ele era casado com uma mulher na ilha e outra em Lisboa, justo uma cortesã, daí porque o caso virou escândalo na conservadora sociedade portuguesa de então – século 16.

Tenho cá minhas desconfianças em relação a essa história, pois, pelo que conheço, os Dutra tem mantido ao longo do tempo um padrão de comportamento irretocável de homens devotados ao lar, não sendo dados a aventuras e a viver perigosamente como teria ocorrido com o ancestral português. Pode se tratar de uma conspiração ou de um calúnia que varou os séculos, mas a verdade é que devido as acusações os Dutra perderam a donataria (algo como as nossas capitanias hereditárias) da Ilha do Faial, recuperando a posse após um penoso processo de mais de 80 anos.

A ser verdadeiro o episódio fico imaginando os atributos da tal cortesã para valer a pena colocar em risco todo o patrimônio familiar. ( Olha aqui, gente, nada de ficar com inveja do homem. Temos uma reputação a zelar).

Como existem versões para tudo, a mais recente diz respeito a ave que encima o brasão dos Dutra. Não seria um abutre como registra a heráldica familiar, mas um pavão, que estaria mais de acordo com a vocação exibicionista de certos parentes...

domingo, 16 de janeiro de 2011

Quase um Nerd

Há pouco mais de um ano postei o texto "Meu Mundo Digital" (8.1.2010) dando conta das modernidades que estava descobrindo vias redes sociais e do meu encantamento com esse brinquedinho chamado ViaDutra. Pois é impressionante o que já mudou desde então. Me vangloriava, há um ano, de contar com 74 amigos no Orkut e hoje já não acesso mais essa rede, depois de ter estacionado em 109 amigos. A verdade é que o Orkut virou uma chinelagem.

Igualmente não tenho dado muita atenção ao MSN, que parece também estar em baixa, pois observo pouca gente on line. Todos os dias recebo convites para participar de várias redes – Linkedin, Hi5, Quepasa, Badoo e outras que nem sabiam que existiam. Como não tenho capacidade para administrar tanta interatividade, vou dar prioridade ao que consigo absorver.

Já aderi há mais tempo ao Facebook e o número de solicitações de amizade cresce a cada dia. No momento em que escrevo estou avaliando mais dez solicitações. Hoje já são 502 amigos no FB. Alguns não tenho a menor idéia de quem sejam, mas foram indicados por pessoas que conheço e acabo compartilhando com todos as bobagens que escrevo de vez em quando. Recebo ainda, via FB, solicitações para aderir a causas que desconheço, proposta de jogos que não sei como funcionam, boas vibrações que não necessito e coraçõzinhos patrióticos ou amorosos, sabe-se lá com que intenções.

Legal é quando a gente compartilha uma mensagem e ela repercute, com comentários e curtições. Participo ainda no FB do grupo "MBA Jornalismo Empresarial", onde os companheiros de curso na Esade trocam idéias, informações, sugestões e algumas brincadeiras e provocações.

Mergulhado na proposta das redes sociais, fico incomodado, porém, com algumas manifestações no FB. Pode ser um detalhe, mas não agüento mais os "hehehehehe", os "hahahahaha" , os "rsrrsrsrsrs"", os "ameeei" e os "a-dooo-rei". Também não acho que a rede sirva para terapia e não me interessa o que a pessoa vai comer, a não ser que me convide para compartilhar os acepipes, ou a que horas vai dormir, a não ser que me convide...ooops, ato falho. Dispenso também os “bom dia” e os “boa noite”, mas, para não pensarem que sou um reclamão, curto as sacadas bem-humoradas e as sugestões de textos e vídeos que acrescentem alguma coisa, porque esse é o espírito das redes.

Agora passei a curtir o Twitter (@flavidutra), com o qual havia iniciado um namoro tempos atrás, interrompido quando minha assistente para questões digitais, Mariana, fugou para Buenos Aires, me deixando na mão. Retomei o processo na última semana e comecei a me encantar com o potencial desse telegrama (a Wikipedia explica o que é) digital. É informação e opinião o tempo todo, em tempo real. Em dois ou três dias já conto com 13 seguidores e sigo outros 39 tuiteiros – em sua maioria jornalistas. Aos meus seguidores já antecipo que não vou abusar da confiança de vocês, ou seja, pretendo tuitar só assuntos interessantes. Os que sigo estão na fase de avaliação e já aviso que os chatos serão expurgados. Chega os que aturo no dia a dia.

É assim, gente amiga, que enfrento as armadilhas da modernidade que insistem em me tornar um dinossauro da comunicação. Não vão levar. Vou resistir, tanto assim que já estou pensando em aderir ao iPad. Daqui a pouco eu viro um Nerd da terceira idade.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Um abrutre na nossa história - II

*Recomenda-se ler a postagem anterior

Registros confiáveis dão conta da presença de Dutras originários do Faial no Rio de Janeiro lá por 1617 e cem anos depois no Rio Grande do Sul, vindos também dos Açores. Com certeza descendemos desse pessoal, que espalhou descendência por todo o Estado, de Gravataí e Viamão à  São Borja, de Jaguarão à Palmeira das Missões, de Bom Jesus à Santa Maria e arredores.

Conheço um pouco da história recente do meu ramo dos Dutra e recomendaria cautela no trato com a família. Pelo que sei, nossos antepassados no início do século transformaram São Borja em uma praça de guerra, tanto foram os conflitos com os desafetos locais. E parece que levamos a pior, pois o pessoal de São Borja acabou migrando para Julio de Castilhos, onde nasceu nosso pai.

Mais tarde, por nomeação pessoal do então presidente Getúlio Vargas, seu amigo desde a infância, nosso avô Vicente Dutra foi designado prefeito de Iraí, com a missão de promover, como médico, a construção de grande um balneário de águas termais, então famosas até no exterior. O Balneário Osvaldo Cruz funciona até hoje exatamente como Vicente Dutra o concebeu e construiu. (Mais tarde foi homenageado com o nome da cidade das termas, ao lado de Iraí,, também conhecida na família como “Cidade Vovô”).

Entretanto, o figuraço daquela geração foi o irmão do meu avô, o tio Valzumiro Dutra. Coronel dos Provisórios, chimango, o homem era um autêntico caudilho: leal e generoso com os amigos, mas impiedoso com os inimigos. Com sua tropa defendeu a "Palmeira" – Palmeira das Missões – das tentativas de invasão dos maragatos na Revolução de 1923 e levou a melhor, a custo de muito sangue derramado, nas carnificinas que dividiram o Rio Grande de então. (Hoje, o tributo à memória de Valzumiro Dutra se resume a uma rua central em Iraí e aos arquivos pessoais depositados no Instituto Histórico e Geográfico do RS, depois de receber o nome de um distrito de Lagoa Vermelha, mais tarde emancipado e batizado de São José do Ouro).

Quatro gerações depois esse traço guerreiro só persiste entre nós nas batalhas do dia a dia. Mas, insisto, cautela é fundamental no trato com os Dutra porque dentro de cada um de nós dormita o espírito bravio do tio Valzumiro. Isso talvez explique o abutre que repousa sobre a nossa história: temos um lado família, generoso e leal com nossos iguais, mas o lado feroz está ali, latente, pronto para contra-atacar os predadores. Última recomendação: não levem tudo ao pé da letra, pois garanto que os Dutra contemporâneos são do bem.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Um abutre na nossa história - parte 1



O brasão dos Dutra
Instalou-se um frisson entre os Dutra a partir da descoberta na Wikiedia de informações sobre a origem do sobrenome. O Luiz Vicente, irmão mais velho, sempre teve obsessão em descobrir quem somos e de onde viemos. Tanto assim que já visitou varias vezes Morano Calabro, a pequena cidade italiana que forneceu a maior leva de imigrantes italianos do Rio Grande do Sul, originários da Calábria, entre eles nossa avó por parte de mãe.


Incansável na sua busca esteve também em Bruges, antiga capital belga, onde nossos ancestrais eram nobres com direito a castelo, terras, criadagem e tudo o mais. Há registros dando conta que os Van Der Hurtere eram governadores e senhores da terra de Wynendael, aldeia da Flandres Ocidental (Franc-de Bruges), o que não era pouca coisa para a época. Em Wynendael, terra originária dos Huertere, Luiz Vicente captou imagens e informações, inclusive do histórico castelo onde o Rei Leopoldo III capitulou no dia 26 de maio de 1940, frente à invasão alemã. A questão até hoje toca a alma dos belgas, uns aceitando a capitulação como inevitável e outros considerando como um ato de covardia daquele monarca.

Pesquisou também o brasão da família, que é encimado por um abutre. Tal ave, como se sabe, é tida como de mau agouro, mas diferente do que os nossos detratores podem imaginar, para os descendentes dos Hurtere originais o abutre tem um nobre significado, primeiro porque é da família das águias e dos falcões, sendo considerada no velho continente como uma ave fidalga, vejam só. Também na heráldica a representação do abutre tem um nobre significado. Significa compaixão porque a ave de rapina, para preservar os filhotes dos predadores, não podendo sair de perto deles, utiliza seu próprio sangue para alimentá-los durante um período após o nascimento.

Essa lado, digamos, família do abutre teria sido observado e transmitido pelos egípcios na antiguidade, o que confere um charme adicional à explicação. Ainda assim, confesso que me incomoda um pouco ser representado heraldicamente por um abutre, devido a má fama que essa ave goza no em nossos país, mesmo que a cor azul que domina o brasão, segundo os estudiosos do assunto, represente justiça, elogio, formosura, doçura e nobreza. Pensando bem, pode ser...

O ramo ao qual pertenço se orgulhava muito das origens flamengas e suas manifestações de nobreza, mas agora a auto-estima ficou abalada com a informação de que, na verdade, temos um pé e algo mais em Portugal, a partir da migração dos Huerteres para a ilha do Faial, na província ultramarina dos Açores. A verdade é que fizeram história também em Portugal, conforme registros históricos. Consta que um tal de Joss ven der Huerter povoou as ilhas do Faial e Pico, no século XV. Nos Açores, os Huerteres receberam outras denominações, como a forma aglutinada de De Ultra (D’Ultra), adaptação do holandês (flamengo) Van Hurtere, ou ainda Ultra e Dultra. Daí ao Brasil foi um pulo.

(continua)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Estação 61

Olho para trás e vejo a longa estrada já percorrida. São 61 estações, algumas curvas perigosas, zonas áridas, mas foi plana e linear a maior parte dessa andança, às vezes até demais, porque uma cota de percalços faz parte da caminhada e o tédio não é bom companheiro para o caminhante.

Todo o destino é incerto para quem não sabe aonde quer chegar e todo o horizonte é nublado se a rota escolhida for um descaminho. Meus destinos eu decidi e os desvios corrigi a tempo. Por isso, chego lépido e faceiro à estação 61, acompanhado, já há algum tempo, pela minha gente.

Olho para os lados e vejo a companheira que divide – há mais de 30 anos! - o doce e o amargo, e os três filhos, que não me tiveram tão presente, mas que cresceram sem grandes traumas e estão aí, usufruindo a vida e construindo seus próprios caminhos. Foi por eles, para que se orgulhassem de mim como me orgulhava do meu pai e como me orgulho deles, que eu tento me superar a cada dia e passar os valores que prezo e que tão bem assimilaram.

Olho para frente e vejo a jornada se renovando com Maria Clara. E mais adiante um bando irrequieto de crianças de olhos azuis, escalando o viajante de barba e cabelos brancos. Serão os irmãos e primos da pequena? Tomara que sim! E tomara que não me falte energia para desfrutar desse momento e das surpresas que a caminhada ainda me reserva.

Espero, mirando mais para frente, que a Via Dutra tenha ainda muita estrada a ser trilhada, mesmo com obstáculos, mas cheia de alternativas, porque a andada recomeça agora. Estação Futuro, lá vou eu!