segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Um abrutre na nossa história - II

*Recomenda-se ler a postagem anterior

Registros confiáveis dão conta da presença de Dutras originários do Faial no Rio de Janeiro lá por 1617 e cem anos depois no Rio Grande do Sul, vindos também dos Açores. Com certeza descendemos desse pessoal, que espalhou descendência por todo o Estado, de Gravataí e Viamão à  São Borja, de Jaguarão à Palmeira das Missões, de Bom Jesus à Santa Maria e arredores.

Conheço um pouco da história recente do meu ramo dos Dutra e recomendaria cautela no trato com a família. Pelo que sei, nossos antepassados no início do século transformaram São Borja em uma praça de guerra, tanto foram os conflitos com os desafetos locais. E parece que levamos a pior, pois o pessoal de São Borja acabou migrando para Julio de Castilhos, onde nasceu nosso pai.

Mais tarde, por nomeação pessoal do então presidente Getúlio Vargas, seu amigo desde a infância, nosso avô Vicente Dutra foi designado prefeito de Iraí, com a missão de promover, como médico, a construção de grande um balneário de águas termais, então famosas até no exterior. O Balneário Osvaldo Cruz funciona até hoje exatamente como Vicente Dutra o concebeu e construiu. (Mais tarde foi homenageado com o nome da cidade das termas, ao lado de Iraí,, também conhecida na família como “Cidade Vovô”).

Entretanto, o figuraço daquela geração foi o irmão do meu avô, o tio Valzumiro Dutra. Coronel dos Provisórios, chimango, o homem era um autêntico caudilho: leal e generoso com os amigos, mas impiedoso com os inimigos. Com sua tropa defendeu a "Palmeira" – Palmeira das Missões – das tentativas de invasão dos maragatos na Revolução de 1923 e levou a melhor, a custo de muito sangue derramado, nas carnificinas que dividiram o Rio Grande de então. (Hoje, o tributo à memória de Valzumiro Dutra se resume a uma rua central em Iraí e aos arquivos pessoais depositados no Instituto Histórico e Geográfico do RS, depois de receber o nome de um distrito de Lagoa Vermelha, mais tarde emancipado e batizado de São José do Ouro).

Quatro gerações depois esse traço guerreiro só persiste entre nós nas batalhas do dia a dia. Mas, insisto, cautela é fundamental no trato com os Dutra porque dentro de cada um de nós dormita o espírito bravio do tio Valzumiro. Isso talvez explique o abutre que repousa sobre a nossa história: temos um lado família, generoso e leal com nossos iguais, mas o lado feroz está ali, latente, pronto para contra-atacar os predadores. Última recomendação: não levem tudo ao pé da letra, pois garanto que os Dutra contemporâneos são do bem.

15 comentários:

  1. Grande Flávio !

    Muito interessante os fatos. Também pesquiso um pouco sobre minhas origens.
    O que seriam no teu brasão as três bolas amarelas com listras ?
    dica : eu sei que o interno representava a profissão do homem na época em que foi criado.

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  2. Flávio. Muito interessante sua pesquisa. Sou Dutra de Júlio de Castilhos e acredito que guardamos algum parentesco, pois meu trisavô Manuel Pereira Dutra era missioneiro e foi um dos fundadores de Júlio de Castilhos em 1891. Meu bisavô se chamava Aparício Melo Dutra e meu avô Dinarte Martins Dutra, todos viveram e morreram em Júlio de Castilhos/RS.

    Rodrigo Dutra da Siva

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  3. Bem-vindo ao ViaDutra, Rodrigo. Vou consultar a família e verificar nosso provável parentesco.

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  4. Rodrigo Dutra da Silva27 de fevereiro de 2011 às 13:54

    Flávio, vocês são descendentes de Tarso Dutra?

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  5. Sim, o Tarso era irmão do pai, Dastro, filhos do Vicente Dutra.

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  6. ká , esse coroa ai é bunitin .

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  7. vazulmiro é tambem conhecido como ´grilero´de terras.

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  8. Cemitério dos degolados; passo dos maragatinhos, revanche do boi preto e outras além dos "grilos de terras". Naqueles tempos el viejo Diablo se quedou mui contento...

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  9. Porque o anonimato ?Tem medo de alguma coisa? Sou bisneta do Coronel Vazulmiro e pelo pouco que sei naquela época era guerra ou matava ou morria prefiro a primeira opção
    Daniela Dutra

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  11. O fato de existir um abutre sobre o brasão da familia, da-se a nobreza da ave, assim como tantas outras aves de rapina. A nobreza do abutre esta em seu comportamento, uma vez que, em tempos de escassez de alimento, ferem-se a sí próprios, para alimentar sua ninhada, com seu proprio sangue.

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  12. Como morreu o Caudilho Valzumiro Dutra, parece que numa emboscada num hotel em Porto Alegre RS?

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