domingo, 27 de maio de 2018

A professora de lingua


A gamação de jovens alunos por suas professoras é fato comprovado e mais real e intenso  quanto mais jovem for a professora e mais taludo for o estudante.   Usei o termo gamação, das antigas, porque o fenômeno não é novo.  A recíproca - professora com aluno – também é verdadeira e até filme já foi produzido com essa temática. O premiado Notas sobre um escândalo (2005), protagonizado pela bela e talentosa Cate Blanchett, conta a história de uma jovem professora que vive um romance secreto com um dos seus  alunos, até serem descobertos por outra professora,  interpretada por Judi Drech.

Pois, meu amigo Rossano viveu uma experiência semelhante com sua professora de Inglês do ensino médio.  O caso se deu numa pequena cidade do interior e, diferente do filme em que o romance virou escândalo, a única testemunha é um amigo de fé, que mantém até hoje um silêncio obsequioso sobre o assunto, embora faça insinuações cada vez que se encontram.  É importante explicar também que os finalmente entre aluno e professora ocorreram poucos anos depois dos tempos em que ambos frequentavam a mesma sala de aula, na escola pública da comunidade.   Naquela época, o garoto se encantava com a jovem e charmosa professora, o que, aliás, não era privilégio só dele, porque a moça merecia homenagens de toda a gurizada da classe.  A mestra, porém, dedicava especial atenção ao Rossano, que era um dedicado aluno de Inglês. Anos depois, é com uma ponta de emoção que ele relembra a abordagem que virou episódio:

- Era um fim de festa e eu, ao contrário de outros fins de semana, não havia pegado ninguém. Aí avistei a professorinha, junto com outra moça e um amigo. Eu já havia bebido um pouco além da conta e tomei coragem para encarar a professora.  Foi o que fiz.

Para alegria do Rossano, a jovem senhora, com seus 35 anos, descasada e muito competitiva, não o dispensou.  Foi seu erro, ou seu acerto.  Rossano tanto insistiu que conseguiu arrastá-la para tomarem uma ultima bebida e da mesa partiram para a cama, na casa dele, após um ultimato irrecusável (“Essa é a nossa hora, vamos!”) do jovem.

- Olha, eu estava com 20, 21 anos e nessa altura da vida já tinha uma boa experiência sexual, mas o que a professora fez comigo foi uma pós graduação! Parecia faminta de sexo!–  conta Rossano, agora visivelmente excitado com a lembrança,

 Mas não revelou outros detalhes da transa, além da novelesca  “faminta de sexo ”,  apenas alusões do tipo “ela era professora de língua...”

Voltando no tempo, lembrou que a manhã já ia alta quando despertaram e, papo vai, papo vem, Rossano descobriu que a professora tinha entre as alunas a namoradinha de ocasião dele, uma recatada jovem dos seus 17 aninhos, que jamais imaginaria as escapulidas de fim de semana do seu amado parceiro, o que dirá um affair com a mestra dos conhecimentos linguísticos.

A descoberta provocou uma inesperada reação da professora;

- A Fulana, é? Ela nem é tudo isso -, o que soou como um “sou mais eu”.

A verdade é que professora e ex-alunos não voltaram a se encontrar nas mesmas circunstâncias. Rossano mudou de ares, virou homem sério, comprometido e fidelíssimo, mas jamais esqueceu a maneira como a professorinha tratou sua aluna na conversa pós-transa:

- Era como se já estivesse competindo.  Como explicar isso?

Também não tive resposta à indagação. Pensando bem, cabeça de mulher é coisa muito complexa, ainda mais quando está em disputa contra uma competidora mais jovem. Aí, pelo que deduzi, só a experiência acumulada para fazer frente à juventude. E uma professora de  língua tem uma vantagem a mais.

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Tempo de Copa do Mundo


* Publicado originalmente no Coletiva.net, em 23/05/2018
Claudio Coutinho era capitão do exército e foi preparador físico na vitoriosa campanha do tricampeonato da Seleção Brasileira no México, em 1970. Depois, assumiu como treinador da Seleção em 78, na Argentina, quando cometeu a sandice de deixar Falcão de fora, em detrimento do brucutu Chicão. Essa opção contribuiu para que o Brasil ficasse fora das finais, se bem que até hoje permanecem as suspeitas de que os peruanos arreglaram para os argentinos decidirem o título.
Maracutaias e equívocos a parte, Coutinho (gaúcho de Dom Pedrito) deixou sua marca no futebol brasileiro, nem tanto pelo estilo europeu que defendia, mas pela terminologia que passou a empregar e que contribuiu para renovar o futebolês. Exemplo é  overlaping, ou ponto futuro, que descrevia o procedimento em que o jogador combinava o lance com um companheiro, já se posicionando para receber a bola mais à frente. Introduziu também o conceito de polivalência, baseado no futebol total da Holanda da Copa de 74, em que cada jogador se desdobrava em mais de uma função em campo.

Coutinho estava adiante do seu tempo, mas foi ridicularizado pela mídia conservadora daquela época e não teve o devido reconhecimento ao falecer, precocemente, aos 42 anos, quando praticava pesca submarina.
Atuei por mais de 25 anos nas editorias de Esportes e acompanhei de perto a evolução do futebol nesse período e as mudanças na linguagem da chamada crônica esportiva. O rádio, por lidar com a emoção da instantaneidade, continuou grandiloquente. A imprensa escrita, porém, modernizou em muito seus conteúdos nas matérias de esportes, desapegando-se da terminologia inglesa que impregnava, especialmente, a cobertura do futebol com seus corner, match, team, goal e outros tantos. A TV, por seu lado, conseguiu livrar-se da influência do rádio e o primado da imagem é que condiciona a linguagem, misto de emoção e fala mais elaborada. 
Hoje o futebolês alterna modernidade e singularidades. Nas posições dos jogadores talvez tenham ocorrido as maiores mudanças, dos originais ingleses beck, center halfcenter foward, para volantes, armadores, alas, passando antes pelos centromédios, laterais, meias, com apelo à polivalência na escolha das posições, como Coutinho pregava.

O Coutinho do futebol moderno incorporou no gaúcho Tite, com seu palavreado que beira a discurseira da autoajuda e conceitos como treinabilidade, flutuação, potenciar individualidades e outros termos que lembram os programas de gestão. Já os jogadores adoram afirmar que estão focados e os jovens repórteres abusam do termo desconforto, que substituiu o que se conhecia por lesão. O time quando passa a jogar bem encaixou, com?os setores bem conectados. Até a segurança privada nos estádios, isto é, nas arenas, trocou de nome: agora atendem por stewards (guardiões em tradução livre), o que, de certa forma, representa um retorno aos termos ingleses originais.

No caso das singularidades nada supera o cascudo e seu sinônimo, rodado, jargões usados para identificar os jogadores experientes, enquanto o brucutu, referido antes, é ofensa reservada aos jogadores desqualificados tecnicamente.

Até aqui resgatei parte de um texto de três anos atrás, porque acredito que continua atual e porque a Copa da Rússia está próxima. Acrescento que o que chama atenção neste momento é exatamente a desatenção, quase geral, à Seleção Brasileira. O tal de 'clima de Copa' ainda não se fez presente na população, diferentemente de edições anteriores, quando, a esta altura, estávamos todos imbuídos do 'já ganhou'. Até mesmo a convocação final para a Copa, sempre motivo de muitas polêmicas, só aqui gerou mais controvérsias, porque o assunto grenalizou com a presença na lista de Tite de ex-colorados e a ausência de mais gremistas.
A constatação mais simplória é de que o desencanto do brasileiro com tudo o que represente poder chegou ao futebol - a seleção é a pátria de chuteiras, dizia Nelson Rodrigues. Prefiro acreditar que este desencanto, que leva à apatia do torcedor, tem mais a ver com o vexame na Copa de 2014, especialmente o trágico 7 x 1 para os alemães, combinados à revelação de toda a roubalheira nas obras dos estádios e à corrupção dos cartolas da CBF. Em parte, Tite recuperou nossa confiança na Seleção, mesmo que, por questões ideológicas, setores à esquerda torçam, sem constrangimento, contra tudo o que seja verde e amarelo. Já eu aposto que, quando a bola rolar, a conexão torcida-seleção vai se dar. Isso, aliás, me lembra o enredo do filme Fé de Etarras (disponível na Netflix), em que terroristas bascos, enquanto aguardam uma nova missão ao mesmo tempo em que se desenrolava a Copa da África, acabam por deixar de lado sua histórica luta conta o governo de Madri e passam a torcer fervorosamente pela seleção espanhola na final diante da Holanda. Que a ficção de Fé de Etarras sirva de exemplo por aqui, com a certeza de que o Brasil não vai mudar, nem pra mais nem pra menos, com vitória ou derrota da Seleção.



quarta-feira, 16 de maio de 2018

Bullyng na terceira idade


Depois de uma certa idade, cidadãos de bem como eu ficam sujeitos à brincadeiras, no mínimo, de  mau gosto. Diria mais, indo ao encontro destes tempos de atitudes politicamente corretas: somos alvo de verdadeiros casos de bullyng. Bullyng na terceira idade. 

Fui vitima dessa insidiosa manifestação ao participar da abertura da exposição Do Fotograma ao Cinema que marca uma nova etapa do Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa, agora  sob a garra, a energia e a liderança de Beth Corbetta. Pois,  foi só adentrar ao recinto onde ocorreria a cerimônia e encontro o Márcio Pinheiro, jornalista com grande inserção na área  da Cultura. Nos saudamos efusivamente como dois companheiros de antigas jornadas, mas, ato seguinte, o safado do Márcio, fez uma advertência:

- Não deixa eles te etiquetarem.

- Como assim, Márcio?

- É que estamos num museu, num museu de Comunicação e, de repente, o pessoal da casa  pode achar que já tens idade para fazer parte do acervo. Aí te colocam uma etiqueta explicativa...

Sorte do Márcio é que eu estava de sangue doce, tanto assim que repassei a brincadeira adiante, identificando, entre os presentes, outras potenciais figuras para o acervo.

- Poiss jeu ssou no  maxxximo peçça da área kidsss dessse  achceervo, -  se incluiu o Márcio, com sua inconfundível língua presa,  que faz a alegria  do nosso comum amigo Jorge André Brites em memoráveis imitações e, para mim, funciona agora como retaliação à maldade cometida.

Maldades e brincadeiras à parte, é importante registrar o trabalho da Beth e da equipe que conseguiu reunir e mobilizar no Hipólito da Costa, situado ali na rua da Praia com Caldas Junior e que homenageia o patrono da imprensa brasileira.  Com parcerias e apoios públicos e privados o pessoal conseguiu recuperar o histórico prédio e reabrir a instituição para os visitantes e especialmente para os pesquisadores.


sábado, 12 de maio de 2018

Bastos e Koff, segundo tempo


O jornalista Carlos Bastos é uma fonte inesgotável de histórias a respeito de Fábio Koff, com o qual tinha grande afinidade. Algumas histórias até podem parecer desabonadoras, como as reveladas na postagem anterior, O mais vitorioso dos corneteiros ( https://viadutras.blogspot.com.br/2018/05/vitorioso-corneteiro.html),  mas que, na verdade, mostram uma dimensão mais humana do grande líder esportivo falecido nesta semana. No segundo tempo dessa saga, Bastos resgata pelo menos quatro episódios que contribuíram para que Koff conquistasse a fama de dirigente pra lá de competente, conhecedor de futebol, coisa rara entre a cartolagem e, em consequência, levantador de  taças como poucos.

Os primeiros episódios remontam às conquistas de 1983. Uma decisão de Koff acabou sendo fundamental para que o Grêmio chegasse ao título mundial. Contra tudo e contra todos, ele decidiu investir num único jogador os 80 mil dólares (uma grana para a época) que o Flamengo pagou de multa por exigir, antes do prazo, a devolução de Tita, que estava emprestado ao tricolor.  O jogador visado era Mário Sérgio, contratado ao Guarani de Campinas, que foi peça fundamental no jogo contra o Hamburgo, em Tóquio.  “O pessoal do Grêmio achava que ele tinha cometido uma loucura, mas o Koff manteve sua decisão e, como sempre, estava certo”, lembra Bastos.

Outro caso envolveu o técnico Menotti, campeão mundial com a Argentina em 78, que veio a Porto Alegre a convite da RBS. Num almoço com profissionais da empresa, Koff, também convidado, passou a contar, queixoso, as dificuldades enfrentadas pelo Grêmio para vencer a Libertadores de 83, tanto assim que foi decidida em jogos dificílimos   contra o Penharol, sem falar na célebre batalha de La Plata contra o Estudiantes. Menotti trinchou sua carne, sorveu um gole de malbec, e comentou em resposta, entre irônico e reconhecido à capacidade de articulação de Koff :  “Quem tem Renato no time e conta com Samuel Ratinoff para garantir na Conmebol juízes ‘isentos’ merece ser campeão”. Ratinoff, para quem não sabe, era um esperto e influente argentino, empresário de futebol, com conexões poderosas, desde os anos 1960, com os clubes brasileiros e na América Latina em geral.  Menotti sabia das coisas.

O conhecedor de futebol ficou evidenciado, em outro episódio recordado por Bastos, quando Koff, ao assistir a um treino dos juniores gremistas, não resistiu a uma corneta, com uma ressalva: “Pode pegar toda essa gurizada e mandar embora, menos aquele lateral-esquerdo ali .” O tal lateral-esquerdo era Roger, até hoje reconhecido como um dos melhores da posição que já defendeu a camisa tricolor, chegando a treinador do time principal – hoje está no Palmeiras. “Koff tinha olha clinico para futuros craques”, reforça Bastos, antes de fazer o último registro sobre a qualificação do dirigente gremista:  “A capacidade de gestor dele era reconhecida nacionalmente, por isso os dirigentes de clubes decidiram alterar os estatutos do Clube dos 13 para que ele continuasse como presidente, mesmo não sendo mais  presidente do  Grêmio”. E assim Koff foi o dirigente máximo do Clube dos 13 de 1996 a 2011, quando a entidade foi extinta. Foram seis mandatos em 15 anos. Nesse período, Koff multiplicou por dez os ganhos dos clubes nas cotas pagas pelas redes de TV.










quinta-feira, 10 de maio de 2018

O mais vitorioso corneteiro


Um dos amigos mais próximos do recém falecido Fábio Koff era o jornalista Carlos Bastos.  Além de serem ícones das atividades que os projetaram publicamente, ambos tinham no amor pelo Grêmio uma afinidade desmedida. Assim, conviviam diariamente nos períodos em que Koff presidiu o clube. O dirigente sempre se valia dos conselhos e das observações do Bastinhos quando precisava enfrentar uma disputa eleitoral no tricolor. Bastos conhecia como ninguém o perfil da maioria dos conselheiros, suas inclinações e comprometimentos na intrincada politica clubística e nunca errou um prognóstico. ‘É o meu guru na politica”, alardeava Koff.

Ao mesmo tempo, Bastos era um ouvinte frequente dos desabafos do presidente. Como  todo o grande líder, Koff padecia de momentos de fragilidade e insegurança, que compensava  criticando seus pares ou os profissionais contratados pelo clube. Era como se tivesse uma metralhadora giratória:

- Bah, este nosso vice de futebol não entende nada de futebol. Desse jeito vai nos enterrar.

- O que é este nosso departamento médico? Parece mais um hospital e não libera ninguém!

- O nosso massagista nos faz passar cada vergonha quando entra em campo balançando aquela pança toda!

- O técnico continua escalando mal, mas que que eu posso fazer? Sou presidente, não vou interferir no trabalho dele.

Bastos a tudo ouvia, concordando às vezes, discordando outras. Até que em determinada ocasião, Koff fez uma confissão sobre um jogador recém contratado.

- Sabe aquele novo lateral esquerdo? Cometi um erro monumental. Não joga nada e fui eu quem indicou. Se arrependimento matasse...

Bastos caiu na risada, diante da indignação de Koff.

- Rindo por quê, Bastos? Está debochando de mim?

- E que tu conseguiu te superar desta vez. Tu corneteou a ti mesmo!

O episódio em nada alterou a fraterna relação que estes dois gigantes mantiveram ao longo dos anos e só relembro os fatos, devidamente autorizado pelo Bastos, sem qualquer interesse em desqualificar a trajetória vitoriosa de Koff, mas como um tributo a quem, movido pela paixão, dedicou parte de sua vida a proporcionar os mais felizes momentos celebrados pela imensa massa gremista,.