quinta-feira, 10 de maio de 2018

O mais vitorioso corneteiro


Um dos amigos mais próximos do recém falecido Fábio Koff era o jornalista Carlos Bastos.  Além de serem ícones das atividades que os projetaram publicamente, ambos tinham no amor pelo Grêmio uma afinidade desmedida. Assim, conviviam diariamente nos períodos em que Koff presidiu o clube. O dirigente sempre se valia dos conselhos e das observações do Bastinhos quando precisava enfrentar uma disputa eleitoral no tricolor. Bastos conhecia como ninguém o perfil da maioria dos conselheiros, suas inclinações e comprometimentos na intrincada politica clubística e nunca errou um prognóstico. ‘É o meu guru na politica”, alardeava Koff.

Ao mesmo tempo, Bastos era um ouvinte frequente dos desabafos do presidente. Como  todo o grande líder, Koff padecia de momentos de fragilidade e insegurança, que compensava  criticando seus pares ou os profissionais contratados pelo clube. Era como se tivesse uma metralhadora giratória:

- Bah, este nosso vice de futebol não entende nada de futebol. Desse jeito vai nos enterrar.

- O que é este nosso departamento médico? Parece mais um hospital e não libera ninguém!

- O nosso massagista nos faz passar cada vergonha quando entra em campo balançando aquela pança toda!

- O técnico continua escalando mal, mas que que eu posso fazer? Sou presidente, não vou interferir no trabalho dele.

Bastos a tudo ouvia, concordando às vezes, discordando outras. Até que em determinada ocasião, Koff fez uma confissão sobre um jogador recém contratado.

- Sabe aquele novo lateral esquerdo? Cometi um erro monumental. Não joga nada e fui eu quem indicou. Se arrependimento matasse...

Bastos caiu na risada, diante da indignação de Koff.

- Rindo por quê, Bastos? Está debochando de mim?

- E que tu conseguiu te superar desta vez. Tu corneteou a ti mesmo!

O episódio em nada alterou a fraterna relação que estes dois gigantes mantiveram ao longo dos anos e só relembro os fatos, devidamente autorizado pelo Bastos, sem qualquer interesse em desqualificar a trajetória vitoriosa de Koff, mas como um tributo a quem, movido pela paixão, dedicou parte de sua vida a proporcionar os mais felizes momentos celebrados pela imensa massa gremista,.

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