*Baseado em fatos reais
Este causo quem me relatou foi o Neni, que sabe tudo
de política e de Grêmio. É sobre o primeiro tema o relato, que dá conta de um
assalto a um boteco categoria pé sujo, lá para os lados da zona norte. Sucede que
o boteco era em frente ao edifício onde
morava uma das mais importantes lideranças do chamado campo da esquerda. Na época nem era tão importante porque o tal
campo de esquerda ainda não havia provado as benesses do poder, mas a liderança
já era bem conhecida graças a sua atividade sindical. E, claro, ele estava
presente no estabelecimento assaltado, dando uma calibrada, quando ocorreu o
fato.
Diante do indivíduo que ditava
ordens aos assaltados, a liderança não se conteve e chamou-o à razão:"Companheiro, a gente precisa se respeitar, afinal
nós aqui somos do partido que representa a classe trabalhadora. No fundo somos iguais na luta diária dos
desvalidos contra os poderosos".
Sem querer, a liderança cometeu um ato falho
histórico ao prever a igualdade entre o ladrão e determinadas lideranças do
campo democrático de esquerda, o que não é o caso do nosso personagem, figura
inatacável.
O que ele não esperava era a resposta do assaltante: " Pois eu sou neoliberal", tripudiou o incômodo
visitante, revelando alguma cultura politica. "E passa logo este anel ai", determinou,
apontando para o dedo nodoso que ostentava uma
vistosa aliança dourada.
Nosso líder ainda tentou protelar a entrega,
alegando que não conseguia tirar a aliança. Pragmático, o assaltante ofereceu
logo uma solução: "Não seja por isso, cidadão. Mostra o dedinho aí
que eu resolvo". E sacou da algibeira uma faca de dar inveja a
churrasqueiro zeloso. Foi então que num
passe de mágica a aliança desgarrou do dedo nodoso e foi entregue ao perigoso
pedinte.
O dono do estabelecimento, por sua vez, tentou esconder no bolso da camisa, uma peça
de vestuário moderninha para a época, uma correntinha dourada, herança familiar
de três gerações. Mas a estratégia não deu certo. Na saída do restaurante, consumada a limpa na
clientela, o assaltante virou-se para o proprietário e anunciou: " Ô, meu, gostei muito desta tua camisa. Tira ela
que eu vou levar".E lá se foi a medalhinha da família.
Ao final, salvaram-se todos, fisicamente inteiros,
mas moralmente abalados. A liderança politica resumiu o sentimento do
grupo:
- Que país é este em que não se respeita nem mesmo
uma liderança dos oprimidos? Cumpanheirada, ainda temos um logo e duro caminho
pela frente, vaticinou.
E pediu um liso dose dupla para confortar-se e retomar a
tranquilidade.