sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Nós, os corruptos


Houve um tempo em que pensei que nosso amado Brasil tomaria jeito e que “corrupção nunca mais” deixaria de ser mero desejo para se transformar em realidade. Acho que esse meu acesso de ingenuidade ocorreu logo depois do impedimento do Collor. Pensei que a corrupção tinha chegado ao seu máximo degrau e a destituição do presidente era o vexame supremo para uma nação. “Agora esse pessoal vai se aquietar e parar de roubar o País”, pensei lá no íntimo.
Como se sabe, eu estava enganado. Logo vieram mais e mais escândalos: o dos Anões do Orçamento, as roubalheiras da Jorgina, o caso do TRT de São Paulo, o escândalo dos Bingos ou o caso Waldomiro Diniz que desembocou no Mensalão do PT, o Mensalão Mineiro, o caso Erenice Guerra , as estripulias do Cachoeira e tantos outros que a lista é quase infindável.

E agora entram em cena as negociatas da chamada Operação Porto Seguro, envolvendo compra de pareceres, nomeações escusas para cargos públicos e relações, digamos, pouco republicanas entre uma poderosa burocrata do escritório do governo federal em São Paulo e uma entidade chamada PR. Insinua-se aqui e ali que PR poderia ser Presidente da República, mas sinceramente não acredito que a pilantragem tenha chegado a esse nível do poder. Ou será que estou tendo outra crise de ingenuidade?
A verdade é que, de escândalo em escândalo, lá se vai minha confiança na humanidade, até porque corrupçao não é exclusividade do nosso país – aqui é só mais impune. Chego a pensar até que faz parte do nosso DNA essa vocação para corromper e ser corrompido, eis que nos tempos primevos o engodo, o logro, a enganação eram questão de sobrevivência naqueles ambientes pouco civilizados em que habitavam nossos ancestrais. A própria Bíblia está repleta de casos escabrosos, como o de Esaú e Jacó. Conta o livro de Gênesis que Esaú vendeu os seus direitos de primogênito ao esperto irmão Jacó por um prosaico prato de lentilhas. E o que dizer de Judas Iscariotes que entregou Jesus Cristo por míseros 30 dinheiros? Corruptos, corruptores e chinelagens biblicas!

Seremos todos assim, a espera de uma oportunidade para levar vantagem, não interessando se a benesse é legal ou ilegal, no caso, o malfeito como diria a Dilma.? De minha parte, rejeito o título deste texto, que usei apenas para expressar indignação e criar impacto. Eu fora!

Bem, talvez ainda não tenham chegado no meu preço...

sábado, 24 de novembro de 2012

15 coisas para fazer antes do fim do mundo


Já que o fim dos tempos está próximo vou rasgar a bandeira, virar um xibungo, um verdadeiro velho devasso, mas sem perder a ternura, até o dia fatídico: 21 de dezembro. Listei pelo menos 15 coisas que não poderei deixar de fazer e incluir no meu currículo para os tempos que não virão:

1) Voltar a fumar desbragadamente.
2) Beber aquele lote de cervejas artesanais que tenho namorado no supermercado.
3) Visitar pelo menos uma vez a Tia Carmen.
4) Promover pelo menos uma esbórnia na Tia Carmen.
5) Passar um cantada naquela morena que vem me tentando.
6) Passar uma cantada naquela loira que vem me tentando.
7) Chamar de ladrão todos aqueles comerciantes que vem me extorquindo.
8) Mandar a PQP o pessoal do telemarketing.
9) Mandar a PQP os chatos.
10) Jogar na privada todos aqueles remédios que nem sei pra que servem.
11) Passar acima da velocidade em todos os pardais. 
12) Frequentar um restaurante finíssimo e sair sem pagar a conta.
13) Tomar um porre e ser inconveniente em todas as festas de fim de ano.
14) Chamar o corrupto de corrupto.

15) Me arrepender de todos os excessos, ter um acesso de religiosidade, pedir perdão pelos meus pecados e rezar para que essa história de fim do mundo não passe de uma farsa.

sábado, 17 de novembro de 2012

No tempo do P& B


Não lembro se meu bom e competente amigo Márcio Pinheiro produziu algum texto para sua coluna e ZH Dominical (Jogo da Memória) sobre a série de tv inglesa O Prisioneiro. Antes de mais nada, deixem que  lhes diga que eu era fascinado pelas séries  da década de 60, na adolescência da TV no Brasil e,claro, ainda em P&;B. 

Diferente de hoje, quando a maioria das séries são comediazinhas de costumes, confinadas nos canais a cabo e com aquelas claques de risadas, nos anos 60 do século passado as produções primavam por roteiros mais instigantes, exigidos por séries como Os Intocáveis ( que virou filme de sucesso de Brian de Palma com Kevin Costner e Sean Conery ), O Fugitivo (que também virou filme,com Harrison Ford no papel do fujão dr.Richard Kimble),  Além da Imaginação (retratando um mundo paralelo, um clássico  que sobrevive até hoje na TV americana)   e Bonanza ( um faroeste que foi a primeira serie rodada a cores).

Eram todas produções americanas, dubladas e com trilhas musicais bem características que, mesmo hoje, saberia identificar com facilidade. O Márcio me perdoará se cometi algum equívoco, mas sei que ele vai concordar comigo que a série mais diferenciada daquela fase, cult diríamos, era a já citada O Prisioneiro,  cujo remake vem sendo anunciado pelos ingleses, com Jim Caviezel no papel título.

Para quem não teve o privilégio de assistir a serie original, aí vai um remember, direto do Google: “Considerado o Franz Kafka das séries de televisão, Patrick McGoohan criou, em parceria com George Markstein, um universo próprio, sombrio, repleto de dúvidas e inseguranças, tal qual o período sócio-político e econômico no qual a série foi concebida e exibida. Um agente  (interpretado por Patrick McGoohan) pede demissão de seu cargo para logo depois acordar em uma ilha, conhecida como Vila, onde uma nova sociedade o aguardava. Sua casa foi reproduzida em todos os detalhes, mas, da porta para fora, não era Londres que ele via, e, sim, uma espécie de resort para onde, supostamente, agentes do mundo inteiro, aposentados ou afastados, eram levados. Cada um respondia a um número. Nosso agente passou a ser conhecido como Número 6, tendo o Número 2 como uma espécie de governador do local. O Número 2 queria saber os motivos pelos quais o Número 6 tinha pedido demissão, resposta que nem ele e nem o público, conseguiu. Cada episódio era carregado de duplo sentido e metáforas. A série se transformou em matéria de Semiótica em faculdades dos EUA e Inglaterra. Até hoje é possível assistir e descobrir novos elementos, visto que o tempo fez com que símbolos e signos apresentados na série pudessem ter uma nova interpretação”
Na verdade, O Prisioneiro refletia muito daquele período, o auge da guerra fria, e é uma dessas produções, considerada à frente de seu tempo. Arriscaria incluir nessa relação as modernas Twin Peaks. de David Linch, e mesmo Lost, de J.J.Abrams, todas tendo em comum bons roteiros, bons diretores e uma história centrada em um grande mistério.

Em O Prisioneiro, uma enorme bola zelava para que os exilados na ilha não fugissem e esse elemento dramático se prestava a mil interpretações, assim como uma cena que ficou marcada como uma das mais representativas da polêmica série. Foi assim: o Numero 2 apresentou ao Numero 6 uma máquina fantástica, que poderia responder a todas as perguntas da humanidade (olha o  bisavô do Google aí) e desafia o Número 6 a fazer uma pergunta à geringonça cheia de luzes piscantes. O Número 6 encaminha a pergunta e em seguida a maquina começa a se autodestruir, até explodir de vez. Em pânico, o Número 2 questiona:

- Qual foi a pergunta?

- Por que? responde o Numero 6  e vira as costas para o interlocutor, enquanto sobem os créditos e surge a característica musical da série.


segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Deu pra ti, Facebook.

Acho que estou curado da síndrome do viciado em Facebook.  É que consegui ler um livro inteiro em apenas dois dias, depois de um longo tempo sem me dedicar a leitura. O responsável pela minha volta ao mundo dos livros foi o Claudinho Pereira e seu Na Ponta da Agulha, embalos da noite de Porto Alegre, conforme o subtítulo da obra. 

Benditas conversas na Feira do Livro do ano passado entre o Claudinho e o Márcio Pinheiro, da Coordenação do Livro da Secretaria Municipal da Cultura (SMC). Foi dessas conversas que começou a nascer a ideia do livro, materializado agora pela Editora da Cidade e encontrável no estande da SMC na Feira do Livro ou no da Palmarinca, que fica próximo ao pavilhão de autógrafos.

Nem lembro quanto paguei pelo exemplar, mas garanto que Na Ponta da Agulha vale cada centavo. O relato do Claudinho, testemunha presencial de praticamente todos os agitos da noite porto-alegrense nas ultimas décadas, é uma delícia de ler e mais ainda pela riqueza de depoimentos de quem participou diretamente de cada avento destacado. E que desfile de personagens! 
A mim chama a atenção o fato de que a noite da cidade já foi mais frenética, mesmo que os grandes eventos, os melhores shows e as principais novidades em termos de casas noturnas tenham ocorrido no tempo da ditadura, quando a repressão era presente no nosso dia a dia.  Talvez a resposta esteja justamente aí, a festa funcionando como fuga da realidade, mas acho que viajei na maionese. A propósito, conta o Claudinho , a expressão “viajar na maionese” seria criação de Sérgio Bini: “Por guardar maconha em um vidro de maionese, ele brincava – ‘Vamos viajar na maionese!’”
Os locais mencionados me soam familiares – Baiuca, Encouraçado Butikin, Le Club, Água na Boca – mas não devo ter frequentado uma décima parte das casas noturnas descritas no livro e quando o fiz foi na condição de convidado para alguma “boca livre”.    Mas tenho saudades da Barlândia, a quadra da Protásio Alves entre a Montenegro e a Palmeiras com inúmeros barzinhos (era assim que se falava) e uma  ou outra casa de show ,  isso a meia quadra da minha casa, daí porque me tornei um habitue nas noites de sábado com uma turma de apreciadores de cerveja e de mulheres bonitas. 

Lembro também de algumas incursões ao Ressaca, do Zé Antonio Daudt, ali na esquina da Luiz Afonso com João Pessoa, na Cidade Baixa.  Comparecia à casa  avalizado pelo meu primeiro editor, um maluco genial chamado Coi Lopes de Almeida, que agitava a redação da Zero Hora a partir da editoria de Esportes nos primeiros anos da década de 70 e que nos deixou tão cedo. Foi no mezanino do Ressaca que assisti a uma cena impensável: companheiros de mesa fumavam maconha sem constrangimento, enquanto o titular da Delegacia de Entorpecentes,  também grande figura ligada ao esporte e amigo de todos, sentado na mesa ao lado, não estava nem aí para o desacato.

Claudinho assistiu  a cenas mais chocantes, como  a do técnico de som que vira uma tocha humana e é aplaudido como se fosse atração do espetáculo, história relatada no capítulo dedicado ao Circo Escaler Voador. O  livro está repleto de outros causos, mais hilários e curiosos, como a estratégia usada por Elaine Ledur e Dirnei Messias para garantir o sucesso do lançamento da primeira boate de Porto Alegre  assumidamente para o público gay, a Flower’s. Conta aí, Claudinho: “Convidaram para um jantar quatro gays,que sempre figuravam entre as pessoas mais queridas e bem relacionadas da cidade. No jantar, contaram a bombástica novidade, em tom de segredo: Vamos abrir uma boate gay daqui a 30 dias, mas vocês não podem contar nada para ninguém. No dia seguinte toda a Porto Alegre já sabia da novidade”.
Por tudo isso, Na Ponta da Agulha é uma leitura prazerosa, que recomendo com entusiasmo. Agora, que venha David Coimbra e sua Uma História do Mundo. Deu pra ti, Facebook.