sábado, 3 de abril de 2021

Folhetim: A moça do supermercado - Capítulos 4 e 5

A moça do supermercado – Capitulo 4

A obsessão do maduro professor pela mocinha do supermercado crescia a cada  ida dele ao local de  trabalho dela.  A preferência era para o final de tarde, mesmo que fosse para comprar dois ou três pães cacetinhos e alguns fiambres para um lanche noturno, próprio de um solteirão. Ele já tivera muitos amores na vida, mas nada que o forçasse a dividir cama, mesa e banho com as parceiras. No caso de Alexia, já não estava mais enamorado, mas perdidamente apaixonado. Ela   tinha lá seus predicados estéticos, só que a diferença de idade conspirava contra o avanço na relação entre os dois, agora ainda restrita a atendente de caixa e consumidor.

Eventualmente passava pelas gondolas de  refrigerantes e aí sentia um constrangimento extra, porque era inevitável lembrar do Tio da Sukita, dos comerciais dos anos 1990, protagonizado por  um cinquentão como ele, que tentava paquerar uma jovem garota,  saboreadora do refrigerante Sukita. Os fora que ele  levava da moça, com um “desculpa, tio”,  faziam a graça da produção, de grande sucesso à época. Alexia provavelmente nunca teria assistindo àqueles comerciais, mas a recordação ficava martelando na cabeça dele, como se fosse uma acusação: Tio da Sukita! Tio da Sukita! Tio da Sukita. Temia que um dia seria chamado de tio.

Pior mesmo foi a vez em que estando junto a sua caixa preferida, pronto para estabelecer o diálogo com musa, ouviu uma voz estridente atrás dele:

- Professor, professor, o senhor por aqui! Que surpresa.  Estava mesmo precisando falar com o senhor.

Era Larissa, uma ex-aluna, daquelas que aprisionam os professores com suas conversas banais e que agora queria opinião sobre um livro que estava começando a ler. “Só vou continuar a leitura depois de ouvir a abalizada opinião do senhor”, sentenciou a chata de voz estridente,  diante de um interlocutor que tentava desviar o olhar daquele corpanzil, maneando a cabeça para poder acompanhar, logo adiante, os gestos graciosos de Alexia na sua faina rotineira.

Foram minutos seculares de não atenção à ex-aluna, enfim despachada com uma opinião que garantiria que ela perderia/gastaria um bom tempo com o livro questionado, em vez de ficar atazanando a paquera dos cinquentões.

O cerco a Alexia continuou. O professor passou a circular com tanta frequência pelo ponto de ônibus como pelo supermercado. Só não se animava a oferecer carona cada vez que avistava sua amada porque temia parecer invasivo. Imaginava a moça reagindo de forma intempestiva, acusando-o de assédio. Imaginava mais e pior: uma denúncia num jornal popular, com uma manchete do tipo “Professor tarado age no ponto de ônibus”, com uma linha de apoio assim:  “Tiozão começava oferecendo carona’.  Precisaria  mudar de cidade, quiçá  de estado ou mesmo do país, com a Policia Federal e a Interpol no encalço. Chegou a suar frio só de pensar nas repercussões de uma denúncia desse quilate contra ele que, afinal, era um educador.

O motivo aceitável para uma nova abordagem na parada foi uma chuva torrencial num fim de tarde de verão. A oferta  de  carona nessa situação seria um ato de generosidade e não um assédio, pensava ele. Dito e feito. Lá estava ela abrigando-se precariamente da chuva na parada lotada e sem proteção nas laterais. Quando ele encostou o carro, uma rápida buzinada chamou a atenção da moça que reconheceu o benfeitor e desta vez não hesitou em se instalar no banco do carona.

Molhada dos pés à cabeça, era uma visão para mexer e remexer com todas as fantasias do professor. Os cabelos estavam molhados e escorridos  como se recém tivesse saído do banho, a camiseta colada ao corpo realçava os seios de bicos salientes e aqueles joelhos e nacos de coxa tentadores e molhados eram  carentes do afago de uma toalha.

- Quem sabe a gente para em algum lugar para poderes te secar e até tomar um banho quente,- propôs o motorista, prenhe de más intenções

- Seria uma boa, mas onde?,- indagou a moça.

Capítulo 5 

* Fatos reais, personagens fictícios

(“E agora, convido ou não convido?”), pensou o professor, depois de sugerir que a moça do supermercado, sua caroneira molhada pela chuva dos pés à cabeça, deveria parar em algum lugar para secar-se e tomar um banho quente. A sugestão tinha alta dose de más intenções, mas ele ficou sem resposta, ou melhor, gaguejou outra coisa quando ela perguntou:

-  Seria uma boa, mas onde?

- Hã, sim, a tua casa é muito longe daqui?

Havia vários motéis no caminho. O preferido dele era o A2, sempre disponível e de preço compatível. Só que a moça merecia coisa melhor, tipo o Blue Star ou o Caliente, com seus apartamentos mais amplos e banhos que comportavam a movimentação de um casal debaixo do chuveiro, no caso ele e ela. Mas ele se acovardou e não levou adiante a proposta.

Pelo menos agora não teria a concorrência do motoboy andrajoso (“Maicon, Maichel, Michel, um bostinha...”) que interrompeu sua ´primeira carona à moça, encarapitando-a na sua moto de baixa cilindrada e escapulindo, soltando fumaça e barulheira, rumo a destinos suspeitos, imaginava o tiozão.

De novo foi Alexia quem tomou a iniciativa da conversa, relatando que precisava chegar logo em casa, trocar de roupa e “bora lá”, exclamou, para o aniversário da amiga Valdirene, a popular Val, colega de ofício, mas em outra rede de supermercados.

- Eu e a Val semos amigas deusde muito tempo. Agora a gente formemos um trio também com a Shayene, outra miga superlegal. O único problema da Shayene é que ela só veste roupas de cor salmão, aquela cor rosinha, sabe?! Parece um peixe, hehehe,- riu faceira.

Em nome da causa maior que era avançar na conquista da moça, o ´professor ignorou as flexões verbais que maltratavam o vernáculo e só conseguiu acrescentar um “muito interessante isso”, enquanto ela continuou a tagarelar  outras banalidades sobre suas relações de amizade.

Já caia a noite quando eles chegaram à casa dela, um modesto mas bem conservado chalé de madeira, cercado de outras casas simples, numa rua abandonada pelos serviços públicos, num bairro periférico. A casa da moça destacava-se das demais não apenas pela pintura verde musgo, mas também pela cerquinha de madeiras brancas na frente e um bem cuidado jardim florido, formando um conjunto até harmonioso, reconheceu o professor.  Eis que surge no portão da casa, uma cópia quarentona e também deslumbrante da sua musa.

- Aquela lá é a minha mamis, mas parece que é minha ermã, né?!- apresentou a garota, aparentando orgulho pela boa forma da senhora.

 (continua)

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