sábado, 24 de abril de 2021

Folhetim: A moça do supermercado – Capítulo 8

O professor voltou faceiro pra casa depois de conhecer a bela mãe de sua musa, ser convidado a entrar na casa dela e mais tarde levá-la à festa na casa da  amiga  Valdirene, culminando com o beijo  no rosto  recebido em agradecimento pela carona. Além disso, o convívio no carro com a moça proporcionou informações preciosas que poderiam se encaixar no seu plano ambicioso de conquistar o coração  e algo mais da querida.

Alexia tinha compulsão por  falar e assim disparava revelações e mais revelações, como a proximidade da mãe com um benfeitor, seu Armando, que nutria afetividade também  pela garota, no que era correspondido por ela, certamente não com as mesmas intenções.  O tal Armando era um bicheiro decadente em outra revelação de Alexia, que emendou mais uma: o amigo montara o salão de cabelereiro  para Suellen, “a mamis”. O estabelecimento, com o sugestivo nome de Salão da Suellen (“a mamis pesquisou muito  para usar este nome”),  era a principal fonte  de renda da família, “porque eu ganho uma merreca lá no super”,  explicou, queixosamente.  “A  vantagem é que nas  festa aqui na vila eu vou sempre com o cabelo bem legal e as unha bem bonita, porque a mamis é muito jeitosa com essas coisas de estética, é isso, né ?, de salão de beleza”, acrescentou, aproveitando para dar uma alfinetada na outra amiga, a Shayene: “Até  a Shay, aquela  que se veste com roupa cor de peixe e acha o máximo, me alogia nas festa. E os cara, então, pira!”.

Apesar dos  atropelos e das  discordâncias gramaticais e de fazer referência aos  “cara” , e foi inevitável lembrar do motoboy andrajoso , Adalberto se encantava com a tagarelice de Alexia.  Só não conseguia vencer a barreira da aproximação mais direta, declarar suas intenções, garantir à moça um futuro mais promissor, longe daquele ambiente em que vivia, cercada por caras como o entregador de pizzas e sob a permanente e impositiva presença do tal Armando, patrocinador familiar mal-intencionado.

Na adolescência ele tinha sido mais ousado, e logo veio a recordação de como, ali pelos 16 anos, roubou um beijo da amiga Maria Antonia,  quando subiam de elevador no prédio dela.  Por muito tempo ele  se vangloriou para os amigos contando e  recontando o episódio do beijo roubado. “De língua, de língua, e ela deixou”, sem acrescentar que a mocinha, na inocência  dos seus  12 anos, imaginava que poderia ficar grávida com o beijo. “Perdi a ousadia quando virei professor”, concluiu pesaroso.

Naquela noite, depois da incursão à casa de Alexia e da carona cheia de revelações, o professor sonhou que no lugar de Maria Antonia o beijo de língua no elevador fora na sua musa.

(continua)

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