domingo, 17 de outubro de 2010

Caso Kliemann em novo livro de Celito De Grandi

Euclydes Kliemann

Entre os cinco livros que estou lendo no momento tenho dedicado especial atenção a “Caso Kliemann, a história de uma tragédia”, da Celito De Grandi. Por circunstâncias familiares, me aproximei dos Kliemann e tive o privilégio de receber antecipadamente o livro, que será lançado na próxima quarta-feira, às 19 horas, na Assembléia Legislativa.

Celito, que já nos brindara com os excelentes “Diário de Notícias” e “Loureiro da Silva, o Charrua”, vai fundo na história que começa numa noite de inverno de 1962, quando “Porto Alegre e o Rio Grande do Sul souberam, aturdidos, do feroz assassinato de uma jovem senhora (Margit) que se notabiizara pela beleza, posição social e, especialmente, por ser esposa de um dos mais destacados e promissores políticos da cena gaúcha”, o deputado estadual Euclydes Kliemann.

O livro só foi possível porque as três filhas do casal Kliemann decidiram, após quase 50 anos, purgar o drama vivido no passado e colaborar com o autor, revelando informações preciosas sobre a vida dos pais no período dos trágicos acontecimentos. Imaginem o drama das três meninas enfrentando os piores pesadelos: o assassinato da mãe, a suspeita contra o pai, a morte a tiros de Euclydes quando enfrentava um desafeto político durante um programa de rádio, tudo isso alimentando as manchetes de uma imprensa sensacionalista e irresponsável (leia-se Última Hora), que contribuíram ainda mais para contaminar a já atrapalhada investigação policial. Eu tinha 12 anos na época, lia com interesse todas as reportagens sobre o caso e me atormentava imaginando o que faria se uma tragédia daquela dimensão ocorresse na minha família.

“Confesso que, de inicio, a idéia não me pareceu oportuna pelo tanto de sofrimento que deverá voltar à tona. (...)Sempre soubemos que o dia haveria de chegar, que alguém se interessaria pela nossa historia e que, mais cedo ou mais tarde, algo seria publicado. Assim, foi com uma espécie de alívio que me dei conta: o melhor é que isso ocorra de uma vez por todas”, escreveu a filha Virgínia, atualmente morando na França, concordando com a posição das irmãs Cristina e Suzana em colaborar com Celito.

Celito mergulhou durante quatro anos no projeto , num processo angustiante, confessa . O resultado é um trabalho minucioso de pesquisa, documentos e fotos inéditas, um relato isento e objetivo, tanto quanto foi possível diante de um caso tão rumoroso e carregado de emocionalismo. O jornalista e escritor foi beneficiado pelo distanciamento histórico adequado e novas fontes de informação, mas acima de tudo conferiu ao “Caso Kliemann” um tratamento sensível e respeitoso com os personagens do intrincado caso, mesmo os que talvez não merecessem.

Diferente foi a postura de uma parte da imprensa na época. O jornal Ùltima Hora notabilizou-se por sua cobertura sensacionalista e tendenciosa do episódio, produzindo outras vítimas além do casal Kliemann, no caso os familiares e particularmente as três filhas, impotentes diante do massacre diário da imprensa. A imprensa ganhou maturidade desde então e não há mais espaço para o sensacionalismo que era uma das marcas da Última Hora, tanto assim que os jornais com esse viés agora se autodenominam “populares”. Porém, ainda hoje observam-se desvios e escorregadas, como se pode constatar no mais recente Caso Daudt, que guarda algumas similaridades com o Caso Kliemann, inclusive nas implicações político-partidárias dos seus desdobramentos. Quando a mídia se traveste de polícia, advogado de acusação, corpo de jurados e juiz, a Verdade fica mascarada, a Justiça se fragiliza e toda a sociedade perde. O professor e jornalista Antonio Hohlfeldt analisa o tema com mais profundidade e propriedade no posfácio do livro.

Mas o tempo é o senhor da razão e no Caso Kliemann, como bem acentuou o prefácio de Luiz Antonio de Assis Brasil “O Rio Grande precisava deste livro para acertar contas com seu passado”.

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