domingo, 19 de dezembro de 2010

Fé e esperança

Sinto uma imensa inveja dos que tem fé e buscam na religião uma âncora segura para os momentos de infortúnio. Bem que gostaria de acreditar que um anjo da guarda nos protege contra todos os males, mas ele ainda não apareceu na minha vida ou, se apareceu, não percebi. Gostaria também de ter saído à imagem e semelhança da divindade, como reza o livro sagrado, mas minhas imperfeições depõem contra essa idéia. Não consigo imaginar um deus baixinho, fumante compulsivo, apreciador de uma boa cerveja - e esses até seriam os menores defeitos do clone divino.

Nascido e criado numa família de católicos, cedo me desgarrei e nem por isso me tornei uma pessoa melhor ou pior, mesmo porque os preceitos cristãos, a começar pelo respeito ao próximo, podem ser praticados independente de fé ou religião – e sem a culpa presente na maioria das crenças institucionalizadas. Ainda tento, mas não consigo explicar os mistérios da vida pela religião.

Talvez a mim esteja reservado o destino de Saulo, que não dava trégua aos seguidores de Jesus e, ao receber a luz divina, tornou-se Paulo e saiu a pregar a fé cristã pelos quatro cantos do mundo antigo. Seria muita pretensão virar santo, como Paulo? Para isso, precisaria ser ungido pela luz celestial, resgatar  a crença de que existe um ser supremo a nos guiar e que um dia vamos ao encontro dele para uma vida de eterna felicidade – ou não.

Também já acreditei em Papai Noel, o deus vermelho da criançada, mas o velho andou me frustrando lá na antiguidade e decidi largar ele de mão. Com isso, me restam poucas coisas em que acreditar e esse vazio me incomoda. Quero voltar a ter fé, encontrar na religião a resposta para todas as dúvidas, idealizar que existe vida além desse vale de lágrimas e que alguém muito poderoso cuida de cada um de nós.

Se falta fé, não falta esperança. A esperança que se renova, como a vida se renova, queiramos ou não, a cada novo ano que chega. Proponho, então, a todos os que perderam a fé, mas são homens de boa vontade, um brinde à esperança, que é só o que nos resta, é muito e é tudo.

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