*Publicado nesta data em coletiva.net
Os futurólogos das redes
sociais já fazem previsões sobre o futuro
da humanidade pós-pandemia. As análises variam da chegada dos Quatro
Cavalheiros do Apocalipse, anunciando o
fim dos tempos, a um novo Éden
na Terra, claro que sem Adão e Eva com a folha de parreira cobrindo as
partes, porém, com todos nós convivendo sem egoísmo e cheios de generosidade e
amor pra dar.
O lado cristão que habita
em mim jura que eu gostaria que vingasse a segunda opção, com muitas doses de
empatia, empatia e empatia, e outro tanto de gratidão, mas lamento informar aos
sobreviventes que o Futuro Novo Normal não vai ser assim.
Prevejo o pior dos
cenários, particularmente na bolha
Brasil. Sou um cético militante, o que não deixa de ser um mecanismo de defesa
para expectativas não correspondidas. E,
no caso do futuro pós-pandemia, reverente e realisticamente, o DutraTrend se alinha ao filósofo e escritor Luiz Felipe
Pondé, que publicou em março um texto
devastador a respeito na Folha de S.Paulo.
Para ele, seremos mais solidários durante a pandemia, mas passada a
peste, a maioria voltará a ser como sempre foi, ostentando sua vivência
consumista; o mundo estará mais pobre, os pobres mais pobres, porque haverá
menos dinheiro circulando; mecanismos de controle invasivos serão valorizados
em nome da segurança social e da saúde, em detrimento da liberdade; e viveremos
num mundo mais remoto e, por isso mesmo, mais solitário. Vamos nos transformar
num enorme BBB, onde todos serão vigiados o tempo todo, acrescento eu.
Pouco ou nada aprendemos
com as crises sanitárias e financeiras ou com os grandes conflitos do passado
para a constituição deste Novo Homem que, ingênua ou falsamente, se anuncia,
mas que não será dessa vez que ele vai aparecer. As conquistas, as invenções,
os novos processos e benefícios que experimentaremos daqui para a frente serão,
essencialmente, frutos de pesquisa científica e dos investimentos maciços em
tecnologia e menos da mudança de comportamento dos humanos. Mesmo agora,
quando se saúda avanços no ensino on line, no reinado dos aplicativos, na maior inserção no mundo digital, nas novas
formas e relações de trabalho, nas ofertas de transportes alternativos e
outros procedimentos que foram adotados
em função do isolamento social, cabe debitar à pandemia apenas o mérito de ter
acelerado processos que já estavam em curso entre nós.
Pode ficar pior lá na
frente. O historiador e filósofo israelense Yuval Noah Harari no seu livro Homo
Deus: Uma Breve História do Amanhã,
prevê que o fim do Homo Sapiens – êpa, somos nós!- está a um século de
distância, ou três gerações adiante. Surgirá, então, o Homo Deus, um ser que manterá algumas
características humanas acrescidas de capacidades que seriam reservadas aos
deuses. Segundo Harari, essa nova classe de pessoas, pelo desenvolvimento das
ciências da vida e da inteligência artificial, vai resultar numa sociedade
opressiva, totalitária e de efeitos nefastos, aprofundando as desigualdades
devido a supremacia de uma elite cada vez mais minoritária. Temo pelas
gerações futuras.
Por enquanto, sem muita
especulação sobre o futuro e modesto nas minhas pretensões, já ficaria bem
satisfeito se o combate a Covid-19 pelo menos deixasse como legado mais
recursos e melhor estrutura para o atendimento em saúde da população,
especialmente a mais vulnerável, e se for com menos desvios das verbas
públicas, melhor ainda.
Mas volto ao Pondé e à
pior de suas previsões, ao afirmar que o
futuro reserva à esmagadora maioria da
população pedir esmola, seja do Estado,
seja nas ruas, - o que, na verdade, já está acontecendo. Só espero não
chegarmos ao estágio daquela piada apocalíptica, do sujeito que chega para o
outro e indaga:
- Prefere a boa ou a má notícia primeiro?
- A boa!
- A humanidade vai ter que se
alimentar de cocô !
- Bah, mas e qual é a notícia ruim?
- Não vai ter cocô para
todos.
Escatologia à parte, roguemos para que tudo isso seja um
grande engano e que vamos sair dessa rumo ao Futuro Novo Normal, de onde
emergirá o almejado Novo Homem, pleno de felicidade e cheio de bondade, e não o
ancestral do elitista Homo Deus de que fala Harari. De novo, roguemos, com sinceridade e fervor.
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