* Publicado em 25/05 em coletiva.net
Meu bom amigo
Diogo* é um cara de múltiplos interesses e atividades variadas que o
levam a ser alvo de tentações a todo o instante. Até mesmo nas
proximidades da sua base profissional mais efetiva, no momento, ele
tem recebido ofertas, as mais ousadas e desinibidas possíveis, de serviços e
pessoas muito profissionais. Coisas do tipo Love Point (“para homens de
bom gosto”), Vip Class (“realize suas fantasias”), Brazil (sim, com z) Privê
(“ambiente discreto e climatizado”), Casarão (“o melhor privê de Porto Alegre),
Super Top (“mais de 20 gatas”), Carmen’s Club (este dispensa apresentações)
e de todo o tipo de massagens, inclusive à domicilio. As ofertas são
apresentadas em pequenos folhetos distribuídos aos passantes, ou colocados nos
vidros dos carros e invariavelmente ilustrados com moças dotadas de elogiáveis
calipígios. Chama atenção que são aceitos todos os de cartões de crédito das
mais conceituadas instituições bancárias.
E o que o bom
Diogo tem a ver com isso? Muito pouco, a não ser o fato de que ele
tem sido vítima constante dos distribuidores dos tais prospectos eróticos,
tanto assim que já se questiona se não passa a impressão de que está com
saudade daquilo ou, o que é pior, aparenta ser uma pessoa devassa, ávida
para desfrutar momentos de luxuria nesses mal afamados locais. Homem de
boa índole, marido amoroso, cidadão de conduta exemplar, o coitado do Diogo se
martiriza com a situação.
O martírio dele,
diante das tentações, se agrava quando desempenha outra atividade,
recepcionando delegações do exterior, autoridades ou empresários que aqui
aportam em busca de negócios. O trabalho é gratificante, mas coloca
nosso amigo em cada saia justa que vou te contar. Recentemente, ele precisou
reservar acomodações para cinco estrangeiros e como todos os hotéis
estavam lotados a solução foi contratar apartamentos em um motel da zona leste,
depois de muita conversa com o gerente explicando a origem dos visitantes e a
emergencialidade da hospedagem. Tudo acertado, à noite Diogo voltou
ao motel para apanhar os estrangeiros e levá-los para jantar. À saída do
estabelecimento , com a sua van carregada dos estrangeiros, um grupo de homens
altos, fortes, quase gigantes de ébano, foi surpreendido por um casal de
idosos que passava pelo local. Diogo ainda tentou afetar naturalidade, mas pode
ouvir claramente quando o homem comentou com a mulher:
- Pouca
vergonha, como permitem uma coisa dessas aqui na vizinhança?!
Pior foi a
resposta da senhora:
- Como ele
aguenta esse montão de homem?!
Apesar do
reconhecimento dos visitantes ao acompanhante, expresso em animados
discursos durante o jantar, Diogo estava transformado em um farrapo
humano, lembrando o casal de idosos e suas insinuações sobre o que teria
acontecido no recôndito do motel.
De outra feita,
igualmente recebendo um grupo de estrangeiros, o mais saliente dos visitantes
insinuou que gostaria de conhecer uma casa noturna cuja fama chegara a sua
terra, transmitida por viajantes que o precederam. Num inglês enrolado
deu a entender que era o Gruta Azul, conceituado
estabelecimento que, eventualmente, permitia que as belas moças que transitavam
pelo local fossem cooptadas para programas, como direi...mais movimentados.
Pedido
insinuado, pedido realizado e lá se foi nosso amigo ciceronear o grupo no Gruta
Azul. Antes, deixou claro que não ficaria para a noitada, porque, como já
sabemos, não era homem dado a frequentar esses lugares. A
desculpa para os gringos foi outra, mas antes de deixá-los instalados num
camarote vip, fez mil recomendações ao gerente, exigindo que fossem tratados
como realezas e recebessem do bom e do melhor.
Diogo confessa
que foi pra casa com aquela ponta de desassossego a perturbá-lo. Aquele
bando de estrangeiros soltos no Gruta, bebida à vontade, as moças rondando e
ninguém para controlar...Margem de risco enorme. O sono custou a vir e, quando
chegou, foi entrecortado por despertares em sobressalto. Até que o
telefone tocou na madrugada e ele prontamente atendeu. Do outro lado da
linha, ouviu um coro:
- Diogo, Diogo,
Diogo! Thank you, Diogo. Obrrrigado, Diogo. Diogo, Diogo, Diogo!
O nome dele,
pronunciado daquela forma e com sotaque estrangeiro, foi um momento
emocionante, embora o coro fosse poluído por gritinhos femininos ao
fundo. Pelo jeito, era uma fuzarca e tanto!
Pelos serviços
prestados e a atenção dispensada aos visitantes, Diogo assumira a condição de
ídolo, só que estava bloqueado para aproveitar as benesses decorrentes das suas
relações internacionais. Por isso, consciente das suas aflições,
lamentava-se no dia seguinte, repetindo uma frase que já estava virando bordão
no caso dele:
- Agora só me
resta aderir à massagem tântrica.
*Nome fictício de personagem
real.
**Editado a partir do original já publicado aqui no Viadutra
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