Pensei que já tivesse visto de tudo, mas inventam cada uma que vou te contar. Exemplo vem de pessoa amiga, moça culta e bem situada na vida, que aderiu a uma tal de “cirurgia dos espíritos”. Não tenho mais detalhes do que se trata, só sei que a pessoa precisa vestir uma camisola branca, espargir sal pelo quarto e acender velas para “chamar” o espírito que vai curar o mal que a aflige. O restante da família deve sair de casa, deixando a “paciente” a sós com o espírito.
A filha adolescente da moça, impressionada com a descrição do ritual, nem queria voltar para casa e deu uma trabalheira explicar para a menina porque a mãe receberia em trajes íntimos um estranho no quarto do casal, mesmo que fosse um espírito curador. A amiga jura que o negocio funciona, tanto assim que apareceu mais coradinha na firma, embora continue mandona como sempre.
Vai daí que um amigo comum sacou que o procedimento esotérico poderia ser uma boa desculpa para suas escapadelas. E começou a se queixar insistentemente de incômodas dores nas costas, dando a entender que poderia estar acometido de grave enfermidade. A família entrou em pânico diante do sofrimento do seu ente querido, mas o insensível deu seguimento a sua desfaçatez . Logo começou a invocar uma entidade chamada “O Mestre, O Sacerdote dos Espíritos”, indicado por um conhecido que tivera uma prima curada de doença crônica. “O Mestre é um bambambã espiritual”, assegurava o bandalho, para tranqüilizar a família.
Ato seguinte, marcou uma série de sessões, sempre as quartas e sábados à noite, com O Sacerdote dos Espíritos. Não, de jeito nenhum, deveria ser acompanhado por qualquer pessoa nas sessões, explicou. O encontro com a espiritualidade exigia isolamento e muita tranqüilidade: “Vou ser inundado de luz”, era a explicação. Até por isso, as sessões aconteceriam do outro lado da cidade, distante das influencias ambientais que poderiam perturbar a superior comunhão espiritual que levaria a cura dos males daquele corpo sofrido.
A verdade verdadeira é que até as pedras da rua sabiam que tudo não passava de uma farsa. Na real, a “entidade” era uma colega de trabalho, com mais atributos físicos do que espirituais. Mesmo assim fazia um bem danado ao nosso amigo, que chegava em casa depois das sessões e ia direto para cama, onde dormia como um anjo, sem que a família desconfiasse de nada. O cara era profissional, até nos detalhes, pois fazia questão de espalhar sal grosso pelo quarto do motel e queimar algumas velas. “Vamos que eu leve um flagra, preciso de elementos comprovatórios dos rituais, vamos que...”, justificava. Bandalho profissional, sem dúvida.
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