sábado, 14 de novembro de 2009

Porto da Cultura

Na sexta-feira retrasada precisando fazer hora para um compromisso profissional (sim, eu trabalhei no Dia do Servidor Público) decidi visitar a Usina do Gasômetro. E deparei com duas mostras da melhor qualidade e aparentemente sem qualquer relação entre si. Logo na entrada estão os painéis da exposição Os Gaúchos nas Copas, resultado de um minucioso trabalho de pesquisa do Cláudio Diensteman, a serviço da Secretaria Extraordinária da Copa de Porto Alegre. Adiante, ainda no andar térreo, outra preciosidade para a nossa sensibilidade: Tempestade, uma coletânea de vídeos relacionando o tempo, as mudanças climáticas e as intervenções do homem , nem sempre benéficas, em ambientes naturais adversos. Tempestade tem a grife do mago Marcello Dantas como coordenador, ele que é responsável pela concepção e execução do estande de Porto Alegre na ExpoShangai 2010.

Mas que me chamou a atenção mesmo foi a presença maciça de jovens, aquele gurizada de colégio com suas câmeras fotográficas, na mostra Tempestade. E eu que achava que a exposição das Copas, em função do apelo que o esporte sempre exerce sobre as novas gerações, é que deveria atrair os estudantes. Mas não, a saudável algazarra estava concentrada mais adiante, talvez porque Tempestade, pelo formato da mostra com vídeos impactantes, tenha um apelo muito mais forte do que os painéis da Copa, bonitos, bem ordenados, mas estáticos. O inquieto Caco Coelho, diretor da Usina, diria que é a virtualidade que atrai a garotada.

Agora como explicar que, a caminho da Usina, tenha deparado com outras levas de crianças e jovens visitando a nem sempre compreensível Bienal do Mercosul, ali no Cais do Porto? Existe um projeto pedagógico, eu sei, inclusive com transporte gratuito para escolas. Mas isso por si só não explica esse interesse crescente das novas gerações pelas manifestações culturais de todos os tipos, que se replicou com força na Feira do Livro que está terminando.

Não consigo todas as respostas, mas suspeito que Porto Alegre tenha assumido a maturidade na oferta de cultura para todos os gostos e todos os segmentos. Ali mesmo naquele eixo central da cidade movimentam-se levas e levas de pessoas na Feira do Livro, na Bienal do Cais e nas suas extensões do Margs e do Santander Cultural e ainda há público para os eventos da Usina, da Casa de Cultura Mário Quintana, do Centro Cultural CEEE, do Memorial do Rio Grande do Sul e das pinacotecas que funcionam no Paço municipal. E daqui a pouco surge, junto a Câmara de Vereadores, o novo Teatro da Ospa e mais o Centro Cultural da CEF na Praça da Alfândega. Ou seja, um verdadeiro corredor cultural, colocando em evidência as artes plásticas, o teatro, o cinema, a música, a literatura, a preservação do patrimônio e a memória.

Temos grandes eventos que movimentam a cidade o ano inteiro: as 24 horas de Cultura, dentro da Semana de Porto Alegre, o Festival de Inverno, o Porto Alegre em Cena, a já citada Feira do Livro, o Porto Verão Alegre, a permanente Usina das Artes, o instigante Fronteiras do Pensamento, a cada dois anos a Bienal do Mercosul e a Bienal B, e, ainda, o Carnaval e a Semana Farroupilha por outro viés, mas com os pés fincados na cultura. Isso sem falar nas centenas de outros acontecimentos de todos os portes e de todas as artes, promoções estatais ou privadas. Além disso, Porto Alegre já faz parte do circuito nacional dos grandes espetáculos e não têm faltado atrações internacionais aportando por aqui, graças à qualificação do público e dos equipamentos oferecidos.

Assim é inevitável que essa livre fruição cultural chegue às crianças e jovens, participantes ativos do processo que vai resultar na natural renovação do público. Claro que o incentivo das escolas, dos pais e os esforços do poder público e dos promotores da cultura exercem papel fundamental no processo. Sem a pretensão de esgotar a questão ou produzir um ensaio além da minha capacidade, acredito que a cultura pode ser a grande vitrine de Porto Alegre para a Copa 2014, de modo a nos diferenciar das outras cidades sedes, certamente mais atraentes em termos turísticos e em outros quesitos. Porto da Cultura, essa deve ser a nossa bandeira.

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