quinta-feira, 19 de novembro de 2009

O Circo de Petrópolis vai à Praia - final

*Recomenda-se ler a postagem anterior, em 18/11


O aguerrido exército brancaleone de Rondinha, em 1974, na Praia da Cal: da esquerda para a direita, acima, Roberto, Medina, este que vos fala, Piero, Mário e Beto; agachados: Sérgio Português, Dedé, Falcetta, Juquinha e Julinho Sarará. (Foto Arquivo Caldas Junior)

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Outra alternativa para as viagens era lotar uma Kombi, pilotada pelo Rebelde, com partida na noite de sexta-feira, utilizando a Capivari-Osório e depois a Inrterpraias e a beira da praia. Junto iam os instrumentos musiciais, aos cuidados do mestre Galego, porque onde estivesse a turma de Petrópolis estaria também a banda. A chegada daquele verdadeiro exército brancaleone à Rondinha era uma festa. As cervejas estavam nos esperando e às vezes era servido um carreteiro com muito arroz e pouca carne, seguidos das primeiras performances musicais.

Durante o dia o ponto de encontro era a lancheria do seu Lotufo, junto a Rodoviária, onde se podia comer um honesto sanduíche para contrapor às muitas cervejas. O Hotel Rondinha, que hospedava os veranistas do SESC, era freqüentado sempre na esperança de tentarmos uma integração maior com as comerciarias. Conheço gente que se deu bem na empreitada sesqueana. Na época, o fornecimento de energia elétrica era precário e só nos fins de semana a pequena usina que abastecia e região prolongava o abastecimento até mais tarde, permitindo os bailarecos na Saron ou o mexe-mexe na boate Biafra, outra invenção do Beto que adaptou uma peça da sociedade para atrair a gurizada da praia. Nos outros dias, ali pelas dez da noite, vinha o sinal com três piques na eletricidade anunciando que em seguida seria cortada a luz. Casais recém formados aguardavam com ansiedade o corte de luz para uma pegada mais firme, que ninguém era de ferro e a escuridão, um manto protetor. Gente,é incrível, mas nem faz tanto tempo assim.

As noitadas se prolongavam, não interessando se havia jogo na manhã seguinte. E assim o valoroso time de Rondinha ganhou conjunto, mas fora de campo, nas mesas de bar e nas rodas de samba, dando início a amizades que perduram até hoje. Isso porque o time foi formado a partir da reunião de um grupo de petropolitanos aos quais se agregaram os amigos dos amigos. O resultado dessa mescla até que era promissor em termos esportivos não fosse o fato de que todos compartilhavam o mesmo prazer pela cerveja e pelas noitadas. Realmente, neste sentido, era uma equipe homogênea.

Nossa chave era a Norte, enfrentando adversários fortes e tradicionais como Torres, formado pelo pessoal da terra que apelidamos de marisqueiros, Praia da Cal, time de caxienses com o Pauletti, craque do salão, Bom Jesus, que sempre apresentava boas equipes e Arroio do Sal, à época ainda distrito de Torres e que não era páreo para os demais. O time de Rondinha era esforçado, brigador e com alguns jogadores de boa técnica, mas na hora da bola rolar pesava o retrospecto das atividades fora de campo. Além disso, a areia fofa da beira da praia exigia mais, exaurindo logo os atletas tresnoitados. O resultado é que viramos saco de pancadaria da chave. A exceção era Arroio do Sal que nos salvava do vexame completo.

Na última temporada, precisávamos de pelo menos uma vitória e o jogo final seria contra Arroio do Sal, que já estava desmobilizado. Domingo de manhã cedo reunimos o pessoal, só Deus sabe em que condições, e nos tocamos para Arroio, cerca de dez quilômetros ao Sul, em busca de uma vitória redentora. Lá chegando, encontramos o adversário com apenas seis jogadores. A regra é clara, como diz o Arnaldo: time com menos de sete jogadores leva WO. E nós precisávamos fazer placar para tentar o milagre da classificação. O pessoal de Arroio do Sal que não tinha nada a perder, a não ser a dignidade, para dar quorum concordou em enxertar um ou dois jogadores recrutados na hora. O representante da Federação, que eu conhecia da redação da Folha, fez vistas grossas e o jogo saiu. Ainda assim penamos para fazer três gols e a memória me trai para saber se foi suficiente para passarmos à fase seguinte. Mas a vitória nos reanimou e ali mesmo em Arroio do Sal começaram as comemorações que se estenderam a Rondinha e tarde a dentro. Regadas a cerveja, é claro.

Um comentário:

  1. Imenso prazer este blog. A foto da esquadra SARON passa a ser meu único registro daqueles
    tempos inesquecíveis, uma vez que fui perdendo
    os outros ao longo dos anos. Saudades Flávio
    "cabeça", Luciano, Beto(soube de sua passagem).
    Moro no Rio há trinta anos. Jamais esquecerei
    tudo e todos. Sensacional!!!
    Eterna Gratidão.

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