Comecei a trabalhar aos 17 anos e lá se vão mais de
45 anos. Cruzes, agora que fiz as contas
é que vi como o tempo passou. Minha inquietude me levou a sempre buscar novos
horizontes, novos aprendizados (o pessoal gosta de falar em novos desafios) e
com isso nunca fiz carreira por onde passei e foram tantos os empregadores que
tenho até medo de contabilizar todos eles.
As exceções talvez fiquem por conta das
passagens pelas rádios Guaíba e Gaúcha, sete anos e um pouco em cada uma. O
rádio sempre foi minha paixão, daí porque tenha ancorado mais nesses dois
empregos, ainda mais que lidava com o esporte, outra paixão. Apesar de ser recordistas de entradas e
saídas da RBS – cinco vezes, saindo sempre por iniciativa própria – nunca
recebi o reloginho e o troféu entregues pela empresa aos jubilados, que começam
a ser agraciados com 10 anos de firma. Isso
não é motivo de frustração, nem de mágoa com a empresa. Na verdade, sempre me orgulhei das empresas
onde trabalhei, a maioria do ramo da comunicação. E quando a relação não estava a contento,
picava a mula.
Trabalho é meio de sustentação, mas é também caminho
para realização profissional, é aprendizado permanente e forma de convivência,
de novos e duradouros relacionamentos, que, afinal, é o que fica e o que se
leva dessa vida.
Por isso é tão difícil a despedida, mesmo para quem
já passou por esse processo inúmeras vezes.
Pode não parecer, mas sou uma pessoa emotiva, contida mas emotiva. E
cada despedida é um suplício porque exige desapego, deixar para trás relações e
afetividades que talvez não se repitam. Eu
devia estar acostumado, mas não adianta. É preciso sair, mas querer ficar e essa
esquizofrenia é torturante, mesmo para a pessoa mais calejada. Fico moído de emoção. Pelo menos, com o tempo, tenho conseguido fingir melhor, a exemplo do
poeta descrito por Pessoa, “um fingidor; finge tão completamente que chega a
fingir que é dor a dor que deveras sente”.
Para que não pensem que tem só melancolia nas
despedidas, deixem que lhes diga que graças ao mais recente episódio minha
adega se renovou em qualidade e quantidade. Obrigado aos que assim me
mimosearem. O sagu aqui de casa está garantido por um bom tempo.
Tenho certeza que fizeste carreira por onde passaste, meu nobre colega e amigo. Uma carreira que valorizou antes de tudo, a fidelidade, o respeito e a autonomia profissional. Isso conta pontos e faz criar sempre novas amizades e muito mais do que isso, propostas de trabalho, em espaços às vezes inéditos. E sei muito bem que serás "caldável" neste mercado da comunicação por muitos e muitos anos. Por enquanto, boas caminhadas à beira do Guaíba, para assegurar quilos de sagu sem culpa.
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