domingo, 27 de julho de 2014

Eu só queria saber o saldo

O que seria uma simples consulta ao saldo transformou-se num desses pesadelos kafkianos que atormentam nosso cotidiano. Rimou e é verdade.  Aconteceu no sábado quando procurei um posto de autoatendimento da Caixa para conferir o saldo da conta corrente e a máquina informou que o cartão estava cancelado.  Como os terminais da CEF não são os mais confiáveis troquei de máquina duas vezes o veredito se repetiu: “Cartão  cancelado”.  Como assim, cancelado? Não pedi e não fui informado,  se a iniciativa foi do banco.

Imediatamente liguei o 0800 do SAC indicado atrás do cartão.  Começava, então, a maratona de contatos com as centrais de atendimento da Caixa e meu calvário no fim de semana. No primeiro contato, depois de digitar uma série de números (número do cartão, ano e dia do nascimento, e os números que direcionavam para os serviços pretendidos), ouvir quanto devo na próxima fatura do cartão de crédito (não é muito), qual o meu saldo (por sinal, bem razoável se considerarmos o alto limite  que me oferecem)  chego ao atendente, após ouvir a informação de que a conversa será gravada “para sua segurança”, ou seja, tudo o que estou relatando deve estar armazenado num servidor – se bem que a Caixa prima pela incompetência e fica minha dúvida quanto ao arquivamento. Eis que chega o atendente:

- Central Caixa, Jossiano. Com quem eu falo?*

Informo o nome completo e passo por um rápido interrogatório: CPF e nome da mãe (começo a me irritar por envolveram a saudosa dona Thélia neste processo),  relato o ocorrido (“Eu só queria conferir o saldo...”) e levo o primeiro drible:

- Senhor, aqui é o Serviço de Atendimento ao Cliente. Não tratamos dessa questão aqui. O senhor está falando de uma capital ou outra cidade? Para Capital ligue 4001.4425. Para essa ligação seu protocolo é... Tenha um bom dia.

No número indicado foram três ligações e novamente a maratona de digitações de números até que uma moça atendesse, depois de três ligações derrubadas intempestivamente na última etapa – a de falar com a atendente. Numa das ligações foi só eu alterar o tom de voz, já irritado, para ouvir o tutututu (está tudo registrado no meu celular). Quando consigo falar com  moça, novamente tenho que informar o CPF e o nome completo da dona Thélia para que a conversa siga adiante, mas não muito porque a atendente logo informa, com aquela vozinha anasalada:

- Senhor,  aqui só tratamos de cartões de crédito. Com seu cartão de crédito está tudo bem. Para cartões de débito o senhor deve ligar para 3004.1105 se estiver falando de uma Capital...

- Mas moça, porque não me informaram  já na primeira vez que  o número era outro.  Me fizeram perder tempo. Qual o número do protocolo desta ligação?

- Senhor,  não temos número de protocolo para essa ligação.  E não podemos resolver aqui o seu problema.  O senhor deve ligar para...

E por assim dizer me manda pras cucuias. E lá vou eu para mais um enfrentamento com os monstros invisíveis das centrais de atendimento.

Foram duas ligações para o 3004.1105 (que não consta entre os fones para contato atrás do cartão),  mais 29 números digitados porque agora pedem  os códigos da agencia e da conta e, ainda,  a minha senha, além do zero, que é a última opção para chegar a atendente. No meio desse entrevero fico sabendo novamente do meu saldo, recomendações  sobe segurança e novas ofertas de serviço, até ouvir:

- Cartões Caixa, Kellen. Com quem eu falo?

Informo, dou o número do CPF, repito o nome da saudosa dona Thélia, explico o que ocorreu, tentando controlar a irritação, e sou surpreendido com a resposta da Kellen:

- Senhor, este problema deve ser resolvido na sua agencia, com o gerente da sua conta.

- Isso significa que vou passar o fim de semana sem poder usar o cartão de débito.

- Senhor, este problema deve ser tratado diretamente na sua agencia.

- Mas moça, como é que eu faço...

- Senhor, este problema deve ser tratado diretamente na sua agencia.

Resumo da ópera: foram oito ligações no total para três números diferentes e entre 25 a 30 números digitados em cada ligação o que totaliza algo como  mais de 200 digitações, para, ao fim e ao cabo, ficar  sem usar o cartão, além da perda de  um tempo precioso na segunda-feira para explicar ao vivo e a cores (“Eu só queria saber o saldo...”)  e tentar liberar meu cartão porque as contas não esperam.

Não é o primeiro transtorno que a Caixa me apronta. Vou poupá-los de mais chateações bancárias. Até aqui suportei resignado, mas agora deu. Deu pra ti, Caixa – o pior banco do mundo.

* Nomes dos atendentes fictícios porque eles também são vítimas dessa prepotência do sistema financeiro.


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