*Publicado nesta data em coletiva.net
O anúncio de que a
Prefeitura de Porto Alegre vai revitalizar a Travessa Mário Cinco Paus no
Centro Histórico me remeteu ao texto que cometi
em, 2013 e depois publiquei no
livro Quando Eu Fiz 69.. ‘ O Homem que
eu Invejava’ é o título da crônica sobre a figura que ficou na história da
cidade pela sua atuação na primeira metade do século passado, especialmente
como rábula, ao exercer a advocacia sem a formação universitária.
Desde que me conheço
por gente ficava intrigado, com certa inveja, sobre o nome dado àquele espaço
público entre a rua Uruguai e avenida
Borges de Medeiros, que já foi um beco e hoje é local de grande circulação pela proximidade com terminais de ônibus urbanos
e porque ali funciona o serviço de atendimento ao público da Secretaria
Municipal da Fazenda.
Entre
uma e outra piada de baixa extração com o nome dado ao logradouro, surgia a
questão: quem foi Mário Cinco Paus? Teria mesmo o nosso Mário cinco órgãos
genitais? Como funcionariam: em paralelo, se completando, como
pistões de um carro, uns subindo outros descendo? Era um homem realizado e de
bem com a vida com seu instrumental diferenciado? E as parceiras do bom Mário
como reagiam diante de cinco espetáculos do crescimento? E as pobres filhas do
Mário, com esse sobrenome invulgar, como devem ter
sofrido com brincadeiras de mau gosto, o antigo nome do bulling, nas
escolas e outros locais que freqüentavam?
Agora graças à
diligente pesquisa do cronista Nilson Souza descubro que nada disso faz sentido
e que Mário Cinco Paus tem uma biografia
bem mais nobre e movimentada do que imaginava, a merecer, assim, mais do que os 60 metros de homenagem numa
alameda mal cuidada entre dois prédios públicos. Diferente da informação
original a que tive acesso e que dava conta de que o Cinco Paus era um apelido
recebido pela habilidade do nosso Mário no popular jogo do palitinho, na
verdade, o apêndice ao nome é sobrenome.
Apresso-me a resgatar
os destaques biográficos do honrado cidadão, até como forma de me redimir pelos
equívocos do passado. O sobrenome Cinco Paus foi herdado do pai Álvaro, que morreu numa troca de tiros no
Clube Monte-Carlo com um tal de O Beija Flor, este sim um apelido de Elpídio
Fernandes da Silva, O registro é do jornal A Federação em 30 de dezembro de
1920. No convite para a missa de 30 dias
do falecido lá aparece o nome do filho Mário.
A pesquisa do Nilson Souza em jornais antigos
registra que o Mário Cinco Paus nasceu em Porto Alegre em 1890 e faleceu em
maio de 1940. Nos 50 anos bem vividos,
Mário atuou no jornal A Federação (órgão do Partido Republicano Riograndense,
que propagava as idéias positivistas de Julio de Castilhos), passando depois
para o Diário e outros jornais da época, sempre como repórter policial.
Conquistou grande popularidade com essa atividade.
Era muito destemido e certa vez excedeu-se na sua
função de repórter. Ao testemunhar o assalto a uma casa de câmbio na Rua da
Praia saiu em perseguição dos assaltantes, de arma em punho, antes da chegada
da Policia. Depois participou do cerco aos criminosos, sempre reportando os
acontecimentos durante os cinco dias em que ficaram encurralados. As matérias que produziu tiveram grande
impacto na época.
O sucesso na reportagem policial levou Mário a se aprofundar nos
estudos jurídicos, tanto que conseguiu
habilitar-se como advogado provisionado, o rábula. Também como advogado foi
bem-sucedido, sendo um dos mais requisitados criminalistas de Porto Alegre na
sua geração. As prostitutas deveriam erguer-lhe um busto, pois um dos casos de
maior repercussão em que se envolveu garantiu às moças o direito de
permanecerem na rua, diante de suas casas, o que a Polícia proibira.
Feito este resgate, pretendia
sugerir para que se adaptasse a denominação da travessa para o nome fantasia
Mário Cinco Membros ou Mário Bem Dotado, mais adequados aos tempos politicamente
corretos em que vivemos. Só que isso manteria Cinco Paus na sua acepção de apelido. Então,
me apresso a retirar a proposta. Ao
mesmo tempo saúdo o verdadeiro significado, porque lá se foi minha inveja
adolescente e meu complexo de inferioridade diante do que sugeria o nome desse
verdadeiro filantropo.
Brincadeiras à parte,
faço esse registro como forma de evidenciar para a atualidade um dos tantos
personagens que marcaram época na nossa
Porto Alegre de 250 anos, num tempo em que éramos a Cidade Sorriso. Mesmo que o
personagem ostente um sobrenome singular e até por defender de forma altruísta
as moças de vida não tão fácil.
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