*Publicado nesta data em coletiva.net
Cansado de implicar com
o BBB decidi que era hora de assistir à atração televisiva que confina um bando
de sub celebridades, mexe com milhões de brasileiros e infesta a programação
noturna da nossa principal rede de TV. Essa
abertura já dá conta do meu olhar preconceituoso sobre o BBB, que se confirmou,
ou melhor, se reforçou com a espiada a que me submeti.
Conferi uma parte
noturna e outra à tarde. Foi uma amostra de cerca de 1h15, ou preciosos 1h15
perdidos para constatar que o que muda de um espaço para o outro é a edição dos
piores momentos no programa noturno. De resto, o que se vê é a mesma trupe de
homens e mulheres, a maioria jovens, que se consideram ungidos por forças
superiores (e a Globo é uma força superior, ainda poderosíssima) por serem
chamados a participar da “casa mais vigiada do Brasil”. Lá, mediados pelo
animado bom moço Tadeu Schmidt, registram-se as intensas movimentações debaixo
dos edredons, festas e festas, muitos merchandisings, faniquitos, choradeiras,
manipulações, invejas dissimuladas e traições explicitas nas conspirações
permanentes de um grupo contra outro, e de uns contra outros. É o ambiente e o cenário onde ocorre o que seria o objetivo de todos, a
disputa do prêmio nada desprezível de R$ 1,5 milhão, embora não seja reajustado
desde 2010. Mas acredito que a maioria já se contenta com os 15 minutos de fama
proporcionado pelo programa, o que abre portas para outras oportunidades. Fiquei,
ainda, com a impressão que esta edição deixa a desejar no quesito caldável do
naipe feminino, aumentando minha má vontade.
O mais impressionante é
que tem gente que torce pelos participantes, tratados por sisters e brothers pela
mídia descolada. Cada programa gera um conjunto de matérias nos portais de
noticias (sic) e muitas polêmicas, ainda mais quando ocorre uma maluquice como
a de uma sister, que agrediu outra
com um balde e acabou expulsa da casa. O episódio virou o que costumo
classificar como Nova Mãe de Todas as Batalhas, de prós e contra a agressora,
que atende pelo singelo nome de Maria. Até uma enquete o Uol promoveu. Maria foi condenada pela maioria. Mais
recente, o neto do Silvio Santos teve um chilique, saiu da casa e provocou uma
comoção que quase superou a repercussão do avanço das tropas russas na Ucrânia.
A manifestação do namorado dele foi tão aguardada como os pronunciamentos do
Putin e do Biden. Tá certo, exagerei, mas o BBB merece.
Reconheço a força do
produto BBB, que fatura quase R$ 700 milhões em publicidade, o equivalente a
mais de 70% do gasto anual da Globo com sua folha de pagamento. Com isso
alcança em 2022 o recorde de receitas, enquanto a despesa é infinitamente menor
do que as das novelas, por exemplo, que exigem grandes equipes e altos cachês
para os artistas. Desde sua estréia o BBB tem sido onipresente nas redes
sociais, sempre no pódio dos trending topics do twitter e líder de buscas no
Google, incluindo as minhas pesquisas que sustentam estes dados
O BBB é exatamente
isso: mais do que um reality show e um espaço de entretenimento, é um grande
negócio, uma eficaz caixa registradora.
Por isso, me poupem das
teses acadêmicas que tentam transformar o BBB em algo cult, no qual a dinâmica do programa e seus participantes seriam
uma representação do universo maior aqui de fora. Não, não são. Ou não deveriam ser. Com todas as suas mazelas
e imperfeições, a população não é tão sem noção, nem tão superficial assim. Ao
contrário, a grande massa – estamos falando de Brasil, evidentemente, porque o
BBB é uma atração mundial - não gasta
seu dia em frivolidades, mas na luta diária pela sobrevivência e por uma vida
mais digna, sem um monte de câmaras para registrar tudo. Só que me jogam na
cara que o BBB é recordista de audiência, com mais de 32,5 milhões de
espectadores diariamente, movimenta milhares de ligações em cada votação, vende
o pay-per-view pra caramba aos voyers
desocupados, indiferente à vida que segue seu curso natural, cheio de altos e
baixos aqui fora. Mais escapista do que o tal de metaverso.
Como e por que ocorre essa
desconexão entre reality show e vida real? A coerência não é meu forte, por
isso passo a bola para a resposta aos pesquisadores em Comunicação, os mesmos
que se esmeram na exaltação do BBB e de seus predicados.
Já eu antecipo o que
vou escrever sobre o próximo BBB: não vi e não gostei. Aí serei coerente.
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